14 de dezembro de 2025

De onde vieram eles?

Às vezes me ocorre pensar de onde vieram parsonagens como essa tal Carla Zambeli, deputada federal condenada pela Justiça e presa na Itália, sem condições de obter mais recursos para aliviar ou cancelar as penas impostas a ela pelo cometimento de crimes que vão de desde perseguir um homem em plena via pública com arma de fogo carregada às mãos (charge ao lado), até falsificar ordem de prisão como sendo do ministro Alexandre de Moraes e que estaria prendendo a si próprio. A essa figura somam-se outras tão dantescas quanto são os casos do também condenado Alexandre Ramagem, além de Eduardo Bolsonaro, o tresloucado filho 03 do ex-presidente Jair Bolsonaro preso em Brasília. E essa é só uma pequena amostra.

Na semana que passou um deputado federal foi à PF de Brasília fazer uma espécie de vistoria na cela onde o ex-presidente se encontra. E voltou de lá "estarrecido" por estar o detendo sendo "torturado" por um aparelho de ar refrigerado barulhento. Existe não uma, mas várias declarações gravadas desse preso e nas quais ele diz que apoia e aprova tortura de presos. Numa ocasião recebeu no Palácio do Planalto a viúva do torturador Carlos Alberto Brilhante Ustra, um dos mais ferozes algozes do regime militar e a tratou com cordialidade extrema. Ser torturado por barulho de ar refrigerado em prisão brasileira chega a ser anedótico. Esse  equipamento simplesmente não existe em prisões comuns. Nem ventilador há.

E ao mesmo tempo em que esse tipo de coisa acontece o presidente da Câmara, Hugo Motta, vai fazer consultas no Legislativo para saber se aceita por bem a extinção do mandato de Zambeli. Talvez prefira aceitar por mal. Em lugar nenhum do mundo a não ser no Brasil um condenado da Justiça pode exercer mandato eletivo e, além disso, ainda urufruir de todas as benezes do cargo e que incluem até mesmo a possibilade de uso de emendas parlamentares, inclusive via PIX, a mais nova forma de corrupção consagrada pelo Brasil.

Motta (foto), o lado de Esperidião Amin e o presidente do Senado Davi Alcolumbre ainda luta por anistia aos criminosos de janeiro de 2023 ou então de dosimetria das penas o que, para o deputado Paulinho da Força, vai trazer a paz à política brasileira. Nosso país já foi vítima de mais de uma golpe de Estado e várias aquarteladas e nada na face da terra pode derrotar o golpismo encrustrado em nossa sociedade - o que inclui as Forças Armadas - a não ser a punição exemplar de todos aqueles que jogam contra o Estado Democrático e de Direito. Ou se faz isso agora ou esse estado de  coisas continuará a marcar nossas vidas.

Precisamos ir em frente e punir os golpistas, senão para outra finalidade ao menos para que possamos pelo menos saber de onde vieram essas pessoas horrendas. De que esgoto saíram.

10 de dezembro de 2025

As hienas


Tudo é uma questão de como a gente vê as coisas: para os europeus a hiena é um animal que simboliza a ganância, a gula e a falsidade. Em algumas culturas africanas esse bicho é reverenciado como corajoso e feroz nas batalhas. Num mundo em que tantas espécimes estão hoje correndo risco de extinção, ele sobrevive, e bem, comendo carniça pelo mundo afora. Hoje ouvi de uma pessoa que o Congresso Nacional é comandado pelas duas hienas da foto, Hugo Motta (Câmara) à esquerda e David Alcolumbre (Senado) à direita. Não se trata de opinião unânime, mas retrata, para o bem ou para o mal, a opinião de grande parte da população do Brasil. Sobretudo hoje e depois de tudo o que aconteceu ontem.

Recentemente parlamentares da extrema direita política brasileira, sobretudo do PL e do Republicanos, ocuparam a mesa da Câmara por 36 horas em "protesto" e só se retiraram de lá quando o presidente Hugo Motta, com muito tato e carinho, conseguiu convencê-los a sair. E nada, rigorosamente nada aconteceu a nenhum deles. Ontem o deputado Glauber Braga conseguiu ficar poucas horas na mesa da presidência antes de ser sacado de lá à força, terno rasgado e correndo o risco de ter seu mandato cassado. Ele é do PSOL, um adversário ferrenho e ideológico de Motta.

Glauber responde a processo que pode cassar seu mandado porque, tendo sido ofendido por um militante do MBL que atacou sua mãe, reagiu correndo atrás do desaforado e dando-lhe um chute a bunda. Eduardo Bolsonado, Carla Zambele e Alexandre Ramagem ainda não sofreram punição alguma do Legislativo embora os dois últimos sejam condenados da Justiça com sentenças transitadas em julgado e tenham ordem de prisão expedida pelo Supremo Tribunal Federal. São protegidos pelo sistema político que domina a Câmara.

No Senado, o presidente David Alcolumbre quer botar em votação logo a lei aprovada na Câmara e que institui "dosimetria" das penas dadas aos condenados de janeiro de 2023, a turba comandada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro para dar um golpe de Estado - mais um... - no Brasil. Alcolumbre está zangado com o presidente Lula porque este indicou para o Supremo Tribunal Federal ministro que não era de seu agrado. E isso embora essa escolha seja atribuição exclusiva da presidência da República.

São tempos de hienas...

Como as normas legais aprovadas ontem e na madrugada de hoje - hienas têm hábitos noturnos... - agridem normas constitucionais segundo a maioria dos especialistas da área, nem deveriam ter sido colocadas em votação. Mas o foram porque o Legislativo afronta a Constituição sempre que pode e, mesmo sabendo que deve perder, vive para gerar crises e contestar a Carta Magna do Brasil que não foi feita pelas correntes políticas que o comandam hoje. Muito pelo contrário.

E pode parecer incrível, mas é verdade que por trás de tudo isso esteja o senador Flávio Bolsonaro, "candidato" a presidente da República com a platafroma de tirar o pai criminoso da prisão e ainda - tarefa inpossível! - colocar o nome deste na cédula de votação para a presidência em 2026. Ninguém merece um replay da novela das urnas eletrônicas "não auditáveis" em um novo pleito eleitoral. A não ser as hienas...

5 de dezembro de 2025

Legítima defesa

 

O crime de responsabilidade é regulado pelo art. 85 da Constituição Federal do Brasil e detalhado na Lei 1.079/1950, a chamada "Lei do Impeachment". Não se trata de um crime comum, mas sim com natureza política e sua punição principal é a perda do cargo e inelegibilidade por certo período de tempo. Portanto, algo muito grave e que precisa ser tratado de forma responsável e à luz de provas irrefutáveis. Só que em nosso caso, de alguns anos para cá, vem se tornando uma forma pouco disfarçada de vindita política usada pelos setores mais radicais da extrema direita brasileira para investir contra o Supremo Tribunal Federal (STF). Daí a reação deste, por intermédio do ministro Gilmar Mendes, essa semana.

O que está acontecendo é que de uns tempos para cá os possíveis candidatos ao Senado nas eleições de 2026 têm como plataforma política atingir o Judiciário através do STF e isso foi dito em várias oportunidades por eles no Congresso Nacional (foto). Mas tal só acontece porque as últimas decisões judiciais da Suprema Corte contrariaram os parlamentares sem projetos voltados para Educação, Saúde, Transportes, Infraestrutura, etc. Nem mesmo segurança que não seja a deles. Seu foco é fazer estardalhaço e tentar dirigir as atenções da opinião pública às ações voltadas a classes menos favorecidas. E sempre que governadores do tipo Cláudio Castro promovem ataques a favelas, inocentes morrem porque esses vivem nos únicos lugares onde seus parcos ganhos financeiros permitem. E como pobre é "invisível", na maioria das vezes suas mortes ocupam as manchetes por pouco tempo.

No chamado "andar de cima" é diferente. Só nos últimos quatro últimos escândalos financeiros foram desviados R$ 133 bilhões - isso pelo que foi apurado até agora - com corrupção, na maioria dos casos via sonegação de impostos federais e estaduais. Refiro-me a Refit, Banco Master, Carbono Oculto e Lojas Americanas, todos do gênero "Faria Lima" onde a entidade "o mercado" continua tentando mostrar à população brasileira que nosso maior problema seriam os gastos públicos. Sem contarmos com as emendas parlamentares, o novo tipo de cangaço moderno criado pelo Poder Legislativo do Brasil.

Pois vejamos: ontem mesmo o Congresso Nacional aprovou a obrigatoriedade de o Poder Executivo colocar à disposição das goelas insaciáveis de deputados federais, senadores e outros nada menos do que R$ 13 bilhões em emendas parlamentares até julho de 2026 - 65 por cento do total empenhado - para que esse dinheiro seja usado antes das eleições. Em muitos casos até mesmo como doações para clubes de tiro. Todos nós sabemos que essa dinheirama toda nunca é usada integralmente para a finalidades descrita em seus projetos. Grande parte do montante termina desviada para os bolsos dos parlamentares que usam as verbas em suas campanhas políticas de reeleição. Isso quando não botam tudo no bolso e levam para suas "aplicações financeiras".

Dos projetos anunciados pelos políticos e de ataque ao Judiciário constam, além do impeachment de ministros, a criação de mandatos, a eliminação das decisões monocráticas e outras coisas mais. Tudo para frear o poder de reação do STF à corrupção legislativa como, por exemplo, nos casos do uso de emendas parlamentares por pessoas já condenadas e com sentença transitada em julgado, de demissão de funcionários públicos de cargos onde eles não podem parmanecer mais, de cassação de mandatos de condenados e outros. Sobretudo para não continuar acontecendo, como ocorre agora, de um partido político de extrema direita como o PL ter uma bancada de "exilados" no exterior exercendo mandato.

Ou seja, para o STF essa reação é um ato de legítima defesa. 

30 de novembro de 2025

Adeus, florestas!


Quando eu era garoto meu pai nos levou duas vezes a Ribeirão Pires, um paraíso de Mata Atlântica localizado a apenas 40 quilômetros de São Paulo, onde morávamos. A cidade fica no topo da Serra do Mar, início da descida da estrada velha de Santos, e vale a pena conhecer. Era um santuário de floresta intocada e que pode ser curtido nessa foto de internet. Olhando bem a gente vê a cidade ao fundo e, bem mais adiante, a Baixada Santista que fica depois da descida da serra. É um declive de cerca de 800 metros. Essa semana, quando estava pensando nesse artigo, procurei saber do lugar e recebi a informação de que RP é agora o município mais devastado em Mata Atlântica de São Paulo. Que crime!

Esse é apenas um exemplo do que está sendo feito no Brasil e que vai se tornar muito mais agudo caso o PL da devastação entre em vigor sem ser contestado judicialmente. Esse bioma ocupava uma área de 1.110.182 quilômetros quadrados e correspondia a 15 por cento do território nacional antes de começar a ser destruído. Englobava Espírito Santo, Rio de Janeiro e Santa Catarina inteiros, além de parte dos estados de Alagoas, Bahia, Goiás, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraíba, Paraná, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Sergipe e, claro, São Paulo. No ES agora só há 11 por cento de cobertura original de florestas de Mata Atlântica e a desvatação foi provocada sobretudo por avanço da pecuária no Estado. O corte das florestas diminuiu, mas já temos muito pouco a perder.

Cito a questão da desse bioma único no Brasil como destaque dos danos a serem provocados pelo projeto de lei porque nós, capixabas, estamos dentro do problema. Em nosso Estado houve uma orgia de derrubada de florestas e as motosserras fizeram a festa da morte. Tivemos por aqui até mesmo campeões de desmatamento e que se tornaram tristemente famosos por isso. Mas agora a extrema direita política do Brasil, com a ajuda de senadores do Espírito Santo, está comemorando o fim das florestas em nosso pobre país. E é preciso notar e registrar que com o fim da vegetação, vai embora também quase toda a vida animal.

É  triste dizer isso, mas no Brasil atual o PL da devastação está ligado à direita e ao "desenvolvimentismo". O combate a ele é pauta da esquerda, ou seja, dos "comunistas". Nada mais bisonho e falso como pensamento humano. Na verdade todos os que lutam pela lei aprovada no Senado têm algum compromisso pecuniário com os setores econômicos diretamente ligados a essa questão e estão engordando suas contas bancárias via lobistas. Talvez eles até desconfiem dos danos que isso vai trazer ao País, mas dane-se. Se seus interesses estão satisfeitos é tudo o que importa. E o projeto modificado pela oposição, como está agora, tem a capacidade de destruir o que ainda temos de meio ambiente sadio no Brasil.

Esse projeto de lei flexibilizará o licenciamento ambiental através de projetos por adesão e compromisso (LAC) que vão virar regra, dispensarão análises técnicas e facilitarão o desmatamento como na Mata Atlântica que citei, sem a necessidade de autorização de órgãos ambientais, sejam estaduais ou federais. Haverá licenciamento automático, dispensa de licenciamento, desmatamento de áreas em estágio avançado de regeneração, desconsideração de áreas protegidas, restrições à atuação de órgãos ambientais e isenção de cumprimento de condicionantes ambientais por parte de empreendimentos privados com o custo e a responsabilidade pelos impactos sendo jogados à população e o poder público.

Há várias vertentes danosas nessa lei e não apenas o fato de que, com ela em vigor, intervenções em reservas indígenas poderão voltar a serem feitas mesmo sem o consentimento destes. E também mesmo com as emissoras de TV mostrando os presidentes da Câmara e do Senado se confraternizando na mesa da sessão conjunta, como se estivessem comemorando uma Copa do Mundo de Futebol. Mas não; isso é apenas mais uma "vitória" contra a natureza, contra o que o Brasil tem de mais valioso e a avant premiere da orgia das motosseras que jamais pararam de ser usadas contra os biomas brasileiros.

Adeus, florestas!

              

    

28 de novembro de 2025

Uma questão de princípios


A Polícia Federal faz hoje nova operação nacional contra o desvio de dinheiro do meu, do seu, do nosso imposto por políticos que usam o recurso das emendas parlamentares e as destinam aos mais diversos endereços, todos eles ilegais. Agora, com o auxílio da Controladoria Geral da União (CGU) ela está à caça de R$ 22 milhões desviados em esquema de contratos de pavimentação irregulares firmados pelo DNOCS (Departamento Nacional de Obras contra a Seca). Aliás, esse órgão é um dos alvos do Centrão, que sempre exige dos governos que "apoia" ter controle sobre ele. Todos sempre soubemos os motivos...

Essa é a enésima vez que a PF sai à caça das falcatruas envolvendo emendas (foto). E essa é a razão pela qual o Congresso Nacional investe mais uma vez contra o Supremo Tribunal Federal (STF) e, principalmente, contra o ministro Flávio Dino. E também porque não quer o candidato Jorge Messias completando a Suprema Corte do Brasil. Sabe que ele, como Dino, vai mandar investigar o destino das emendas parlamentares que servem a tudo no Brasil, até mesmo para serem destinadas aos inúmeros clubes de tiro existentes...

Aliás, esse valor de agora é até pequeno. Na modalidade de PIX as emendas já serviram a tudo. Aqui no Espírito Santo a Academia Espírito-santense de Letras (AEL) precisava de R$ 400 mil para fazer uma reforma em sua sede que fica ao lado do Paláco Anchieta. Era um valor estimado por organização que faz reformas em prédios antigos e havia participado de obras no Palácio Anchieta. De repente, não mais que de repente, uma emenda parlamentar surgiu para salvar a entidade. Só que no valor de R$ 1,8 milhão. É o milagre da multiplicação do dinheiro... E essa Academia, que deveria ter a preocupação de explicar timtim por timtim cada centavo de dinheiro público que entra lá, se fecha em copas.

Esse exemplo também é pequeno em montante, mas enorme em impacto. O Brasil está perdendo o foco em torno da moralidade. As emendas parlamentares, antes uma forma de os políticos, sobretudo federais, enviarem receitas aos seus redutos, agora servem a tudo e sobretudo à imoralidade. Por isso são defendidas com unhas e dentes pelo Poder Legislativo. Servem à perpetuação do poder nas mãos de quem já chegou ao Parlamento Federal e não quer deixar o posto, de nada importando o preço a pagar. A nós pagarmos, claro!

O problema maior é que a instituição das emendas está no colo dos políticos que as defendem de todas as formas, inclusive os de partidos de esquerda. E planejam até mesmo conseguir maioria absoluta no Senado para investir contra o Supremo Tribunal Federal e até para caçar os ministros que  hoje investem contra os desmandos dessas falcatruas e punem seus autores, estejam onde estiverem. Que desplante! Descaramento! Onde já se viu isso?

Mas a caravana passa enquanto os cães ladram. Hoje mesmo já está em alegações finais a primeira ação penal sobre emendas. Nesse caso, envolve gente do PL do Maranhão. O processo corre em sigilo de Justiça, mas é conhecido e virou foco daqueles que ainda lutam para que a moralidade volte a imperar no Brasil senão como uma determinação judicial, mas também como um princípio de vida pública. Só que princípios só servem a quem os tem. 

26 de novembro de 2025

Arrivistas medíocres

Sempre que me volto à situação do Brasil atual, sobretudo para as prisões de figuras ligadas ao ex-governo federal, me vem à mente uma obra monumental da filósofa alemã Hannah Arendt, "Eichmann em Jerusalém", e que conta a história do julgamento do criminoso de guerra Adolf Eichmann, condenado à morte e executado em Israel em 1963 por crimes de guerra. Nesse livro ela lança o conceito de "banalidade do mal", explicando como as pessoas se transformam nessas situações. No caso específico, não porque a dimensão dos atos praticados possa ser comparada aos dos ex-governantes brasileiros da administração passada, mas sim pelo arrisvismo medíocre que foi a marca daquele indivíduo a quem foi dado um poder quase absoluto durante a II Guerra Mundial. E parecido com os de hoje.

Escalada para cobrir o julgamento pela revista "The New Yorker" e que se realizaria na Casa da Justiça onde um homem seria julgado por suas antigas vítimas, ela não se viu diante de um monstro como imaginava, mas sim perto do cidadão comum, arrivista de pouca inteligência, na verdade uma nulidade pronta a obedecer a qualquer voz superior, um simples funcionário incapaz de discriminação moral e, sintetizando, um indivíduo sem consistência própria e que havia assumido eufemismos burocráticos como seu caráter.

Quem é Jair Bolsonaro, hoje preso na Superintendência da Polícia Federal de Brasília (foto) e condenado a 27 anos e três meses de prisão senão um sujeito tão pequeno como aquele e que exerceu um cargo para o qual levou todas as suas frustrações e falta de tirocínio durante quatro anos e ao longo dos quais exerceu um poder despótico e distante das normas mais comezinhas de comportamento? Segundo a psicóloga Marta Suplicy, ele é o psicopata sem chance de recuperação, que não sente empatia, remorso, sentimento de culpa e nem sequer tem a capacidade de conviver com quem pensa diferente dele.

Hitler tinha essa síntese e só podia viver ao lado de gente medíocre, que não questionasse suas ordens, que jamais tentasse se contrapor a suas convicções geralmente baseadas em nada e que se reduzisse ao tamanho que seu dono dava a ele. Gente como Eichmann. Por isso Bolsonaro teve ministro da Saúde general especialista em estatística, da Educação que não era entendido por ninguém, ministro das Relações Exteriores nascido do quarto escalão do Itamarati, etc. O arquétipo era assim determinado como modelo único.

Bolsonaro merece ficar onde está, cercado por cuidados médicos porque é doente e o Estado tem que se responsabilizar pelas pessoas que mantém sob custódia.

Vivemos uma época da qual devemos nos orgulhar. Generais, um almirante e outros oficiais superiores das Forças Armadas do Brasil foram condenados e começaram a cumprir pena por terem participado, juntamente com seu chefe, da mais recente tentativa de golpe de Estado brasileira. A primeira que causou esse tipo de dano, com prisão e condenação de seus responsáveis diretos e indiretos. Talvez o Brasil tenha jeito. Pelo menos nossas instituiçoes passaram incólumes por uma prova de fogo. Ou estão passando.         

25 de novembro de 2025

Clima de hospício

 

A imagem mostrando o ex-presidente Jair Bolsonaro na portaria da delegacia da Polícia Federal de Brasília (foto), para onde foi levar a mulher Michele depois visita de ontem, mostra que há muita coisa errada no Brasil atual, sobretudo quando se fala de leis e de seu cumprimento. Essa foi a primeira vez que vi um preso acompanhar seu visitante até a porta da prisão. Geralmente eles ficam nas celas, a não ser nos horários de visita ou banho de sol.

Mas não é só isso. Tentar tirar a tornozeleira eletrônica com um ferro de solda dentro de casa ao mesmo tempo em que o filho mais velho e mais malandro convoca vigília para a porta do condomínio onde ele estava é surreal. Aliás, passa disso. Por fim, os movimentos dos presidentes da Camara e do Senado provocando uma crise institucional grave com motivações torpes faz qualquer pessoa entender que todo esse conjunto de fatores tem um projeto escondido, mas definido. É um clima hospício, só que seu enredo está claro.

O presidente da Câmara entregou um projeto de lei antifacção governamental a deputado federal da extrema direita com o claro intuito de ver o texto descaracterizado. Modificado. Mutilado. E foi o que aconteceu. Já o do Senado ficou nervozinho porque o presidente da República exerceu uma atribuição sua sem consultá-lo e, ato contínio, pautou projeto de lei que custará uma fortuna aos cofres públicos sem que haja fonte de recursos identificada para tanto. É no mínimo uma vingança. Uma irresponsabilidade. Um enredo do hospício.

O exercício de cargos da importância dos comandos das duas casas legislativas federais exige compromisso público. Digo: com o interesse público, só com ele. E não que seus dirigentes se tornem falsos vestais e usem do poder que têm no exercício das funções para propósitos pouco claros. Ao presidente da Câmara faltou dizer logo no dia de sua posse: sou de extrema direita e pronto. Estou com o bolsonarismo e não abro. Ao do Senado: sou vingativo e se não me prestarem vassalagem o preço vai ser alto. Tudo ficaria claro.

O Brasil vive hoje tempos de insegurança e as hordas que desejam uma ruptura da ordem democrática visam o Poder Executivo e também o Judiciário. Elas nunca desistiram de dar golpe de Estado, de destruir a democracia do nosso país. Só não fizeram isso até agora porque não conseguiram, mas vão continuar tentando. A quadrilha que se forma no exterior, sobretudo nos Estados Unidos, mostra isso. Mostra também que os crimes contra o Estado Democrático e de Direito têm que ser punidos. Sem perdão. Sem anistia. 

20 de novembro de 2025

Será a Polícia Federal um perigo?


Essa pergunta e título do artigo que você vai ler agora tem resposta simples: depende!

No plano legal ela é uma instituição policial brasileira subordinada ao Ministério da Justiça e Segurança Pública, com a missão de atuar como polícia judiciária da União. Sendo assim, investiga os crimes federais e infrações cometidas contra bens e serviços da Federação. Dentre o que ela deve combater estão tráfico de drogas, contrabando, corrupção e crimes contra o meio ambiente, além de exercer controle sobre as fronterias, portos, aeroportos e os chamados "crimes do colarinho branco". E esses não moram nas favelas...

Vou contar uma história: logo que houve o golpe de Estado de 1964 uma das primeiras providências dos militares golpistas foi instrumentalizar a PF, fazendo dela braço armado do regime político-militar. Os federais caçavam comunistas e assemelhados pelo País todo. Eu mesmo, jornalista com atuação em esporte - o que era muito apropriado - passei uma noite inteira sentado num banco da sede da Federal em Vitória, quando esta ficava próxima ao bairro de Jucutuquara, "para aprender a não ser folgado". Havia sido acusado de comunista... Só que não havia como me enquadrarem na Lei de Segurança Nacional. Mas, com o fim da ditadura essa força voltou a exercer suas atribuições constitucionais sem desvios outros.

No governo passado o hoje ex-presidente condenado tentou fazer com que a Federal voltasse a ser órgão a serviço de seus interesses e não mais subordinada aos do Estado. Não conseguiu porque o golpe deu errado, mas deixou filhotes espúrios espalhados por todos os lugares, muitos dos quais hoje têm parlamentares no Poder Executivo, outros no Legislativo ou até mesmo estão encastelados no Judiciário. Então, como a instituição ataca os "crimes de colarinho branco" no âmbito federal, isso incomoda não aos criminosos dos complexos da Penha e do Alemão, mas aos situados no alto escalão chamado agora de Faria Lima e alvos da Operaçao Carbono 14. Eles têm muito poder e bem mais coisas a esconder...

Fácil entender, não?

A prisão dos diretores do Banco Master e a intervenção no BRB de Brasília, ambas levadas a cabo pela Federal, tirou o meu sono? Não. Tirou o seu? Não. Mas está tirando o de diversos políticos de Brasília, muito provavelmente o do governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, o de Cláudio Castro, do Rio de Janeiro e o restante desse grupo pouco afeito a respeitar as leis em vigor. Então e por isso as primeiras versões da atuação desastrada do texto legal do Congresso sobre a extrema direita política brasileira tentaram atingir a autonomia da PF buscando fazer com que ela tivesse sua atuação subordinada a governadores (alguns). O então que sua verba de atuação fosse grandemente diminuída e destinada também aos Estados. Ou seja, aos governadores comprometidos.

O Projeto de Lei Antifacção que vem sendo elaborado pelo fascista Guilherme Derrite et caterva para enfraquecer o combate ao crime organizado quer que os brasileiros mais alienados continuem torcendo para que os pobres sejam massacrados nas favelas ao mesmo tempo em que, no andar de cima, os desvios de dinheiro floresçam na mesma medida do fornecimento de drogas e armas pesadas para os andares de baixo porque eles alimentam a criminalidade e justificam as ações espetaculosas, pirotécnicas das polícias civis e militares a serviço dos governantes de extrema direita que vivem desses expedientes. Entendam, leitores: armas pesadas e drogas não são fabricadas nas favelas. Elas apenas vão para os "soldados" do crime que as usam para a distribuição dessas substâncias no varejo.

A extrema direita política brasileira aposta tudo nas eleições do ano que vem. Se perder vai ficar sem rumo e começar a minguar, como aconteceu durante a última ditadura militar. Caso vença, vai lançar seus tentáculos sobre a sociedade e fazer com que órgãos como a PF voltem a ser uma polícia política a serviço do regime, ainda que ele seja civil. Entendeu porque a Polícia Federal dos tempos atuais ou modernos é um perigo? Lute contra isso e não se deixe manipular como se fosse um simples boneco de trapos. 

 

18 de novembro de 2025

As lambanças de Derrite

 

O melhor policial que pode existir no mundo é aquele capaz de fazer das leis, sobretudo do Código Penal, sua Bíblia. Esse misto de secretário de Segurança de São Paulo e deputado federal Guilherme Derrite (foto de arma nas mãos) está distante anos luz disso. A começar pelo fato de ter sido afastado da Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar, ROTA, por excesso de violência. E essa facção da PM paulista, velha de guerra em todos os sentidos, não é exemplo de cortesia nem legalidade no trato com os diversos tipos de ocorrências policiais.

O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, ex-militar formado pelo Instituto Militar de Engenharia, foi ministro de Estado da Infraestrutura do Brasil de 2019 a 2022, durante a gestão do condenado Jair Messias Bolsonaro, justamente por seu passado na caserna. E quando se elegeu governador do Estado mais rico do Brasil capitaneado pelo ex-presidente, indicou Derrite para secretário pelo mesmo motivo. Não apenas o governo paulista seria uma continuação de um quartel, mas também faria da violência a sua marca. E a letalidade policial cresceu exponencialmente depois que ele chegou ao governo estadual.

Político de extrema direita, talvez sem saber exatamente o que isso signifique, o secretário se elegeu deputado federal na cauda de cometa do prestígio pessoal do condenado. Como o governador do Rio de Janeiro Cláudio Castro mandou matar mais de 100 pessoas em duas comunidades faveladas do Rio de Janeiro, ele reassumiu seu mandato e foi indicado relator do Novo Marco Legal do governo Lula, obviamente para modificar o texto e adaptá-lo às crenças da extrema direita nacional. Já fez cinco versões de sua lambança que pode ir a votação hoje no Congresso por inciativa do presidente da Câmara, Hugo Motta, um fiel coleguinha de partido, interesses pessoais e crença político partidária.

O principal problema desse texto que ninguém sabe como vai ficar é a insistência dos setores ligados ao extremismo político de direita de tentar incluir no monstrengo jurídico o conceito de terrorismo para crimes comuns de facões criminosas. E isso porque esse espectro de nosso universo político analfabeto funcional segue a cartilha da extrema direita dos Estados Unidos onde o atual presidente quer usar o poder militar da maior potência do mundo para dobrar, talvez literalmente, aqueles que se opoem a seus ditames.

Essa é a encruzilhada na qual vivemos. A maioria dos juristas diz que a lambança de Derrite e seus colegas contém várias inconstitucionalidades. Então, o ideal seria que isso tudo fosse retirado do texto para que ser evitada a interferência do Supremo Tribunal Federal (STF) na questão. Claro, se ele for provocado, vai ter que se manifestar. Mas não é o que o extremismo brasileiro deseja. Ele quer isso mesmo: a interferência judicial no problema porque vai gerar mais uma crise constitucional e justificar o fato de a atual oposição dizer que somos governados por uma ditadura judicial. Não é verdade, mas de crises se alimenta a extrema direta. E apenas e tão somente de crises, porque não tem projeto algum.  

13 de novembro de 2025

Saudade da polícia que mata


Tem triste história em São Paulo uma parcela da elite violenta da Polícia Militar daquele Estado chamada de Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar, mais particularmente ROTA. Foi o repórter Caco Barcelos quem mais se aprofundou nesse tema quando escreveu um livro contando a história da "Polícia que Mata". E matava muito mais do que hoje. O atual deputado federal Guilherme Derrite é oriundo desse grupamento e da ideia de que o Estado tem que se defender de uma guerra, mesmo interna, sendo o criminoso inimigo e devendo ser tratado como tal. Portanto, para essa parcela do pensamento homiziado na extrema direita não pode sobreviver por aqui a ideia do Estado como uma força mediadora de conflitos.

Durante a ditadura militar de 1964/85, aquela da qual o condenado Jair Bolsonaro sente saudades eternas, esse era o pensamento vigente e foi por isso que a ROTA ganhou projeção, prendendo, torturando e matando indiscriminadamente. Cheguei a ouvir um de seus oficiais - Derrite é oficial - uma descrição orgulhosa da eficiência do "pau de arara", o método de tortura que está mostrado na ilustração acima. Quem já passou por isso consegue se lembrar de como eram terríveis as dores sofridas pelos supliciados. E foram inúmeros...

A saudade do estado totalitário e das violências que ele praticou ao longo de 21 anos ainda povoa a cabeça de muitos extremistas de direita brasileiros. Eles todos aplaudem o governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, pela chacina ocorrida no Estado. E ninguém questiona como puderam morrer 121 pessoas num ataque de forças policiais contra duas comunidades faveladas sem que o único dos procurados pela Justiça fosse preso. E é essa ação que hoje motiva a extrema direita brasileira a pedir violência cada dia maior, a perda de poder da Polícia Federal e a transferência de comando das ações para os Estados. Mas a incompetência estadual é a responsável maior pelo crescimento das facções criminosas em todo o Brasil e o aumento dos reflexos dessa criminalidade junto às populações.

Recordo-me como se fosse hoje do dia em que assisti a uma "caçada" da ROTA em São Paulo em plena década de 1970, quando saia de um cinema, Cine Gazeta, na Avenida Paulista. Dois carros cercaram três indivíduos e os PMs que saíram deles já desceram atirando. E só eles atiraram! Tenho a mais absoluta convicção de que ao menos um daqueles três atacados morreu na calçada, ao lado de um ponto de ônibus. Nós, os pedestres, terminamos enxotados do lugar pelos policiais armados até os dentes. Eram tempos de ditadura militar e bem faziam aqueles que não enfrentavam a fúria oficial...

Derrite é só um fantoche nas mãos daqueles que o manipulam, mas já dobrou seu patrimônio pessoal em muito pouco tempo. Representa os governadores de direita como Castro, Tarcísio de Freitas, Ronaldo Caiado, Jorginho Melo e outros, e faz o que estes mandam sem discutir nem questionar nada. Ontem mesmo ameaçou jornalistas que tentavam entrevistá-lo no Congresso Nacional, em Brasília. Ele sente cheiro de sangue à distância e só não se volta jamais contra os bandidos da Faria Lima. Tem poder, tem raiva mas muito juízo também.

E não sente o menor apreço pela democracia.

11 de novembro de 2025

Maus mocinhos, bons bandidos

 

Saída do forno: a agência "Ideia" divulgou agora pela manhã o resultado de uma pesquisa "Relatório de Avaliação e Dignóstico" feita no último dia 06 e reunindo 1.027 pessoas de 26 unidades da Federação relativa ao que o brasileiro pensa sobre a chacina policial nas comunidades do Alemão e da Penha, no Rio de Janeiro. Para a maioria, 48,7% o importante é buscar quem encabeça as organizações criminosas a partir da Faria Lima. 35,9 por cento não têm opinião formada e 15,4 por cento preferem que os soldados do crime sejam procurados e mortos como feito pelo governo Cláudio Castro. É bom notar que a pesquisa é longa e destaco apenas um dado dela. Também que esses percentuais costumam ser muito fluídos e mudam de acordo com o calor da hora e o conteúdo dos discursos oficiais.

O ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes determinou a sustação dos procedimentos legais determinados pelo governador Cláudio Castro e que pretendiam penalizar parentes das vítimas daquele dia por terem resgatado os cadáveres de seus entes queridos de onde foram mortos (foto acima), bem com preservar para os procedimentos legais necessários os laudos de negropsia dos mortos e também as imagens das câmaras corporais dos policiais envolvidos naquela ação. É certo que vários mortos foram executados com tiros a queima roupa, bem como nenhum dos procurados pela Justiça foi preso naquele dia. E mesmo assim morreram 121 pessoas, todas elas pobres, favelados.

Nós precisamos definir em que país queremos viver. Aqui em Vitoria, onde moro, o arcebispo Dom Ângelo Mezzari precisou sair em defesa do padre Kelder José Brandão Figueira, que publicou trabalho "Evangelização nas periferias geográficas e existenciais", atacado pelo deputado bolsonarista Lucas Polese (PL-ES). Pelo título a gente já vê que o trabalho é extremanente "subversivo". Esse é só um exemplo. Recentemente outro parlamentar atacou uma exposição que era realizada no Palácio Anchieta. Isso é um método e a extrema direita ataca às claras tudo o que faz escondido. É imensa a quantidade de membros desse espectro político já presa por motivos diversos como pedofilia, por exemplo.

Agora mesmo, às vesperas da eleição presidencial da Academia Espírito-santense de Letras (AEL) e realizada ontem à noite, duas ou três acadêmicas desta instituição e da Academia Feminina Espírito-santense de Letras faziam campanha aberta para o acadêmico vereador de extrema direita Leonardo Monjardim, em nome das duas instituições, pois ele pretende se candidatar ao Senado pelo Espírito Santo. Isso é terminantemente proibido pelos estatutos das duas entidades, mas é sempre feito. E sem que nada aconteça contra os autores.

Precisamos definir em que país queremos viver. Se nesse atual sujos atos e consequências têm e devem continuar tendo como horizonte as leis em vigor, tanto no plano de uma simples eleição de entidade supostamente cultural quanto no do respeito pela vida e pela morte em ações policiais ou então no defendido por muitos e onde tanto as leis quanto o princípio do respeito a elas não passa de mera opção de momento, sobretudo para aqueles que podem conspirar até contra a Constituição do País porque não concordam e não aceitam o resultado de uma eleição que foi auditada e conferida à exautão antes, durante e depois.

Ou respeitamos as leis ou seremos maus mocinhos como os que atacaram duas favelas do Rio de Janeiro sem prender um único dos procurados pela Justiça, ou seremos bons bandidos porque sabemos onde atacar para atingir o Comando Vermelho e outras facções, mas ao mesmo tempo poupando os territórios das milícias. Afinal, lá é terreno de milicianos como é o caso de Fabrício Queiroz, que chegou a ser nomeado, pasmem, Subsecretário de Segurança Pública de cidade do litoral do Rio de Janeiro, há pouco tempo. Ele é amigo (?) de Flávio Bolsonaro, o filho mais velho de um rei deposto e que quitou uma casa de R$ 5,97 milhões 27 anos antes do previsto pelo financiamento.

Parece piada, mas antes de ser encerrada a pena de prisão de seu pai!!!   

6 de novembro de 2025

Em Mamdani, a esperança

 

A toda ação corresponde uma reação igual e contrária. Essa é a terceira Lei de Newton, e à qual não se foge. Transportada do campo da física para o da política ela explica a vitória de Zohran Mamdani (foto acima) para o cargo de prefeito de Nova Iorque. E não é nada fácil conseguir isso em uma cidade na qual um muçulmano mete medo, o sionismo tem grande força política e financeira, o socialismo é quase um palavrão ligado ao comunismo e a influência de Donald Trump e seu poder econômico ainda é imenso. Ou será que era?

O norte-americano não quer ser submetido a tiranos de quaisquer espécimes. E o prefeito eleito aos 34 anos e que só teve até hoje um mandao legislativo propõe fazer pelos moradores da maior cidade dos Estados Unidos o que o presidente atual jamais faria: justiça social. Dentre outras coisas ele tenciona conter escalada do preço dos aluguéis numa cidade onde mais da metade da população não mora em casa própria e também oferecer serviço gratuito de transporte público para a população mais carente da cidade. Isso é música clássica para os ouvidos da esmagadora maioria dos nova-iorquinos.

Diz-se que ser eleito numa cidade com tão grande número de judeus é um feito. Sim, mas é preciso levar em consideração que ser judeu não obriga a pessoa a crer no sionismo e nem atuar politicamente genocida de extrema direita. É grande o número de praticantes dessa religião nos Estados Unidos que se opõem à política de Benjamin Netanyahu. São adversários declarados de um autocrata que não permite a oposição, faz acordo com os nazifascistas de seu país e já tentou mais de uma vez limitar o poder do Judiciário para seguir governando sem amarras e não respondendo a processos. Como Bolsonaro tentou aqui...

A mulher dele, Rama Duwaji, de 28 anos, compareceu ao discurso da vitória do marido com um vestido de estilista palestino. Ela, da mesma forma que Zohran, é pró palestina sem ser antisemita E isso porque são duas coisas diferentes e as pessoas lúcidas só devem ser antisionistas. É no sionismo que vive o mal que o judaísmo pode fazer aos outros, como aos palestinos. Sim, porque para estes, palestinos e muçulmanos como o prefeito de Nova Iorque são seres inferiores e não podem pleitear fazer parte da Grande Israel, dada a eles por Deus. E quem acredita ter alguma coisa por direito divino mata por causa disso e dorme em paz.

O norte-americano deu um sinal bem terreno a Donald Trump e sua trupe, parte da qual mora ainda no Brasil. É possível vermos esse socialista democrático pleiteando a Casa Branca dentro de pouco tempo. E por que não? Se não o assassinarem, o novo prefeito com tantos planos sociais pode em breve chegar a um posto onde não caberão reacionários e negacionistas. Os EUA já tiveram um presidente negro sem que este fosse morto. Agora pode ter também um muçulmano. Crescerá muito como povo se isso acontecer.                

4 de novembro de 2025

Lugar de toda pobreza

Em 1983 o jornalista Amylton de Almeida lançou pela TV Gazeta (Rede Globo) um documentário exemplo para o jornalismo do Espírito Santo. Focalizava "Lugar de Toda Pobreza", o bairro de São Pedro que naquela época era um imenso lixão onde milhares de pessoas viviam em meio a restos e urubus. Depois, com o tempo aquilo foi se tornando um bairro onde hoje a população vive com dignidade embora continue pobre. Na foto acima a gente vê o lixão à esquerda e o bairro já se formando à direita. Na foto abaixo é possível vê-lo hoje transfomado em um point de culinária popular, com urbanismo e dignidade para seus moradores. No meio do caminho não estavam psicopatas da extrema direita com mandato
eletivo, mas sim prefeitos com visão de futuro como Luiz Paulo Vellozo Lucas (principalmente) e João Coser, que administraram a capital do Espírito Santo com o olhar voltado à dignidade do cidadão.

Eis a diferença entre esses dois políticos por mim citados e energúmenos como Cláudio Castro, no Rio de Janeiro; Tarcísio de Freitas, em São Paulo; Romeu Zema, em Minas Gerais; Ronaldo Caiado, em Goiás; e Ratinho Júnior, no Paraná, além de outros ainda menos votados como o de Santa Catarina, Jorginho Mello.

O documentário de Amylton pode ser visto mesmo hoje na íntegra, apresentado por Marisa Sampaio. Ele ainda viveria para fazer o primeiro longa metragem capixaba, "O amor está no ar", em 1997, morrendo logo em seguida vitimado por câncer. Esses dois registros são muito importantes para nós. Bem como lembrar a administração de Luiz Paulo que, com o mote do "waterfront city" importado da Cidade do Cabo e unido a um profundo respeito pelo cidadão dos bairros pobres, deu-lhes dignidade em urbanização de espaço público com infra-estrutura urbana, saneamento básico, áreas de lazer, identidade. Deu ao ex-morador do "Lugar de Toda Pobreza" endereço onde o carteiro podia ir entregar as cartas (naqueles tempos) e ruas por onde as crianças circulavam para a escola com seus pais que iam ao supermercado, padaria, igreja, médico, a todos os lugares.

O crime organizado só invade espaço onde o Estado não se encontra. Lembro-me de uma conversa com o prefeito Luiz Paulo e na qual ele me disse mais ou menoso seguinte: "Dê ao morador das áreas carentes as estruturas urbanas que mostram o Estado presente e o morador não vai mais querer criminoso lá. Ele vai pegar o telefone, ligar para o número de denúncia anônima e entregar o sujeito ou a organização. Vai querer seu lugar livre".

Antes de bater palmas para gente como Cláudio Castro e suas manifestações de traição da pátria com pirotecnia, é preciso pensar nisso. Os bairros carentes precisam de investimento público, exigem a presença do Estado. Se isso foi feito em São Pedro, pode em qualquer outro lugar. Basta decisão política. E para encerrar, o governador do Rio de Janeiro tem que ter o mandato cassado e responder a processo criminal. O que ele fez indo aos Estados Unidos para conspirar contra seu país é Crime de Lesa Pátria. E esse sujeitinho já responde a processo no Suprerior Trubunal Eleitoral. Isso é o bastante.            



31 de outubro de 2025

Que Brasil você quer?

Leitor, olhe com horror a foto acima, feita por um profissonal da Agência Brasil. Ela mostra o desespero e o desamparo da mãe de um dos assassinados de terça-feira nas comunidades da Penha e do Alemão, no Rio de Janeiro, pelas forças policiais do governador Claudio Castro, ao identificar o filho na fila de corpos. Foram 121 no total e muitos deles acabaram sendo executados desarmados, alguns com tiros na nuca, depois de rendidos. Uma força tarefa de legistas e outros peritos forenses está levantando os fatos para mostrar ao Brasil o que aconteceu naquele dia na segunda maior cidade do Brasil. Um massacre maior do que o do Carandiru, em São Paulo, caso emblemático no Brasil, à época com 111 mortos.

O massacre foi o resultado da narcopolítica do indivíduo Cláudio Castro, que chegou ao governo do Rio de Janeiro depois do afastamento de Wilson Witzel por impeachment (coitado do Rio!). Ele tem menos cultura que o antecessor, um magistrado, mas é igualmente adepto da extrema direita brasileira, a que pretende encontrar narcotraficantes pelo Brasil afora para transformar em guerra interna nosso maior problema social. O problema que, como aconteceu terça-feira, só é atacado matando-se os pobres - preferenciamente negros - das comunidades carentes do Brasil, como as do Rio de Janeiro. Castro e seus sequazes fala que só marginais foram mortos, mas as investigações comprovam o contrário.

Pelo menos um morador da região viu e denunciou policiais arrastando um homem ferido para uma ruela. Depois houve tiros e em seguida ele foi trazido de volta já executado. Outro, pastor também deputado assegura que quatro evangélicos de sua congregação sem nenhum vínculo com atos criminosos foram mortos pela Polícia na terça-feira. Eram negros, estavam com chinelos de dedo e correram com medo dos policiais. Como se não bastasse isso a Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro foi impedida de acompanhar trabalhos dos legistas ontem no IML daquela cidade. À noite houve um protesto de familires dos mortos.

Há indícios claros de que setores da extrema direita política brasileira estão agindo para desestabilizar o País, sobretudo depois que o atual presidente começou a se recuperar nas pesquisas de opinião pública, surgindo como favorito para as eleições presidenciais do ano que vem. A ideia de golpe de Estado jamais foi abandonada por essa turba que agora se inspira no presidente dos Estados Unidos e sua política de ataques a inimigos com o uso da figura do narcotraficante como amparo a seu discurso que visa derrubar outros governos.

E há um ponto que precisa ser considerado: os ataques todos visam comunidades comandadas por criminosos do CV e PCC. Nunca as que são dominadas por milícias. E até as pedras portuguesas das calçadas de Copacabana sabem que essas organizações milicianas são compostas basicamente por elementos oriundos de organismos policiais, muitos destes de vínculos umbilicais com o poder estadual do Rio de Janeiro e também de São Paulo, os primcipais focos de disseminação de grupos criminosos do Brasil de hoje.

As pessoas que chamam extra terrestres com celulares na cabeça, rezam para pneus, pedem intervenção militar, acampam e se ajoelham diante de quarteis e dizem que o atual presidente na verdade é um sósia do verdadeiro que morreu em novembro de 2022 não são apenas figuras caricatas. São parte de um grande esquema de instabilidade política com ramificações no exterior, sobretudo nos EUA. E protegidos por gente da Faria Lima, também de vínculos fortes com o crime organizado, sobretudo o de cunho financeiro. Só que estes usam paletó, gravata e não morrem nas ruelas de nossas comunidades paupérimas.    

O que eles almejam é um novo golpe de Estado e a queda pela força das armas, se preciso for, de um governo legitimamente eleito pelo nosso povo, elemento fundamnetal e básico da vida em regime democrático. Mas será esse o nosso futuro? Que Brasil você quer?                          

29 de outubro de 2025

Parte do problema

 
Parece Gaza, mas é o Rio de Janeiro. E a foto acima foi tirada durante o dia de ontem quando a antes Cidade Maravilhosa virou praça de guerra graças ao show de pirotecnia promovido pelo governador Claudio Castro, que depois de um imenso tempo de inanição política decidiu pegar a principal chaga de seu Estado e transformá-la num espetáculo de selvageria. Até agora pela manhã, além de quatro policiais, dois civis e dois militares, mais de 110 (132 até às 11 horas) pessoas foram mortas no ataque a dois bairros da cidade por 2,5 mil agentes convocados para isso pelo governador em campanha política. Destas, quantas delas eram pessoas sem vínculo com criminosos e que perderam as vidas?

Nas áreas carentes das cidades não vivem apenas membros de facções voltadas ao crime. Moram pessoas dignas que não têm condições financeiras para viver em Copacabana, no Leblon, Leme e outras regiões. Elas  sobrevivem onde é possível. Onde cabem seus pequenos orçamentos. Muitas delas ontem não chegaram em casa ou tiveram que andar quilômetros a pé. E o governador que na calada de noite, sem pedir a participação de forças federais, trasnsformou a Capital de seu Estado em uma praça de guerra, seguiu a receita do presidente dos Eastados Unidos, Donald Trump, para quem criminosos são narcoterroristas.

E quem é o governador Cláudio Castro? Ele foi fotografado recentemente com o indivíduo PH Jóias (segunda foto), mistura de deputado federal e traficante de jóias que obteve o apoio do governador para chegar ao posto que ocupava na política de seu Estado. Um criminoso comum com mandato parlamentar. Isso acontece não somente com ele, mas com outros. A política é um dos espaços que o crime organizado ocupa sempre que pode. E isso não acontece apenas no Rio de Janeiro, mas em todos os lugares. Ironicamente, o movimento de invasão do espaço político por criminosos não é coisa das mais recentes. Se a gente olhar para a biografia dos nossos parlamentares, sobretudo os do espectro político de extrema direita, veremos isso acontecendo. Aqui no Espírito Santo por exemplo. 

Mas não acontece de uma hora para a outra. O crescimento do poder de fogo de organizações criminosas como Comando Vermelho, PCC e outras se dá aos poucos e com a presença de elementos ligados direta ou indiretamente à estrutura do Estado. O que são milícias senão parte de órgãos policiais vários cooptadas pelo crime? E são estes às vezes os mais crueis, pois invadem os bairros proletários e achacam a população obrigando-a a pagar "proteção", aluguel de espaço, sistema de TV a cabo, gás e outros serviços públicos que deveriam chegar aos cidadãos pelo custo normal que é cobrado aos demais?

E é preciso dizer também uma coisa que a maioria das pessoas está omitindo por esquecimento ou má fé: quem inundou o Brasil de armamento pesado foi o desgoverno de Jair Bolsonaro com sua política de compras indiscriminadas de armas, criação de  grupos como CAC e outros. O que ele realmente queria com isso era criar milícias armadas, urbanas e rurais, para que essas o ajudassem a dar um golpe contra a democracia. Não deu certo, mas em compensação fez chegar armamento pesado ao CV e outros grupos ilegais.    

O Comando Vermelho é uma organização criminosa e cresceu à sombra da omissão do Estado. Não é terrorismo, pois esse elemento político visa a detruiçao da estrutura dos países para que elas sejam substituídas por outra não eleita e conquistada pela força. Terrorismo é elemento político. Como tentou Jair Bolsonaro ao não aceitar o resultados das últimas eleições presidenciais do Brasil. Crer que um problema social brasileiro, mesmo extremamete grave, pode ser resolvido por uma guerra interna com uso de meios militares para depois extender sua atuação à estrutura do poder central que passaria a ser exercido acima da vontade da população é ato criminoso. Conhecemos como funciona. Cláudio Castro e outros não são a solução, mas sim parte do problema.         

   

24 de outubro de 2025

Vladimir Herzog, presente!

Fará exatamente 50 anos amanhã que o jornalista Vladimir Herzog, o Vlado, foi assassinado pela ditadura militar do Brasil nas dependências do DOI-Codi, em São Paulo. Os assassinos difundiram a foto que está ao lado para "provar" que ele havia se suicidado. Suicídio por enforcamento com os pés no chão... Na verdade Vlado se apresentara expontaneamente para depor na sede do II Exército, em São Paulo, onde funcionava um dos sistemas de torturas oficial. O atestado de óbito liberado por determinação judicial substituiu a causa forjada de "asfixia mecânica (enforcamento)" feita inicialmente por "lesões e maus tratos, tortura", e que foi a causa real. O "enforcamento" foi encenado para encobrir o crime do Estado brasileiro. 

Como hoje e amanhã esse fato estará sendo avaliado por inúmeros textos de diversas fontes, sobretudo de meios de comunicação, prefiro me ater a dar uma explicação relativa a como a ditadura militar brasileira conseguiu parir os torturadores que, de Carlos Alberto Brilhante Ustra até aqui, torturaram e mataram por suplício tantos compatriotas nossos nos subterrâneos do regime político de extrema direita que mesmo hoje, meio século depois, teima em tentar ressurgir dos esgotos onde se esconde.

Foi a filósofa Hannah Arendt quem melhor explicou isso ao criar o conceito de "banalidade do mal" ao acompanhar o julgamento de Adolf Eichmann em Israel quando este foi condenado à morte depois de ser sequestrado na Argentina e levado para aquele país. Geralmente essas pessoas não eram e não parecem monstros. Eram e são apenas burocratas geralmente medíocres que cumprem o "seu dever", seja ele qual for. Eles aceitam normas sem reflexão, adotam comportamentos desumanizados e são capazes de crimes em larga escala que acabam se tornando comuns no âmbito de uma rotina burocrática.

Sim, pessoas como Brilhante Ustra, por exemplo, são tidas na conta da gente comum. Um torturador brasileiro, inquirido que foi por sua vítima durante uma sessão de torturas e ao ouvir desta a pergunta sobre se ele não tinha coração, respondeu; "Tenho, mas quando venho trabalhar deixo meu coração em casa". O comandante de Auschwitz, Rudolf Höss, morava com a mulher e os filhos ao lado das dependências do campo de massacre, só preocupado em aumentar a eficiência de seu trabalho. Colhia hortaliças, plantava flores e dava carinho à mulher e aos filhos à sombra das chaminés de onde saia a fumaça dos fornos crematórios. Sua história foi retratada no filme "Zona de interesse".

Os torturadores que mataram o jornalista Vladimir Herzog eram pessoas que todos os dias saiam de casa de manhã cedo para trabalhar. Deixavam lá mulheres e filhos. Torturavam, matavam e depois voltavam para ver televisão com a família. Na rua onde morei algum tempo com minha avó materna, ainda adolescente, uma vizinha dela era defensora ferrenha das torturas e assassinatos de todos os que fossem inimigos da "revolução". Falava disso dia e noite, menos na hora da Buzina do Chacrinha, que não deixava de ver de maneira nenhuma. Não creio que jamais tenha sentido dor na consciência. Para quê?

Por esses fatores e outros como por exemplo o fato de os ditadores de plantão estarem todos envolvidos direta ou indiretamente nos atos de prisão ilegal, torturas e assassinatos de adversários políticos, os estertores da ditadura foram duros, demorados. Em 1975, além de Herzog foram mortos o jovem dirigente comunista José Montenegro de Lima, o jornalista e editor do jornal clandestino Voz Operária Orlando Bonfim Júnior (ambos assassinados com injeção letal que podia ser de matar cavalo), mais dez dirigentes do antigo PCB, todos "desaparecidos" e por último, em janeiro de 1976, o operário Manoel Fiel Filho, também assassinado sob tortura no DOI-Codi. Esses fatos provocaram clamor público, a demissão do comandante do Segundo Exército, outros afastamentos e o estado terminal do regime de exceção que durou 21 longos e dolorosos anos no Brasil.

Amanhã, no dia em que a morte de Herzog completará 50 anos, a gente deve pensar em exemplos. Aquele jornalista era judeu e foi enterrado depois de um culto ecumênico do qual participaram o cardeal Dom Paulo Evaristo Arns e o rabino Henry Sobel na ala dos que morrem por morte que não seja suicídio, pois desde sempre se sabia e se sabe que ele foi assassinado. E para os judeus tirar a própria vida, um dom divino, é proibido. Pecado e há um lugar segregado nos cemitérios para estes.

Se hoje nosso pensamento está voltado ao Vlado, vamos pensar também em Manoel Fiel Filho, morto logo em seguida e no mesmo lugar, em Rubens Paiva, trucidado em uma instalação do Exército e em mais todos os outros brasileiros que ao longo dos 21 anos de desespero que durou a última ditadura militar do Brasil foram tirados de nós. É que agora esse movimento pode voltar na calda de cometa de gente como o condenado Jair Messias Bolsonaro, militar fracassado e reformado à força, deputado medíocre, golpista nato e reverenciado por uma verdadeira multidão formada por falsos patriotas capazes de sacrificar a democracia de seu país para trazer um sociopata de volta ao poder, ainda que à custa de vermos ressurgir em nosso horizonte o vírus de uma nova banalidade do mal.

Vladimir Herzog, presente!       

              
 

22 de outubro de 2025

Ponto fora da curva

Por que o ministro Luiz Fux se tornou um ponto fora da curva no Supremo Tribunal Federal? Embora só ele possa responder a isso, lembremos de que lá se vão 14 anos desde que entrou para a corte indicado pelo então governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, pelo ministro chefe da Casa Civil da Presidência da Republica, Antonio Palocci e com nome referendado pela presidente Dilma Roussef. Foi aprovado pela Comissão de Constituição e Justiça do Senado em 09 de fevereiro de 2011 e empossado (foto acima) em 03 de março do mesmo ano em solenidade concorrida.

Hoje com 69 anos, esse carioca e ex-lutador de judô se tornou uma espécie de pária na Primeira Turma do Tribunal e especializado e perder as votações por 4 a 1. Mas não era assim. Antes ele discordava no varejo e concordava no atacado. Durante o governo Bolsonaro teve uma grande aproximação com o hoje ex-presidente, inclusive quando presidiu a corte entre 2020 e 2022 (segunda foto). Talvez por causa disso, durante o julgamento dos processos da chamada "trama golpista", chegou a fazer um voto com quase 12 horas de duração, quando pediu a absolvição do ex-presidente, figura central no processo que quase levou o Brasil a um golpe de Estado. Agora quer trocar a Primeira pela Segunda Turma.


O fato de esse ministro ter pedido de volta seu voto para "correções gramaticais" (o corretor ortográfico deve ajudar bastante...) pode fazer com que a decisão relativa ao início do cumprimento efetivo da pena a que ele foi condenado, de 27 anos e três meses de prisão, seja definido apenas em 2026. Isso era tudo o que não se queria, pois vai contaminar um ano de eleição já tensionado pelo fato de que todos os candidatos de extrema direita têm apenas um "projeto" de governo: anistiar os criminosos - todos eles - do 08 de janeiro de 2023.

A decisão pela mudança pretendida por Fux de se bandear para a Segunda Turma em lugar de Luís Roberto Barroso, que antecipou sua aposentadoria, depende do novo presidente do Tribunal, Edson Fachin, que já assume com um problemão nas mãos. Ele vai dizer "sim" ou "não" ao ministro colega e também tentar fazer com que o julgamento do núcleo crucial da trama golpista tenha desfecho ainda esse ano, porque embora isso pareça crucial para a paz relativa do Brasil, não parece tão urgente assim para um ex-judoca que pode aplicar um ipon na tranquilidade judicial do país.

Nós vimos a tentativa de golpe de Estado se estruturar ao longo dos quatro anos de mandato de Jair Bolsonaro. O tempo inteiro! A não ser os bolsonaristas que pediram a quebra do regime democrático no meio da rua, todos os demais brasileiros repudiam essa investida contra nossas instituições. O ex-presidente cometeu crimes, foi condenado e tem que cumprir a sentença. Se o Brasil quer ser um grande país, precisa começar a tarefa pelo respeito à regra do jogo. Melhor dizendo, ao corpo de normas legais que fazem de nós um Estado Democrático e de Direito. E isso por bem ou por mal.   

19 de outubro de 2025

O fim da farsa e o medo


Durou muito pouco tempo a farsa do sionismo israelense e de Donald Trump em relação à Faixa de Gaza. Devolvidos os reféns que estavam em poder do Hamas e sabendo que esse grupo palestino não terá como devolver os corpos que ainda restam e são reclamados por Israel, o governo daquele país retomou os bombardeios sobre a região (foto). Isso é particularmente criminoso porque os moradores do enclave começaram a votar aos seus lugares de residência desde o anúncio referente do último cessar fogo. Todos vulneráveis!

Ao mesmo tempo em que permite ao governo Netanyahu reiniciar o massacre do povo palestino, Trump alarga seu raio de ataques contra a América do Sul. Depois de cercar militarmente a Venezuela ele investe contra a Colômbia, mais precisamente contra o presidente Gustavo Petro, que teve a ousadia de desafiar seus preceitos ditatoriais. Como sempre faz, chama o chefe de governo do país de narcotraficante. É uma receita única: tráfico na América, anti-semitismo no Oriente Médio. Nos dois casos com o nome de terrorismo.

Se mais uma vez a opinião pública mundial ficar ao lado do sionismo de Netanyahu e do fascismo de Trump, que no fundo são a mesma coisa, o massacre no Oriente Médio e o regime de tendência ditatorial nos Estados Unidos crescerão. Nos EUA cerca de sete milhões de cidadãos já foram às ruas para protestar no movimento "No Kings!" No Oriente Médio o massacre palestino só poderá ser detido pela reação mundial e por uma união dos países árabes em defesa da Palestina. É esse o caminho único viável.

O maior aliado de Trump é o medo. É preciso não senti-lo ou então vencer essa sensação e continuar na luta. Já há um imenso desconforto contra o projeto de autocracia do presidente ianque junto às Forças Armadas dos Estados Unidos, enquanto no estado judeu o primeiro ministro é refém da extrema direta, que pode derrubá-lo. E se isso acontecer ele estará ao alcance, pelo menos em teoria, do Tribunal Penal Internacional.

O primeiro ministro sionista sabe que necessita do apoio de seus ministros de extema direita para não ser derrubado do poder. E sua vantagem de votos no Knesset é mínima. Tão pequena que as ameaças dos nazifascistas de seu gabinete têm o peso de uma condenação. Talvez hoje sejam mais pesadas que a força do presidente de seu maior país aliado, mesmo estando ele cercado por judeus infuente dentro até da Casa Branca. Um deles, muito próxmo e ouvido, Jared Kushner, é o marido da filha mais velha de Trump, Ivanka. 

Estamos diante de um jogo de xadrez e as apostas são pesadas. É partida para grandes mestres internacionais...          

16 de outubro de 2025

Os novos terroristas

Os terroristas de hoje são diferentes.  

Um dia, no passado, os Estados Unidos executaram os ítalo-americanos Nicola Sacco e Bartolomeo Vanzetti por homicídio. Ficou provado que era impossível aos dois terem cometido o crime de que tinham sido acusados, mas dane-se: eram anarquistas. Em outra ocasião o casal Julius e Ethel Greenglass Rosenberg foi morto acusado de ter entregue à União Soviética os segredos da bomba atômica. Não havia prova alguma desse crime, mas dane-se: eles eram de esquerda. Na hora da morte os dois confessaram que realmente haviam enviado os projetos a Moscou porque era loucura só os EUA terem bombas atômicas. Imagine isso hoje, com o celerado Donald Trump no poder. Já imaginaram só ele com armas nucleares?

Pois os encarregados do Nobel da Paz entregaram o Ignóbil desse ano a Maria Corina Machado, entreguista de seu país, tipo de pessoa que Trump admira tanto quanto dinheiro. Nicolas Maduro favorece o quadro de uma possível invasão norte-americana à Venezuela por ter fraudado uma eleição para continuar no poder. Isso é comportamento ditatorial. Mas como os EUA apoiam incondicionalmente as ditaduras que gostam dele tipo a da Arábia Saudita, para citarmos apenas um exemplo, foi preciso ao presidente ianque criar uma narrativa falsa para cimentar o projeto de invasão do país sul-americano. Então, o presidente de lá é "narcotraficante". Não há prova alguma disso, tanto que os supostos traficantes venezuelanos estão sendo mortos no mar sem serem capturados para que possam ser ouvidos por autoridades. Mas isso importa? São teoricamente ligados a Maduro e basta.

Os novos terrotistas são aqueles que vivem favorecendo golpes de Estado capazes de reduzir a cinzas os seus países e fazer deles títeres de interesses estrangeiros escusos. Não é isso o que Eduardo Bananinha faz nos Estados Unidos até agora sem sucesso? É isso o que Corina Machado faz na Venezuela, esperando por uma invasão estrangeira em seu país. O custo é os venzuelanos  deixarem de ser donos de toda a imensa reserva patrolífera que possuem. Mas importa? Claro que não porque a presidente estaria no poder manietada, mas com muito dinheiro no bolso capturado por seu ato de traição.

A pomba da paz de hoje não sabe o que fazer no mundo de Isarel tentando destruir os palestinos, da mesma forma que agora com a Venezuela no radar ianque. Não consegue se adaptar depressa aos novos tempos. Até bem poucos meses atrás eu me relacionava com relativa civilidade com um extremista de direita até o dia em que disse a ele que a eleição já havia passado e tive que ouvir um "mas nós não aceitamos o resultado". Chamei-o de canalha e rompemos. Hoje o golpismo é mostrado em praça pública como se fosse coisa natural. Mas não é. A começar pelo Congresso Nacional onde está instalado e tem que ser tratado e combatido como crime.

Os novos terroristas querem acusar os contrários pelos crimes que cometem.  

15 de outubro de 2025

A paz do showman

 

A paz é uma ilusão muito frágil, um bichinho que morre com facilidade sobretudo quando surge das decisões do extremismo político de direita. Não existe paz imposta. Não existe paz que humilha. Essas situações são a véspera de novas guerras.

Há um período da história humana do Século XX que precisa ser melhor estudado. Ele diz respeito ao hiato entre 1919 e 1939, quando a humanidade deixou a Primeira Guerra Mundial e se preparava para a Segunda. Houve equilíbrio frágil entre as potências europeias porque, ao final do primeiro confronto foi redigido o Tratado de Versalhes impondo à Alemanha pesadas reparações econômicas e militares pela derrota no conflito. Era humilhante, sobretudo porque o derrotado não teve voz na reunião de 25 nações e até territórios (Alsácia-Lorena) foi obrigado a que ceder. Isso gerou um sentimento de revanche entre os alemães e o caldo de cultura para o surgimento, em meio ao caos econômico subsequente, do demagogo capaz de ser visto como salvador da pátria. Eis Adolf Hitler.

E hoje? Assim como a extrema direita precisava de um inimigo para massacrar entre 1939 e 1945, o Estado Sionista de Israel elegeu outro que tenta eliminar em 2025. E ele está aí mesmo, ao lado, na figura da Palestina. Para o sionismo os palestinos são inferiores, não merecem um Estado Nacional e podem ser massacrados. O que os Estados Unidos fazem agora é armar o Hitler moderno na figura de Benjamin Netanyahu para "acabar o trabalho", como já foi dito. Para a solução final nazista. E Donald Trump, que vê na devastada Faixa de Gaza um imenso projeto imobiliário a ser erguido sobre toneladas de ossadas humanas, está em cena armando o seu palco particular para o que sabe fazer: agir como um showman.

Depois de todo o espetáculo coreografado por chefes de Estado marionetes, ele foi embora para casa onde deverá encenar outros projetos como, por exemplo, o de tornar a Argentina do aprendiz de humorista amador Javier Milei seu quintal privado e a Venezuela da agora prêmio ignóbil da paz Maria Corina Machado a gerente dos poços de petróleo a serem repassados para os Estados Unidos. Assim as coisas são...assim caminha a humanidade...    

A hisória se repete como uma farsa moderna e na qual não contam os dramas humanos porque eles são vividos por "seres inferiores" como o seriam os milhares de palestinos (foto) que voltam para casa, na verdade para uma imensa montanha de escombros em que se tornou Gaza, porque não têm mais para onde ir. Essa paz não existe porque humilha, porque rouba cicadanias, terras seculares de uma etnia originária de lá e também, suprema e perversa ironia do destino, porque é um ótimo negócio para quem lucra com o projeto de uma nova riviera, essa agora a ser edificada sobre a carne e o sangue humanos.

            

13 de outubro de 2025

Das armas e do dinheiro


Lembro-me como se fosse hoje de uma família judaica que morava no bairro da Aclimação, São Paulo, próxima de meus familiares. Todo sábado, o Shabat, saiam para a sinagoga e levavam sacolas com as roupas pretas que seriam vestidas lá. O dono da casa, comerciante de uns 60 anos, ia de chapéu tipo coco e as tranças (peiot) soltas. Os demais, não. Esses tapavam as tranças. O chapéu usado pelo jovem da (foto) ficava na sacola e não na cabeça como nos demais ortodoxos quase iguais na vestimenta, a não ser pela barba que uns têm e outros, não. O chapéu de pele animal lembro-me de ter visto uma vez com o rabino. Chama-se shtreimel. Afora quando estavam na loja e usavam sorriso contido com os fregueses, no mais eram fechados em público e tinham freguesia marcadamente judaica. Ao menos nas ruas cobriam as tranças judaicas. Uma comunidade bem retraída.

No dia de hoje, quando o Hamas entrega em Israel 20 reféns de 2023 como parte do acordo de cessar fogo, os jornais brasileiros circulam com textos de apoio quase incondicional aos judeus e o presidente dos Estados Unidos fala ao parlamento daquele país, em Jerusalém. Além disso, aqui no Brasil o jornalista Breno Altman, fundador do site Opera Mundi enfrenta processo por racismo (sic!) movido pelo MPF. Logo ele, de ascendência judaica... Um imeso lobby protege os interesses judaico-israelenses pelo mundo afora e no Brasil, como não poderia deixar de ser. Ele se alicerça em três pilares de base profunda: o dinheiro, o poder das armas e a extrema direita política espalhada por diversos países.

Não consigo me recordar do nome da loja judaica próxima de onde morava, quase diante de um ponto de ônibus elétrico que ia para o Centro da cidade, mas ela tinha o desenho de um Menorá, castiçal com sete velas, à porta. Depois contaram ter sido ele retirado do lugar por causa de pichação. Imagino que hoje a comunidade judaica de São Paulo esteja num misto de comemoração e ódio diante da soltura dos reféns. E apoiando maciçamente os "esforços desmedidos" do atual presidente dos EUA pela paz. Está bom...

Também hoje o jornal "O Estado de S. Paulo" circula com um editorial pedindo a redefinição do Supremo Tribunal Federal que, segundo ele, é agora político e não judicial. Esse mesmo Estadão no passado aplaudiu o STF pela defesa de causas com as quais concordava. E já disse mais de uma vez que a defesa da Constituição do Brasil é uma necessidade, como contraposição aos ataques de 08 de janeiro de 2023. O Tribunal faz isso.

Esse 13 de outubro de 2025 não é o melhor dia para loas e ataques às instituições pelo mundo afora. E nem para manifestações mais enfáticas em favor de Israel. Se podemos concordar com o fato de que o ataque do Hamas contra israelenses há pouco mais de dois anos foi um ato de violência, precisamos concordar também que é terror ocupar por décadas terras estrangeiras, montar sobre elas colônias não autorizadas e condenadas pelo Direito Internacional e matar milhares de crianças, idosos e mulheres em uma cidade hoje devastada e que tinha mais de dois milhões de habitantes há também dois anos.

Não vivemos tempos de comemoração, mas sim de falar sobre armas, dinheiro e o que eles juntos podem produzir de danoso quando sustentados por uma ideologia política genocida.          
             

                    

9 de outubro de 2025

Com a voz embargada


Não se pode dizer que o anúncio feito hoje pelo ministro Luís Roberto Barroso (foto), antecipando sua aposentadoria no Supremo Tribunal Federal (STF) tenha sido uma surpresa. Não. Mas a decisão, que não deixa de ser renúncia, foi cheia de emoção e transmitida ao vivo pela televisão, além de acompanhada por muitos goles de água em vários copos servidos. Com a voz embargada o jurista disse adeus ao seu cargo anos antes da aposentadoria compulsória, abrindo caminho a outro magistrado que será nomeado pelo presidente Lula. Foi um ato de dignidade pessoal, provavelmene motivado pelo cansaço. Barroso deixou claro que quer dedicar seus anos restantes de vida a atividades mais leves.

Essa transmissão, vista ao vivo pela Globo News, - um programa foi interrompido para isso - marca momento de seriedade no movimentado cenário político de Brasília. Em vez de imagens de parlamentares cometendo indignidades em sessões onde se deveria apenas discutir e decidir assuntos de interesse nacional, viu-se um magistrado abandonando um cargo cobiçado por nove dentre dez juristas nacionais e oito anos antes da hora da aposentadoria compulsória, para sair dos holofotes. Quantas pessoas fazem isso hoje?

É preciso homenagear o caráter e, em momentos assim, esquecer divergências. Se nenhum de nós é isento de defeitos e nem nasceu para viver glórias eternas, um homem que se despede antes da hora do lugar onde todos querem estar e faz isso de público, citando e elogiando um por um todos seus iguais sem esquecer os auxiliares mais diretos, está deixando a cena para que essa cena continue com sua marca. E indelével!

O vídeo tape da renúncia de Luís Roberto Barroso poderia ser  mostrado no Congresso Nacional como didático, sobretudo porque lá ningém não apenas jamais renuncia aos mandatos, mas também a quase totalidade quer renová-los indefinidamente e tambem avançar cada dia mais sobre verbas públicas sempre maiores e que, via de regra, são usadas não apenas para sua perpetuação no poder, mas também para objetivos escusos com o formato, nesses dias atuais, sobretudo das tais emendas parlamentares. E essas, posso garantir, têm mil e uma utilidades. Nem o tal de Bombril chega aos pés delas.

Irônico, mas para ser sagrado ministro do Supremo, os indicados pelo presidente da República têm que passar por uma sabatina no Senado. Muitos dos que os interrogam vivem a preocupação de um dia virem a ser interrogados em processos aos quais vários já respondem e que não dizem respeito a conhecimentos jurídicos. Mas a democracia que a maioria destes prefere ver destruída nasceu e vive para representar nossas virtudes e defeitos. Todos eles. Por isso o exemplo de Barroso vale muito.

Por isso às vezes alguém fica com a voz embargada.