30 de abril de 2025

Vá embora, Lupi!


O ministro do Trabalho, Carlos Lupi, (esse feioso aí da foto)  prestaria um enorme serviço ao Brasil caso se demitisse do cargo imediatamente. Para ele deve ser de suma importância o status ministerial, os aviões executivos da FAB, os diversos assessores, veículos, motoristas, penduricalhos diversos na soma dos ganhos do final do mês, mas a dignidade do cargo de ministro é mais importante. E ainda porque ele jura gostar muito do presidente Lula. Só não mais do que o vidão que leva em Brasília.

Lupi, capo di tutti capi do PDT, começou a carreira política agarrado a Leonel Brizola. Nesses tempos, teve contatos imediatos de primeiro, segundo e terceiro graus com o aparelho sindical brasileiro e fez seu nome. Conheceu todos os meandros do sindicalismo, com o que se tornou uma espécie de grande conhecedor da área. Vai daí o fato de ele, agora, dirigindo o seu partido, ter sido indicado para um ministério tão importante. Mas é importante que deixe o cargo porque todo o seu conhecimento adquirido ao longo de tanto tempo não foi capaz de fazer com ele identificasse corrupção pelo cheiro. E não soubesse como combater esse mal que o dia a dia colocou dentro de seu gabinete.

Hoje a fina flor da marginalidade do Congresso Nacional se aproveita do escândalo dos desvios de dinheiro de aposentados do INSS para pedir uma CPI que apure os fatos. Mas eles são fáceis de serem apurados porque se originaram no desgoverno de Jair Bolsonaro, "o artista" que agora promove espetáculos diretamente da UTI do Hospital DF Star.

Só que enquanto Lupi deixa o governo sangrar com sua inanição assustadora, a marginalha faz a festa. Sobretudo e principalmente deputados federais acostumados com as redes sociais, com as ofensas pessoais e que são capazes de pedir a morte do presidente da República e chamar de prostituta uma ministra de Estado diante de seu marido deputado, dentro da Câmara Federal, na certeza de que não serão punidos porque o decoro, lá, já está morto e sepultado faz muito tempo.

O ministro acha que explicar o inexplicável pode contornar o problema criado. Não pode. Ainda que não se consiga uma única prova direta contra ele, sua omissão, sua incompetência e falta de argumentos são um prato pronto e acabado para uma oposição que sonha dia e noite em destruir esse governo mesmo sabendo que a crise atual nasceu no anterior.  

Lupi, não deixe o Brasil sangrar mais. Vá embora!

26 de abril de 2025

Farsa na UTI


Nos tempos passados havia um dito popular que às vezes era repetido quando alguma pessoa morria em circunstâncias, digamos, não comuns: "Erro médico a terra cobre". Até hoje isso é lembrado. Mas agora, depois que o ex-presidente Bolsonaro foi mais uma vez internado para cirurgia e transformou a UTI do Hospital DF Star em um circo de espetáculos teatrais transmitidos pela internet é possível fazermos uma adaptação: "Teatro médico o hospital permite e encobre", com hora marcada e tudo o mais que faz parte do grotesco programado.
Há coisas para lá de estranhas envolvendo tudo o que cerca esse indivíduo inelegível e genocida. A começar pelo fato de que todas as suas internações e cirurgias coincidiram ou coincidem com algum evento de natureza legal. Isso desde que ele começou a ter problemas com a Justiça quando se recusou a tomar medidas contra a pandemia e insistiu em "receitar" cloroquina para os doentes de COVID-19. Ou mesmo antes disso  grande o número de médicos que apoiaram o uso de medicamentos sem eficácia para o caso só porque o presidente, formado e pós graduado em ciências ocultas e letras apagadas, assim o desejava. E expressou isso.
Tal comportamento cresceu a ponto de influenciar nas eleições para os Conselhos de Medicina, tanto os estaduais quanto o Federal. Hoje médicos que discordam da imbecilidade geral têm medo ir contra a maré da anticiência como, por exemplo, para autorizar ou realizar a interrupção de gravidez nos casos previstos em lei, e que são apenas três.
Ou então de não seguir os ditames dos diretores do CFM, mesmo sabendo que um ou outro não possuem amparo cientifico ou são ditados por crenças vazias do tal neo pentecostalismo e do qual fazem parte as correntes dos multimilionários da religião recente, como é o caso de Silas Malafaia, atualmente o mais virulento de todos na defesa da extrema direita política.
E isso não é o pior. Lembro-me como se fosse hoje do mais de um mês que passei indo a uma UTI de hospital para acompanhar a luta pela vida de um ente muito querido meu, e de quantos cuidados precisavam ser tomados para que eu pudesse entrar na UTI do Hospital Dr. Dório Silva durante todo aquele tempo. Eram cuidados necessários num ambiente controlado de doentes em estado grave, muitos inconscientes e que poderiam ter seu estado clínico agravado caso as providências higienização, dentre outras fossem negligenciadas.
Não havia, e nem pode haver, pessoas estranhas aos procedimentos circulando, filmando, entrevistando, dando palpites em nada dentro de UTs.
Nem ao menos pacientes que possam levantar, andar, retirar medidores de pressão e outros equipamentos de seu corpo por quaisquer motivos, As regras de cuidados médicos eram - pois tinha que ser assim - extremamente rigorosas, pois o que estava em jogo eram vidas humanas. Cerca de duas dezenas delas, no mínimo em cada hospital.

Hoje os diretores do Hospital FF Star deveriam estar sendo responsabilizados, como estão, inclusive no plano criminal por permitirem que o leito onde fica o ex-presidente da República se torne um picadeiro (foto do paciente na UTI). Sim, porque isso acontece com a concordância deles e dos que estão de plantão na UTI, bem como dos cirurgiões que operaram o abdome do internado. Isso não tem o menor cabimento, a menos justificativa. É uma aberração que acontece a céu aberto sem que o Conselho de Medicina do Distrito Federal se manifeste ou que haja manifestação por parte do CFM. Parece claro que ali estão muitos bolsonaristas de carteirinha, mas eles jamais poderiam se manifestar num ambiente hospitalar controlado e sensível.
Estamos diante de um quadro que é não apenas bizarro, mas também grotesco. Estamos diante de uma situação que ultrapassa os patamares do absurdo. Os apoiadores desse ex-presidente que faz de seu estado de saúde um palanque eleitoral, um atentado a tudo o que existe de mais insuportável possível tem que ser estancado como uma hemorragia fora de controle. O surto da extrema direita por anistia aos criminosos do 08 de janeiro de 2023 chegou a um ponto em que o Brasil como sociedade, como país, como nacionalidade, não pode mais tolerar. Mesmo num mundo de Trump, de Netanyahu e de outros, esse quadro chegou a um novo samba do crioulo doido e com todas as consequências danosas que isso envolve para a saúde mental e a segurança dos demais brasileiros. Tomara as autoridades reajam a isso, como parece estar acontecendo,
 Hoje estamos pasmados vendo esses episódios de acusados por crimes. Até quando vamos vamos conviver com esses fatos? Basta, não?  

24 de abril de 2025

Os crimes do Congresso


Nunca o Brasil teve um Congresso Nacional mais criminoso do que o atual. Ele comete todos os desatinos possíveis e imagináveis, que vão desde o acintoso sequestro do dinheiro público para uso indecoroso em emendas parlamentares que servem a tudo menos ao interesse público até a paralisação das atividades legislativas para que um projeto inconstitucional de anistia aos criminosos do 08 de janeiro de 2023 (foto da depredação) seja aprovado a toque de caixa e a quadrilha comandada por Jair Messias Bolsonaro fique sem pagar pelos crimes que foram cometidos. Sobretudo sua cúpula.

Hoje já há provas mais do que suficientes para que parlamentares, sobretudo do PL e outras siglas de apoio à extrema direita, sejam processados nos casos de desvio de dinheiro das emendas, incumbência da qual o Supremo Tribunal Federal (STF) se encarrega agora. Até ameaças de morte foram feitas. Foi criada uma tal de "contrapartida", significando que destinatários das emendas têm que pagar propinas aos deputados para receberem as verbas. Parte da dinheirama já teve como destino paraísos fiscais. Tudo isso era previsível, mas mesmo assim durante seu mandato o então presidente Bolsonaro fechou os olhos aos crimes praticados por políticos para que não prosperassem as centenas de pedidos de impeachment que dormitavam nas gavetas do presidente Arthur Lyra.

Por tudo isso é inconcebível que assuntos de extrema relevância para o Brasil como PEC da Segurança Pública, Regulamentação das Redes Sociais, rombo da Previdência e revisão do Imposto de Renda com o limite de CR$ 5 mil mensais como piso para o desconto aos trabalhadores não sejam votados como urgência urgentíssima. No caso específico do não pagamento do IR para quem recebe até CR$ 5 mil mensais e a redução de alíquota para os contemplados com até CR$ 7 mil, figuras nebulosas como o senador Ciro Nogueira tentam torpedear a proposta reduzindo o comprometimento dos que ganham somas vultosas todos os meses para que os ricos possam continuar sem pagar ou pagando muito pouco enquanto o peso dos tributos desabe ainda mais sobre os pobres e a classe média.

Outro fato horroroso é a descoberta de bilhões de reais descontados ilegalmente do pagamentos de aposentados, o que penaliza sobretudo pobres. Entidades que deveriam representar os interesses dessas pessoas na verdade ficavam com o dinheiro delas em conluio com dirigentes do INSS. E ainda não tem ninguém na cadeia! Um esquema de corrupção que nasceu em 2019, durante o governo do genocida inelegível - até aí nenhuma novidade - e que agora desagua em toda a sua imoralidade no colo das pessoas que confiam no Estado. É preciso que a Justiça puna esses canalhas, porque de dependêssemos do Congresso nada iria acontecer a não pedidos de anistia para os milhares de bandidos que invadiram e destruíram prédios dos três poderes em 08 de janeiro de 2023.

Os crimes do Congresso têm que ter um fim!

22 de abril de 2025

Vem aí Francisco II?

Poucos papas mereceram mais do que Francisco fazer o seu sucessor. Mas será que ele conseguirá isso? Dono de uma obra grandiosa de inclusão de minorias e preocupação para com os miseráveis, governou a Igreja Católica com critérios da mais absoluta dignidade. Tanto que um de seus maiores opositores durante os 12 anos de pontificado foi o hoje cardeal congolês Fridolin Besungu, que ascendeu ao cardenalato graças ao chefe da igreja hoje morto e sempre foi um contestador de seu benfeitor. Se chegar a papa vai reconhecer esse fato? Difícil. Sabemos todos como procedem os reacionários de direita.

Segundo os que habitam o dia-a-dia do Vaticano, os vaticanólogos, há cardeais fieis ao papa morto e que comungam de seus ideais. Alguns considerados de centro, como o Secretário de Estado Pietro Parolin, Fernando Vérgez Alzaga (Espanha) e Kevin Farrel (Irlanda/EUA). Todos esses eram muito próximos de Jorge Bergoglio. Há também os que o contestaram o tempo todo, chamados de conservadores, e que não são poucos além de Besungu e Robert Sarah (Guiné). Eles geralmente fecham questão em torno de um nome e votam neste incondicionalmente.

Mas há aqueles que comungam dos ideais de Francisco, tais como Matteo Zuppi, o italiano arcebispo de Bolonha, o brasileiro Leonardo Steiner (foto vertical), arcebispo de Manaus e o senegalês Peter Turkson (foto principal), dentre outros. Todos podem ser sagrados papa. Mas, como se diz no Vaticano, na maioria das vezes acontece de alguém entrar no Conclave como favorito a papa e sair de lá Cardeal. Na prática todos os 135 príncipes da Igreja têm chances. Sempre foi assim. O próprio Francisco não era cotado até ser eleito em lugar de Bento XVI.

Por que é tão importante que o papa morto seja sucedido por alguém parecido com ele? Para que sua obra não pare. Não pereça. E isso para o bem da Igreja Católica. Dentre outras coisas o argentino de fala mansa e vontade firme ampliou o espaço das mulheres no clero, inclusive em funções no Vaticano. Muito importante. Nada justifica o fato de elas não poderem oficiar missas e exercer outros misteres hoje apenas masculinos. Francisco abriu essa discussão, mesmo com toda oposição que sofreu

Para o futuro, o que talvez não venha nem sequer a ser obra do papa eleito nos próximos dias, vai ser necessário discutir a questão do celibato. Se a igreja católica não quer continuar a esvaziar, esse tema tem que ser colocado à mesa. A não ser os reacionários, todos os demais católicos sabem de onde vem o vírus dos crimes sexuais, da pedofilia. E que a melhor maneira de combater esses males é mudar de dentro para fora. Ainda que isso reabra a discussão acerca do direito de sucessão, o que realmente preocupa a cúpula católica.

Francisco precisa de um sucessor à sua altura. De um Francisco II.     

21 de abril de 2025

"Quem sou eu para julgar?"


Poucos líderes mundiais foram mais comentados, mais amados e até mesmo mais criticados pelos que odeiam o gênero humano do que o argentino Jorge Mario Bergoglio, nascido em 17 de dezembro de 1936 em Flores, na grande Buenos Aires. Ele morreu essa madrugada, eram 2h35m pelo horário de Brasília, no quarto onde vivia na Casa Santa Marta, no Vaticano. O mundo agora se prepara para se despedir, não de Mario, mas do Papa Francisco (foto, uma das últimas), nome com o qual ele exerceu seu pontificado de mais de uma década. Era o primeiro sul-americano a chefiar a Igreja Católica desde sua fundação.

Reservei uma fala dele para nomear esse artigo. Quando o questionaram sobre gays, disse: "Quem sou eu para julgar?". Teria dito "julgar o outro" ou "julgar os gays". Marcou seu pontificado por alguns recordes que são próprios da igreja que dirigiu. Nenhum outro líder religioso nomeou mais santos - cerca de mil - e buscou contato com outros mandatários religiosos de demais confissões do que esse portenho que se despede da vida aos 88 anos. Também foi o primeiro e único papa a se relacionar em vida com outro chefe da igreja, pois abraçou seu antecessor, Bento XVI, que preferiu a renúncia quando enfrentou dificuldades.

Agora vem aí o Conclave! Como mostrou recentemente um filme que concorreu ao Oscar, essa vai ser a reunião de cardeais chefes de diversos setores nacionais da Igreja Católica para a escolha do próximo pontífice. Segundo ritos religiosos, eles vão nomear quem Deus determinar como sendo a pessoa escolhida por sua intervenção divina para chefiar os mais de um bilhão de católicos do mundo. Na verdade o Conclave é o momento em que todos os defeitos dos seres humanos e membros do alto clero católico se manifestam. Acontece de tudo nessas reuniões, como traições, futricas, conchavos, ciúmes, confissões de "pecados" e até mesmo episódios políticos mesquinhos onde estão presentes conservadores e reformistas, como se quiser nomear os membros dessas correntes.

Francisco, que será velado no Vaticano a partir de quarta-feira e terá um espaço reservado onde repousa a maioria dos papas a partir possivelmente de domingo, conseguiu entregar sobretudo dignidade ao seu "mandato". Fez a igreja mais digna, mais inclusiva, mais tolerante, mais aberta ao diálogo e ao abraço das minorias. Era um homem simples, que levou a simplicidade ao seu dia-a-dia como chefe de igreja, sequer usando os aposentos do Vaticano como seus, mas preferindo os da Casa Santa Marta. Usava calçados pretos em vez dos caríssimos sapatos vermelhos de grife dos antecessores.

Por tudo isso e principalmente pelo apoio e amor às minorias ele era e é odiado pelos reacionários da extrema direita do Brasil e de todo o restante do mundo. Foi chamado até mesmo de comunista, de ateu e teve a coragem de dizer que alguns ateus têm comportamento bem mais cristão do que reacionários religiosos. Eis seu maior mérito! Eis porque Francisco vai deixar saudade.

16 de abril de 2025

Os novos "Podres Poderes"


Trabalhei durante algum tempo para a Revista Placar na qualidade de correspondente em Vitória. E isso coincidiu com parte do período em que o repórter Marcelo Rezende fez uma longa reportagem sobre corrupção no futebol envolvendo a Loteria Esportiva, clubes, jogadores e dirigentes, isso em 1985. Apenas um ano depois que Caetano Veloso lançou sua música "Podres Poderes", foi esse o nome que Marcelo deu à sequência denúncias que a revista levou ao conhecimento de todo o Brasil (foto). Parte desse material dizia respeito ao Espírito Santo onde a manipulação de resultados chegou atingindo clubes como Rio Branco e Desportiva. Ajudei o repórter de Placar, hoje já falecido, na confecção do material local.

Com o tempo a revista nacional da Editora Abril minguou em termos de circulação, e embora ainda exista hoje, não é nem sombra do que foi no passado. Também a Loteria Esportiva cujos resultados, manipulados ou não, eram esperados por todos, inclusive na televisão onde a "Zebrinha" anunciava os inesperados, morreu. Era lá que morava a corrupção do esporte e que movimentou um rio de dinheiro até ser descoberta e combatida.

Mas parece que o Brasil sente saudades desses tempos. Hoje mesmo o jogador Bruno Henrique, do Flamengo, está sendo investigado pela Polícia Federal por provocar cartões amarelos ou vermelhos para favorecer apostadores. Lucas Paquetá, que está no West Ham, da Inglaterra, pode ser banido do futebol pelo mesmo motivo. A corrupção deve ser algo irresistível quando a pessoa não tem uma irretocável formação de caráter. O fato de esses dois jogadores serem de alto nível, citados até para convocação à Seleção Brasileira, não os impediu de ingressar no sujo mundo da vida nos subterrâneos do futebol.

E eles não são a pior cereja podre do bolo. A proliferação das BETS, essa  nova praga brasileira, virou um vício para milhares de pessoas, sobretudo jovens, e já há inúmeros casos de gente que está se destruindo por dívidas de jogo. Isso vicia como droga. Conheço um pai desesperado porque o filho dilapidou parte do patrimônio da família. E a tendência é de que a situação piore ainda mais, pois ingressar nesses cassinos virtuais se torna tábua de salvação, falsa tábua, para a cada dia mais pessoas. É um buraco sem fundo. Um túnel sem luz ao final. Uma armadilha da qual essa gente se torna refém.

E o que dói mais é ver toda hora na televisão jornalistas esportivos famosos fazendo propaganda das BETS, divulgando-as e pedindo às pessoas para jogar "com responsabilidade". Irresponsáveis são eles que ganham esse dinheiro fácil mesmo tendo conhecimento do mal que isso faz. Também ao Governo cabe parte da culpa por essa situação, pois ele não age para impedir que o mal se estabeleça e se multiplique. Do Poder Legislativo nem vale a pena falar. Ele é a personificação dos podres e eternos poderes do Brasil. As emendas parlamentares que o digam...        

15 de abril de 2025

Anistia nunca mais


O PL da anistia que se pretende aprovar no Congresso Nacional nos dias atuais, e com forte apoio do Partido Liberal, também PL e legenda de aluguel de Jair Bolsonaro, é inconstitucional, irresponsável, inconsequente e, por tudo isso, criminoso mesmo com a maquiagem que está sendo feita hoje no texto original. Não pode prosperar de forma alguma e já sofre forte rejeição de vários setores da sociedade civil como mostram as últimas pesquisas feitas pelos maiores institutos.

O Brasil, em sua história republicana, é uma sucessão de golpes de Estado, tentados ou concretizados. Isso começou com a deposição do imperador D. Pedro II, teve um episódio doloroso com o golpe de Getúlio Vargas e seu Estado Novo em 1930, continuou com o 1º de abril de 1964 (foto acima) e agora vive outra tentativa de destruição de nossa frágil democracia com os fatos de 08 de janeiro de 2023. É demais, não é?

Em 1956 o Brasil viveu tentativa de golpe que teve como epicentro a cidade de Jacareacanga, no sul do Pará, além de outras próximas (na foto, um DC-3 da FAB pousado em Jacareacanga para apoiar a aquartelada). Durou 20 dias e somente depois de muita negociação foi contornada. Juscelino Kubstschek, o JK, presidente eleito de então, recebeu muita pressão para anistiar os golpistas daquela ocasião e fez isso acreditando que seu perdão traria paz política ao Brasil. Oito anos depois, em 1964, boa parte daqueles que tomaram parte da Revolta de Jacareacanga estavam entre os militares que depuseram o presidente João Goulart e iniciaram uma longa ditadura de 21 anos em nosso país.

Esse tipo de anistia não promove a reconciliação das facções em disputa, não faz com que o país se una em torno de sua Constituição, não promove a paz e nem ao menos a justiça social porque é comandada por uma elite que só pretende manter seus privilégios intocados. Isso é apenas um capítulo de impunidade cujo resultado todos prevemos porque já o vivemos antes. Até os mais jovens têm conhecimento disso.

O  movimento do Congresso Nacional, que pretende fazer passar uma PEC criminosa tem que ser detido logo, antes mesmo de um veto presidencial ou uma barração pelo Supremo Tribunal Federal. E não com a força das armas, como sempre foi feito no Brasil, mas sim pela autoridade das leis em vigor. É inconstitucional e isso basta. Visa sobretudo e principalmente apagar com um mata borrão os diversos crimes praticados por um saudoso da ditadura, um admirador de torturadores, um político de terceiro escalão, do baixo clero do Legislativo e que nunca fez nada de útil ao Brasil além de conspirar, conspirar e conspirar.

Chega. Anistia, não!

11 de abril de 2025

Folha com sangue 2


Nos dias que antecedem a exibição do documentário "Folha Corrida", que conta os crimes cometidos pelo Grupo Folhas, de São Paulo, é preciso ir mais adiante no assunto porque a crônica postada ontem está longe de o esgotar. Estamos falando da década de 1970, quando ser preso ilegalmente, torturado e assassinado pelos órgãos de repressão política da ditadura militar era muito fácil. Vários brasileiros caíram e cerca de meio milhar morreram na garras dos porões repressivos. E ser jornalista não dava passaporte a ninguém, a não ser para terminar no lugar mais sujo e violento dos cárceres nazifascistas.

Ninguém naqueles anos sabia o que um dia seria a internet. Nós, os correspondentes, escrevíamos nossas matérias em laudas de papel, nas máquinas de escrever, e depois levávamos esse material para ser digitado em uma agência dos Correios, no meu caso na Agência Central, que ficava ao lado da Praça Oito de Setembro. Lá o diretor Aderson de Brito Inglez Bonates, pai do hoje psiquiatra e jornalista Paulo Bonates, facilitava a vida de todos e pedia a um funcionário que digitasse o material e o transmitisse rapidamente, via teletipo, para as redações dos jornais. Dessa forma, era o próprio aparato tecnológico de então do governo que nos ajudava. Uma doce ironia...

A gente podia também passar informações por telefone, mas era perigoso. Um perigo chamado "grampo", e não valia a pena correr o risco de ir parar no pau de arara. Quando alguém precisava muito falar, o fazia por códigos vários. Reuniões do PCB, por exemplo, só em lugares sem suspeitas. Como aconteceu num colégio da Ilha do Príncipe ou na ginecologia do Centro de Saúde de Carapina. Lá descobrimos porque uma das mesas tinha duas "pernas" articuladas e que eram abertas para exames. Os médicos do Partidão, cujos nomes ainda se omite, tinham as chaves desses lugares e eles eram os mais seguros.

Revejo na memória o dia em que o velho comunista Vespaziano Meireles, o Meirelinho, se deparou comigo numa reunião dessas. Levou um susto antes de abrir sorriso de orelha a orelha. Era o encanador da casa dos meus avós e jamais poderia imaginar o neto do patrão comungando dos mesmos ideais da militância operária. Velho militante comuna, havia sido craque do Rio Branco com o nome de Parafuso e tinha orgulho de ter conseguido formar os filhos, um dos quais era excelente médio e cirurgião neurológico em Colatina.

Mas voltemos ao assunto. A gente sabia que jornais como a Folha apoiavam a ditadura. Mas não a ponto de serem pombos correios do sistema repressor, ajudando até mesmo na prisão de jornalistas. Que o inferno, se houver, tenha os Frias no seu lugar mais quente. E não é por outro motivo que carros da empresa foram cercados e queimados quando se descobriu que eles eram usados com essa finalidade (foto acima). Até mesmo naquela época havia reação contra as violências governamentais, apesar de todos os perigos.

Por isso é de grande importância o trabalho de dois anos que o grupo liderado pelo diretor premiado Chaim Litewiski realizou para concluir o trabalho "Folha Corrida", que conta toda a história vivida no período ditatorial pela empresa da Rua Barão de Limeira, centro de São Paulo. Os quatro capítulos da obra serão exibidos no domingo dia 27 deste mês às 20 horas pela plataforma ICL. É o retrato de uma época na qual mais de 80 empresas colaboraram com a ditadura militar brasileira, algumas como a Volkswagen, Ford, Kodak, Caterpillar, Toyota, Brastemp, Johnson's do Brasil, Embraer, Petrobrás e inúmeras outras, que a lista é grande. Responsável, esse documentário é fruto de pesquisa conduzida por seis universidades: UFRJ, UFRRJ, UEM, UERJ, FCRB e PUC e levará quem o assistir aos bastidores da repressão, aos anos de terror que o Brasil viveu faz pouco tempo e para os quais não quer voltar nem com anistia, como na (acima, na segunda foto).

Não devemos perder esse tempo atual com os devaneios criminosos da nova extrema direita brasileira que se esconde nas sombras, saída dos esgotos onde dormitou por um longo período de tempo. Ela não se compara nem em sombra ao que houve antes. Recordo-me agora e até com saudades de fatos passados na redação de A Gazeta, a da antiga Rua General Osório, 127. Numa determinada época Carlos Fernando Monteiro Lindenberg Filho, o Cariê, convidou para ser diretor do jornal José Antônio de Figueiredo Costa, o Zé Costa. Era preciso haver um "vaselina" na empresa para proibir publicações passando a mão na cabeça, como se desse conselhos. Coisa que aquele Diretor Executivo de então não fazia bem.

Um dia o secretário de redação Chico Flores ficou em dificuldades porque queria no jornal material sobre a questão da região do contestado Espírito Santo/Minas Gerais, assunto litigioso que vira e volta retornava como tema, e o editor de Política, Gutman Uchoa de Mendonça, já tinha ido embora. Eu havia enviado matéria sobre isso para a Folha de S Paulo na véspera e Chico me pediu as laudas emprestadas para "refundir" e usar em A Gazeta. Entreguei. Horas depois, indo embora da redação para o encontro protocolar com os amigos no Britz Bar, fui abordado por Zé Costa: "Meu filhinho, não repara, mas sua matéria não vai sair". Eu apenas sorri. As opiniões contidas no texto e dadas por entrevistados eram contrárias ao que a empresa da família Lindenberg pensava sobre esse espinhoso assunto. Era essa uma forma indolor - e rara - de censura jornalística.

10 de abril de 2025

Folha com sangue 1


Trabalhei como correspondente da Folha de S Paulo durante os tempos duros da ditadura militar brasileira. Era contratado informalmente pela "Agência Folhas Interior Estados", a figura jurídica que permitia à Empresa Folha da Manhã S/A usar material jornalístico em todos os sete jornais da rede de então, seis de São Paulo e um de Santos, pagando um único pró labore. Meu dileto amigo Rogério Medeiros era o correspondente de O Estado de S Paulo, e este usava os colaboradores para abastecer a Agência Estado. Trabalhando em A Gazeta eu recebia todos os dias o material dessa agência e conseguia identificar vez ou outra as matérias feitas pelo velho Rogério. Os jornalistas têm "impressão digital" em seus textos.

Eram os tempos da censura a tudo. Em O Estado havia censores dentro da redação e quando um material era retirado publicava-se receita de bolo ou trecho de poesia clássica no lugar. Em outros, como o que eu trabalhava, um serviçal da Polícia Federal passava lá todos os dias para entregar a lista das matérias censuradas. O Globo tinha em Roberto Marinho o diretor de redação que não permitia à ditadura se meter na redação. Mas a apoiava. Também eram aliados do regime jornais como o Jornal do Brasil, Estado de Minas, Zero Hora e muitos outros da chamada "Grande Imprensa". Uns mais, outros menos. Hoje, quando se sabe que a Folha ultrapassou todos os limites da falta de dignidade humana isso é muito triste. Só não é inacreditável.

É preciso dizer que nós, correspondentes, não participávamos em nenhum grau dos modos de apoio ao regime militar. A não ser quando éramos informados de que determinada matéria havia sido retirada por "ordens superiores". Em todos os dias, afora raras pautas de iniciativa se o assunto era muito importante, recebíamos ordens das redações e cobríamos fatos. Ninguém era mal informado para desconhecer que a ditadura prendia ilegalmente, torturava e matava. Tomávamos cuidado. Para quem participava de partido proscrito as reuniões eram sempre cercadas de muito cuidado, mas ninguém em momento algum deixou de lutar pelo fim da ditadura militar, o que veio apenas em 1985, após 21 anos do 1964.

O documentário "Folha Corrida", que conta em quatro episódios a história dantesca do jornal para o qual trabalhei, era algo que precisava ser feito. A família Frias, dona daqueles meios de comunicação, cometeu uma série imensa de crimes. Como os artífices das tramas já estão mortos, resta contar a história, o que vai ser feito a partir de maio pela plataforma ICL. Já está havendo pre-estreia e depois da plataforma outros meios divulgarão o resultado do trabalho. Documentos não faltam, imagens também. Vai ser possível saber que durante a ditadura carros de distribuição de jornais do Grupo Folhas eram usados para transportar tropas de choque e policiais que prenderiam ilegalmente, torturariam e matariam brasileiros nos porões da ditadura. Não podemos perder o documentário.

É por isso, dentre outras coisas, que muita gente como eu sente nojo quando ouve a extrema direita atual, descendente da daqueles tempos, pedir "liberdade de expressão" ao falar sobre os demais fascistas atuais. É muito triste ouvir certo débil mental eleito deputado federal pelo Espírito Santo dizer que quer ver morto um presidente da República sem que nada aconteça com ele. É triste ver essa gente desfilando sua até agora impunidade como se não houvesse amanhã. E até mesmo em entidades culturais. Chega a dar arrepios.

Mas também vontade de seguir lutando.  

8 de abril de 2025

A cota do fim do mundo


De repente, não mais que de repente, surge no Brasil mais uma denúncia de corrupção envolvendo um órgão público do Governo Federal. E como sempre a Codevasf, ou Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba, empresa criada pelo Estado para permitir roubo de dinheiro do erário. Não tem outra função. E para permitir que caibam nela todos os projetos e ambições sobretudo do Centrão, essa anomalia política brasileira, tem nada menos que 17 unidades administrativas e 16 superintendências regionais. Uma enormidade de cargos e mesmo assim sai briga lá por espaço político.

Agora o alvo é José Juscelino dos Santos Rezende Filho, médico maranhense filiado ao União Brasil, partido do Centrão, deputado federal e ministro das Comunicações, assunto do qual não entende rigorosamente nada. Ele está sendo acusado de desviar dinheiro de emendas parlamentares ligadas às suas atividades na Codevasf do Maranhão, e com muita "classe": a partir de organização criminosa e lavagem de dinheiro. Juscelino já foi pego utilizando aviões da FAB para assuntos privados "por segurança" e outras coisitas menores. Entende de malandragem com recursos do erário e de muito mais, exceto de Comunicação. Tanto que para melhorar a imagem do governo o presidente Lula chamou para perto dele o publicitário Sidônio Cardoso Palmeira, hoje ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social do Brasil. Entenderam como isso funciona?

Sempre houve corrupção no Brasil quando a política se acercou dos governos. Durante os quatro anos de Jair Bolsonaro ele entregou a administração pública ao Centrão para não sofrer impeachment, pois havia mais de 100 pedidos no Legislativo. E esse monstrengo politico fez uma grande festa, inclusive com o crescimento desmedido, inacreditável das emendas parlamentares que chegaram hoje a mais de CR$ 50 bilhões para júbilo de Juscelino e muitos outros. Para apoiar ou então não derrubar o governo o Centrão cobra espaço para ficar lá dentro, de preferência com todos os cargos ministeriais à disposição, a tal "porteira fechada" que permite desviar muito mais dinheiro público. Fome é isso!

Lula teve que atender a várias cotas para montar seu ministério com capacidade mínima de gestão e risco menor de impeachment, pois governa com um Legislativo hostil e um "mercado" que gostaria de vê-lo morto. Juscelino é cota do Centrão, mas hoje o dano que provoca - sempre foi corrupto, todo mundo sabe disso e agora a Justiça está em seu pé - é grande demais. Felizmente ele revelou no início desta noite que vai embora "se defender". Excelente. Lula sabia que precisava mandá-lo embora rapidamente, não importando quem vai entrar depois, não importando se com ou sem o aval do União Brasil pois ,caso contrário, estaria na alça de  mira da cota do fim do mundo. Essa da qual Bolsonaro se salvou. 

6 de abril de 2025

O ato patético


Enquanto escrevo esse artigo, os milhares de manifestantes pró-Bolsonaro que foram à Avenida Paulista nesse domingo pedir anistia para o ex-presidente e seus asseclas golpistas (foto) ouviram ou ouvem várias pessoas falarem as mesmas mentiras em nome da não punição de crimes cometidos no dia 08 de janeiro de 2023, mas sobretudo e principalmente um longo discurso de encerramento da manifestação feito pelo ex-presidente que joga todas as suas fichas na aposta desse perdão - o que só é concedido a culpados -, a única fórmula que talvez o mantenha fora da prisão nos próximos anos. Foi patético.

Num esforço de inversão de fatos que talvez nunca tenha sido visto antes no Brasil de tantas surpresas, o ex-presidente genocida e inelegível, ao lado até de governadores que o apoiam, chegou a dizer que "só um psicopata para falar que o 08 de janeiro foi um golpe". Não foi apenas e tão somente porque as Forças Armadas brasileiras se recusaram a aceitar participar dessa aventura. De mais uma. Gato escaldado tem medo de água fria...

Há carradas de provas nos autos dos processos que correm no Supremo Tribunal Federal mostrando o que se tentou fazer. E aquele 08 de janeiro foi apenas o ápice, ato final de um plano monstro de golpe de Estado que começou a ser engendrado no mesmo dia em que o ex-presidente tomou posse quatro anos antes, pois jamais foi intenção dele deixar o poder. Ao contrário, seu projeto era o de se perpetuar com a ajuda das Forças Armadas. Essas mesmas que literalmente o expulsaram da corporação do Exército depois dos vários crimes que cometeu lá. Todos os que o acompanharam desde o início da aventura da presidência sabiam e sabem disso.

No trio elétrico do ato da Paulista estavam os governadores que dependem do apoio desse indivíduo para concorrer ao Planalto em 2026. Precisam daquele percentual de votos do gado bolsonarista que vai acompanhar esse Bozo até a sepultura, caso precisem. Cerca de 25 por cento. Só assim eles podem enfrentar o atual presidente Lula numa disputa nacional com chances de vitória. O dono da festa sabe disso e usa seus apoiadores como bem entende. Sempre usou.

Ao lado do carro de som havia na Paulista, dos dois lados, duas quadras tomadas por apoiadores da extrema direita. Segundo levantamento do Data Folha, feito de forma profissional, cerca de 45 mil manifestantes, o que mostra que Bolsonaro desidrata a cada dia que passa. Muito pouca gente para eleger um presidente, mas número capaz de fazer bastante barulho. Só que não o suficiente para transformar o Brasil, oficialmente, no País onde o crime político compensa. Nem mesmo quando se pretende tomar da figura de uma criminosa golpista para transformá-la na pobre diaba vitimada pela sanha assassina daqueles que não permitem o uso de batom em manifestações de protesto. Parece piada!

3 de abril de 2025

O Rolex de ouro

Houve um pedido dos senadores reunidos hoje com o presidente Lula na casa da presidência do Senado, em Brasília: a recriação por parte do governo do Ministério da Segurança ou qualquer coisa parecida com esse nome. Uma exigência para diminuir a pancadaria que em parte está jogando para o chão o prestígio pessoal do presidente. Além de o Brasil já ter ministérios em excesso isso preocupa por causa do que ter um aparato de segurança nacional lembra à maioria de nós. No meu caso, recorda um grande Rolex de ouro igual ao da foto acima.

O Brasil havia vivido, em1964, o golpe de Estado que tirou do poder o presidente João Goulart fazia pouco tempo e meu pai, Nelson de Albuquerque Silva usava para todos os atos um relógio dessa marca, bordas em ouro 24 quilates, comprado na época das vacas gordas da família. Amava sua joia e um dia chegou em casa do trabalho sem ela. Depois o vi dizer perto de minha mãe que o havia perdido. Não se falou mais no assunto. Era tema proibido dentro da nossa casa. 

A ditadura aconteceu há 61 anos e lá pelos idos de 1990, com o velho já vivendo em Vitória, provoquei o assunto e veio a história. Papai era dono da Thermoflux, fundição de alumínio que ficava no bairro da Mooca, em São Paulo, onde fabricávamos peças de motor de Simca. Um belo dia meu pai tirou o relógio para limpar as mãos, colocou-o sobre a bancada e não o encontrou mais ao voltar. Procurou, procurou e chamou a Polícia. O delegado ouviu os empregados um a um e depois falou com o velho Nelson: "Tenho três suspeitos e se eles forem comigo para  delegacia o relógio aparece. Só não sei se o ladrão volta vivo e também como vou fazer para proteger o senhor depois disso. Esse povo é daqui e barra pesada". Ele ouviu mamãe e mandou deixar para lá. Os suspeitos foram demitidos algum tempo após.

Décadas depois, na conversa que tive com ele ouvi de meu pai que ficou com receio de deixar a mulher viúva com cinco filhos pequenos. O delegado, conhecido ou amigo de Sérgio Paranhos Fleury, sabia como obter confissões rápidas e dolorosas. Eu disse: "Então você sabia como tudo acontecia, mesmo sendo politicamente de direita?" Ele balançou a cabeça afirmativamente. "Mas eles achavam que aquilo era necessário. Enfim..."

Trago esse fato à memória numa época em que  extrema direita política brasileira é muito mais violenta, inconsequente e irresponsável do que antes. Além do que, não tem respeito pelo Estado Democrático e de Direito, como mostram os fatos de 08 e janeiro de 2023. E a nossa democracia foi obra de muito trabalho. Os canalhas atuais não podem encontrar um caminho para tentar outra aventura como a de 64. Esse ministério proposto jamais deve servir como atalho para a canalhada fascista. Ele precisa ser cercado de cuidados!