Se o leitor abrir totalmente essa foto até o tamanho original vai ver uma cena terrível. Ela foi feita no dia 30 de outubro de 2019 no Sudão, uma das regiões mais paupérrimas da África. Nela uma criança desnutrida agoniza enquanto atrás dela um abutre espera que o pequeno ser humano não se mova mais para poder devorá-lo. Essa cena real mostra um abutre também de carne e osso. Mas existem paralelos a ele na vida real. Aqui no Brasil, por exemplo, no terreno político os abutres abundam. E são vorazes.
Na foto mostrada acima, o repórter fotográfico Kevin Carter venceu o Prêmio Pulitzer de fotografia daquele ano, mas apenas fez o registro fotográfico do fato. Não interferiu. Mais tarde foi largamente chamado de abutre por causa disso porque aquela criança tentava de todas as formas chegar a um posto da ONU onde seria alimentada e salva. As forças dela se esgotaram antes do fim da jornada, que então coube ao abutre.
O Congresso Nacional age dessa forma. Na madrugada de ontem votou e aprovou um horrendo projeto de lei já desconsiderado como inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal e que concede anistia a todos os criminosos do 08 de janeiro de 2023. Mas o que esse aleijão jurídico objetiva mesmo é salvar a pele do ex-presidente Jair Bolsonaro, criminoso por tentativa de golpe de Estado além de outros crimes, e seus asseclas mais chegados como é o caso do hoje deputado federal Alexandre Ramagem, que foi tomado como nome eleito como vítima de "perseguição" para a decisão do Congresso. Egresso da Polícia Federal, esse indivíduo cometeu vários crimes como oriundo daquela corporação de Estado, participou da preparação dos atos golpistas, depois fez o mesmo na direção da ABIN, etc.
O autor do artifício legal que não vai mudar a ordem natural das coisas no terreno jurídico da punição aos criminosos do ato golpista é um dos abutres do Congresso Nacional. Ele tenta salvar a pele do "capo di tutti capi" e não se interessa pelas "velhinhas de bíblias nas mãos". Todos esses que se danem, que passem o maior tempo possível na cadeia pois ninguém lá se interessa por eles. Vale mesmo salvar Bolsonaro porque este é o esquema, representa um projeto de poder da extrema direita política que está em vigor no Brasil e do qual ainda vamos no arrepender muito de ver passar impunemente, sem que a maioria das mentes pensantes do país faça nada para impedir.
No passado o nosso país conviveu com mais de uma ditadura militar. Da última delas, de 1964 a 1985, todos os mais velhos se recordam ou ouviram suas histórias. O filme "Ainda estou aqui" continua a passar em muitos cinemas para manter as mentes despertas. Ele mostra vários dos carniceiros da ditadura e nos alerta para o fato de que eles continuam conspirando e aguardando a hora de atacar. Quando isso acontecer os que viraram as costas para a nação brasileira não terão prêmio algum a receber.
Não é hora de lavar as mãos. Os abutres atacam todos os dias, em todas as frentes.
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