Página de abertura de Placar que denunciou os "Podres Poderes" |
Não importa a modalidade: esporte depende de credibilidade. Para que ele faça sucesso é preciso os torcedores acreditarem que as pessoas no campo, na quadra, no ringue ou em qualquer outra arena estão jogando com seriedade e fazendo de tudo para derrotar os adversários. Senão vira "telecach", uma comédia pastelão que fez grande sucesso faz cerca de 50 anos, mas era de mentirinha. Tanto que um dia um jornal fez matéria sobre a "modalidade" e a imagem dentro das cordas do ringue era uma imensa marmelada. Se acontecer de se tornar isso, o futebol brasileiro, hoje já mal das pernas, vai falir.
Na década de 1980, mais precisamente em 1985, a revista Placar investiu pesado numa matéria especial que nasceu da desconfiança de dois jornalistas, Milton Coelho da Graça (morto recentemente) e Juca Kfouri. Eles achavam que estava havendo coincidências demais em certos resultados de jogos da Loteria Esportiva em diversos campeonatos brasileiros. Escalaram o repórter especial Marcelo Rezende para percorrer o Brasil atrás de provas de ilícitos. Marcelo, que morreu em 2017, correu vários estados. Eu era o correspondente de Placar no Espírito Santo à época e o ajudei muito aqui. Descobrimos dois goleiros, de Rio Branco e Desportiva, que se vendiam. E também o esquema em funcionamento na Federação de Futebol, então com uma presidência não séria. Com o título de "Podres Poderes" o esquema da então chamada "Máfia da Loteria Esportiva" foi denunciado e aparentemente extinto. Mas eis que não!
Naquela época da primeira denúncia, a de Placar, a Loteria Esportiva fazia muito sucesso. Esse tempo passou. Agora as apostas de futebol são feitas pela internet e o esquema está voltando. Novamente com jogadores e árbitros desonestos sendo comprados da mesma forma e muito dinheiro sujo circulando pelo universo do futebol. Por ocasião da "Máfia da Loteria" o maior perigo eram os jogadores de clubes pequenos e em final de carreira. Já não tinham mais perspectivas pela frente. Hoje a maioria deve ter o mesmo perfil, mas alguns atletas de maior prestígio estão certamente aderindo ao esquema que permite ganhar dinheiro fácil à custa da boa fé dos torcedores. E da destruição do esporte.
É preciso combater isso. De todas as formas e em nome da grandiosidade que as várias atividades têm. Sem um combate efetivo essa pústula passa do futebol a outras modalidades e destrói todas elas. Na época da "Máfia da Loteria" ainda não tínhamos a internet e todo mundo sabia que Ted Boy Marino e outros do "telecach" eram artistas circenses. Eles não escondiam isso. Agora, não. Com o advento da internet e redes sociais essas quadrilhas vão destruir o esporte como quase fizeram com o futebol há cerca de 40 anos.
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