Poucos líderes mundiais foram mais comentados, mais amados e até mesmo mais criticados pelos que odeiam o gênero humano do que o argentino Jorge Mario Bergoglio, nascido em 17 de dezembro de 1936 em Flores, na grande Buenos Aires. Ele morreu essa madrugada, eram 2h35m pelo horário de Brasília, no quarto onde vivia na Casa Santa Marta, no Vaticano. O mundo agora se prepara para se despedir, não de Mario, mas do Papa Francisco (foto, uma das últimas), nome com o qual ele exerceu seu pontificado de mais de uma década. Era o primeiro sul-americano a chefiar a Igreja Católica desde sua fundação.
Reservei uma fala dele para nomear esse artigo. Quando o questionaram sobre gays, disse: "Quem sou eu para julgar?". Teria dito "julgar o outro" ou "julgar os gays". Marcou seu pontificado por alguns recordes que são próprios da igreja que dirigiu. Nenhum outro líder religioso nomeou mais santos - cerca de mil - e buscou contato com outros mandatários religiosos de demais confissões do que esse portenho que se despede da vida aos 88 anos. Também foi o primeiro e único papa a se relacionar em vida com outro chefe da igreja, pois abraçou seu antecessor, Bento XVI, que preferiu a renúncia quando enfrentou dificuldades.
Agora vem aí o Conclave! Como mostrou recentemente um filme que concorreu ao Oscar, essa vai ser a reunião de cardeais chefes de diversos setores nacionais da Igreja Católica para a escolha do próximo pontífice. Segundo ritos religiosos, eles vão nomear quem Deus determinar como sendo a pessoa escolhida por sua intervenção divina para chefiar os mais de um bilhão de católicos do mundo. Na verdade o Conclave é o momento em que todos os defeitos dos seres humanos e membros do alto clero católico se manifestam. Acontece de tudo nessas reuniões, como traições, futricas, conchavos, ciúmes, confissões de "pecados" e até mesmo episódios políticos mesquinhos onde estão presentes conservadores e reformistas, como se quiser nomear os membros dessas correntes.
Francisco, que será velado no Vaticano a partir de quarta-feira e terá um espaço reservado onde repousa a maioria dos papas a partir possivelmente de domingo, conseguiu entregar sobretudo dignidade ao seu "mandato". Fez a igreja mais digna, mais inclusiva, mais tolerante, mais aberta ao diálogo e ao abraço das minorias. Era um homem simples, que levou a simplicidade ao seu dia-a-dia como chefe de igreja, sequer usando os aposentos do Vaticano como seus, mas preferindo os da Casa Santa Marta. Usava calçados pretos em vez dos caríssimos sapatos vermelhos de grife dos antecessores.
Por tudo isso e principalmente pelo apoio e amor às minorias ele era e é odiado pelos reacionários da extrema direita do Brasil e de todo o restante do mundo. Foi chamado até mesmo de comunista, de ateu e teve a coragem de dizer que alguns ateus têm comportamento bem mais cristão do que reacionários religiosos. Eis seu maior mérito! Eis porque Francisco vai deixar saudade.
Um comentário:
Tem razão seu agnóstico! Muito prazer! Prazer em apreciar mais um de seus trabalhos, que aliás são muito bons. .
Tem razão. Perdemos um líder justo e humano, mesmo considerado santo por muito.
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