13 de outubro de 2025

Das armas e do dinheiro


Lembro-me como se fosse hoje de uma família judaica que morava no bairro da Aclimação, São Paulo, próxima de meus familiares. Todo sábado, o Shabat, saiam para a sinagoga e levavam sacolas com as roupas pretas que seriam vestidas lá. O dono da casa, comerciante de uns 60 anos, ia de chapéu tipo coco e as tranças (peiot) soltas. Os demais, não. Esses tapavam as tranças. O chapéu usado pelo jovem da (foto) ficava na sacola e não na cabeça como nos demais ortodoxos quase iguais na vestimenta, a não ser pela barba que uns têm e outros, não. O chapéu de pele animal lembro-me de ter visto uma vez com o rabino. Chama-se shtreimel. Afora quando estavam na loja e usavam sorriso contido com os fregueses, no mais eram fechados em público e tinham freguesia marcadamente judaica. Ao menos nas ruas cobriam as tranças judaicas. Uma comunidade bem retraída.

No dia de hoje, quando o Hamas entrega em Israel 20 reféns de 2023 como parte do acordo de cessar fogo, os jornais brasileiros circulam com textos de apoio quase incondicional aos judeus e o presidente dos Estados Unidos fala ao parlamento daquele país, em Jerusalém. Além disso, aqui no Brasil o jornalista Breno Altman, fundador do site Opera Mundi enfrenta processo por racismo (sic!) movido pelo MPF. Logo ele, de ascendência judaica... Um imeso lobby protege os interesses judaico-israelenses pelo mundo afora e no Brasil, como não poderia deixar de ser. Ele se alicerça em três pilares de base profunda: o dinheiro, o poder das armas e a extrema direita política espalhada por diversos países.

Não consigo me recordar do nome da loja judaica próxima de onde morava, quase diante de um ponto de ônibus elétrico que ia para o Centro da cidade, mas ela tinha o desenho de um Menorá, castiçal com sete velas, à porta. Depois contaram ter sido ele retirado do lugar por causa de pichação. Imagino que hoje a comunidade judaica de São Paulo esteja num misto de comemoração e ódio diante da soltura dos reféns. E apoiando maciçamente os "esforços desmedidos" do atual presidente dos EUA pela paz. Está bom...

Também hoje o jornal "O Estado de S. Paulo" circula com um editorial pedindo a redefinição do Supremo Tribunal Federal que, segundo ele, é agora político e não judicial. Esse mesmo Estadão no passado aplaudiu o STF pela defesa de causas com as quais concordava. E já disse mais de uma vez que a defesa da Constituição do Brasil é uma necessidade, como contraposição aos ataques de 08 de janeiro de 2023. O Tribunal faz isso.

Esse 13 de outubro de 2025 não é o melhor dia para loas e ataques às instituições pelo mundo afora. E nem para manifestações mais enfáticas em favor de Israel. Se podemos concordar com o fato de que o ataque do Hamas contra israelenses há pouco mais de dois anos foi um ato de violência, precisamos concordar também que é terror ocupar por décadas terras estrangeiras, montar sobre elas colônias não autorizadas e condenadas pelo Direito Internacional e matar milhares de crianças, idosos e mulheres em uma cidade hoje devastada e que tinha mais de dois milhões de habitantes há também dois anos.

Não vivemos tempos de comemoração, mas sim de falar sobre armas, dinheiro e o que eles juntos podem produzir de danoso quando sustentados por uma ideologia política genocida.          
             

                    

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