13 de novembro de 2025

Saudade da polícia que mata


Tem triste história em São Paulo uma parcela da elite violenta da Polícia Militar daquele Estado chamada de Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar, mais particularmente ROTA. Foi o repórter Caco Barcelos quem mais se aprofundou nesse tema quando escreveu um livro contando a história da "Polícia que Mata". E matava muito mais do que hoje. O atual deputado federal Guilherme Derrite é oriundo desse grupamento e da ideia de que o Estado tem que se defender de uma guerra, mesmo interna, sendo o criminoso inimigo e devendo ser tratado como tal. Portanto, para essa parcela do pensamento homiziado na extrema direita não pode sobreviver por aqui a ideia do Estado como uma força mediadora de conflitos.

Durante a ditadura militar de 1964/85, aquela da qual o condenado Jair Bolsonaro sente saudades eternas, esse era o pensamento vigente e foi por isso que a ROTA ganhou projeção, prendendo, torturando e matando indiscriminadamente. Cheguei a ouvir um de seus oficiais - Derrite é oficial - uma descrição orgulhosa da eficiência do "pau de arara", o método de tortura que está mostrado na ilustração acima. Quem já passou por isso consegue se lembrar de como eram terríveis as dores sofridas pelos supliciados. E foram inúmeros...

A saudade do estado totalitário e das violências que ele praticou ao longo de 21 anos ainda povoa a cabeça de muitos extremistas de direita brasileiros. Eles todos aplaudem o governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, pela chacina ocorrida no Estado. E ninguém questiona como puderam morrer 121 pessoas num ataque de forças policiais contra duas comunidades faveladas sem que o único dos procurados pela Justiça fosse preso. E é essa ação que hoje motiva a extrema direita brasileira a pedir violência cada dia maior, a perda de poder da Polícia Federal e a transferência de comando das ações para os Estados. Mas a incompetência estadual é a responsável maior pelo crescimento das facções criminosas em todo o Brasil e o aumento dos reflexos dessa criminalidade junto às populações.

Recordo-me como se fosse hoje do dia em que assisti a uma "caçada" da ROTA em São Paulo em plena década de 1970, quando saia de um cinema, Cine Gazeta, na Avenida Paulista. Dois carros cercaram três indivíduos e os PMs que saíram deles já desceram atirando. E só eles atiraram! Tenho a mais absoluta convicção de que ao menos um daqueles três atacados morreu na calçada, ao lado de um ponto de ônibus. Nós, os pedestres, terminamos enxotados do lugar pelos policiais armados até os dentes. Eram tempos de ditadura militar e bem faziam aqueles que não enfrentavam a fúria oficial...

Derrite é só um fantoche nas mãos daqueles que o manipulam, mas já dobrou seu patrimônio pessoal em muito pouco tempo. Representa os governadores de direita como Castro, Tarcísio de Freitas, Ronaldo Caiado, Jorginho Melo e outros, e faz o que estes mandam sem discutir nem questionar nada. Ontem mesmo ameaçou jornalistas que tentavam entrevistá-lo no Congresso Nacional, em Brasília. Ele sente cheiro de sangue à distância e só não se volta jamais contra os bandidos da Faria Lima. Tem poder, tem raiva mas muito juízo também.

E não sente o menor apreço pela democracia.

Um comentário:

Marcos Tavares disse...

Há , sobretudo, a polícia que, enfrentando delinquentes, muito defende a sociedade, ou estaríamos todos a enfrentar rigorosa narcoditadura e com censura muito pior do que no regime militar. Basta ver o telenoticiário : todo dia um confronto por disputa territorial atinge , agora sim, inocentes. Já estou sentindo saudades de Ustra, de Erasmo Dias e de Garrastazu Médici.