3 de março de 2025

Sim, ainda estamos aqui

Somente hoje pela manhã, ao ler um texto de Marcelo Rubens Paiva sobre sua família, soube que "ainda estou aqui" foi uma frase dita por Maria Lucrécia Eunice Facciolla Paiva durante a enfermidade de Alzheimer e num raro momento de lucidez. Ela, desde essa madrugada é a inspiradora do primeiro Oscar que o Brasil ganhou para nosso cinema na categoria Internacional e na foto acima aparece junto com a imagem do marido. Isso rompe um longo predomínio dos filmes europeus em vitórias nessa categoria de premiação e dá à nossa sétima arte um empurrão necessário ao sucesso.

Sem o retorno do Brasil à democracia nada disso seria possível. Nem mesmo um filme como esse do Oscar. Durante o governo do fascista Jair Bolsonaro tudo foi feito para que as artes nacionais terminassem estranguladas, e inclusive que um filme sobre Carlos Marighella de 2019, obra de Wagner Moura, nunca fosse terminado ou entrasse em cartaz. Ficou pronto e acabou exibido em todo o Brasil. Também a música, o teatro e outras manifestações de caráter cultural sofreram ataques. E essa gente é justamente a que fala de liberdade de expressão...

Hoje mesmo, no grupo da Academia Espírito-santense de Letras, um "acadêmico" publicou fala do falecido picareta Olavo de Carvalho e na qual este diz: "O carnaval é a expressão mas genuína da cultura brasileira. É o tempo em que o povo brasileiro se reúne para celebrar sua própria ignorância e sua própria miséria". Incrível a forma como o picareta se referia a uma de nossas maiores manifestações de cultura popular e a forma como até hoje ele é homenageado pelos insignificantes de plantão. Por sinal, esse mesmo literato (sic!) durante uma última campanha política botou no ar relação grande de partidos políticos brasileiros que seriam aliados ao comunismo internacional. Poucos minutos depois, apagou o post.

Mas nós ainda estamos aqui. Não fossem as esquerdas combaterem o fascismo que reinou no Brasil de 1964 a 1985 e foi revivido em parte pelo desgoverno de Bolsonaro, nada do que existe hoje no Brasil moderno estaria por aqui. A começar pelas nossas múltiplas manifestações artísticas e culturais e a terminar na produção científica brasileira. Impossível é entender como as imensas hordas de fascistas emergiram dos esgotos onde se encontravam para assombrar os demais brasileiros. Para acampar diante de quarteis, marchar ao som de hinos desconexos, rezar para pneus e apontar os celulares ao céu para contatar extraterrestres. Isso antes de invadirem Praça dos Três poderes e tentarem destruir Executivo, Legislativo e Judiciário numa busca fracassada de golpe de Estado.

O Brasil que sobreviveu a tudo isso para estar hoje com sua democracia forte e estabelecida vai continuar fortalecendo todas as instituições democráticas nas quais se fundamenta. A extrema direita que tenta corroer as democracias de dentro para fora como acontece no Brasil, Argentina, Estados Unidos, Itália, Hungria e outros países, vai perder. Terminará sepultada na mesma vala comum da história onde está hoje Olavo de Carvalho. E para lá seguirão seus apoiadores habitantes das bolhas de internet onde se prega a vida num mundo que só existe para esses "hitlers" de última hora.