9 de outubro de 2025

Com a voz embargada


Não se pode dizer que o anúncio feito hoje pelo ministro Luís Roberto Barroso (foto), antecipando sua aposentadoria no Supremo Tribunal Federal (STF) tenha sido uma surpresa. Não. Mas a decisão, que não deixa de ser renúncia, foi cheia de emoção e transmitida ao vivo pela televisão, além de acompanhada por muitos goles de água em vários copos servidos. Com a voz embargada o jurista disse adeus ao seu cargo anos antes da aposentadoria compulsória, abrindo caminho a outro magistrado que será nomeado pelo presidente Lula. Foi um ato de dignidade pessoal, provavelmene motivado pelo cansaço. Barroso deixou claro que quer dedicar seus anos restantes de vida a atividades mais leves.

Essa transmissão, vista ao vivo pela Globo News, - um programa foi interrompido para isso - marca momento de seriedade no movimentado cenário político de Brasília. Em vez de imagens de parlamentares cometendo indignidades em sessões onde se deveria apenas discutir e decidir assuntos de interesse nacional, viu-se um magistrado abandonando um cargo cobiçado por nove dentre dez juristas nacionais e oito anos antes da hora da aposentadoria compulsória, para sair dos holofotes. Quantas pessoas fazem isso hoje?

É preciso homenagear o caráter e, em momentos assim, esquecer divergências. Se nenhum de nós é isento de defeitos e nem nasceu para viver glórias eternas, um homem que se despede antes da hora do lugar onde todos querem estar e faz isso de público, citando e elogiando um por um todos seus iguais sem esquecer os auxiliares mais diretos, está deixando a cena para que essa cena continue com sua marca. E indelével!

O vídeo tape da renúncia de Luís Roberto Barroso poderia ser  mostrado no Congresso Nacional como didático, sobretudo porque lá ningém não apenas jamais renuncia aos mandatos, mas também a quase totalidade quer renová-los indefinidamente e tambem avançar cada dia mais sobre verbas públicas sempre maiores e que, via de regra, são usadas não apenas para sua perpetuação no poder, mas também para objetivos escusos com o formato, nesses dias atuais, sobretudo das tais emendas parlamentares. E essas, posso garantir, têm mil e uma utilidades. Nem o tal de Bombril chega aos pés delas.

Irônico, mas para ser sagrado ministro do Supremo, os indicados pelo presidente da República têm que passar por uma sabatina no Senado. Muitos dos que os interrogam vivem a preocupação de um dia virem a ser interrogados em processos aos quais vários já respondem e que não dizem respeito a conhecimentos jurídicos. Mas a democracia que a maioria destes prefere ver destruída nasceu e vive para representar nossas virtudes e defeitos. Todos eles. Por isso o exemplo de Barroso vale muito.

Por isso às vezes alguém fica com a voz embargada.      

                                     

     

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