Havia uma verdadeira multidão de deputados federais ontem à noite na Câmara, (foto) em Brasília. E, ao final da votação, eliminados os destaques de "vossas excelências", o projeto do Governo Federal foi aprovado por 493 votos favoráveis e zero contra. Mas o que provocou essa unanimidade não foi uma vontade de fazer Justiça para com os que ganham menos no Brasil, não foi ideologia nem nada disso: foi a decisão por reeleição dos deputados e milhões de reais liberados para emendas parlamentares que são gastas a rodo em verdadeira festa com o dinheiro do contribuinte no Brasil. E eles sempre fazem assim.
Seria injusto dizer que isso ocorre com todos. Claro que não. Parlamentares realmente interessados em promover justiça social votariam "sim" de qualquer maneira. Os apoiadores do atual governo, também. Mas são a minoria e não fariam o projeto passar. Só houve aprovação graças à rejeição da PEC da blindagem e o povo nas ruas, como aconteceu recentemente. Isso e o dinheiro que abastece o caixa dos que se vendem e são a maioria.
Ontem mesmo, enquanto a votação seguia, centenas de celulares e outros meios de gravação eram focados nos deputados por eles mesmos ou seus assessores/apoiadores. As expresssões, falas, gestos, mensagens, tudo foi filmado e imediatamente postado nas redes sociais deles para "provar" que apoiam uma decisão necessária. Depois rapidamente os votantes foram para casa porque ninguém é de ferro. Ao final da sessão, e as imagens de TV mostraram isso, o plenário já estava bem esvaziado. Os "patriotas" tinham ido embora...
Foi comentário geral que o governo havia aprovado um texto que alavanca o nome do atual presidente Lula para a tentativa de quarto mandato. Sim, foi isso! Mas um mandatário deveria se abster de enviar para o Congresso propostas legislativas que fazem justiça para a sociedade só porque ela será chamada de eleitoreira ou coisa pareida? Mesmo quando esse governante sabidamente defende o tipo de iniciativa votado desde sempre e principalmente porque foi pau de arara e chegou a São Paulo em carroceria de caminhão?
Não tivesse havido a reação popular contra a PEC da blindagem e nem a ida de meio milhão de brasileiros às ruas em 21 de setembro, o Congresso votaria contra as mudanças no IR ou então cancelaria as compensações com aumento de alícota para os que ganham muito mais. Eles pouco se importam com o fato de quem ganha até CR$ 5 mil mensais ter isenção de imposto de renda e quem recebe até R$ 7.350,00 ficar com a alícota reduzida. Afinal, há uma imensa bancada de ruralistas, empresários dos mais diversos setores e falsos evangélicos que apoiam Israel "em nome de Jesus" naquele ambiente. E eles olham para o umbigo. Só que o umbigo também diz "basta" quando a festa corre o risco de acabar.
Parece mentira, mas o Centrão votou unanimemente com o projeto do governo. E também o PL, partido de aluguel hoje alugado a Jair Bolsonaro. Além disso, quem se lembra de uma outra ocasião na qual houve aprovação unânime de algo naquele Congresso? Nelson Rodrigues disse uma vez: "Toda unanimidade é burra. Quem pensa com a unanimidade não precisa pensar." Mas ontem a unanimidade foi um ato calculado e caro aos cofres públicos porque se o governo não liberasse emendas o texto não passaria pela pior Câmara de todos os tempos.
Não se iludam: o Senado age igual ou muito parecido.

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