13 de março de 2025

A democracia de aluguel


Ninguém ainda distribuiu pela imprensa uma publicidade anunciando aluguel de partido político. Até porque a legenda pareceria com a charge que abre esse artigo (acima). Mas falta pouco. No último dia 10 o jornal O Globo publicou matéria de página inteira listando os 11 partidos brasileiros que correm o risco de serem inviabilizados pela cláusula de barreira da legislação em vigor. Vejam: PDT, PSB, Podemos, PSOL, PSDB, Avante, Pro, Solidariedade, Cidadania, Novo e Rede. Seus dirigentes tentam formar federações, união de duas ou mais legendas em uma única para tentar alcançar o número mínimo de parlamentares eleitos em cada uma ou então o menor percentual de eleitores votantes exigido para que eles não sejam extintos. É a luta para manter o pescoço fora do cepo!

E porque isso acontece? Também recentemente e às vésperas de completar 95 anos o ex-presidente José Sarney falou ao mesmo jornal sobre política. Lembrou os 40 anos de nossa democracia sacramentada na Constituição Cidadã de 1988 e o fato de os partidos políticos serem a base do regime democrático. E foi assim no Brasil. Foi, disse eu, usando o verbo no passado. Isso na época de Sarney, quando cada partido representava uma corrente de pensamento, tinha um programa de conhecimento de todos os membros e grande parte dos seus eleitores, dentre outros atributos. Nos tempos em que o ex-presidente começou na política pontificavam por aqui legendas como UDN, PSD, PTB e outras. Durante breve tempo, até mesmo o PDB. Cada um tinha e mantinha sua própria cara.

O golpe de Estado de 1964 destruiu toda essa história. No lugar das legendas antigas surgiram Arena e MDB, que fizeram a política durante os 21 anos do arbítrio militar brasileiro. E as velhas correntes, sobretudo a oposição à ditadura, se bandeou para o MDB, hoje PMDB, e que representava a oposição consentida. Com o término do regime de exceção foram surgindo legendas novas e a política de aluguel se formou no Brasil como uma forte tendência. A ponto de hoje a legenda partidária não ter significado algum além de ser o endereço provisório de alguma corrente ligada ao coronelismo moderno.

Tomo emprestado o termo "coronelismo" para transportá-lo até aqui, às grandes cidades, onde se sustentam as legendas de aluguel atuais. São elas que mantêm a bancada da bala, a bancada evangélica, a bancada ruralista e o que mais houver de errado na política moderna na qual o clã Bolsonaro troca de partido a cada eleição, levando para uma nova legenda toda a sua entourage de oportunistas travestidos de conservadores, mas que na verdade são reacionários sem o menor pudor, sem sequer sombra de dignidade política ou pessoal. A rapidez com que a quadrilha enriquece mostra qual é a sua "ideologia". E também a maneira como as bancadas se distribuem pelas legendas "conservadoras" denuncia a forma como elas mantêm seu poder de modo mais eficiente...    

O que deixa saudoso o ex-presidente às vésperas de completar 95 anos é a maior perda da democracia política brasileira ao longo dos últimos tempos. Lá se vão 40 anos! Por causa disso hoje tantos partidos correm o risco de deixar de existir. Alguns nem deveriam ter nascido, enquanto outros não foram escolhidos como bancada de aluguel pelos grupos de ocasião ou então não abrigam o saudoso da ditadura militar brasileira. Então minguam no Brasil sem compromisso ideológico ou político/programático. A cláusula de barreira, criada para impedir até partidos de fundo de quintal no Brasil deve fazer essa faxina em breve.

E a democracia brasileira sobreviverá! Torço por isso!                   

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