As pessoas se revelam em gestos e palavras. Não há como fugir. O presidente atual, às vésperas de completar um ano de mandato, além de ter se mostrado destemperado, desrespeitador de pessoas e familiares delas, de se ter revelado um extremista político de direita, deixou claro nos últimos tempos que sonha muito com métodos de tortura. Vira e volta fala em pelo menos um deles. Agora disse que seus ministros, se não andarem na linha, terminarão no pau de arara.
Esse método de suplício, digo a quem não sabe, foi muito utilizado durante a ditadura militar brasileira, entre 1964 e 1985. Também foi largamente usado por organismos policiais ao longo dos tempos. A ilustração desse artigo mostra como ele é. Provoca dores intensas, quase lancinantes. Conheci um homem que passou por isso. No resto da vida precisou de ajuda psiquiátrica e morreu jovem por causa de problemas neurológicos provocados por sua provação. Maiores informações sobre isso talvez o presidente Bolsonaro possa dar melhor do eu eu. Vira e volta fala do assunto.
Muita gente não sabe, mas grande parte dos métodos de tortura aplicados durante a ditadura militar do Brasil foi aprendido pelas"forças de segurança" brasileiras junto a organismos de repressão norte-americanos. Os Estados Unidos aperfeiçoaram seus sistemas de suplício contra inimigos desde o início do seculo passado, quando inauguraram o imperialismo ocupando vários países asiáticos.
Bolsonaro gosta de tudo o que é violento. Além de ser fotografado fazendo gestos de armas com as mãos como um débil qualquer, sempre que possível elogia ditadores sul-americanos quando viaja aos países destes. Já agrediu a esposa do presidente da França, o pai da ex-presidente do Chile e do presidente nacional da OAB. Compostura nunca foi coisa de sua predileção.
Mas o mais importante é a fixação que tem pelo AI-5, e transferida a alguns de seus ministros com grande apreço pelos cargos. Esse Ato Institucional acabou com as liberdades civis do Brasil durante a ditadura, extirpou o direito de hábeas corpus e estuprou a nossa Constituição por vários anos.
Agora estamos diante de mais uma das fixações do presidente: o pau de arara. Como ele gosta muito do torturador Brilhante Ustra, às vezes penso que deve ter ouvido falar sobre isso com seu ídolo já morto. Não sei se deve só ter ouvido falar, mas há muita gente viva ainda no Brasil e que passou pelas salas de tortura daquele psicopata durante a ditadura militar. Elas sabem quem ele foi.
Digo: cada povo tem o governo que merece. Para que pudéssemos combater governantes que realmente cometeram roubos durante seus períodos de exercício do poder, tivemos que eleger o que de mais sórdido a política brasileira tinha guardado para nos punir a todos. E ainda emergiu diretamente do Baixo Clero onde havia hibernado por 28 anos sem fazer nada.
Nossa punição parece ainda estar no início...
Blog de variedades. Um pouco de esporte, um pouco de política, um pouco de fofoca, um pouco de mais tudo o que surgir de interessante. Enfim, um pouco de jornalismo na vida de quem gosta de notícias e interpretação de fatos
13 de dezembro de 2019
26 de novembro de 2019
O artigo 142 precisa mudar
Em entrevista ontem ao jornal O Globo, o presidente Jair Bolsonaro admitiu publicamente e pela primeira vez o que todo mundo já sabia: seu projeto de lei (PL) que prevê a figura do "excludente de ilicitude", unido à decisão de usar o artigo 142 da Constituição em operações de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) visam unicamente impedir que haja no Brasil protestos contra seu governo. E não existe nada mais antidemocrático do que isso: blindar-se contra os que se opõem a seus atos.
Ou seja: não é possível que um presidente, sozinho, possa convocar as Forças Armadas para irem às ruas reprimir passeatas e outros tipos de protestos civis. Ainda mais quando a isso se soma um PL que nada mais quer dizer além de uma explícita autorização para matar. É preciso que o Congresso modifique o texto constitucional do artigo 142 para impedir que um presidente convoque sozinho as Forças Armadas em repressão de movimentos populares, a menos que esse ato tenha também o respaldo do Senado Federal, da Câmara Federal dos Deputados e do Supremo Tribunal Federal e nas pessoas de seus presidentes em exercício. Lembremo-nos: Exército, Marinha e Aeronáutica existem para a defesa do Estado quando este está sofrendo ameaça à sua integridade, sobretudo externa.
Tudo o que o atual presidente pretende fazer está amparado em um artigo da Constituição Cidadã do Brasil que diz: "As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela Aeronáutica, são instituições nacionais permanentes e regulares, organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da República, e destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem (grifos são meus).
Desde 1988, quando a Constituição foi promulgada, jamais um chefe de Estado fez uso desse artigo. Nem mesmo Fernando Collor ou Dilma Roussef, alvos de protestos que tomaram as ruas e levaram aos seus afastamentos. O primeiro renunciou. A segunda sofreu impeachment. Em todos os 31 anos de vigência da Constituição, os presidentes entenderam que o povo tem o direito de se manifestar, sobretudo nas ruas. Como dizia Castro Alves, "a Praça é do povo, como o céu é do condor..."
O desapreço de Bolsonaro pelos direitos daqueles que se opõem a ele e aos valores da democracia representativa são de conhecimento público. Enquanto ele usa essa falta de princípios apenas e tão somente para seus toscos discursos públicos diários não há problema. Muitos até riem. Mas quando seus atos chegam ao absurdo de ameaçar toda a população brasileira com mortes indiscriminadas sob o argumento de que quem protesta é "terrorista", a coisa adquirem outra dimensão, e se torna muito mais séria.
Não custa lembrar para não nos alongarmos muito: em 1985, quando a ditadura militar acabou no Brasil, a imagem das Forças Armadas estavam incrivelmente desgastadas porque, ao longo dos 21 anos anteriores elas haviam se envolvido em episódios de prisões ilegais, torturas e assassinatos. Não creio que aos militares interesse hoje a volta de tudo isso nos casos de protestos de cidadãos, ainda mais de estudantes (como mostra a foto) ou de trabalhadores sem terra e agora sem futuro.
Ou seja: não é possível que um presidente, sozinho, possa convocar as Forças Armadas para irem às ruas reprimir passeatas e outros tipos de protestos civis. Ainda mais quando a isso se soma um PL que nada mais quer dizer além de uma explícita autorização para matar. É preciso que o Congresso modifique o texto constitucional do artigo 142 para impedir que um presidente convoque sozinho as Forças Armadas em repressão de movimentos populares, a menos que esse ato tenha também o respaldo do Senado Federal, da Câmara Federal dos Deputados e do Supremo Tribunal Federal e nas pessoas de seus presidentes em exercício. Lembremo-nos: Exército, Marinha e Aeronáutica existem para a defesa do Estado quando este está sofrendo ameaça à sua integridade, sobretudo externa.
Tudo o que o atual presidente pretende fazer está amparado em um artigo da Constituição Cidadã do Brasil que diz: "As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela Aeronáutica, são instituições nacionais permanentes e regulares, organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da República, e destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem (grifos são meus).
Desde 1988, quando a Constituição foi promulgada, jamais um chefe de Estado fez uso desse artigo. Nem mesmo Fernando Collor ou Dilma Roussef, alvos de protestos que tomaram as ruas e levaram aos seus afastamentos. O primeiro renunciou. A segunda sofreu impeachment. Em todos os 31 anos de vigência da Constituição, os presidentes entenderam que o povo tem o direito de se manifestar, sobretudo nas ruas. Como dizia Castro Alves, "a Praça é do povo, como o céu é do condor..."
O desapreço de Bolsonaro pelos direitos daqueles que se opõem a ele e aos valores da democracia representativa são de conhecimento público. Enquanto ele usa essa falta de princípios apenas e tão somente para seus toscos discursos públicos diários não há problema. Muitos até riem. Mas quando seus atos chegam ao absurdo de ameaçar toda a população brasileira com mortes indiscriminadas sob o argumento de que quem protesta é "terrorista", a coisa adquirem outra dimensão, e se torna muito mais séria.
Não custa lembrar para não nos alongarmos muito: em 1985, quando a ditadura militar acabou no Brasil, a imagem das Forças Armadas estavam incrivelmente desgastadas porque, ao longo dos 21 anos anteriores elas haviam se envolvido em episódios de prisões ilegais, torturas e assassinatos. Não creio que aos militares interesse hoje a volta de tudo isso nos casos de protestos de cidadãos, ainda mais de estudantes (como mostra a foto) ou de trabalhadores sem terra e agora sem futuro.
13 de novembro de 2019
Saudades dos meus generais...
Não há meio de Jair Bolsonaro se esquecer dos anos - caros para ele - da ditadura militar. E nem de governar sem pensar em retaliar contra o imenso espectro político de brasileiros que são contrários aos atos, na maior parte das vezes espúrios, de seu governo. Agora, saudoso da ditadura militar, quer criar um partido político só dele, todo dele, para chamar de seu: a Aliança pelo Brasil. Vulgo Aliança.
Por que isso? Porque Bolsonaro não consegue se esquecer da Aliança Renovadora Nacional, a ARENA, partido criado para dar sustentação política à ditadura militar que infelicitou o Brasil de 1º de abril de 1964 até 1985, quando João Batista Figueiredo botou o pijama. Ao final do regime ditatorial, quando a sigla já estava desgastada, seus líderes pediram aos seguidores para abandonarem o nome ARENA, então símbolo de prisão ilegal, tortura e assassinato, e passarem a chamar o partido de Aliança. Não deu tempo. Logo a ditadura se tornou um passado triste e sombrio.
Capitão forçado a deixar o Exército depois de ter se insubordinado mais de uma vez, militar de raros predicados, Bolsonaro adora viver com oficiais generais no seu entorno, todos batendo continência para ele. Político do baixo clero, 28 anos em Brasília sem fazer nada digno de nota, vibra com o fato de ser ignorante, violento, raivoso e inconsequente. Dentre outras "virtudes". Como justamente hoje, quando fez vista grossa à invasão da embaixada da Venezuela em Brasília por supostos militantes da oposição naquele país. Nem mesmo nas épocas mais tristes da ditadura militar o governo permitiu que nossa diplomacia, de tão caras e honradas tradições, se permitisse a um papel tão rasteiro.
Mas se presta. Principalmente porque o Brasil tem hoje o pior chanceler de sua história. O Ministro da Educação mais inculto. Um ministro do Meio Ambiente já condenado em processo contra o meio ambiente. Alguns outros enrolados com a Justiça. E a grande maioria composta por pessoas sem méritos e, por isso mesmo, que seguem o "líder" como o boi segue a boiada. Não preciso citar Damares Alves, a titular da "Família", sempre em busca de Jesus no pé de goiaba.
Hoje, em plena reunião do BRICS enfrentamos o desconforto, o vexame de receber chefes de Estado quando uma representação diplomática estrangeira está ocupada em Brasília. Fossem ocupantes socialistas ou comunistas e seriam terroristas. Como são fascistas, Bolsonaro os tolera. Acho que diariamente, ao se deitar ou levantar, ele diz para consigo mesmo: "Saudades dos meus generais da época da ditadura militar. Que não vai voltar mais. Nunca mais". Aposto que é assim!
Por que isso? Porque Bolsonaro não consegue se esquecer da Aliança Renovadora Nacional, a ARENA, partido criado para dar sustentação política à ditadura militar que infelicitou o Brasil de 1º de abril de 1964 até 1985, quando João Batista Figueiredo botou o pijama. Ao final do regime ditatorial, quando a sigla já estava desgastada, seus líderes pediram aos seguidores para abandonarem o nome ARENA, então símbolo de prisão ilegal, tortura e assassinato, e passarem a chamar o partido de Aliança. Não deu tempo. Logo a ditadura se tornou um passado triste e sombrio.
Capitão forçado a deixar o Exército depois de ter se insubordinado mais de uma vez, militar de raros predicados, Bolsonaro adora viver com oficiais generais no seu entorno, todos batendo continência para ele. Político do baixo clero, 28 anos em Brasília sem fazer nada digno de nota, vibra com o fato de ser ignorante, violento, raivoso e inconsequente. Dentre outras "virtudes". Como justamente hoje, quando fez vista grossa à invasão da embaixada da Venezuela em Brasília por supostos militantes da oposição naquele país. Nem mesmo nas épocas mais tristes da ditadura militar o governo permitiu que nossa diplomacia, de tão caras e honradas tradições, se permitisse a um papel tão rasteiro.
Mas se presta. Principalmente porque o Brasil tem hoje o pior chanceler de sua história. O Ministro da Educação mais inculto. Um ministro do Meio Ambiente já condenado em processo contra o meio ambiente. Alguns outros enrolados com a Justiça. E a grande maioria composta por pessoas sem méritos e, por isso mesmo, que seguem o "líder" como o boi segue a boiada. Não preciso citar Damares Alves, a titular da "Família", sempre em busca de Jesus no pé de goiaba.
Hoje, em plena reunião do BRICS enfrentamos o desconforto, o vexame de receber chefes de Estado quando uma representação diplomática estrangeira está ocupada em Brasília. Fossem ocupantes socialistas ou comunistas e seriam terroristas. Como são fascistas, Bolsonaro os tolera. Acho que diariamente, ao se deitar ou levantar, ele diz para consigo mesmo: "Saudades dos meus generais da época da ditadura militar. Que não vai voltar mais. Nunca mais". Aposto que é assim!
30 de outubro de 2019
A terceira lei de Newton
Durante toda a campanha política do ano passado, para não dizer desde sempre, Jair Bolsonaro tratou seus adversários políticos e as pessoas das quais não gosta pessoalmente com um desrespeito absoluto, capaz de atingir as raias do absurdo. Fez críticas cruéis à esposa do presidente da França. Ao pai da ex-presidente do Chile. Elogiou ditadores sanguinários ao chegar à capital dos países desses, em viagens internacionais. Enfim, praticou todos os atos espúrios que um chefe de Estado decente não deve praticar jamais. E fez isso às vezes rindo seu riso debochado de todos os dias.
Esqueceu-se, se é que conheceu um dia, da terceira lei de Newton: "A cada ação corresponde uma reação igual e contrária". Isso vale para a física. Isso vale para tudo na vida.
Vamos nos ater a um caso apenas: foi a Buenos Aires durante a campanha presidencial argentina e, para demonstrar apoio à reeleição do presidente Macri, tratou com desprezo e desrespeito o hoje presidente eleito Fernandez. E agora está sentindo que sua maneira de agir, anos luz distante do que é fazer política com diplomaria, afasta o Brasil da Argentina. E prejudica nossos interesses comerciais. Isso ocorre ao menos também na França, Alemanha e Irlanda. Em muitos outros países ele é visto ao menos com desconfiança, embora tente vender publicamente uma outra imagem. Falsa.
Seu último episódio foi contra a Rede Globo. A emissora conseguiu dados que demonstram possíveis ações de despistamento de envolvidos no caso da morte da vereadora carioca Marielly Franco, no Rio de Janeiro. Um dos possíveis assassinos, indivíduo já denunciado, entrou no condomínio onde mora Bolsonaro alegando que ia à casa onde reside não seu provável comparsa, mas o atual presidente.
Em acesso de fúria pela divulgação da notícia - que é sim um fato jornalístico - Jair chegou a chamar a empresa de canalha (foto). Isso pouco tempo depois de colocar no ar em seu perfil pessoal um ridículo vídeo onde um leão - no caso ele - é cercado por hienas identificadas como "inimigos". Uma delas, o Supremo Tribunal Federal. O mesmo STF que, por iniciativa de seu atual presidente, impede o prosseguimento de investigações nas quais está envolvido Flávio, filho de JB. Que inimigo!
A corda talvez esteja começando a apertar no pescoço do pior chefe de Estado da história brasileira. Vai ser preciso esperar pelo desdobramento dos fatos antes de qualquer avaliação mais segura. Mas a terceira lei de Newton agora é uma companheira inseparável no dia a dia do presidente do Brasil. Quer ele queira, quer ele não queira. Ou não goste, pois dá no mesmo.
Esqueceu-se, se é que conheceu um dia, da terceira lei de Newton: "A cada ação corresponde uma reação igual e contrária". Isso vale para a física. Isso vale para tudo na vida.
Vamos nos ater a um caso apenas: foi a Buenos Aires durante a campanha presidencial argentina e, para demonstrar apoio à reeleição do presidente Macri, tratou com desprezo e desrespeito o hoje presidente eleito Fernandez. E agora está sentindo que sua maneira de agir, anos luz distante do que é fazer política com diplomaria, afasta o Brasil da Argentina. E prejudica nossos interesses comerciais. Isso ocorre ao menos também na França, Alemanha e Irlanda. Em muitos outros países ele é visto ao menos com desconfiança, embora tente vender publicamente uma outra imagem. Falsa.
Seu último episódio foi contra a Rede Globo. A emissora conseguiu dados que demonstram possíveis ações de despistamento de envolvidos no caso da morte da vereadora carioca Marielly Franco, no Rio de Janeiro. Um dos possíveis assassinos, indivíduo já denunciado, entrou no condomínio onde mora Bolsonaro alegando que ia à casa onde reside não seu provável comparsa, mas o atual presidente.
Em acesso de fúria pela divulgação da notícia - que é sim um fato jornalístico - Jair chegou a chamar a empresa de canalha (foto). Isso pouco tempo depois de colocar no ar em seu perfil pessoal um ridículo vídeo onde um leão - no caso ele - é cercado por hienas identificadas como "inimigos". Uma delas, o Supremo Tribunal Federal. O mesmo STF que, por iniciativa de seu atual presidente, impede o prosseguimento de investigações nas quais está envolvido Flávio, filho de JB. Que inimigo!
A corda talvez esteja começando a apertar no pescoço do pior chefe de Estado da história brasileira. Vai ser preciso esperar pelo desdobramento dos fatos antes de qualquer avaliação mais segura. Mas a terceira lei de Newton agora é uma companheira inseparável no dia a dia do presidente do Brasil. Quer ele queira, quer ele não queira. Ou não goste, pois dá no mesmo.
23 de outubro de 2019
Aqui não é o Chile!
Vamos tentar entender o seguinte: o Estado existe para prestar serviços à população com o dinheiro que arrecada de nossos impostos. A iniciativa privada, para gerar lucros em suas mais diversas atividades, não importando o custo disso. Sobretudo, não importando o custo social.
Por que o Chile está em ebulição? Porque desde 1973, quando houve o golpe que derrubou o presidente Salvador Allende - o maior de todos os chilenos -, os direitos dos trabalhadores foram sendo aos poucos dilapidados. Hoje, mesmo depois dos governos tímidos de Michele Bachelet, a população daquele belíssimo país andino não tem mais ensino público gratuito nem nas universidades do Estado, e acabou a saúde sem cobranças inclusive nas instituições que praticam o sistema público deles. Mais: até quem tem plano particular só obtém sem cobrança a saúde básica. O mais é pago.
O pior ainda está por vir: como o sistema de previdência foi todo privatizado em um modelo que se parece muito com o que o ministro Paulo Guedes está querendo nos fazer botar goela abaixo, houve um gradativo achatamento das pensões e aposentadorias. Claro, se a arrecadação cai as empresas administradoras do sistema não vão deixar de lucrar. Sua galinha dos ovos de ouro continuará reduzindo ou congelando valor dos benefícios. A população que se dane.
Eis o caldo de cultura da revolta popular e da aguda crise chilena.
Porque se quer tanto privatizar a Previdência do Brasil? Porque, com o tamanho de nossa economia, isso vai gerar imensos rios de dinheiro. O Amazonas será um mero riacho. E os pobres vão a cada dia ser menos remunerados. Isso até quando um pequeno reajuste de passagem de ônibus e metrô representar a diferença entre poder usar ou não esse serviço público. For a gota d`água.
Um estudo recente descobriu que das nossas poucas universidades de referência mundial a imensa maioria é de instituições do Estado. São Universidades Federais ou Institutos Federais de ensino. Mas o Estado brasileiro quer destruir essa estrutura. A irmã do ministro Paulo Guedes é presidente(a) da associação que alberga o ensino privado do Brasil. E a iniciativa privada que representa também quer seu quinhão, mesmo que isso signifique tirar das imensa parcela de brasileiros.
A "famiglia" Bolsonaro tem seus interesses ligados a isso tudo. Os ministros também, da mesma forma que as instituições "religiosas" - respeitemos as verdadeiras! - ligadas umbilicalmente apenas a ganhos financeiros. Por último, destruir a Amazônia, também faz parte do grande projeto desse governo que nós erradamente elegemos apenas para votar contra o PT, pois o ganho será incomensurável. E aqui me penitencio: desgraçadamente anulei meu voto. Nunca mais voltarei a fazer isso.
Daqui para a frente, meus amigos, vamos dizer como o homem da foto, na revolta chilena: Não mais. AQUI NÃO É O CHILE e nossa revolta ainda pode e deve ser expressa pelo voto e pela pressão sobre o poder. Afinal, ele foi constituído por nós mesmos.
Por que o Chile está em ebulição? Porque desde 1973, quando houve o golpe que derrubou o presidente Salvador Allende - o maior de todos os chilenos -, os direitos dos trabalhadores foram sendo aos poucos dilapidados. Hoje, mesmo depois dos governos tímidos de Michele Bachelet, a população daquele belíssimo país andino não tem mais ensino público gratuito nem nas universidades do Estado, e acabou a saúde sem cobranças inclusive nas instituições que praticam o sistema público deles. Mais: até quem tem plano particular só obtém sem cobrança a saúde básica. O mais é pago.
O pior ainda está por vir: como o sistema de previdência foi todo privatizado em um modelo que se parece muito com o que o ministro Paulo Guedes está querendo nos fazer botar goela abaixo, houve um gradativo achatamento das pensões e aposentadorias. Claro, se a arrecadação cai as empresas administradoras do sistema não vão deixar de lucrar. Sua galinha dos ovos de ouro continuará reduzindo ou congelando valor dos benefícios. A população que se dane.
Eis o caldo de cultura da revolta popular e da aguda crise chilena.
Porque se quer tanto privatizar a Previdência do Brasil? Porque, com o tamanho de nossa economia, isso vai gerar imensos rios de dinheiro. O Amazonas será um mero riacho. E os pobres vão a cada dia ser menos remunerados. Isso até quando um pequeno reajuste de passagem de ônibus e metrô representar a diferença entre poder usar ou não esse serviço público. For a gota d`água.
Um estudo recente descobriu que das nossas poucas universidades de referência mundial a imensa maioria é de instituições do Estado. São Universidades Federais ou Institutos Federais de ensino. Mas o Estado brasileiro quer destruir essa estrutura. A irmã do ministro Paulo Guedes é presidente(a) da associação que alberga o ensino privado do Brasil. E a iniciativa privada que representa também quer seu quinhão, mesmo que isso signifique tirar das imensa parcela de brasileiros.
A "famiglia" Bolsonaro tem seus interesses ligados a isso tudo. Os ministros também, da mesma forma que as instituições "religiosas" - respeitemos as verdadeiras! - ligadas umbilicalmente apenas a ganhos financeiros. Por último, destruir a Amazônia, também faz parte do grande projeto desse governo que nós erradamente elegemos apenas para votar contra o PT, pois o ganho será incomensurável. E aqui me penitencio: desgraçadamente anulei meu voto. Nunca mais voltarei a fazer isso.
Daqui para a frente, meus amigos, vamos dizer como o homem da foto, na revolta chilena: Não mais. AQUI NÃO É O CHILE e nossa revolta ainda pode e deve ser expressa pelo voto e pela pressão sobre o poder. Afinal, ele foi constituído por nós mesmos.
16 de outubro de 2019
Ideologia do absurdo
A Assembleia Legislativa do Espírito Santo, seguindo uma tendência nacional pelo obscurantismo intelectual e político, deverá votar e aprovar hoje um texto que criminaliza professores acusados de propagar "ideologia de gênero" entre os estudantes, sobretudo do primeiro grau. Essa reação nasceu de uma série de graves equívocos (?) didáticos de professores, como a que passou para uma estudante de 12 anos lição de casa onde a mandava pesquisar na internet assuntos como sexo oral e masturbação. Obviamente, isso não é nada didático.
Esse termo "ideologia de gênero" nasceu em 1995 na ONU, numa das reuniões da Organização, trazido a ela por sociólogos. Hoje é usado por aqueles que contestam o princípio de que os gêneros seriam construções sociais. Para eles já se nasce menino e menina e ponto final.
Se fosse assim tão simples não haveria o homossexualismo, que é a atração sexual de um ser por outro do mesmo sexo ou gênero. Está claro que o indivíduo nasce fisiologicamente menino ou menina. Mas se a pessoa será heterossexual ou não, isso vai depender de uma série de fatores. E a esmagadora maioria deles será, sim, social. Ou isso ou o sujeito não seria o fruto do seu meio.
Nada justifica o fato de um professor querer substituir o papel do pai e da mãe na escola e pretender dar aulas de pseuda orientação sexual para crianças. Da mesma forma, nada numa sociedade laica como a nossa permite a um legislador, sobretudo marcado por conceitos religiosos que podem ser considerados manipuladores, de querer interferir nas funções do Estado.
O texto a ser votado hoje é extremamente subjetivo. De propósito, pois sua intenção é a de permitir que, por visões teológicas, os detentores do poder possam impor seus dogmas aos outros, mesmo que isso signifique contrariar os princípios do Estado Laico. Ou seja, a Constituição da República.
Não existe "ideologia de gênero". E aqui não importa se a gente considera a ideologia com definição filosófica ou política, tenha essa características marxistas ou não.
O que existe é "identidade de gênero". Um ser humano, depois de formado intelectualmente, vai inevitavelmente se identificar no terreno das preferências sexuais. Como resultado do meio ou de sua abstração intelectual, será heterossexual, homossexual ou o que mais houver. E a vida seguirá seu curso, independente do que pensam aqueles que desejam impor dogmas aos demais movidos pelo calor das montanhas de dinheiro recolhido em cultos evangélicos suspeitos, ou então das aulas de educadores que fazem mal ao próximo tentando substituir as famílias.
E como se não bastasse isso tudo, o texto a ser aprovado hoje tem conotações inconstitucionais. Cabe aos governantes analisar isso antes de aprovar tais leis de ocasião.
Esse termo "ideologia de gênero" nasceu em 1995 na ONU, numa das reuniões da Organização, trazido a ela por sociólogos. Hoje é usado por aqueles que contestam o princípio de que os gêneros seriam construções sociais. Para eles já se nasce menino e menina e ponto final.
Se fosse assim tão simples não haveria o homossexualismo, que é a atração sexual de um ser por outro do mesmo sexo ou gênero. Está claro que o indivíduo nasce fisiologicamente menino ou menina. Mas se a pessoa será heterossexual ou não, isso vai depender de uma série de fatores. E a esmagadora maioria deles será, sim, social. Ou isso ou o sujeito não seria o fruto do seu meio.
Nada justifica o fato de um professor querer substituir o papel do pai e da mãe na escola e pretender dar aulas de pseuda orientação sexual para crianças. Da mesma forma, nada numa sociedade laica como a nossa permite a um legislador, sobretudo marcado por conceitos religiosos que podem ser considerados manipuladores, de querer interferir nas funções do Estado.
O texto a ser votado hoje é extremamente subjetivo. De propósito, pois sua intenção é a de permitir que, por visões teológicas, os detentores do poder possam impor seus dogmas aos outros, mesmo que isso signifique contrariar os princípios do Estado Laico. Ou seja, a Constituição da República.
Não existe "ideologia de gênero". E aqui não importa se a gente considera a ideologia com definição filosófica ou política, tenha essa características marxistas ou não.
O que existe é "identidade de gênero". Um ser humano, depois de formado intelectualmente, vai inevitavelmente se identificar no terreno das preferências sexuais. Como resultado do meio ou de sua abstração intelectual, será heterossexual, homossexual ou o que mais houver. E a vida seguirá seu curso, independente do que pensam aqueles que desejam impor dogmas aos demais movidos pelo calor das montanhas de dinheiro recolhido em cultos evangélicos suspeitos, ou então das aulas de educadores que fazem mal ao próximo tentando substituir as famílias.
E como se não bastasse isso tudo, o texto a ser aprovado hoje tem conotações inconstitucionais. Cabe aos governantes analisar isso antes de aprovar tais leis de ocasião.
9 de outubro de 2019
"Cara de pau é você!"
Tenho muitas histórias para contar da época da ditadura militar na vida dos jornais. Havia censura todos os dias, sim. Brava. E muita gente morreu depois de sofrer prisão ilegal e tortura. Só para ilustrar, hoje a vou falar de duas pessoas muito bacanas. Os irmãos Eugênio (foto ao lado) e Darcy Pacheco de Queiroz eram diretores do jornal A Gazeta (aquele que era de papel, vocês devem se lembrar...) e cunhados do principal proprietário da empresa, Carlos Fernando Monteiro Lindenberg, que se casou com as duas irmãs deles. Quando a mais velha morreu, pegou a mais nova...
"Seu" Eugênio, como o chamávamos, cuidava da parte administrativa da empresa. E de parte da interface com o público principal, político. Quando morreu, meu amigo jornalista Paulo Maia chorou muito no velório. Maura Fraga, outra amiga jornalista registrou o fato dizendo que nunca havia visto o Paulo chorar antes de ele ver o corpo "daquele homem sincero". E era assim mesmo.
Na campanha pela legalidade do PCB, botei um cartaz "PCB LEGAL" numa das paredes redação, então já na Rua Chafic Murad. No dia seguinte "Seu" Eugênio me esperava na porta: "Seu Álvaro, mandei tirar o cartaz do Partido Comunista da redação. Mas tirei também os cartazes da Arena. Quero evitar discussão política aqui dentro". Eu simplesmente dei um abraço naquele homem sincero.
Tempos antes disso, ainda na sede da Rua General Osório, Aninha, que era a pessoa encarregada de fazer e servir o cafezinho, entrou na redação e disse: "Chico Flores, Luiz Rogério Fabrino e Álvaro Silva. O general está chamando vocês na sala dele". Lá fomos nós para ver o Diretor Responsável.
Chegando lá havia um coronel do Exército sentado diante do general. Ao lado, dois ordenanças. Darcy, que adorava minhas piadas de sacanagem, olhou para nós e disse: "Gente, o coronel Fulano está chegando do Rio para assumir o 38 BI. E está preocupado porque soube que há membros do Partido Comunista na nossa redação. Vocês, editores, sabem de alguma coisa sobre isso?"
Luiz Rogério disse que jamais havia ouvido falar desse caso. Chico jurou que se encontrasse comunista denunciaria na mesma hora. Eu falei: "Sou editor de esportes, general. Não sei nada de política". O general olhou então para o coronel, que disse: "Estou convencido, general Darcy. E menos preocupado". Ato contínuo levantou-se e saiu junto com os ordenanças, cumprimentando-nos formalmente e apenas de passagem.
Nós rimos muito após sair da sala. Os três membros do PCB na redação de A Gazeta éramos nós mesmos, Chico, Luiz Rogério e eu. E Darcy Queiroz sabia disso muito bem. Muito bem mesmo...
No dia seguinte eu entrava na empresa para trabalhar e cruzei com o general que saia para almoçar. Dei um sorriso e disse:
- General, o senhor é um cara de pau!
Ele devolveu o sorriso e completou:
- Eu? Cara de pau é você!
"Seu" Eugênio, como o chamávamos, cuidava da parte administrativa da empresa. E de parte da interface com o público principal, político. Quando morreu, meu amigo jornalista Paulo Maia chorou muito no velório. Maura Fraga, outra amiga jornalista registrou o fato dizendo que nunca havia visto o Paulo chorar antes de ele ver o corpo "daquele homem sincero". E era assim mesmo.
Na campanha pela legalidade do PCB, botei um cartaz "PCB LEGAL" numa das paredes redação, então já na Rua Chafic Murad. No dia seguinte "Seu" Eugênio me esperava na porta: "Seu Álvaro, mandei tirar o cartaz do Partido Comunista da redação. Mas tirei também os cartazes da Arena. Quero evitar discussão política aqui dentro". Eu simplesmente dei um abraço naquele homem sincero.
Tempos antes disso, ainda na sede da Rua General Osório, Aninha, que era a pessoa encarregada de fazer e servir o cafezinho, entrou na redação e disse: "Chico Flores, Luiz Rogério Fabrino e Álvaro Silva. O general está chamando vocês na sala dele". Lá fomos nós para ver o Diretor Responsável.
Chegando lá havia um coronel do Exército sentado diante do general. Ao lado, dois ordenanças. Darcy, que adorava minhas piadas de sacanagem, olhou para nós e disse: "Gente, o coronel Fulano está chegando do Rio para assumir o 38 BI. E está preocupado porque soube que há membros do Partido Comunista na nossa redação. Vocês, editores, sabem de alguma coisa sobre isso?"
Luiz Rogério disse que jamais havia ouvido falar desse caso. Chico jurou que se encontrasse comunista denunciaria na mesma hora. Eu falei: "Sou editor de esportes, general. Não sei nada de política". O general olhou então para o coronel, que disse: "Estou convencido, general Darcy. E menos preocupado". Ato contínuo levantou-se e saiu junto com os ordenanças, cumprimentando-nos formalmente e apenas de passagem.
Nós rimos muito após sair da sala. Os três membros do PCB na redação de A Gazeta éramos nós mesmos, Chico, Luiz Rogério e eu. E Darcy Queiroz sabia disso muito bem. Muito bem mesmo...
No dia seguinte eu entrava na empresa para trabalhar e cruzei com o general que saia para almoçar. Dei um sorriso e disse:
- General, o senhor é um cara de pau!
Ele devolveu o sorriso e completou:
- Eu? Cara de pau é você!
3 de outubro de 2019
A GAZETA fez a terra tremer
Parece surrealismo que A GAZETA circulou pela última vez domingo último no Espírito Santo. Desde o anúncio do fim do jornal impresso as pessoas imaginavam que tudo seria desmentido no final. Tipo: "1º de abril, gente!". Mas não. Aos 91 anos de idade, aparentemente consolidado ele encerrou as atividades para evitar a falência mais do que certa. Não foi uma opção pelo progresso tecnológico, como se tenta fazer crer em todos os informes da Rede. Foi a saída honrosa encontrada como o "corolário" de anos de vividos incompetência empresarial.
Hoje, vários assinantes tentam cancelar as assinaturas sem migrar para o digital e não conseguem contato com a empresa por telefone. Outros passam raiva tentando ler as notícias pela internet num site feio demais e com um preço de assinatura para lá de caro. Irreal!
Conheci A GAZETA em 1971 quando entrei para trabalhar. A exemplo da Rede Globo e muitos outros grandes órgãos de comunicação, era uma empresa cooptada pela ditadura militar para lhe dar sustentação. Um esforço de legitimação do golpe que havia derrubado o presidente constitucional João Goulart e, passado o ímpeto inicial das "Marchas da Família com Deus pela Democracia" e outras farsas, agora precisava fazer o esforço de ser aceita pela parcela culta da população.
Vivi A GAZETA da Rua General Osório e da Chafic Murad. Como AG seguiu religiosamente a cartilha da "Revolução", foi durante algumas décadas agraciada com verbas oficiais generosas via publicidade estatal. Como a Rede Globo. Foi feito naquela época o mesmo que Jair Bolsonaro, um filho bastardo dessa mesma ditadura, tenta fazer agora em sentido inverso. A sede da Chafic Murad foi erguida graças a isso. Da mesma forma que o império da Globo.
E era gostoso trabalhar lá, ainda que com toda a censura interna, oficial ou não. Fiz grandes amigos, aprendi o que sei de jornalismo graças ao convívio com os melhores deles. Tenho tantas belas histórias para contar dessa época que dariam um livro. Mas prefiro me relembrar sozinho, rir sozinho, curtir as recordações desse passado recente, da lida diária por levar informação aos leitores.
A GAZETA começou a naufragar quando perdeu a boa vida dos recursos oficiais e também de grande parte da publicidade privada. Cometeu erro sobre erro, principalmente trazendo para o Espírito Santo profissionais de São Paulo que nada tinham a ver com a cultura capixaba. Eles, exceto Kaka, hoje dirigindo Metro, foram aos poucos formando o caldo de cultura da derrota final. De tanto promover reformas sem sentido, a mais antiga empresa de jornalismo impresso ainda funcionando no Estado conseguiu fazer com que seu leitor não mais se reconhecesse lendo o jornal. Ou então não mais reconhecesse no jornal aquele que ele havia se acostumado a ler todos os dias. Isso é fatal.
Parabéns empresários de A GAZETA. Vocês mataram seu filhote e a terra tremeu mesmo, domingo último em Vitória. Que pena!
Hoje, vários assinantes tentam cancelar as assinaturas sem migrar para o digital e não conseguem contato com a empresa por telefone. Outros passam raiva tentando ler as notícias pela internet num site feio demais e com um preço de assinatura para lá de caro. Irreal!
Conheci A GAZETA em 1971 quando entrei para trabalhar. A exemplo da Rede Globo e muitos outros grandes órgãos de comunicação, era uma empresa cooptada pela ditadura militar para lhe dar sustentação. Um esforço de legitimação do golpe que havia derrubado o presidente constitucional João Goulart e, passado o ímpeto inicial das "Marchas da Família com Deus pela Democracia" e outras farsas, agora precisava fazer o esforço de ser aceita pela parcela culta da população.
Vivi A GAZETA da Rua General Osório e da Chafic Murad. Como AG seguiu religiosamente a cartilha da "Revolução", foi durante algumas décadas agraciada com verbas oficiais generosas via publicidade estatal. Como a Rede Globo. Foi feito naquela época o mesmo que Jair Bolsonaro, um filho bastardo dessa mesma ditadura, tenta fazer agora em sentido inverso. A sede da Chafic Murad foi erguida graças a isso. Da mesma forma que o império da Globo.
E era gostoso trabalhar lá, ainda que com toda a censura interna, oficial ou não. Fiz grandes amigos, aprendi o que sei de jornalismo graças ao convívio com os melhores deles. Tenho tantas belas histórias para contar dessa época que dariam um livro. Mas prefiro me relembrar sozinho, rir sozinho, curtir as recordações desse passado recente, da lida diária por levar informação aos leitores.
A GAZETA começou a naufragar quando perdeu a boa vida dos recursos oficiais e também de grande parte da publicidade privada. Cometeu erro sobre erro, principalmente trazendo para o Espírito Santo profissionais de São Paulo que nada tinham a ver com a cultura capixaba. Eles, exceto Kaka, hoje dirigindo Metro, foram aos poucos formando o caldo de cultura da derrota final. De tanto promover reformas sem sentido, a mais antiga empresa de jornalismo impresso ainda funcionando no Estado conseguiu fazer com que seu leitor não mais se reconhecesse lendo o jornal. Ou então não mais reconhecesse no jornal aquele que ele havia se acostumado a ler todos os dias. Isso é fatal.
Parabéns empresários de A GAZETA. Vocês mataram seu filhote e a terra tremeu mesmo, domingo último em Vitória. Que pena!
27 de setembro de 2019
A(s) família(s) acima de tudo
Elizabeth ao lado do irmão ministro Paulo Guedes. A família é tudo... |
Outro termo caro ao bolsonarismo é 'patriotismo'. Se olharmos os dicionários e a raiz das palavras encontraremos coisas como 'sentimento de amor, orgulho e devoção à pátria e seus símbolos'. Ora, penso eu: sou patriota! Ledo engano. Como discordo de quase todas as coisas que esse governante faz, não faço parte do grupo. Patriota então seriam as pessoas que sentem orgulho, amor e devoção à pátria e, ao mesmo tempo, defendem incondicionalmente o governo atual. Em suma, os 'bolsonaristas de raiz', e somente eles, se adequam a esse status. Um estranho status...
Mas o maior de todos os carmas é 'família'. Não há uma única manifestação pública do presidente na qual ele não fale disso. É apaixonado pela sua. Tanto que faz o possível, o impossível e o inimaginável para emplacar seu filho Eduardo como embaixador do Brasil nos Estados Unidos. Afinal, 'meu filho, meu tesouro' sabe fazer hambúrgueres como ninguém mais...
Esse amor desmedido contaminou a todos. O ministro da Educação, Abraham Weintraub, quer emplacar um irmão seu num organismo encarregado de julgar seus atos. Afinal, quem trai aos seus é monstro. E ele conta com o apoio do ministro da Economia, Paulo Guedes, que adora a irmã, Elizabeth Guedes, professora e presidente(a) da Associação Nacional das Universidades Particulares - ANUP -, e já abriu as portas do poder em Brasília a ela. Sobretudo as do Ministério da Educação onde, com a ajuda de Weintraub, desenvolve-se o projeto de destruição parcial ou total das universidades públicas do Brasil. Projeto esse que vai de vento em popa...
E essas universidades de 'zebras gordas' concorrem com aquelas que Elizabeth tão bem representa. Não pode acontecer isso, concordam comigo? Essa aberração tem que acabar no atual governo. Tanto que um dos programas em curso é não haver mais concurso para professores nas universidades públicas. Assim podem ser nomeados todos os apoiadores do governo. Já que eles não passam em concursos, ao menos pelo que podemos presumir...
É isso amigos. Viva a família do rei e dos amigos do rei. As demais se for possível. Em épocas anteriores governantes brasileiros ajudaram seus familiares de forma velada. Agora não. Agora é tudo descarado mesmo.
24 de setembro de 2019
"...como dizem mentirosamente a mídia..."
O cavaleiro da triste figura vende uma imagem mentirosa de Brasil na ONU |
Bolsonaro focou em Cuba e Venezuela seu discurso contra o "socialismo". Nas críticas à França, acusada por ele de fomentar o questionamento da soberania do Brasil sobre a Amazônia, não citou o nome daquele país (por quê?). Falou que, ao contrário do que o mundo inteiro vê, não há fogo e mortes naquela região. Levou à ONU uma índia quase totalmente desconhecida e leu uma carta, segundo ele de mais de 50 nações indígenas, onde era apoiado seu projeto de levar o "progresso" a todas os grupos que nos antecederam nas terras brasileiras. Isso significa aos poucos ir destruindo as raízes das culturas silvícolas para a exploração comercial das reservas. Tem ódio de territórios indigenistas e deixou isso claro. Odeia o cacique Raoni e também esclareceu esse ponto.
Falou de policiais, de crime organizado, de tráfico de drogas e se mostrou como uma espécie de novo Messias elevado à condição de presidente por um povo que por pouco não foi levado ao "socialismo" contra sua vontade, por inocência. Se um dia Bolsonaro disser o que entende por socialismo, talvez possamos compreender ao menos em parte o seu tosco pensamento político.
Os elogios aos Estados Unidos já eram esperados. Confesso que imaginava que seriam ainda maiores. Disse estar salvando o Brasil apesar dos esforços dos jornalistas de desacreditar seu governo e suas intenções. Como todos esperávamos, usou e abusou de termos como "patriotismo" e "soberania" como se vivêssemos em um terra próxima de ser invadida criminosamente por estrangeiros.
Foi pesaroso. Foi triste. Foi deprimente ouvir o discurso desse presidente da República!
Mas uma coisa todos nós podemos comemorar: ele, em momento algum, atacou as esposas de outros chefes de Estado e nem os pais assassinados de altos dirigentes da ONU. Faço minhas as palavras da ex-presidente chilena Michele Bachelet: "tenho pena do Brasil!"
Resta a convicção de que as notícias continuarão a ser feitas e as reportagens, a serem produzidas. Veremos Bolsonaro espernear enquanto estiver no Planalto, podendo repetir sempre, com ódio e despeito, que isso acontece ...como dizem mentirosamente a mídia...
20 de agosto de 2019
O eliminador de rastros
Desde cedo o presidente Jair Bolsonaro ficou preocupado. Muitos rastros ligavam seu filho mais velho, Flávio, a milicianos do Rio de Janeiro. Havia evidência de contratações destas pessoas e parentes delas nos gabinetes do primogênito e dos outros, o 02 e o 03. Isso era muito mais sério do que contratar mais de duas centenas de parentes para todos os gabinetes ou então tentar emplacar 03 como embaixador nos Estados Unidos. Depois disso ele começou a tirar de sua frente aquelas pessoas com os maus hábitos de seguir rastros. Sobretudo de maus hábitos.
A Polícia Federal começou a sentir o peso da raiva do senhor que diz para quem quiser ouvir: "Quem manda sou eu!". Ele disse que cabeças iriam rolar e rolaram. O negócio é eliminar rastros!
Mas o COAF estava se recusando a ser dócil. Azar dele porque o presidente é mais forte e acabou com ele. Dane-se o fato seu maior mandatário, Roberto Leonel, ter sido indicado pelo ministro da Justiça, Sérgio Moro. Afinal, essa não seria a primeira vez que uma escolha ministerial seria desconsiderada. E também havia o fato de que Leonel - como ele foi capaz? - teve cometido o desplante e o descaramento de criticar o presidente do Supremo Tribunal Federal, que tinha determinado ao COAF para não mais ceder elementos e provas de investigações. A pedido de Flávio...
E essa tal de Receita Federal, como teve a coragem de continuar investigando fatos, analisando dados, revirando documentos, à revelia da vontade presidencial? O Porto de Itaguaí é intocável, mesmo que um delegado da PF veja lá suspeitas de contrabando de armas. Quem disse que não pode haver indicação política para a substituição de um auditor? Pode sim. E se os auditores fiscais ficarem zangados e resolverem cruzar os braços? A gente vê o que acontece.
Hoje mesmo o braço direito do presidente no Rio de Janeiro, Wilson Witzel, maldosamente chamado de AuchWitzel por essa camarilha comunista, comemorou como quem comemora um gol da Seleção Brasileira a morte de um sequestrador na Ponte Rio Niterói. Afinal, ele pode. Desde janeiro último a Polícia do Rio de Janeiro já matou quase 900 pessoas em confrontos naquele Estado. Muita eficiência. Mas ninguém foi morto em regiões dominadas pelas milícias...
Vamos entender uma coisa de uma vez por todas: ninguém pode atacar os projetos e interesses desse clã. Jamais. Afinal, o jovem Renan - que aparece na foto ao lado direito do papai - está sendo preparado para entrar em campo e jogar o jogo na posição que for escolhida para ele.
E por último, quem manda é o Messias. Mas até quando?
A Polícia Federal começou a sentir o peso da raiva do senhor que diz para quem quiser ouvir: "Quem manda sou eu!". Ele disse que cabeças iriam rolar e rolaram. O negócio é eliminar rastros!
Mas o COAF estava se recusando a ser dócil. Azar dele porque o presidente é mais forte e acabou com ele. Dane-se o fato seu maior mandatário, Roberto Leonel, ter sido indicado pelo ministro da Justiça, Sérgio Moro. Afinal, essa não seria a primeira vez que uma escolha ministerial seria desconsiderada. E também havia o fato de que Leonel - como ele foi capaz? - teve cometido o desplante e o descaramento de criticar o presidente do Supremo Tribunal Federal, que tinha determinado ao COAF para não mais ceder elementos e provas de investigações. A pedido de Flávio...
E essa tal de Receita Federal, como teve a coragem de continuar investigando fatos, analisando dados, revirando documentos, à revelia da vontade presidencial? O Porto de Itaguaí é intocável, mesmo que um delegado da PF veja lá suspeitas de contrabando de armas. Quem disse que não pode haver indicação política para a substituição de um auditor? Pode sim. E se os auditores fiscais ficarem zangados e resolverem cruzar os braços? A gente vê o que acontece.
Hoje mesmo o braço direito do presidente no Rio de Janeiro, Wilson Witzel, maldosamente chamado de AuchWitzel por essa camarilha comunista, comemorou como quem comemora um gol da Seleção Brasileira a morte de um sequestrador na Ponte Rio Niterói. Afinal, ele pode. Desde janeiro último a Polícia do Rio de Janeiro já matou quase 900 pessoas em confrontos naquele Estado. Muita eficiência. Mas ninguém foi morto em regiões dominadas pelas milícias...
Vamos entender uma coisa de uma vez por todas: ninguém pode atacar os projetos e interesses desse clã. Jamais. Afinal, o jovem Renan - que aparece na foto ao lado direito do papai - está sendo preparado para entrar em campo e jogar o jogo na posição que for escolhida para ele.
E por último, quem manda é o Messias. Mas até quando?
13 de agosto de 2019
E ele respeita alguém?
Bolsonaro não tem por hábito respeitar os outros. Mas exige que o respeitem |
Pergunto: Bolsonaro respeita alguém?
Nos últimos tempos as declarações do presidente têm horrorizado todas as pessoas mais esclarecidas. E isso por uma razão muito simples: a presidência da República tem uma liturgia que os ocupantes do cargo não podem desconhecer. É preciso que os presidentes respeitem a dignidade da chefia de Estado, sem o que eles se diminuem e tornam o conceito do País água de sarjeta.
Já ouvimos de Bolsonaro que para defender o clima o cidadão deve "fazer cocô" dia sim, dia não. Em viagens ao exterior ele teve a coragem estúpida de elogiar ditadores sanguinários de Argentina, Chile e Paraguai na terra destes, para horror de cidadãos locais. Agora mesmo disse no Rio Grande do Sul que se a "esquerdalha" vencer na Argentina haverá um êxodo. Cito apenas alguns episódios constrangedores porque o texto não deve ser longo. Vou deixar o "embaixador" para outra hora.
Tudo o que um presidente diz tem repercussão ampla e imediata. Seja ele de que país for. Além disso, um chefe de Estado é cobrado todos os dias, todas as horas e mesmo que considere as perguntas pouco importantes ou pouco inteligentes, tem a obrigação de tratar os jornalistas com respeito. Afinal de contas eles representam a interface do poder com o povo.
Bolsonaro foi durante 28 anos um dos deputados federais mais apagados do Congresso. Não é absurdo dizer que ele nada fez de útil. Além disso empregou mais de 200 parentes em gabinetes. Seus filhos políticos também fizeram isso e nas listas de contratações com dinheiro público figuram até mesmo milicianos que atualmente infernizam a vida dos moradores do Rio de Janeiro.
Ninguém é desrespeitoso com o presidente. Pessoa alguma é obrigada a respeitar quem não merece respeito por seus atos grosseiros, por suas atitudes sem propósito. E esse é o caso.
6 de agosto de 2019
Democracia de bancadas
Congresso cheio para a defesa de interesse de bancada. Qual? Não importa |
Nossos aleijões começam pela inexpressividade das organizações partidárias. Quase totalmente despidas de ideologias ou de projetos políticos claros, acabam sucumbindo a uma figura estranha na vida dos outros países: as bancadas. Aqui temos principalmente a evangélica, a ruralista e a da bala. Distribuídos por diversas organizações partidárias ao sabor de conveniências regionais ou corporativas, seus membros se unem para a defesa dos interesses primeiros: imposição de dogmas religiosos, projetos de grandes latifundiários ou de fabricantes e defensores de armas. E os partidos? Muitos de seus membros sequer sabem qualquer coisa acerca deles. Ou para que servem.
A situação chegou a tal ponto que o nome "Partido" está desaparecendo em muitos casos. Hoje temos organizações com nomes como Democratas, Verde, Avante, Democracia Cristã, Solidariedade, PROS, Patriota, Rede e até mesmo Cidadania, apelido agora adotado pelo PPS, nascido PCB.
É uma situação esdrúxula, no todo ou em parte...
Recentemente surgiu aqui em Vitória, no Espírito Santo, a informação de que policiais militares estariam se unindo para concorrer às próximas eleições municipais. Como conheço um coronel aposentado, perguntei a ele como isso vai ser feito e a que partido os militares se filiariam. Eles querem lutar sobretudo por salários melhores - aqui são pagos alguns dos mais baixos do Brasil -, concorrendo para os cargos de prefeito e vereador, se possível em todos os municípios. Partido? Isso cada um vai escolher o seu. Em suma, vem mais uma bancada por aí!
Dos muitos de nossos problemas o maior hoje talvez seja esse: na política, salvo raras e honrosas exceções, entram aqueles que vão defender suas bandeiras pessoais e/ou corporativas. E os maiores, mais importantes e urgentes interesses para o País? Isso não está no horizonte dessas pessoas. Seria uma função exclusiva de organizações político partidárias robustas, conhecidas e respeitadas, caso elas ainda existissem no Brasil. Mas, pobres de nós, elas são espécimes em extinção como há outras nas florestas.
2 de agosto de 2019
A lei da selva nos jornais
Tenho um amigo contador, dono de empresa de contabilidade e "ex-assinante" de A Gazeta. Hoje eu me encontrei com ele e ouvi: "Álvaro, quando eu vi o balanço de AG do ano passado fiquei impressionado. A empresa estava com patrimônio líquido negativo. Quebrada. Publicou o balanço porque isso é exigência legal, mas creio que a família dona do negócio o estava sustentando".
Eu, que conheço aquela história há muito tempo, também tinha conhecimento disso. E os jornalistas que trabalham na empresa em cargos de chefia, embora não avisados com antecedência do que iria acontecer, já sabiam que as coisas iam de mal a pior e poderiam mudar. No caso da Rede Gazeta isso era inevitável. O "desenlace" acabou chegando mais cedo do que se imaginava. Do que eu imaginava, pelo menos.
O Globo, Folha de S. Paulo, Estado de São Paulo, Zero Hora e outros jornais - ficaria difícil fazer uma listagem agora - são dirigidos por gerações de famílias de jornalistas. Eles conhecem seus negócios e sabem como tocar o barco. Outras grandes, médias e até algumas pequenas empresas são administradas não por jornalistas mas por administradores de empresas profissionais. Daqueles que recebem a incumbência com carta branca para agir e ganham, além do salário, mais um adicional pelo lucro líquido obtido. A empresa lucra. E se mantém, mesmo em mercado adverso.
No mundo capitalista as coisas funcionam dessa forma. Há um movimento de pêndulo na vida e no formato dos negócios e todos, sem exceção, tendem a passar por situações de bonança e de dificuldades. Mudanças são inevitáveis e só os competentes sobrevivem. Como na lei da selva, onde até mesmo a reprodução preserva os mais fortes e sacrifica os mais fracos.
O capitalismo é a reprodução da lei da selva no mundo dos negócios!
No jornalismo, o fechamento de um jornal diário tradicional é péssimo, sobretudo, quando somente um outro sobrevive na praça. Por mais que a gente queira dizer que o mundo agora é digital, olhar notícias pela tela de um computador, celular ou o que quer que seja é muito diferente de ter uma publicação em mãos. A nova geração talvez discorde, mas ela não tem ainda a força de ser formadora de opinião como as anteriores. Um jornal de internet está longe de ser, hoje, o que é a TV. Afinal, esta está formando opiniões só no Brasil há cerca de 70 anos. É um bom tempo.
Terminei minha conversa com meu amigo contador às gargalhadas. Ele me disse: "E agora, depois de 30 de setembro o que eu vou fazer com o cocô do Mike?". O cachorrinho da família, afinal, era o destinatário do jornal diário já lido. Recomendei a ele assinar o concorrente!
Mas insisto: existe em Vitória, Vila Velha, etc, espaço para um jornal diário de âmbito estadual no Espírito Santo. Isso é saudável até mesmo para manter a democratização da informação.
Eu, que conheço aquela história há muito tempo, também tinha conhecimento disso. E os jornalistas que trabalham na empresa em cargos de chefia, embora não avisados com antecedência do que iria acontecer, já sabiam que as coisas iam de mal a pior e poderiam mudar. No caso da Rede Gazeta isso era inevitável. O "desenlace" acabou chegando mais cedo do que se imaginava. Do que eu imaginava, pelo menos.
O Globo, Folha de S. Paulo, Estado de São Paulo, Zero Hora e outros jornais - ficaria difícil fazer uma listagem agora - são dirigidos por gerações de famílias de jornalistas. Eles conhecem seus negócios e sabem como tocar o barco. Outras grandes, médias e até algumas pequenas empresas são administradas não por jornalistas mas por administradores de empresas profissionais. Daqueles que recebem a incumbência com carta branca para agir e ganham, além do salário, mais um adicional pelo lucro líquido obtido. A empresa lucra. E se mantém, mesmo em mercado adverso.
No mundo capitalista as coisas funcionam dessa forma. Há um movimento de pêndulo na vida e no formato dos negócios e todos, sem exceção, tendem a passar por situações de bonança e de dificuldades. Mudanças são inevitáveis e só os competentes sobrevivem. Como na lei da selva, onde até mesmo a reprodução preserva os mais fortes e sacrifica os mais fracos.
O capitalismo é a reprodução da lei da selva no mundo dos negócios!
No jornalismo, o fechamento de um jornal diário tradicional é péssimo, sobretudo, quando somente um outro sobrevive na praça. Por mais que a gente queira dizer que o mundo agora é digital, olhar notícias pela tela de um computador, celular ou o que quer que seja é muito diferente de ter uma publicação em mãos. A nova geração talvez discorde, mas ela não tem ainda a força de ser formadora de opinião como as anteriores. Um jornal de internet está longe de ser, hoje, o que é a TV. Afinal, esta está formando opiniões só no Brasil há cerca de 70 anos. É um bom tempo.
Terminei minha conversa com meu amigo contador às gargalhadas. Ele me disse: "E agora, depois de 30 de setembro o que eu vou fazer com o cocô do Mike?". O cachorrinho da família, afinal, era o destinatário do jornal diário já lido. Recomendei a ele assinar o concorrente!
Mas insisto: existe em Vitória, Vila Velha, etc, espaço para um jornal diário de âmbito estadual no Espírito Santo. Isso é saudável até mesmo para manter a democratização da informação.
31 de julho de 2019
A Gazeta e a incompetência
Desde o final da manhã de 31 de julho o mundo jornalístico treme em Vitória: fundado em 1928, o jornal A Gazeta vai deixar de existir no Espírito Santo, ao menos como um matutino diário. Mas a longa agonia daquele que foi durante décadas o jornal mais vendido no Estado começou mais ou menos há 25 anos. E a crise foi se aprofundando, aprofundando até terminar como terminou no dia de hoje: um comunicado cheio de eufemismos diz que a empresa está se modernizando, se adaptando aos tempos. Deixando de existir...
Na prática, a debacle começou com um racha na família Lindenberg, que comanda a empresa, quando Carlos Fernando Monteiro Lindenberg Filho, o Cariê, foi afastado da direção e substituído pelo filho Carlos Fernando Monteiro Lindenberg Neto, o Café. A história desse terremoto familiar é longa e não caberia aqui nesse simples artigo.
E a entrada de Café no comando da empresa marcou o início da decadência dela. Nos áureos tempos o jornal chegou a vender 100 mil exemplares aos domingos, cinco vezes o que vendia A Tribuna. De erro em erro a diferença foi caindo, o concorrente ultrapassou o antes líder, nunca mais deixou a liderança E, no comunicado de hoje a direção admitiu que AG estava vendendo 10 mil exemplares/dia. Dez por cento do que vendeu no passado...
Reflexo do "roubo" de leitores por parte da internet? Nada. No começo da perda de prestígio, sobretudo depois da morte do diretor de redação Paulo Torre, a empresa passou a colecionar erros. Contratou seguidamente profissionais de outros estados - São Paulo, no caso - para a direção da redação, alguns incompetentes, promoveu várias "reformas gráficas", criou o ridículo "Notícia Agora", demitiu profissionais experientes para contratar substitutos a preço vil e só acordou para os enganos quando já era a segunda colocada em vendas.
Jornalismo é feito com os pés na cultura da terra onde o jornal é vendido. "Estrangeiros" que não entendem essa cultura jogam a publicação no buraco. A menos que eles queiram adotar a terra como sua, dá tudo errado. A Gazeta nunca entendeu uma verdade clara: ela foi derrotada pela competência de seu maior adversário e pelo fato de que deixou de ser A Gazeta. Ou seja, em linguagem simples o leitor já não via no que comprava ou assinava o jornal que ele havia aprendido a gostar. Simples assim.
Não vale a pena prosseguir. Isso dá matéria para dezenas de colunas. Por agora basta lamentar profundamente o que está acontecendo, saber que em breve não haverá mais jornal nem aos sábados e voltar a afirmar: aquela que foi a maior empresa de Comunicação do Espírito Santo perde seu jornal diário única e exclusivamente por incompetência. Mais nada.
Só para concluir; há espaço agora para um jornal diário sério no Espírito Santo.
Na prática, a debacle começou com um racha na família Lindenberg, que comanda a empresa, quando Carlos Fernando Monteiro Lindenberg Filho, o Cariê, foi afastado da direção e substituído pelo filho Carlos Fernando Monteiro Lindenberg Neto, o Café. A história desse terremoto familiar é longa e não caberia aqui nesse simples artigo.
E a entrada de Café no comando da empresa marcou o início da decadência dela. Nos áureos tempos o jornal chegou a vender 100 mil exemplares aos domingos, cinco vezes o que vendia A Tribuna. De erro em erro a diferença foi caindo, o concorrente ultrapassou o antes líder, nunca mais deixou a liderança E, no comunicado de hoje a direção admitiu que AG estava vendendo 10 mil exemplares/dia. Dez por cento do que vendeu no passado...
Reflexo do "roubo" de leitores por parte da internet? Nada. No começo da perda de prestígio, sobretudo depois da morte do diretor de redação Paulo Torre, a empresa passou a colecionar erros. Contratou seguidamente profissionais de outros estados - São Paulo, no caso - para a direção da redação, alguns incompetentes, promoveu várias "reformas gráficas", criou o ridículo "Notícia Agora", demitiu profissionais experientes para contratar substitutos a preço vil e só acordou para os enganos quando já era a segunda colocada em vendas.
Jornalismo é feito com os pés na cultura da terra onde o jornal é vendido. "Estrangeiros" que não entendem essa cultura jogam a publicação no buraco. A menos que eles queiram adotar a terra como sua, dá tudo errado. A Gazeta nunca entendeu uma verdade clara: ela foi derrotada pela competência de seu maior adversário e pelo fato de que deixou de ser A Gazeta. Ou seja, em linguagem simples o leitor já não via no que comprava ou assinava o jornal que ele havia aprendido a gostar. Simples assim.
Não vale a pena prosseguir. Isso dá matéria para dezenas de colunas. Por agora basta lamentar profundamente o que está acontecendo, saber que em breve não haverá mais jornal nem aos sábados e voltar a afirmar: aquela que foi a maior empresa de Comunicação do Espírito Santo perde seu jornal diário única e exclusivamente por incompetência. Mais nada.
Só para concluir; há espaço agora para um jornal diário sério no Espírito Santo.
29 de julho de 2019
O desqualificado do Planalto
"Se o presidente da OAB quiser saber como é que o pai dele desapareceu no período militar, eu conto pra ele".
A declaração acima parece ter sido dada por um desqualificado qualquer, desafeto do atual presidente da OAB, Felipe Santa Cruz (na foto, à direita, abraçado ao ex-presidente Cláudio Lamachia). Mas não; foi dada pelo desqualificado que hoje ocupa a presidência da República, Jair Messias Bolsonaro, inconformado que está porque a OAB, cumprindo normais constitucionais, impediu que a Polícia Federal quebrasse o sigilo telefônico de um dos advogados do réu Adélio Bispo, autor do atentado a faca contra ele.
Parece piada de mau gosto. Hoje mesmo, depois de vomitar palavras mais uma vez em entrevista e tentando atingir Santa Cruz, o presidente ainda referiu-se com desprezo contra os índios que, no ver dele, preferem ficar em seus zoológicos a se inserir na "civilização".
Jair Bolsonaro, o presidente autor do ataque, não respeita nada nem ninguém. O pai do presidente da OAB, Fernando Santa Cruz, desapareceu e foi assassinado aos 26 anos de idade pelo aparelho repressivo da ditadura militar brasileira. Até hoje não se sabe o destino do corpo, jamais devolvido aos familiares depois do suplício pelo qual passou. Ele fazia parte de um grupo político clandestino e que lutava contra os ditadores de plantão. Foi preso e assassinado no Rio de Janeiro.
O presidente diz conhecer o destino do morto por "vivência". Deve ser verdade. Um dos ídolos dele, Carlos Alberto Brilhante Ustra, já morto, foi oficial do Exército brasileiro e identificado como assassino e torturador já há muitos anos. Como ele, diversos outros terminaram desmascarados depois do final da ditadura. Bolsonaro os considera a todos como seus ídolos. Ele preserva essas tristes memórias que impedem que centenas de famílias tenham paz. Para ele a tortura e o assassinato de adversários e inimigos políticos deveriam ser instituições nacionais intocáveis.
O exercício de um cargo como a Presidência da República exige de seu ocupante ao menos compostura. Se possível, pudor. Nada disso o indivíduo eleito para ocupar o Palácio do Planalto em fins do ano passado tem. Nem tenta ter. Em diversas ocasiões era visível o desconforto de seu entorno nos momentos em que ele dava entrevistas desrespeitosas, agressivas, incapazes de honrar a posição ocupada. Ou então falando besteiras e dando risadas que chegam a parecer latidos de hienas.
O presidente do Brasil é uma tragédia. Pior de tudo é percebermos que os filhos, vozes atuantes quase todos os dias, talvez sejam ainda piores do que ele. Estamos no mato sem cachorro.
A declaração acima parece ter sido dada por um desqualificado qualquer, desafeto do atual presidente da OAB, Felipe Santa Cruz (na foto, à direita, abraçado ao ex-presidente Cláudio Lamachia). Mas não; foi dada pelo desqualificado que hoje ocupa a presidência da República, Jair Messias Bolsonaro, inconformado que está porque a OAB, cumprindo normais constitucionais, impediu que a Polícia Federal quebrasse o sigilo telefônico de um dos advogados do réu Adélio Bispo, autor do atentado a faca contra ele.
Parece piada de mau gosto. Hoje mesmo, depois de vomitar palavras mais uma vez em entrevista e tentando atingir Santa Cruz, o presidente ainda referiu-se com desprezo contra os índios que, no ver dele, preferem ficar em seus zoológicos a se inserir na "civilização".
Jair Bolsonaro, o presidente autor do ataque, não respeita nada nem ninguém. O pai do presidente da OAB, Fernando Santa Cruz, desapareceu e foi assassinado aos 26 anos de idade pelo aparelho repressivo da ditadura militar brasileira. Até hoje não se sabe o destino do corpo, jamais devolvido aos familiares depois do suplício pelo qual passou. Ele fazia parte de um grupo político clandestino e que lutava contra os ditadores de plantão. Foi preso e assassinado no Rio de Janeiro.
O presidente diz conhecer o destino do morto por "vivência". Deve ser verdade. Um dos ídolos dele, Carlos Alberto Brilhante Ustra, já morto, foi oficial do Exército brasileiro e identificado como assassino e torturador já há muitos anos. Como ele, diversos outros terminaram desmascarados depois do final da ditadura. Bolsonaro os considera a todos como seus ídolos. Ele preserva essas tristes memórias que impedem que centenas de famílias tenham paz. Para ele a tortura e o assassinato de adversários e inimigos políticos deveriam ser instituições nacionais intocáveis.
O exercício de um cargo como a Presidência da República exige de seu ocupante ao menos compostura. Se possível, pudor. Nada disso o indivíduo eleito para ocupar o Palácio do Planalto em fins do ano passado tem. Nem tenta ter. Em diversas ocasiões era visível o desconforto de seu entorno nos momentos em que ele dava entrevistas desrespeitosas, agressivas, incapazes de honrar a posição ocupada. Ou então falando besteiras e dando risadas que chegam a parecer latidos de hienas.
O presidente do Brasil é uma tragédia. Pior de tudo é percebermos que os filhos, vozes atuantes quase todos os dias, talvez sejam ainda piores do que ele. Estamos no mato sem cachorro.
22 de julho de 2019
O Batman bem pertinho..
"Notícia é fato de interesse público".
Essa definição é minha e a formulei durante os anos em que exerci funções jornalísticas em imprensa diária. Um estudante de Comunicação procurou-me certo dia na redação do jornal A Gazeta com uma incumbência de um seu professor. Eu teria de falar sobre o que é notícia. Botei a mão no queixo, pensei e defini em seis palavras. O rapaz me perguntou: "Só isso?". Eu disse: "Não, tudo isso." Em seguida perguntei a ele o que iria almoçar, houve resposta a complementei: "Isso não é notícia!"
Por esse motivo e mais uma carrada de outros, assusta-me o comportamento do cidadão que ocupa a presidência da República. Quando ele diz, questionando o presidente do INPE, que a divulgação de informes colhidos por imagens de satélite mostrando a devastação da Amazônica, que essa divulgação prejudica o País, está defendendo a ocultação dos resultados. Ou seja: fala que o brasileiro não tem o direito de ter acesso a informações de interesse público. A notícias.
O noticiário dos jornais de hoje fala também que Bolsonaro governa defendendo os interesses dos grupos que apoiaram quase incondicionalmente sua eleição. Os evangélicos estão entre eles, também a bancada da bala, policiais, militares, caminhoneiros e ruralistas. Esses últimos são os que devastam o ambiente. Portanto, a eles interessa a posição canhestra do presidente.
A notícia não é de ninguém em particular. É de todos. E quem vive no Brasil, trabalha, paga impostos escorchantes, enfrenta dificuldades em decorrência da crise sem fim pela qual passamos, tem o direito de acessar todas as informações de interesse público. O presidente pode até dar sua interpretação para essa ou aquela. Mas não tem o direito constitucional de censurar, de vetar o acesso a elas. E nem pode passar a vida fazendo acusações irresponsáveis àqueles com os quais não concorda como, por exemplo, o atual presidente do INPE.
Que provas tem Bolsonaro de que ele age a serviço de ONGs? E se tem tanto ódio de organizações não governamentais, por que não as ataca diretamente, sobretudo na Amazônia? Será que é porque uma parte delas é norte-americana? Um presidente tão "valente" não pode se recusar a ir à luta.
Figura tosca, sem um único mérito pessoal digno de nota, o atual governante "trabalha" olhando em frente, focando unicamente suas convicções pessoais, de seus familiares e dos grupelhos pouco qualificados que o apoiam. Não olha para trás, não consulta quem está fora de seu entorno.
Se fizesse isso poderia ver um Batman fantasmagórico bem pertinho, nas saídas às ruas.
Essa definição é minha e a formulei durante os anos em que exerci funções jornalísticas em imprensa diária. Um estudante de Comunicação procurou-me certo dia na redação do jornal A Gazeta com uma incumbência de um seu professor. Eu teria de falar sobre o que é notícia. Botei a mão no queixo, pensei e defini em seis palavras. O rapaz me perguntou: "Só isso?". Eu disse: "Não, tudo isso." Em seguida perguntei a ele o que iria almoçar, houve resposta a complementei: "Isso não é notícia!"
Por esse motivo e mais uma carrada de outros, assusta-me o comportamento do cidadão que ocupa a presidência da República. Quando ele diz, questionando o presidente do INPE, que a divulgação de informes colhidos por imagens de satélite mostrando a devastação da Amazônica, que essa divulgação prejudica o País, está defendendo a ocultação dos resultados. Ou seja: fala que o brasileiro não tem o direito de ter acesso a informações de interesse público. A notícias.
O noticiário dos jornais de hoje fala também que Bolsonaro governa defendendo os interesses dos grupos que apoiaram quase incondicionalmente sua eleição. Os evangélicos estão entre eles, também a bancada da bala, policiais, militares, caminhoneiros e ruralistas. Esses últimos são os que devastam o ambiente. Portanto, a eles interessa a posição canhestra do presidente.
A notícia não é de ninguém em particular. É de todos. E quem vive no Brasil, trabalha, paga impostos escorchantes, enfrenta dificuldades em decorrência da crise sem fim pela qual passamos, tem o direito de acessar todas as informações de interesse público. O presidente pode até dar sua interpretação para essa ou aquela. Mas não tem o direito constitucional de censurar, de vetar o acesso a elas. E nem pode passar a vida fazendo acusações irresponsáveis àqueles com os quais não concorda como, por exemplo, o atual presidente do INPE.
Que provas tem Bolsonaro de que ele age a serviço de ONGs? E se tem tanto ódio de organizações não governamentais, por que não as ataca diretamente, sobretudo na Amazônia? Será que é porque uma parte delas é norte-americana? Um presidente tão "valente" não pode se recusar a ir à luta.
Figura tosca, sem um único mérito pessoal digno de nota, o atual governante "trabalha" olhando em frente, focando unicamente suas convicções pessoais, de seus familiares e dos grupelhos pouco qualificados que o apoiam. Não olha para trás, não consulta quem está fora de seu entorno.
Se fizesse isso poderia ver um Batman fantasmagórico bem pertinho, nas saídas às ruas.
16 de julho de 2019
"Viés sem partido", a farsa
De todas as farsas que o governo de Jair Bolsonaro patrocina e tenta impor aos brasileiros, duas são inacreditáveis: o discurso de combate ao "viés ideológico" e a "escola sem partido". Nenhum deles sobrevive a uma contestação de estudante mediano de Primeiro Grau.
Bolsonaro tem várias fixações fruto de seu primarismo ideológico. Uma delas é tirar do Brasil e sobretudo dos órgãos públicos o que ele chama de "viés ideológico" com tonalidades vermelhas. Mas não diz que sua intenção não é acabar com a ideologia, posto que isso não é possível, mas substituir a, digamos atual, por outra de extrema direita. Ou seja, nazifascista.
Ele discursa, seus ministros mais intelectualmente pobres endossam essas falas, e todos agem como se a "intelligentsia" do Brasil se comportasse exatamente como a "burrutsia". Mas não é o que ocorre, lamentavelmente para eles todos. Cavaleiro de uma nova triste figura, pensamentos medievais, capacidade intelectual reduzidíssima, Bolsonaro leva seu obscurantismo político às últimas consequências e, com base nele, tenta destruir tudo o que pareça conter seus fantasmas vermelhos. O mais danoso certamente é a tentativa de destruição do meio ambiente brasileiro.
Outra falácia é a "escola sem partido". Ele discorda da autonomia existente nas universidades federais, sobretudo quando ela toca na liberdade de cátedra. Quer acabar com ela para que seus novos professores digam que jamais houve ditadura no Brasil, comunista come criancinha, a disciplina "educação moral e cívica" é fundamental, a ciência de nada vale e em cada pé de goiaba de cada universidade, sobretudo federal, olhando bem Deus aparece para você. Se você for de direita, claro.
A reforma da Previdência está sendo feita não apenas porque é necessária - e é -, mas também para privilegiar os mais ricos. Os poderosos. E ela já nos custa uma fortuna em barganhas e uso de dinheiro público para subornar políticos que se vendem a preço de ocasião. Tanto à esquerda quanto à direita.
Nós estamos num beco sem saída com esse governo, prezados!
E isso foi visto em toda a sua maior dimensão quando reacionários "bostonaristas" cercaram a FLIC de Paraty para agredir com palavras e foguetes os que estavam lá, ao mesmo tempo em que eram cuspidas palavras de ordem pregadoras de violência e golpe de Estado.
É preciso denunciar. É necessário lutar contra isso tudo. O Brasil precisa acordar e ver que Eduardo Bolsonaro como embaixador do Brasil nos Estados Unidos está longe de ser o maior perigo a nos rondar hoje em dia. Na verdade, ele é apenas o mais grotesco dessa tragédia.
Bolsonaro tem várias fixações fruto de seu primarismo ideológico. Uma delas é tirar do Brasil e sobretudo dos órgãos públicos o que ele chama de "viés ideológico" com tonalidades vermelhas. Mas não diz que sua intenção não é acabar com a ideologia, posto que isso não é possível, mas substituir a, digamos atual, por outra de extrema direita. Ou seja, nazifascista.
Ele discursa, seus ministros mais intelectualmente pobres endossam essas falas, e todos agem como se a "intelligentsia" do Brasil se comportasse exatamente como a "burrutsia". Mas não é o que ocorre, lamentavelmente para eles todos. Cavaleiro de uma nova triste figura, pensamentos medievais, capacidade intelectual reduzidíssima, Bolsonaro leva seu obscurantismo político às últimas consequências e, com base nele, tenta destruir tudo o que pareça conter seus fantasmas vermelhos. O mais danoso certamente é a tentativa de destruição do meio ambiente brasileiro.
Outra falácia é a "escola sem partido". Ele discorda da autonomia existente nas universidades federais, sobretudo quando ela toca na liberdade de cátedra. Quer acabar com ela para que seus novos professores digam que jamais houve ditadura no Brasil, comunista come criancinha, a disciplina "educação moral e cívica" é fundamental, a ciência de nada vale e em cada pé de goiaba de cada universidade, sobretudo federal, olhando bem Deus aparece para você. Se você for de direita, claro.
A reforma da Previdência está sendo feita não apenas porque é necessária - e é -, mas também para privilegiar os mais ricos. Os poderosos. E ela já nos custa uma fortuna em barganhas e uso de dinheiro público para subornar políticos que se vendem a preço de ocasião. Tanto à esquerda quanto à direita.
Nós estamos num beco sem saída com esse governo, prezados!
E isso foi visto em toda a sua maior dimensão quando reacionários "bostonaristas" cercaram a FLIC de Paraty para agredir com palavras e foguetes os que estavam lá, ao mesmo tempo em que eram cuspidas palavras de ordem pregadoras de violência e golpe de Estado.
É preciso denunciar. É necessário lutar contra isso tudo. O Brasil precisa acordar e ver que Eduardo Bolsonaro como embaixador do Brasil nos Estados Unidos está longe de ser o maior perigo a nos rondar hoje em dia. Na verdade, ele é apenas o mais grotesco dessa tragédia.
4 de junho de 2019
O espelho retrovisor
Talvez a única exceção entre o retrovisor de Bolsonaro e o dos demais é que ele não consegue ver essa cena tão real |
- Militares e civis desse meu Brasil (slogan ideal), hoje sou o presidente de todos os brasileiros. Quero ouvir e ouvirei o Congresso sem exceção a um único congressista, para tentarmos um governo de coalizão. O passado ficou, já não conta e agora olharemos para a frente.
Nada disso; o capitão que teve que dar baixa do Exército para não ser expulso recusa-se a deixar de olhar pelo retrovisor. Só que no seu caso o espelho o engana. Tenta a todo instante desqualificar os adversários, tornando-os inimigos seus. Quer reescrever a história dando a ela uma conotação enganosa. Já convenceu a milhares de que a ditadura militar nunca existiu e teria sido aquela época, como um dia disse o general Geisel, "uma democracia dentro de sua relatividade".
Seus ministros têm vários pontos em comum mas o maior deles é não saber se expressar em língua portuguesa, além de verem Jesus longe dos altares. Poucos são realmente levados a sério. Por incrível que pareça esse é até mesmo o caso da ministra da Agricultura, nossa Menina Veneno!
Nos carros dos apoiadores até o retrovisor é um "patriota" |
Nesses tempos de confronto entre opostos, tudo o que o Brasil precisava era de um conciliador. Alguém capaz de chamar para conversar e, ao não conseguir, ter o direito de dizer a plenos pulmões: "Eu tentei!". Tudo o que o Brasil não precisava era de alguém que discursa fazendo gestos de armas de fogo, dá pitaco em política externa de outros países, enaltece ditadores sanguinários daqui e dali, conta piadas sem graça e inconvenientes e só fala que o Brasil está onde está por causa de todos os que o antecederam. Todos não, minto. Os militares eram gente muito fina. Todos eles.
Nunca olha para a frete. Por isso não governa de verdade.
Bolsonaro age como se navegasse em águas calmas. Tão calmas que ele pode enfrentar e agredir a todos. Transmite essa certeza a seus assessores diretos e muitos não só acreditam nisso mas o imitam. Como foi militar, deveria saber que o Brasil que ele transtorna a cada dia em um reino das fake news - é mestre em falar e desmentir depois -, já é um risco dar um simples passo à frente.
Talvez a neblina de seus olhos o impeça de ver o abismo!
27 de maio de 2019
Associações do prefeito
Marca da associação de Jardim Camburi. Nas mãos da Prefeitura da Capital |
Moro em Jardim da Penha. Durante o mandato passado de prefeito do PT, a Associação dos Moradores de Jardim da Penha era mantida a reboque dos interesses daquele partido. Quando enfim o prefeito eleito foi Luciano, do PPS, imaginei que a chapa a vencer a primeira eleição do bairro seria formada por pessoas que trabalhariam de forma independente, defendendo os interesses da comunidade. E apenas isso. Afinal o novo administrador havia sido apresentado quando se iniciou na política como um exemplo de renovação, de nova administração sem os vícios dos políticos tradicionais.
Ledo engano. Logo a chapa eleita para Jardim da Penha foi cooptada pelo prefeito do PPS. Hoje ela não defende obrigatoriamente os interesses do bairro, mas os da administração municipal. Para chegar a tanto a PMV contratou como "cargos comissionados" praticamente todos os diretores de Jardim da Penha. Consegue apoio a seu projeto político com o meu, o seu, o nosso dinheiro.
É uma pena. É também atitude de uma falta de ética política enorme.
As associações de moradores existem para que os interesses das comunidades sejam defendidos junto ao poder público. Para que projetos e outras reivindicações tenham amparo pela força da pressão legítima das comunidades. Mas praticamente todas elas hoje são parte do jogo político rasteiro. Na Praia do Canto, por exemplo, durante anos a associação de moradores teve à frente um vereador de Vitória e seus aliados. Depois que ele não conseguiu mais se reeleger, nem assim parou de tentar influenciar a vida da entidade representativa da comunidade. Sonha com um futuro político!
Esse é um dos problemas da política brasileira: invadir todos os espaços e prostituir os projetos das comunidades. E elas não podem ser inocentadas nesse tipo de aberração, pois aceitam o jogo que é feito, se omitem no processo eleitoral - ninguém é obrigado a votar - e dessa forma permitem que a política de conchavos de bastidores dirija os interesses comunitários.
Ao longo dos tempos inúmeros pilantras da vida pública nacional alimentaram-se dessas brechas e fizeram carreira que em grande parte dos casos duraram vidas inteiras.
15 de abril de 2019
As milícias estão chegando
Bairro do Rio de Janeiro cominado por milícia: construções irregulares |
Como agem as milícias no Rio de Janeiro? Simples; vamos começar pelo mais óbvio: elas ocupam o espaço do Estado ausente. Onde ele não atua ela está presente. E como rios de dinheiro são movimentados nesses negócios escusos por essas quadrilhas, a cada dia que passa elas são mais fortes e agem vandalismo e "coragem" acima da lei. Já o Estado não deixa de agir porque não tem meios nem modos. Deixa por omissão. Mais do que isso; por omissão criminosa.
Miliciano mostra o seu porrete: "Direitos Humanos" |
As construções irregulares não têm projeto de engenharia, acompanhamento técnico, nada. Os materiais são de péssima qualidade e as estruturas, deficientes. Os desmoronamentos no Rio de Janeiro mostram isso. Os edifícios foram corroídos por infiltrações de água e lama que desceram das encostas atrás deles durante tempestade, pois ali não era possível construir com segurança.
Isso dá muito dinheiro, é claro. Um chefe de milícia era vizinho do presidente da República no condomínio de luxo onde ambos viviam na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro. Mas o chefe do Executivo, claro, não sabia de nada. Ele e os filhos dele, um vereador, um deputado estadual e um senador empregavam em seus gabinetes legislativos parentes e amigos de chefes milicianos até recentemente. Mas todos foram demitidos após denúncias porque antes eles também nada sabiam.
O prefeito nada fez. Está preocupado com sua religião evangélica. E o presidente? Nada diz. Libera caça a animais silvestres, tenta proibir radares em rodovias, a queima de máquinas e equipamentos de desmatadores e garimpeiros de regiões de proteção ambiental permanente e outras coisinhas mais. Claro, não sobra tempo para combater o crime organizado, esse pequeno detalhe.
4 de abril de 2019
Um governo sem rumo
Num momento da vida nacional na qual seria de suma importância resolver os principais problemas do Brasil, tais como as reformas da Previdência e Tributária, o presidente se distancia dos reais interesses do País para namorar sério com Israel, criando atritos claros com árabes e palestinos e depois abre uma discussão acerca de o nazismo e o fascismo serem de esquerda, numa situação que aflige até mesmo os israelenses. Onde ele quer chegar? Onde querem chegar também seu raso chanceler e seu ministro da Educação que é quase um fantoche?
Bolsonaro tem tão pouco preparo para dirigir um país como o Brasil que perde tempo elogiando ditadores sul-americanos e buscando argumentos fraudulentos para tentar convencer a população de que não houve ditadura no Brasil em vez de montar um governo e governar. Ao mesmo tempo em que não faz isso sua popularidade desaba apesar das frequentes incursões pelo Twiter. Tão tacanho ele é que ainda não percebeu ter sido eleito pelas pessoas que abjuravam o PT. Na prática não eram eleitores dele mas apenas o consideravam o mal menor numa época conturbada da vida nacional. Ao lado desse presidente está um precipício que ele não consegue enxergar embora todas as mentes lúcidas o vejam com clareza.
O nazismo, o nacional socialismo, sempre foi um pensamento extremista de direita, bem distante portanto do comunismo do qual, diga-se de passagem, era e é inimigo ferrenho. O mesmo é possível dizer em relação ao fascismo. E isso é pensamento unânime entre cientistas políticos e sociais em praticamente todo o mundo. Mas não, claro, entre os imbecis que cercam a atual cúpula política do governo brasileiro e as pessoas que ela consegue influenciar em seus delírios.
Não é verdade que os opositores do atual presidente estejam torcendo para que tudo dê errado no seu governo que ninguém entende. É ele mesmo quem age nesse sentido e provoca com isso uma crise atrás da outra. Difícil é a gente entender com que interesse faz isso.
1 de abril de 2019
A herança dos estúpidos
Bolsonaro em Israel: brincando com fogo na arena delicada internacional |
Eu disse teve. No passado.
O atual presidente, Jair Bolsonaro, é um analfabeto funcional político e isso se reflete em tudo o que faz nesse terreno, mesmo desde antes de sua posse em 1º de janeiro. Como se não bastasse, seu chanceler Ernesto Araújo é considerado um tolo até mesmo no Itamaraty, entre os diplomatas mais experientes, o que tem provocado prejuízos ao Brasil. Vai provocar mais agora, quando o presidente está em Israel desfilando numa das regiões mais explosivas do mundo como se estivesse em casa, no Rio de Janeiro. Falando e fazendo besteiras.
A reação imediata da Palestina depois que ele anunciou a abertura de um escritório de negócios brasileiro em Jerusalém foi chamar de volta seu embaixador no Brasil. Isso por si só representa muito pouco. Mas se os governos do Oriente Médio e de países muçulmanos tomarem as dores dos palestinos e retaliarem contra nós cortando as relações comerciais conosco, estaremos no mato sem cachorro. Nossas vendas externas de proteína animal, principalmente frangos, depende deles.
O chanceler Ernesto Araújo vem sendo chamado de despreparado depois de declarar que o nazismo e o fascismo são ideologias de esquerda. Da Alemanha vieram as maiores críticas. Mas Bolsonaro também é criticado em praticamente toda a Europa. Os únicos elogios saem do Primeiro Ministro de Israel, que o está usando para tentar se reeleger em seu país em meio a fortes acusações de corrupção. Politicamente cego, o brasileiro não consegue ver isso.
"Bozo" já elogiou Stroenner no Paraguai, Pinochet antes de ir ao Chile, todos os ditadores sanguinários do Brasil desde que iniciou sua campanha presidencial e ainda não teve chance de fazer o mesmo enaltecendo os ditadores argentinos por falta de oportunidade. Mas está se coçando de vontade.
O problema é que entre seu despreparo total e a realidade da política internacional existe um abismo para onde ele está correndo e de onde não vai ser retirado por nem Donald Trump - seu outro ídolo incondicional - quando o Brasil ficar isolado no mundo com consequências econômicas trágicas.
A herança dos estúpidos costuma ser a miséria.
21 de fevereiro de 2019
Terá ele "aquilo roxo"?
Da mesma forma que eu, milhares de brasileiros ainda estão sem entender totalmente a reforma da Previdência enviada ontem ao Congresso Nacional pelo governo federal. A mim parece incontroverso que algum tipo de mudança precisa ser feita em nome da economia nacional. Mas sempre tenho um pé atrás quando ouço, vejo e leio informações sobre isso. Só dois exemplos: pagar um salário mínimo mensal a quem faz 70 anos e não tem como se sustentar é uma piada! Trabalhar 40 anos para obter aposentadoria integral é desumano!
Por que o projeto de Previdência dos militares não foi enviado juntamente com tudo o mais? Ainda são necessários mais 30 dias para essa remessa? Problema nenhum: o Congresso pode esperar mais um mês antes de começar a avaliar tudo. A medida enviada ao Congresso fala especificamente em cortes no Executivo e no Legislativo. Mas o Poder Judiciário não é citado. Ele faz parte do todo? Ótimo. Mas fica a dúvida da razão da omissão cometida.
O governo fez questão de dizer via presidente da República que as dívidas da Previdência serão todas cobradas. Elas ultrapassam os R$ 500 bilhões e muitas jamais serão recebidas porque os devedores não existem mais. Cito Varig e Mesbla como dois exemplos. E todos desapareceram sem pagar o que deviam porque o Estado Brasileiro sempre foi leniente. Eram grandes corporações, poderosas e não valia a pena mexer com elas. Além disso, sempre boas "doadoras" enquanto existiram.
E quanto às outras? Um movimento capitaneado pelo senador Paulo Paim toca nesse assunto via CPI. E conclui que não é necessário reformar a Previdência porque ela seria, na verdade, superavitária. Mas o senador deve à Previdência. Então seu argumento é letra morta.
Causa ânsia de vômito em mim falar sobre dívidas previdenciárias milionárias e, ao mesmo tempo, ver fotos do senador Fernando Collor de Mello no Senado. As Organizações Arnon de Mello são das maiores devedoras da Previdência. Até a Vale, que assassina brasileiros via suas barragens, deve uma fortuna. A justificativa é de que os fatos estão sendo discutidos na Justiça. E a gente sabe que no Brasil, tendo dinheiro, isso pode demorar gerações. A menos que o Estado compre a briga, lute abertamente, use seu poder para cobrar e pressione o Congresso no sentido de que leis sejam mudadas. Mas terá o atual presidente, Jair Bolsonaro, o mesmo "aquilo roxo" que Collor alardeia ter desde seu tempo de presidência? A conferir...
Finalmente, os penduricalhos do Executivo, Legislativo e principalmente Judiciário vão bem, obrigado! E todos nós sabemos como vai ser difícil tornar cada um deles fato passado. Afinal, até mesmo para deixar de receber "auxílio moradia" tendo onde morar o Judiciário lutou. E nós sabemos que todos continuarão a lutar para não abrir mão desses "direitos adquiridos". Repito a pergunta: o presidente atual tem "aquilo roxo"? Vai encarar mesmo? Consultará Carlinhos, Dudu e Flavinho antes? Seguirá acreditando que a imprensa - ou a Rede Globo - é sua maior inimiga e não o despreparo, o radicalismo político e o fisiologismo que marcam sua vida pública?
Tenho dúvidas.
Não bastará reformar a Previdência, mas será preciso ir além disso, além dela. Construir um País Justo vai ser bem mais difícil do que imaginamos hoje, no calor dos fatos.
Por que o projeto de Previdência dos militares não foi enviado juntamente com tudo o mais? Ainda são necessários mais 30 dias para essa remessa? Problema nenhum: o Congresso pode esperar mais um mês antes de começar a avaliar tudo. A medida enviada ao Congresso fala especificamente em cortes no Executivo e no Legislativo. Mas o Poder Judiciário não é citado. Ele faz parte do todo? Ótimo. Mas fica a dúvida da razão da omissão cometida.
O governo fez questão de dizer via presidente da República que as dívidas da Previdência serão todas cobradas. Elas ultrapassam os R$ 500 bilhões e muitas jamais serão recebidas porque os devedores não existem mais. Cito Varig e Mesbla como dois exemplos. E todos desapareceram sem pagar o que deviam porque o Estado Brasileiro sempre foi leniente. Eram grandes corporações, poderosas e não valia a pena mexer com elas. Além disso, sempre boas "doadoras" enquanto existiram.
E quanto às outras? Um movimento capitaneado pelo senador Paulo Paim toca nesse assunto via CPI. E conclui que não é necessário reformar a Previdência porque ela seria, na verdade, superavitária. Mas o senador deve à Previdência. Então seu argumento é letra morta.
Causa ânsia de vômito em mim falar sobre dívidas previdenciárias milionárias e, ao mesmo tempo, ver fotos do senador Fernando Collor de Mello no Senado. As Organizações Arnon de Mello são das maiores devedoras da Previdência. Até a Vale, que assassina brasileiros via suas barragens, deve uma fortuna. A justificativa é de que os fatos estão sendo discutidos na Justiça. E a gente sabe que no Brasil, tendo dinheiro, isso pode demorar gerações. A menos que o Estado compre a briga, lute abertamente, use seu poder para cobrar e pressione o Congresso no sentido de que leis sejam mudadas. Mas terá o atual presidente, Jair Bolsonaro, o mesmo "aquilo roxo" que Collor alardeia ter desde seu tempo de presidência? A conferir...
Finalmente, os penduricalhos do Executivo, Legislativo e principalmente Judiciário vão bem, obrigado! E todos nós sabemos como vai ser difícil tornar cada um deles fato passado. Afinal, até mesmo para deixar de receber "auxílio moradia" tendo onde morar o Judiciário lutou. E nós sabemos que todos continuarão a lutar para não abrir mão desses "direitos adquiridos". Repito a pergunta: o presidente atual tem "aquilo roxo"? Vai encarar mesmo? Consultará Carlinhos, Dudu e Flavinho antes? Seguirá acreditando que a imprensa - ou a Rede Globo - é sua maior inimiga e não o despreparo, o radicalismo político e o fisiologismo que marcam sua vida pública?
Tenho dúvidas.
Não bastará reformar a Previdência, mas será preciso ir além disso, além dela. Construir um País Justo vai ser bem mais difícil do que imaginamos hoje, no calor dos fatos.
19 de fevereiro de 2019
Bebiano, o laranjal e toda a pressa do mundo
Uma família muito unida, mas que cria um problema por dia. No mínimo! |
Depois de ser exonerado o até agora o ínfimo Bebiano nada falou. Ouvi de uma pessoa apoiadora do atual governo que ele seria um "infiltrado". De onde? Seus interesses serviriam a que tipo de grupo ou grupos? Isso é tão inverossímil quanto dizer que ele teria medo de morrer depois que as candidaturas laranja da eleição de 2018 vieram a público na semana passada. Afinal, há uma diferença abissal entre os perfis do ex-ministro e o de Jean Wyllis, por exemplo.
O afastamento de Bebiano foi uma espécie de queima de arquivo preventiva, sem uso de violência. Claro, depois de ser vítima de uma tentativa de homicídio durante a campanha, tudo o que a clã Bolsonaro não pode fazer é usar os mesmos métodos com seus adversários, inimigos ou seja lá o termo que se pretenda usar. O atual presidente e seu entorno de "patriotas" é um aglomerado de medíocres. Isso fica claro a cada dia, a cada ação, a cada passo dado. E a cada vez que um dos três filhos do Jair se mete no governo para dar pitado ou para tentar atingir ou atingir alguém.
Qual será o próximo capítulo dessa novela estilo pastelão mexicano? O que se sabe com certeza é que a cada dia o preço da aprovação da reforma da Previdência fica mais alto. O governo eleito com a promessa de não lotear cargos, durante a campanha mesmo plantava laranjas para esconder gastos. E agora, querendo de todas as formas fazer passar pelo Congresso as duas principais promessas de campanha, já teve que negociar inúmeros cargos de segundo escalão. Além, é claro, verbas parlamentares que na maioria das vezes não são usadas em real interesse público, mas sim apenas para atender a currais eleitorais de deputados e senadores.
Michel Temer, para evitar que os processos aos quais responde prosperassem durante seu mandato, foi obrigado e ceder em quase tudo ao Congresso. Logicamente, às nossas custas. A situação do atual presidente é diferente mas ele não quer que fique igual. E se uma questão como a das laranjas de campanha amanhã ou depois for comprovada, a coisa ficaria preta. Por isso é preciso aprovar logo a reforma da Previdência e o pacote legal do ministro Moro. Fica caro mas o caro é barato.
Os dois pacotes já estão aleijados mas isso é o de menos. Afinal, você acreditava num novo Congresso ou no mesmo com outros nomes? O que Bebiano sabe sobre laranjas? Onde está Queiroz, o doente de última hora? Melhor correr com as coisas. Senão tudo pode desandar muito depressa. Michel Temer que o diga!
11 de fevereiro de 2019
Inimigos de batina
Numa situação em que os partidos da chamada esquerda vivem uma oposição fragilizada no atual espectro político brasileiro, o governo do presidente Bolsonaro, por intermédio de seu chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Augusto Heleno, encontrou mais um inimigo a ser combatido pelo "novo Brasil": a Igreja Católica e suas posições populares.
A Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e comandos militares acham que uma ala "da esquerda" do catolicismo vai combater o governo através de uma das suas agendas mais caras: a Amazônia. Mais particularmente através do Sínodo sobre a Amazônia que reunirá em Roma, em outubro, bispos de todo o Continente juntamente com o Papa Francisco. Assuntos como povos indígenas, mudanças climáticas provocadas por desmatamento, quilombolas e outros provocam urticária em áreas governamentais por serem "agendas da esquerda". Augusto Heleno disparou: "Estamos preocupados e queremos neutralizar isso aí". Como? Com bombardeios?
De toda a preocupação governamental um item procede: a questão da Amazônia Legal e a presença estrangeira lá, sobretudo via ONGs que visam principalmente a região da "Cabeça do Cachorro" onde há riquezas abundantes como, por exemplo, o nióbio. Isso tudo é fonte da cobiça internacional e precisa ser preservado. No caso do nióbio, temos quase toda a reserva mundial do mineral estratégico. Mas o Brasil quer mesmo sua preservação como riqueza nossa? Ou essa aproximação exagerada com os Estados Unidos de Donald Trump esconde algum interesse escuso? Uma subserviência?
O atual governo tem uma visão destruidora sobre a Amazônia. Igualmente sobre florestas. Para os atuais detentores do poder, bois e soja são mais importantes do que áreas florestais intocadas. Toda a legislação ambiental é inimiga dos atuais próceres de Bolsonaro. Desde as figuras militares como Augusto Heleno até quem vê Jesus no pé de goiaba. Mas jamais um Jesus Católico.
Alguém pode me dizer: o que, Álvaro, um livre pensador está fazendo ao escrever texto que defende determinada corrente religiosa da sanha do governo Bolsonaro. É que esse governo não sobrevive sem inimigos. Ele necessita deles. Precisa fabricar um a cada dia, semana, mês ou ano. Alimenta-se do ódio a tudo o que imagina ser oposição a seus interesses e crenças.
Na mente dos retrógrados desse governo que o Brasil elegeu num momento de ódio exacerbado ao PT e falta de outras alternativas, democracia só existe sem oposição. Sem contestação. Democracia é escola sem participação de enfrentamento crítico e partido que não pode deixar de apoiar.
Já no caso da religião, ela também é núcleo partidário. Claro, menos aquelas que visam unicamente tomar dinheiro dos incautos para enriquecer seus bispos e outros "eleitos".
A Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e comandos militares acham que uma ala "da esquerda" do catolicismo vai combater o governo através de uma das suas agendas mais caras: a Amazônia. Mais particularmente através do Sínodo sobre a Amazônia que reunirá em Roma, em outubro, bispos de todo o Continente juntamente com o Papa Francisco. Assuntos como povos indígenas, mudanças climáticas provocadas por desmatamento, quilombolas e outros provocam urticária em áreas governamentais por serem "agendas da esquerda". Augusto Heleno disparou: "Estamos preocupados e queremos neutralizar isso aí". Como? Com bombardeios?
De toda a preocupação governamental um item procede: a questão da Amazônia Legal e a presença estrangeira lá, sobretudo via ONGs que visam principalmente a região da "Cabeça do Cachorro" onde há riquezas abundantes como, por exemplo, o nióbio. Isso tudo é fonte da cobiça internacional e precisa ser preservado. No caso do nióbio, temos quase toda a reserva mundial do mineral estratégico. Mas o Brasil quer mesmo sua preservação como riqueza nossa? Ou essa aproximação exagerada com os Estados Unidos de Donald Trump esconde algum interesse escuso? Uma subserviência?
O atual governo tem uma visão destruidora sobre a Amazônia. Igualmente sobre florestas. Para os atuais detentores do poder, bois e soja são mais importantes do que áreas florestais intocadas. Toda a legislação ambiental é inimiga dos atuais próceres de Bolsonaro. Desde as figuras militares como Augusto Heleno até quem vê Jesus no pé de goiaba. Mas jamais um Jesus Católico.
Alguém pode me dizer: o que, Álvaro, um livre pensador está fazendo ao escrever texto que defende determinada corrente religiosa da sanha do governo Bolsonaro. É que esse governo não sobrevive sem inimigos. Ele necessita deles. Precisa fabricar um a cada dia, semana, mês ou ano. Alimenta-se do ódio a tudo o que imagina ser oposição a seus interesses e crenças.
Na mente dos retrógrados desse governo que o Brasil elegeu num momento de ódio exacerbado ao PT e falta de outras alternativas, democracia só existe sem oposição. Sem contestação. Democracia é escola sem participação de enfrentamento crítico e partido que não pode deixar de apoiar.
Já no caso da religião, ela também é núcleo partidário. Claro, menos aquelas que visam unicamente tomar dinheiro dos incautos para enriquecer seus bispos e outros "eleitos".
23 de janeiro de 2019
"Operação Brother Caipira"
Entre 31 de março e 1º de abril de 1964, quando um golpe de Estado afastava e exilava o presidente João Goulart, uma esquadra dos Estados Unidos estava a postos no litoral do Brasil para invadir nosso território caso o golpe de Estado não desse certo. Eles eram parte da "Operação Brother Sam", nome dado àquela quase intervenção estrangeira sobre território brasileiro gestada nos EUA sob inspiração do então embaixador norte-americano Lincoln Gordon e militares daqui envolvidos na trama. Eram os nossos caipiras pedindo socorro ao intervencionista do Norte.
Esse foi um episódio único na história brasileira. No mais, acabamos arrastados para a II Guerra Mundial quase à força mas, no mais das vezes, a diplomacia brasileira foi marcada pela neutralidade e a política do não intervencionismo em assuntos internos de outros países. Essa tradição garantiu ao Itamaraty a condição de negociador em questões onde sua atuação era pedida.
Agora, capacho do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, Jair Bolsonaro vai para onde seu mestre mandar. Como os EUA reconheceram o senhor Juan Guaidó presidente da Venezuela - e ele não disputou eleição alguma -, imediatamente o Itamaraty fez o mesmo. Nada de surpreendente se analisarmos o que são as cabeças de Bolsonaro e de seu inexpressivo chanceler Ernesto Araújo, figura idiotizada, mística e sem o respeito de nossos diplomatas mais capazes.
O Brasil sai de seus trilhos tradicionais para enveredar em linha de ferro perigosa, de percurso desconhecido e que pode ser marcado por armadilhas. É bom ter em mente que Trump é coisa passageira nos Estados Unidos. Pode nem ao menos terminar seu mandato se continuar a enfrentar a tudo e a todos movido pela ridícula decisão de construir muros onde deveria haver pontes.
Agora mesmo, em Davos, o presidente brasileiro cancelou de última hora uma entrevista coletiva que era necessária para que a imprensa internacional pudesse conhecer melhor a ele e seus planos de governo. Mas a ausência pode ser compreendida sem muita dificuldade: nem mesmo Bolsonaro e seus mais próximos sabem para onde ele quer ir e em que ponto deseja chegar. Se é que vai chegar.
Estamos no meio de uma "Operação Brother Caipira", reconhecendo a reboque dos Estados Unidos o governo títere de um cidadão que não sabemos quem é, a que vem e nem ao menos quais são seus projetos para um possível governo na Venezuela. Só sabemos que tirar Maduro é o objetivo.
São pantanosos os terrenos para onde se vai nas noites da história sem conhecer os caminhos. O governo Jair Bolsonaro tem se mostrado confuso e despreparado em quase tudo. No campo da diplomacia pode entrar para nossos livros de República como o pior de todos os tempos. No mundo de hoje é preciso que os homens se sentem em torno de uma grande mesa onde o mundo é o centro de todos, de todas as atenções. O foco nele permite à humanidade fazer política.
Esse foi um episódio único na história brasileira. No mais, acabamos arrastados para a II Guerra Mundial quase à força mas, no mais das vezes, a diplomacia brasileira foi marcada pela neutralidade e a política do não intervencionismo em assuntos internos de outros países. Essa tradição garantiu ao Itamaraty a condição de negociador em questões onde sua atuação era pedida.
Agora, capacho do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, Jair Bolsonaro vai para onde seu mestre mandar. Como os EUA reconheceram o senhor Juan Guaidó presidente da Venezuela - e ele não disputou eleição alguma -, imediatamente o Itamaraty fez o mesmo. Nada de surpreendente se analisarmos o que são as cabeças de Bolsonaro e de seu inexpressivo chanceler Ernesto Araújo, figura idiotizada, mística e sem o respeito de nossos diplomatas mais capazes.
O Brasil sai de seus trilhos tradicionais para enveredar em linha de ferro perigosa, de percurso desconhecido e que pode ser marcado por armadilhas. É bom ter em mente que Trump é coisa passageira nos Estados Unidos. Pode nem ao menos terminar seu mandato se continuar a enfrentar a tudo e a todos movido pela ridícula decisão de construir muros onde deveria haver pontes.
Agora mesmo, em Davos, o presidente brasileiro cancelou de última hora uma entrevista coletiva que era necessária para que a imprensa internacional pudesse conhecer melhor a ele e seus planos de governo. Mas a ausência pode ser compreendida sem muita dificuldade: nem mesmo Bolsonaro e seus mais próximos sabem para onde ele quer ir e em que ponto deseja chegar. Se é que vai chegar.
Estamos no meio de uma "Operação Brother Caipira", reconhecendo a reboque dos Estados Unidos o governo títere de um cidadão que não sabemos quem é, a que vem e nem ao menos quais são seus projetos para um possível governo na Venezuela. Só sabemos que tirar Maduro é o objetivo.
São pantanosos os terrenos para onde se vai nas noites da história sem conhecer os caminhos. O governo Jair Bolsonaro tem se mostrado confuso e despreparado em quase tudo. No campo da diplomacia pode entrar para nossos livros de República como o pior de todos os tempos. No mundo de hoje é preciso que os homens se sentem em torno de uma grande mesa onde o mundo é o centro de todos, de todas as atenções. O foco nele permite à humanidade fazer política.
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