30 de novembro de 2025

Adeus, florestas!


Quando eu era garoto meu pai nos levou duas vezes a Ribeirão Pires, um paraíso de Mata Atlântica localizado a apenas 40 quilômetros de São Paulo, onde morávamos. A cidade fica no topo da Serra do Mar, início da descida da estrada velha de Santos, e vale a pena conhecer. Era um santuário de floresta intocada e que pode ser curtido nessa foto de internet. Olhando bem a gente vê a cidade ao fundo e, bem mais adiante, a Baixada Santista que fica depois da descida da serra. É um declive de cerca de 800 metros. Essa semana, quando estava pensando nesse artigo, procurei saber do lugar e recebi a informação de que RP é agora o município mais devastado em Mata Atlântica de São Paulo. Que crime!

Esse é apenas um exemplo do que está sendo feito no Brasil e que vai se tornar muito mais agudo caso o PL da devastação entre em vigor sem ser contestado judicialmente. Esse bioma ocupava uma área de 1.110.182 quilômetros quadrados e correspondia a 15 por cento do território nacional antes de começar a ser destruído. Englobava Espírito Santo, Rio de Janeiro e Santa Catarina inteiros, além de parte dos estados de Alagoas, Bahia, Goiás, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraíba, Paraná, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Sergipe e, claro, São Paulo. No ES agora só há 11 por cento de cobertura original de florestas de Mata Atlântica e a desvatação foi provocada sobretudo por avanço da pecuária no Estado. O corte das florestas diminuiu, mas já temos muito pouco a perder.

Cito a questão da desse bioma único no Brasil como destaque dos danos a serem provocados pelo projeto de lei porque nós, capixabas, estamos dentro do problema. Em nosso Estado houve uma orgia de derrubada de florestas e as motosserras fizeram a festa da morte. Tivemos por aqui até mesmo campeões de desmatamento e que se tornaram tristemente famosos por isso. Mas agora a extrema direita política do Brasil, com a ajuda de senadores do Espírito Santo, está comemorando o fim das florestas em nosso pobre país. E é preciso notar e registrar que com o fim da vegetação, vai embora também quase toda a vida animal.

É  triste dizer isso, mas no Brasil atual o PL da devastação está ligado à direita e ao "desenvolvimentismo". O combate a ele é pauta da esquerda, ou seja, dos "comunistas". Nada mais bisonho e falso como pensamento humano. Na verdade todos os que lutam pela lei aprovada no Senado têm algum compromisso pecuniário com os setores econômicos diretamente ligados a essa questão e estão engordando suas contas bancárias via lobistas. Talvez eles até desconfiem dos danos que isso vai trazer ao País, mas dane-se. Se seus interesses estão satisfeitos é tudo o que importa. E o projeto modificado pela oposição, como está agora, tem a capacidade de destruir o que ainda temos de meio ambiente sadio no Brasil.

Esse projeto de lei flexibilizará o licenciamento ambiental através de projetos por adesão e compromisso (LAC) que vão virar regra, dispensarão análises técnicas e facilitarão o desmatamento como na Mata Atlântica que citei, sem a necessidade de autorização de órgãos ambientais, sejam estaduais ou federais. Haverá licenciamento automático, dispensa de licenciamento, desmatamento de áreas em estágio avançado de regeneração, desconsideração de áreas protegidas, restrições à atuação de órgãos ambientais e isenção de cumprimento de condicionantes ambientais por parte de empreendimentos privados com o custo e a responsabilidade pelos impactos sendo jogados à população e o poder público.

Há várias vertentes danosas nessa lei e não apenas o fato de que, com ela em vigor, intervenções em reservas indígenas poderão voltar a serem feitas mesmo sem o consentimento destes. E também mesmo com as emissoras de TV mostrando os presidentes da Câmara e do Senado se confraternizando na mesa da sessão conjunta, como se estivessem comemorando uma Copa do Mundo de Futebol. Mas não; isso é apenas mais uma "vitória" contra a natureza, contra o que o Brasil tem de mais valioso e a avant premiere da orgia das motosseras que jamais pararam de ser usadas contra os biomas brasileiros.

Adeus, florestas!

              

    

28 de novembro de 2025

Uma questão de princípios


A Polícia Federal faz hoje nova operação nacional contra o desvio de dinheiro do meu, do seu, do nosso imposto por políticos que usam o recurso das emendas parlamentares e as destinam aos mais diversos endereços, todos eles ilegais. Agora, com o auxílio da Controladoria Geral da União (CGU) ela está à caça de R$ 22 milhões desviados em esquema de contratos de pavimentação irregulares firmados pelo DNOCS (Departamento Nacional de Obras contra a Seca). Aliás, esse órgão é um dos alvos do Centrão, que sempre exige dos governos que "apoia" ter controle sobre ele. Todos sempre soubemos os motivos...

Essa é a enésima vez que a PF sai à caça das falcatruas envolvendo emendas (foto). E essa é a razão pela qual o Congresso Nacional investe mais uma vez contra o Supremo Tribunal Federal (STF) e, principalmente, contra o ministro Flávio Dino. E também porque não quer o candidato Jorge Messias completando a Suprema Corte do Brasil. Sabe que ele, como Dino, vai mandar investigar o destino das emendas parlamentares que servem a tudo no Brasil, até mesmo para serem destinadas aos inúmeros clubes de tiro existentes...

Aliás, esse valor de agora é até pequeno. Na modalidade de PIX as emendas já serviram a tudo. Aqui no Espírito Santo a Academia Espírito-santense de Letras (AEL) precisava de R$ 400 mil para fazer uma reforma em sua sede que fica ao lado do Paláco Anchieta. Era um valor estimado por organização que faz reformas em prédios antigos e havia participado de obras no Palácio Anchieta. De repente, não mais que de repente, uma emenda parlamentar surgiu para salvar a entidade. Só que no valor de R$ 1,8 milhão. É o milagre da multiplicação do dinheiro... E essa Academia, que deveria ter a preocupação de explicar timtim por timtim cada centavo de dinheiro público que entra lá, se fecha em copas.

Esse exemplo também é pequeno em montante, mas enorme em impacto. O Brasil está perdendo o foco em torno da moralidade. As emendas parlamentares, antes uma forma de os políticos, sobretudo federais, enviarem receitas aos seus redutos, agora servem a tudo e sobretudo à imoralidade. Por isso são defendidas com unhas e dentes pelo Poder Legislativo. Servem à perpetuação do poder nas mãos de quem já chegou ao Parlamento Federal e não quer deixar o posto, de nada importando o preço a pagar. A nós pagarmos, claro!

O problema maior é que a instituição das emendas está no colo dos políticos que as defendem de todas as formas, inclusive os de partidos de esquerda. E planejam até mesmo conseguir maioria absoluta no Senado para investir contra o Supremo Tribunal Federal e até para caçar os ministros que  hoje investem contra os desmandos dessas falcatruas e punem seus autores, estejam onde estiverem. Que desplante! Descaramento! Onde já se viu isso?

Mas a caravana passa enquanto os cães ladram. Hoje mesmo já está em alegações finais a primeira ação penal sobre emendas. Nesse caso, envolve gente do PL do Maranhão. O processo corre em sigilo de Justiça, mas é conhecido e virou foco daqueles que ainda lutam para que a moralidade volte a imperar no Brasil senão como uma determinação judicial, mas também como um princípio de vida pública. Só que princípios só servem a quem os tem. 

26 de novembro de 2025

Arrivistas medíocres

Sempre que me volto à situação do Brasil atual, sobretudo para as prisões de figuras ligadas ao ex-governo federal, me vem à mente uma obra monumental da filósofa alemã Hannah Arendt, "Eichmann em Jerusalém", e que conta a história do julgamento do criminoso de guerra Adolf Eichmann, condenado à morte e executado em Israel em 1963 por crimes de guerra. Nesse livro ela lança o conceito de "banalidade do mal", explicando como as pessoas se transformam nessas situações. No caso específico, não porque a dimensão dos atos praticados possa ser comparada aos dos ex-governantes brasileiros da administração passada, mas sim pelo arrisvismo medíocre que foi a marca daquele indivíduo a quem foi dado um poder quase absoluto durante a II Guerra Mundial. E parecido com os de hoje.

Escalada para cobrir o julgamento pela revista "The New Yorker" e que se realizaria na Casa da Justiça onde um homem seria julgado por suas antigas vítimas, ela não se viu diante de um monstro como imaginava, mas sim perto do cidadão comum, arrivista de pouca inteligência, na verdade uma nulidade pronta a obedecer a qualquer voz superior, um simples funcionário incapaz de discriminação moral e, sintetizando, um indivíduo sem consistência própria e que havia assumido eufemismos burocráticos como seu caráter.

Quem é Jair Bolsonaro, hoje preso na Superintendência da Polícia Federal de Brasília (foto) e condenado a 27 anos e três meses de prisão senão um sujeito tão pequeno como aquele e que exerceu um cargo para o qual levou todas as suas frustrações e falta de tirocínio durante quatro anos e ao longo dos quais exerceu um poder despótico e distante das normas mais comezinhas de comportamento? Segundo a psicóloga Marta Suplicy, ele é o psicopata sem chance de recuperação, que não sente empatia, remorso, sentimento de culpa e nem sequer tem a capacidade de conviver com quem pensa diferente dele.

Hitler tinha essa síntese e só podia viver ao lado de gente medíocre, que não questionasse suas ordens, que jamais tentasse se contrapor a suas convicções geralmente baseadas em nada e que se reduzisse ao tamanho que seu dono dava a ele. Gente como Eichmann. Por isso Bolsonaro teve ministro da Saúde general especialista em estatística, da Educação que não era entendido por ninguém, ministro das Relações Exteriores nascido do quarto escalão do Itamarati, etc. O arquétipo era assim determinado como modelo único.

Bolsonaro merece ficar onde está, cercado por cuidados médicos porque é doente e o Estado tem que se responsabilizar pelas pessoas que mantém sob custódia.

Vivemos uma época da qual devemos nos orgulhar. Generais, um almirante e outros oficiais superiores das Forças Armadas do Brasil foram condenados e começaram a cumprir pena por terem participado, juntamente com seu chefe, da mais recente tentativa de golpe de Estado brasileira. A primeira que causou esse tipo de dano, com prisão e condenação de seus responsáveis diretos e indiretos. Talvez o Brasil tenha jeito. Pelo menos nossas instituiçoes passaram incólumes por uma prova de fogo. Ou estão passando.         

25 de novembro de 2025

Clima de hospício

 

A imagem mostrando o ex-presidente Jair Bolsonaro na portaria da delegacia da Polícia Federal de Brasília (foto), para onde foi levar a mulher Michele depois visita de ontem, mostra que há muita coisa errada no Brasil atual, sobretudo quando se fala de leis e de seu cumprimento. Essa foi a primeira vez que vi um preso acompanhar seu visitante até a porta da prisão. Geralmente eles ficam nas celas, a não ser nos horários de visita ou banho de sol.

Mas não é só isso. Tentar tirar a tornozeleira eletrônica com um ferro de solda dentro de casa ao mesmo tempo em que o filho mais velho e mais malandro convoca vigília para a porta do condomínio onde ele estava é surreal. Aliás, passa disso. Por fim, os movimentos dos presidentes da Camara e do Senado provocando uma crise institucional grave com motivações torpes faz qualquer pessoa entender que todo esse conjunto de fatores tem um projeto escondido, mas definido. É um clima hospício, só que seu enredo está claro.

O presidente da Câmara entregou um projeto de lei antifacção governamental a deputado federal da extrema direita com o claro intuito de ver o texto descaracterizado. Modificado. Mutilado. E foi o que aconteceu. Já o do Senado ficou nervozinho porque o presidente da República exerceu uma atribuição sua sem consultá-lo e, ato contínio, pautou projeto de lei que custará uma fortuna aos cofres públicos sem que haja fonte de recursos identificada para tanto. É no mínimo uma vingança. Uma irresponsabilidade. Um enredo do hospício.

O exercício de cargos da importância dos comandos das duas casas legislativas federais exige compromisso público. Digo: com o interesse público, só com ele. E não que seus dirigentes se tornem falsos vestais e usem do poder que têm no exercício das funções para propósitos pouco claros. Ao presidente da Câmara faltou dizer logo no dia de sua posse: sou de extrema direita e pronto. Estou com o bolsonarismo e não abro. Ao do Senado: sou vingativo e se não me prestarem vassalagem o preço vai ser alto. Tudo ficaria claro.

O Brasil vive hoje tempos de insegurança e as hordas que desejam uma ruptura da ordem democrática visam o Poder Executivo e também o Judiciário. Elas nunca desistiram de dar golpe de Estado, de destruir a democracia do nosso país. Só não fizeram isso até agora porque não conseguiram, mas vão continuar tentando. A quadrilha que se forma no exterior, sobretudo nos Estados Unidos, mostra isso. Mostra também que os crimes contra o Estado Democrático e de Direito têm que ser punidos. Sem perdão. Sem anistia. 

20 de novembro de 2025

Será a Polícia Federal um perigo?


Essa pergunta e título do artigo que você vai ler agora tem resposta simples: depende!

No plano legal ela é uma instituição policial brasileira subordinada ao Ministério da Justiça e Segurança Pública, com a missão de atuar como polícia judiciária da União. Sendo assim, investiga os crimes federais e infrações cometidas contra bens e serviços da Federação. Dentre o que ela deve combater estão tráfico de drogas, contrabando, corrupção e crimes contra o meio ambiente, além de exercer controle sobre as fronterias, portos, aeroportos e os chamados "crimes do colarinho branco". E esses não moram nas favelas...

Vou contar uma história: logo que houve o golpe de Estado de 1964 uma das primeiras providências dos militares golpistas foi instrumentalizar a PF, fazendo dela braço armado do regime político-militar. Os federais caçavam comunistas e assemelhados pelo País todo. Eu mesmo, jornalista com atuação em esporte - o que era muito apropriado - passei uma noite inteira sentado num banco da sede da Federal em Vitória, quando esta ficava próxima ao bairro de Jucutuquara, "para aprender a não ser folgado". Havia sido acusado de comunista... Só que não havia como me enquadrarem na Lei de Segurança Nacional. Mas, com o fim da ditadura essa força voltou a exercer suas atribuições constitucionais sem desvios outros.

No governo passado o hoje ex-presidente condenado tentou fazer com que a Federal voltasse a ser órgão a serviço de seus interesses e não mais subordinada aos do Estado. Não conseguiu porque o golpe deu errado, mas deixou filhotes espúrios espalhados por todos os lugares, muitos dos quais hoje têm parlamentares no Poder Executivo, outros no Legislativo ou até mesmo estão encastelados no Judiciário. Então, como a instituição ataca os "crimes de colarinho branco" no âmbito federal, isso incomoda não aos criminosos dos complexos da Penha e do Alemão, mas aos situados no alto escalão chamado agora de Faria Lima e alvos da Operaçao Carbono 14. Eles têm muito poder e bem mais coisas a esconder...

Fácil entender, não?

A prisão dos diretores do Banco Master e a intervenção no BRB de Brasília, ambas levadas a cabo pela Federal, tirou o meu sono? Não. Tirou o seu? Não. Mas está tirando o de diversos políticos de Brasília, muito provavelmente o do governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, o de Cláudio Castro, do Rio de Janeiro e o restante desse grupo pouco afeito a respeitar as leis em vigor. Então e por isso as primeiras versões da atuação desastrada do texto legal do Congresso sobre a extrema direita política brasileira tentaram atingir a autonomia da PF buscando fazer com que ela tivesse sua atuação subordinada a governadores (alguns). O então que sua verba de atuação fosse grandemente diminuída e destinada também aos Estados. Ou seja, aos governadores comprometidos.

O Projeto de Lei Antifacção que vem sendo elaborado pelo fascista Guilherme Derrite et caterva para enfraquecer o combate ao crime organizado quer que os brasileiros mais alienados continuem torcendo para que os pobres sejam massacrados nas favelas ao mesmo tempo em que, no andar de cima, os desvios de dinheiro floresçam na mesma medida do fornecimento de drogas e armas pesadas para os andares de baixo porque eles alimentam a criminalidade e justificam as ações espetaculosas, pirotécnicas das polícias civis e militares a serviço dos governantes de extrema direita que vivem desses expedientes. Entendam, leitores: armas pesadas e drogas não são fabricadas nas favelas. Elas apenas vão para os "soldados" do crime que as usam para a distribuição dessas substâncias no varejo.

A extrema direita política brasileira aposta tudo nas eleições do ano que vem. Se perder vai ficar sem rumo e começar a minguar, como aconteceu durante a última ditadura militar. Caso vença, vai lançar seus tentáculos sobre a sociedade e fazer com que órgãos como a PF voltem a ser uma polícia política a serviço do regime, ainda que ele seja civil. Entendeu porque a Polícia Federal dos tempos atuais ou modernos é um perigo? Lute contra isso e não se deixe manipular como se fosse um simples boneco de trapos. 

 

18 de novembro de 2025

As lambanças de Derrite

 

O melhor policial que pode existir no mundo é aquele capaz de fazer das leis, sobretudo do Código Penal, sua Bíblia. Esse misto de secretário de Segurança de São Paulo e deputado federal Guilherme Derrite (foto de arma nas mãos) está distante anos luz disso. A começar pelo fato de ter sido afastado da Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar, ROTA, por excesso de violência. E essa facção da PM paulista, velha de guerra em todos os sentidos, não é exemplo de cortesia nem legalidade no trato com os diversos tipos de ocorrências policiais.

O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, ex-militar formado pelo Instituto Militar de Engenharia, foi ministro de Estado da Infraestrutura do Brasil de 2019 a 2022, durante a gestão do condenado Jair Messias Bolsonaro, justamente por seu passado na caserna. E quando se elegeu governador do Estado mais rico do Brasil capitaneado pelo ex-presidente, indicou Derrite para secretário pelo mesmo motivo. Não apenas o governo paulista seria uma continuação de um quartel, mas também faria da violência a sua marca. E a letalidade policial cresceu exponencialmente depois que ele chegou ao governo estadual.

Político de extrema direita, talvez sem saber exatamente o que isso signifique, o secretário se elegeu deputado federal na cauda de cometa do prestígio pessoal do condenado. Como o governador do Rio de Janeiro Cláudio Castro mandou matar mais de 100 pessoas em duas comunidades faveladas do Rio de Janeiro, ele reassumiu seu mandato e foi indicado relator do Novo Marco Legal do governo Lula, obviamente para modificar o texto e adaptá-lo às crenças da extrema direita nacional. Já fez cinco versões de sua lambança que pode ir a votação hoje no Congresso por inciativa do presidente da Câmara, Hugo Motta, um fiel coleguinha de partido, interesses pessoais e crença político partidária.

O principal problema desse texto que ninguém sabe como vai ficar é a insistência dos setores ligados ao extremismo político de direita de tentar incluir no monstrengo jurídico o conceito de terrorismo para crimes comuns de facões criminosas. E isso porque esse espectro de nosso universo político analfabeto funcional segue a cartilha da extrema direita dos Estados Unidos onde o atual presidente quer usar o poder militar da maior potência do mundo para dobrar, talvez literalmente, aqueles que se opoem a seus ditames.

Essa é a encruzilhada na qual vivemos. A maioria dos juristas diz que a lambança de Derrite e seus colegas contém várias inconstitucionalidades. Então, o ideal seria que isso tudo fosse retirado do texto para que ser evitada a interferência do Supremo Tribunal Federal (STF) na questão. Claro, se ele for provocado, vai ter que se manifestar. Mas não é o que o extremismo brasileiro deseja. Ele quer isso mesmo: a interferência judicial no problema porque vai gerar mais uma crise constitucional e justificar o fato de a atual oposição dizer que somos governados por uma ditadura judicial. Não é verdade, mas de crises se alimenta a extrema direta. E apenas e tão somente de crises, porque não tem projeto algum.  

13 de novembro de 2025

Saudade da polícia que mata


Tem triste história em São Paulo uma parcela da elite violenta da Polícia Militar daquele Estado chamada de Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar, mais particularmente ROTA. Foi o repórter Caco Barcelos quem mais se aprofundou nesse tema quando escreveu um livro contando a história da "Polícia que Mata". E matava muito mais do que hoje. O atual deputado federal Guilherme Derrite é oriundo desse grupamento e da ideia de que o Estado tem que se defender de uma guerra, mesmo interna, sendo o criminoso inimigo e devendo ser tratado como tal. Portanto, para essa parcela do pensamento homiziado na extrema direita não pode sobreviver por aqui a ideia do Estado como uma força mediadora de conflitos.

Durante a ditadura militar de 1964/85, aquela da qual o condenado Jair Bolsonaro sente saudades eternas, esse era o pensamento vigente e foi por isso que a ROTA ganhou projeção, prendendo, torturando e matando indiscriminadamente. Cheguei a ouvir um de seus oficiais - Derrite é oficial - uma descrição orgulhosa da eficiência do "pau de arara", o método de tortura que está mostrado na ilustração acima. Quem já passou por isso consegue se lembrar de como eram terríveis as dores sofridas pelos supliciados. E foram inúmeros...

A saudade do estado totalitário e das violências que ele praticou ao longo de 21 anos ainda povoa a cabeça de muitos extremistas de direita brasileiros. Eles todos aplaudem o governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, pela chacina ocorrida no Estado. E ninguém questiona como puderam morrer 121 pessoas num ataque de forças policiais contra duas comunidades faveladas sem que o único dos procurados pela Justiça fosse preso. E é essa ação que hoje motiva a extrema direita brasileira a pedir violência cada dia maior, a perda de poder da Polícia Federal e a transferência de comando das ações para os Estados. Mas a incompetência estadual é a responsável maior pelo crescimento das facções criminosas em todo o Brasil e o aumento dos reflexos dessa criminalidade junto às populações.

Recordo-me como se fosse hoje do dia em que assisti a uma "caçada" da ROTA em São Paulo em plena década de 1970, quando saia de um cinema, Cine Gazeta, na Avenida Paulista. Dois carros cercaram três indivíduos e os PMs que saíram deles já desceram atirando. E só eles atiraram! Tenho a mais absoluta convicção de que ao menos um daqueles três atacados morreu na calçada, ao lado de um ponto de ônibus. Nós, os pedestres, terminamos enxotados do lugar pelos policiais armados até os dentes. Eram tempos de ditadura militar e bem faziam aqueles que não enfrentavam a fúria oficial...

Derrite é só um fantoche nas mãos daqueles que o manipulam, mas já dobrou seu patrimônio pessoal em muito pouco tempo. Representa os governadores de direita como Castro, Tarcísio de Freitas, Ronaldo Caiado, Jorginho Melo e outros, e faz o que estes mandam sem discutir nem questionar nada. Ontem mesmo ameaçou jornalistas que tentavam entrevistá-lo no Congresso Nacional, em Brasília. Ele sente cheiro de sangue à distância e só não se volta jamais contra os bandidos da Faria Lima. Tem poder, tem raiva mas muito juízo também.

E não sente o menor apreço pela democracia.

11 de novembro de 2025

Maus mocinhos, bons bandidos

 

Saída do forno: a agência "Ideia" divulgou agora pela manhã o resultado de uma pesquisa "Relatório de Avaliação e Dignóstico" feita no último dia 06 e reunindo 1.027 pessoas de 26 unidades da Federação relativa ao que o brasileiro pensa sobre a chacina policial nas comunidades do Alemão e da Penha, no Rio de Janeiro. Para a maioria, 48,7% o importante é buscar quem encabeça as organizações criminosas a partir da Faria Lima. 35,9 por cento não têm opinião formada e 15,4 por cento preferem que os soldados do crime sejam procurados e mortos como feito pelo governo Cláudio Castro. É bom notar que a pesquisa é longa e destaco apenas um dado dela. Também que esses percentuais costumam ser muito fluídos e mudam de acordo com o calor da hora e o conteúdo dos discursos oficiais.

O ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes determinou a sustação dos procedimentos legais determinados pelo governador Cláudio Castro e que pretendiam penalizar parentes das vítimas daquele dia por terem resgatado os cadáveres de seus entes queridos de onde foram mortos (foto acima), bem com preservar para os procedimentos legais necessários os laudos de negropsia dos mortos e também as imagens das câmaras corporais dos policiais envolvidos naquela ação. É certo que vários mortos foram executados com tiros a queima roupa, bem como nenhum dos procurados pela Justiça foi preso naquele dia. E mesmo assim morreram 121 pessoas, todas elas pobres, favelados.

Nós precisamos definir em que país queremos viver. Aqui em Vitoria, onde moro, o arcebispo Dom Ângelo Mezzari precisou sair em defesa do padre Kelder José Brandão Figueira, que publicou trabalho "Evangelização nas periferias geográficas e existenciais", atacado pelo deputado bolsonarista Lucas Polese (PL-ES). Pelo título a gente já vê que o trabalho é extremanente "subversivo". Esse é só um exemplo. Recentemente outro parlamentar atacou uma exposição que era realizada no Palácio Anchieta. Isso é um método e a extrema direita ataca às claras tudo o que faz escondido. É imensa a quantidade de membros desse espectro político já presa por motivos diversos como pedofilia, por exemplo.

Agora mesmo, às vesperas da eleição presidencial da Academia Espírito-santense de Letras (AEL) e realizada ontem à noite, duas ou três acadêmicas desta instituição e da Academia Feminina Espírito-santense de Letras faziam campanha aberta para o acadêmico vereador de extrema direita Leonardo Monjardim, em nome das duas instituições, pois ele pretende se candidatar ao Senado pelo Espírito Santo. Isso é terminantemente proibido pelos estatutos das duas entidades, mas é sempre feito. E sem que nada aconteça contra os autores.

Precisamos definir em que país queremos viver. Se nesse atual sujos atos e consequências têm e devem continuar tendo como horizonte as leis em vigor, tanto no plano de uma simples eleição de entidade supostamente cultural quanto no do respeito pela vida e pela morte em ações policiais ou então no defendido por muitos e onde tanto as leis quanto o princípio do respeito a elas não passa de mera opção de momento, sobretudo para aqueles que podem conspirar até contra a Constituição do País porque não concordam e não aceitam o resultado de uma eleição que foi auditada e conferida à exautão antes, durante e depois.

Ou respeitamos as leis ou seremos maus mocinhos como os que atacaram duas favelas do Rio de Janeiro sem prender um único dos procurados pela Justiça, ou seremos bons bandidos porque sabemos onde atacar para atingir o Comando Vermelho e outras facções, mas ao mesmo tempo poupando os territórios das milícias. Afinal, lá é terreno de milicianos como é o caso de Fabrício Queiroz, que chegou a ser nomeado, pasmem, Subsecretário de Segurança Pública de cidade do litoral do Rio de Janeiro, há pouco tempo. Ele é amigo (?) de Flávio Bolsonaro, o filho mais velho de um rei deposto e que quitou uma casa de R$ 5,97 milhões 27 anos antes do previsto pelo financiamento.

Parece piada, mas antes de ser encerrada a pena de prisão de seu pai!!!   

6 de novembro de 2025

Em Mamdani, a esperança

 

A toda ação corresponde uma reação igual e contrária. Essa é a terceira Lei de Newton, e à qual não se foge. Transportada do campo da física para o da política ela explica a vitória de Zohran Mamdani (foto acima) para o cargo de prefeito de Nova Iorque. E não é nada fácil conseguir isso em uma cidade na qual um muçulmano mete medo, o sionismo tem grande força política e financeira, o socialismo é quase um palavrão ligado ao comunismo e a influência de Donald Trump e seu poder econômico ainda é imenso. Ou será que era?

O norte-americano não quer ser submetido a tiranos de quaisquer espécimes. E o prefeito eleito aos 34 anos e que só teve até hoje um mandao legislativo propõe fazer pelos moradores da maior cidade dos Estados Unidos o que o presidente atual jamais faria: justiça social. Dentre outras coisas ele tenciona conter escalada do preço dos aluguéis numa cidade onde mais da metade da população não mora em casa própria e também oferecer serviço gratuito de transporte público para a população mais carente da cidade. Isso é música clássica para os ouvidos da esmagadora maioria dos nova-iorquinos.

Diz-se que ser eleito numa cidade com tão grande número de judeus é um feito. Sim, mas é preciso levar em consideração que ser judeu não obriga a pessoa a crer no sionismo e nem atuar politicamente genocida de extrema direita. É grande o número de praticantes dessa religião nos Estados Unidos que se opõem à política de Benjamin Netanyahu. São adversários declarados de um autocrata que não permite a oposição, faz acordo com os nazifascistas de seu país e já tentou mais de uma vez limitar o poder do Judiciário para seguir governando sem amarras e não respondendo a processos. Como Bolsonaro tentou aqui...

A mulher dele, Rama Duwaji, de 28 anos, compareceu ao discurso da vitória do marido com um vestido de estilista palestino. Ela, da mesma forma que Zohran, é pró palestina sem ser antisemita E isso porque são duas coisas diferentes e as pessoas lúcidas só devem ser antisionistas. É no sionismo que vive o mal que o judaísmo pode fazer aos outros, como aos palestinos. Sim, porque para estes, palestinos e muçulmanos como o prefeito de Nova Iorque são seres inferiores e não podem pleitear fazer parte da Grande Israel, dada a eles por Deus. E quem acredita ter alguma coisa por direito divino mata por causa disso e dorme em paz.

O norte-americano deu um sinal bem terreno a Donald Trump e sua trupe, parte da qual mora ainda no Brasil. É possível vermos esse socialista democrático pleiteando a Casa Branca dentro de pouco tempo. E por que não? Se não o assassinarem, o novo prefeito com tantos planos sociais pode em breve chegar a um posto onde não caberão reacionários e negacionistas. Os EUA já tiveram um presidente negro sem que este fosse morto. Agora pode ter também um muçulmano. Crescerá muito como povo se isso acontecer.                

4 de novembro de 2025

Lugar de toda pobreza

Em 1983 o jornalista Amylton de Almeida lançou pela TV Gazeta (Rede Globo) um documentário exemplo para o jornalismo do Espírito Santo. Focalizava "Lugar de Toda Pobreza", o bairro de São Pedro que naquela época era um imenso lixão onde milhares de pessoas viviam em meio a restos e urubus. Depois, com o tempo aquilo foi se tornando um bairro onde hoje a população vive com dignidade embora continue pobre. Na foto acima a gente vê o lixão à esquerda e o bairro já se formando à direita. Na foto abaixo é possível vê-lo hoje transfomado em um point de culinária popular, com urbanismo e dignidade para seus moradores. No meio do caminho não estavam psicopatas da extrema direita com mandato
eletivo, mas sim prefeitos com visão de futuro como Luiz Paulo Vellozo Lucas (principalmente) e João Coser, que administraram a capital do Espírito Santo com o olhar voltado à dignidade do cidadão.

Eis a diferença entre esses dois políticos por mim citados e energúmenos como Cláudio Castro, no Rio de Janeiro; Tarcísio de Freitas, em São Paulo; Romeu Zema, em Minas Gerais; Ronaldo Caiado, em Goiás; e Ratinho Júnior, no Paraná, além de outros ainda menos votados como o de Santa Catarina, Jorginho Mello.

O documentário de Amylton pode ser visto mesmo hoje na íntegra, apresentado por Marisa Sampaio. Ele ainda viveria para fazer o primeiro longa metragem capixaba, "O amor está no ar", em 1997, morrendo logo em seguida vitimado por câncer. Esses dois registros são muito importantes para nós. Bem como lembrar a administração de Luiz Paulo que, com o mote do "waterfront city" importado da Cidade do Cabo e unido a um profundo respeito pelo cidadão dos bairros pobres, deu-lhes dignidade em urbanização de espaço público com infra-estrutura urbana, saneamento básico, áreas de lazer, identidade. Deu ao ex-morador do "Lugar de Toda Pobreza" endereço onde o carteiro podia ir entregar as cartas (naqueles tempos) e ruas por onde as crianças circulavam para a escola com seus pais que iam ao supermercado, padaria, igreja, médico, a todos os lugares.

O crime organizado só invade espaço onde o Estado não se encontra. Lembro-me de uma conversa com o prefeito Luiz Paulo e na qual ele me disse mais ou menoso seguinte: "Dê ao morador das áreas carentes as estruturas urbanas que mostram o Estado presente e o morador não vai mais querer criminoso lá. Ele vai pegar o telefone, ligar para o número de denúncia anônima e entregar o sujeito ou a organização. Vai querer seu lugar livre".

Antes de bater palmas para gente como Cláudio Castro e suas manifestações de traição da pátria com pirotecnia, é preciso pensar nisso. Os bairros carentes precisam de investimento público, exigem a presença do Estado. Se isso foi feito em São Pedro, pode em qualquer outro lugar. Basta decisão política. E para encerrar, o governador do Rio de Janeiro tem que ter o mandato cassado e responder a processo criminal. O que ele fez indo aos Estados Unidos para conspirar contra seu país é Crime de Lesa Pátria. E esse sujeitinho já responde a processo no Suprerior Trubunal Eleitoral. Isso é o bastante.