25 de março de 2025

"Sem chão" estamos todos



A reação nazifascista veio rápida. Menos de um mês após a conquista do Oscar por parte da equipe que rodou "Sem Chão", colonos judeus israelenses atacaram Hamdam Ballal, um dos coprodutores do filme que denuncia os crimes de guerra de Israel em Masafer Yatta, pequena comunidade árabe palestina, e o deixaram ferido. Mas não foi apenas isso. O cineasta está desaparecido desde então. Segundo Yuval Abraham, outro produtor, foi necessário pedir uma ambulância para socorrer o ferido e então, diz Abraham "os soldados invadiram a ambulância que ele chamou e o levaram. Nenhum sinal dele desde então".

"Sem chão", documentário feito da forma como era possível fazer, com o uso de celular e outros meios precários, mostrou como foi realizada a destruição de Masafer Yatta por parte de militares israelenses. Os produtores foram Yuval, Hamdam, além de Basel Adra. Este último fez outra denúncia: "Estou de pé com Karam, o filho de sete anos de Hamdam, perto do sangue de Hamdam em sua casa, depois que os colonos o lincharam. Hamdam, co-diretor do nosso filme "No Other Land" (título original) ainda está desaparecido após ter sido sequestrado por soldados, ferido e sangrando. É assim que eles apagam Masafer Yatta".

O documentário é duro e mostra tudo o que foi possível ser mostrado, quase sem sangue escorrendo. Em meio a cenas com imagens tremidas porque os filmadores corriam enquanto filmavam, aparece um soldado de Israel atirando a queima roupa contra morador local que ficou ferido, tetraplégico e foi colocado numa caverna até morrer porque não era possível à mãe o tratá-lo convenientemente naquela situação. Outro foi ferido a bala por colono judeu diante de soldado de Israel que apenas viu a cena sem esboçar qualquer reação. Uma escola foi destruída por máquina com crianças dentro. Mas ao menos para mim o mais cruel foi ver um caminhão betoneira transportando concreto jogar sua matéria nos poços de água que abasteciam a comunidade, concretando a boca desses poços. Sem água ninguém sobrevive.

Todas as imagens lembram outros episódios, tais como o de Sabra e Chatila (foto à esquerda). Trata-se do  massacre de refugiados civis palestinos entre 16 e 18 de setembro de 1982, quando a milícia maronita executou mais de mil pessoas como retaliação pelo assassinato do presidente eleito do Líbano e líder falangista Bachir Gemayel, invadindo o campo de refugiados onde eles estavam e atirando indiscriminadamente em todos, inclusive mulheres e crianças, enquanto o Exército de Israel cercava o perímetro para que ninguém fugisse e sobrevivesse ao ataque.

"Sem chão" merece ser visto. A foto principal acima e que também ilustra o texto, tirada durante a filmagem, mostra um blindado de Israel em Masafer Yatta protegendo a destruição da comunidade. Isso foi feito enquanto judeus colonos de assentamentos que os israelenses vão implantando em terras ocupadas apenas olham para os endereços que "ganham". Se um único palestino, árabe ou não, matar um colono ou soldado israelense, ele vira "terrorista" na imprensa ocidental, inclusive na do Brasil. Mas não me recordo de ter visto um único colega da chamada grande imprensa rotular de terrorista soldado ou colono de Israel que promove esses massacres. E ELES SÃO!. Além disso, seu país é um Estado terrorista e genocida. 

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