15 de março de 2025

Sarney e a democracia


No fim da vida e próximo de completar seus 95 anos o ex-presidente José Sarney (foto) tem dado algumas entrevistas que devem marcar sua biografia positivamente. E de propósito. O maranhense que foi filiado à ARENA, defensor da ditadura militar 1964/85 e indireto criador do Centrão, assumiu a presidência da República vaga pela morte de Tancredo Neves e tornou-se um defensor da democracia plena. Ferrenho defensor! Primeiro falou para O Globo e agora, em seu último pronunciamento, para gilvanmelo.blogspot.com onde ele diz textualmente: "Fui um presidente marcado para ser deposto". E é verdade, desgraçadamente nesse Brasil de golpistas.

Oriundo da UDN onde foi auxiliar de Carlos Lacerda, chegou a ser oposição a Tancredo, que se filiara ao PSD. Quando chegou a hora de assumir a presidência vaga por um Tancredo morto, soube que o ministro do Exército do ditador João Figueiredo, Walter Pires, havia dito que iria aos quartéis para inviabilizar sua posse. Estivemos mais uma vez diante da iminência de um golpe de Estado. E Sarney precisou de muito jogo de cintura e de engenharia política para se manter na chefia de Estado, afastar os riscos de ser deposto e ainda fazer com que a democracia brasileira, frágil como era, pudesse consagrar outro presidente civil em seguida.

O golpismo brasileiro nunca deixou de existir. Ele vem de desde a proclamação da República, que custou o exílio do imperador D. Pedro II, um homem digno, até os tempos atuais. Funciona como um movimento de marés, subindo e descendo na vida nacional de acordo com os momentos políticos pelos quais passamos. Em 1918 infelizmente os brasileiros elegeram um filhote bastardo da ditadura militar para a presidência e este fez renascer com mais força o golpismo explícito exercido durante seus quatro anos de mandato. Mais do que isso: separou definitivamente - ou ao menos até agora - o país em dois grupos antagônicos, inimigos. Antes, eram só adversários. Até no auge da ditadura!

Ontem mesmo o mais ferrenho defensor do novo nazismo, o presidente dos Estados Unidos Donald Trump declarou que a imprensa de seu pais, citando nominalmente alguns órgãos de Comunicação, é corrupta e ilegal. É que esses meios combatem os projetos ditatoriais do tal presidente. Tática idêntica ao de nosso ex-presidente eleito em 2018 e que passou seus quatro anos de poder sonhando com outra ditadura militar e, como fiel defensor do totalitarismo atacava a imprensa ao mesmo tempo em que defendia falsamente uma "liberdade de expressão" que não cabe nos elogios a torturadores como Brilhante Ustra.

Quando o Brasil vai entender que se tornou refém de projetos de ditadores de aldeia da extrema direita, não sei. Presumo que isso ainda vá demorar e que brasileiros como Sarney não viverão para ver esse dia. Mas ele haverá de chegar. Basta ensinar a toda a nova geração que, como disse um dia o Primeiro Ministro britânico Winston Churchill, a democracia é a pior forma de governo que existe, afora todas as outras. 

Nenhum comentário: