24 de outubro de 2025

Vladimir Herzog, presente!

Fará exatamente 50 anos amanhã que o jornalista Vladimir Herzog, o Vlado, foi assassinado pela ditadura militar do Brasil nas dependências do DOI-Codi, em São Paulo. Os assassinos difundiram a foto que está ao lado para "provar" que ele havia se suicidado. Suicídio por enforcamento com os pés no chão... Na verdade Vlado se apresentara expontaneamente para depor na sede do II Exército, em São Paulo, onde funcionava um dos sistemas de torturas oficial. O atestado de óbito liberado por determinação judicial substituiu a causa forjada de "asfixia mecânica (enforcamento)" feita inicialmente por "lesões e maus tratos, tortura", e que foi a causa real. O "enforcamento" foi encenado para encobrir o crime do Estado brasileiro. 

Como hoje e amanhã esse fato estará sendo avaliado por inúmeros textos de diversas fontes, sobretudo de meios de comunicação, prefiro me ater a dar uma explicação relativa a como a ditadura militar brasileira conseguiu parir os torturadores que, de Carlos Alberto Brilhante Ustra até aqui, torturaram e mataram por suplício tantos compatriotas nossos nos subterrâneos do regime político de extrema direita que mesmo hoje, meio século depois, teima em tentar ressurgir dos esgotos onde se esconde.

Foi a filósofa Hannah Arendt quem melhor explicou isso ao criar o conceito de "banalidade do mal" ao acompanhar o julgamento de Adolf Eichmann em Israel quando este foi condenado à morte depois de ser sequestrado na Argentina e levado para aquele país. Geralmente essas pessoas não eram e não parecem monstros. Eram e são apenas burocratas geralmente medíocres que cumprem o "seu dever", seja ele qual for. Eles aceitam normas sem reflexão, adotam comportamentos desumanizados e são capazes de crimes em larga escala que acabam se tornando comuns no âmbito de uma rotina burocrática.

Sim, pessoas como Brilhante Ustra, por exemplo, são tidas na conta da gente comum. Um torturador brasileiro, inquirido que foi por sua vítima durante uma sessão de torturas e ao ouvir desta a pergunta sobre se ele não tinha coração, respondeu; "Tenho, mas quando venho trabalhar deixo meu coração em casa". O comandante de Auschwitz, Rudolf Höss, morava com a mulher e os filhos ao lado das dependências do campo de massacre, só preocupado em aumentar a eficiência de seu trabalho. Colhia hortaliças, plantava flores e dava carinho à mulher e aos filhos à sombra das chaminés de onde saia a fumaça dos fornos crematórios. Sua história foi retratada no filme "Zona de interesse".

Os torturadores que mataram o jornalista Vladimir Herzog eram pessoas que todos os dias saiam de casa de manhã cedo para trabalhar. Deixavam lá mulheres e filhos. Torturavam, matavam e depois voltavam para ver televisão com a família. Na rua onde morei algum tempo com minha avó materna, ainda adolescente, uma vizinha dela era defensora ferrenha das torturas e assassinatos de todos os que fossem inimigos da "revolução". Falava disso dia e noite, menos na hora da Buzina do Chacrinha, que não deixava de ver de maneira nenhuma. Não creio que jamais tenha sentido dor na consciência. Para quê?

Por esses fatores e outros como por exemplo o fato de os ditadores de plantão estarem todos envolvidos direta ou indiretamente nos atos de prisão ilegal, torturas e assassinatos de adversários políticos, os estertores da ditadura foram duros, demorados. Em 1975, além de Herzog foram mortos o jovem dirigente comunista José Montenegro de Lima, o jornalista e editor do jornal clandestino Voz Operária Orlando Bonfim Júnior (ambos assassinados com injeção letal que podia ser de matar cavalo), mais dez dirigentes do antigo PCB, todos "desaparecidos" e por último, em janeiro de 1976, o operário Manoel Fiel Filho, também assassinado sob tortura no DOI-Codi. Esses fatos provocaram clamor público, a demissão do comandante do Segundo Exército, outros afastamentos e o estado terminal do regime de exceção que durou 21 longos e dolorosos anos no Brasil.

Amanhã, no dia em que a morte de Herzog completará 50 anos, a gente deve pensar em exemplos. Aquele jornalista era judeu e foi enterrado depois de um culto ecumênico do qual participaram o cardeal Dom Paulo Evaristo Arns e o rabino Henry Sobel na ala dos que morrem por morte que não seja suicídio, pois desde sempre se sabia e se sabe que ele foi assassinado. E para os judeus tirar a própria vida, um dom divino, é proibido. Pecado e há um lugar segregado nos cemitérios para estes.

Se hoje nosso pensamento está voltado ao Vlado, vamos pensar também em Manoel Fiel Filho, morto logo em seguida e no mesmo lugar, em Rubens Paiva, trucidado em uma instalação do Exército e em mais todos os outros brasileiros que ao longo dos 21 anos de desespero que durou a última ditadura militar do Brasil foram tirados de nós. É que agora esse movimento pode voltar na calda de cometa de gente como o condenado Jair Messias Bolsonaro, militar fracassado e reformado à força, deputado medíocre, golpista nato e reverenciado por uma verdadeira multidão formada por falsos patriotas capazes de sacrificar a democracia de seu país para trazer um sociopata de volta ao poder, ainda que à custa de vermos ressurgir em nosso horizonte o vírus de uma nova banalidade do mal.

Vladimir Herzog, presente!       

              
 

22 de outubro de 2025

Ponto fora da curva

Por que o ministro Luiz Fux se tornou um ponto fora da curva no Supremo Tribunal Federal? Embora só ele possa responder a isso, lembremos de que lá se vão 14 anos desde que entrou para a corte indicado pelo então governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, pelo ministro chefe da Casa Civil da Presidência da Republica, Antonio Palocci e com nome referendado pela presidente Dilma Roussef. Foi aprovado pela Comissão de Constituição e Justiça do Senado em 09 de fevereiro de 2011 e empossado (foto acima) em 03 de março do mesmo ano em solenidade concorrida.

Hoje com 69 anos, esse carioca e ex-lutador de judô se tornou uma espécie de pária na Primeira Turma do Tribunal e especializado e perder as votações por 4 a 1. Mas não era assim. Antes ele discordava no varejo e concordava no atacado. Durante o governo Bolsonaro teve uma grande aproximação com o hoje ex-presidente, inclusive quando presidiu a corte entre 2020 e 2022 (segunda foto). Talvez por causa disso, durante o julgamento dos processos da chamada "trama golpista", chegou a fazer um voto com quase 12 horas de duração, quando pediu a absolvição do ex-presidente, figura central no processo que quase levou o Brasil a um golpe de Estado. Agora quer trocar a Primeira pela Segunda Turma.


O fato de esse ministro ter pedido de volta seu voto para "correções gramaticais" (o corretor ortográfico deve ajudar bastante...) pode fazer com que a decisão relativa ao início do cumprimento efetivo da pena a que ele foi condenado, de 27 anos e três meses de prisão, seja definido apenas em 2026. Isso era tudo o que não se queria, pois vai contaminar um ano de eleição já tensionado pelo fato de que todos os candidatos de extrema direita têm apenas um "projeto" de governo: anistiar os criminosos - todos eles - do 08 de janeiro de 2023.

A decisão pela mudança pretendida por Fux de se bandear para a Segunda Turma em lugar de Luís Roberto Barroso, que antecipou sua aposentadoria, depende do novo presidente do Tribunal, Edson Fachin, que já assume com um problemão nas mãos. Ele vai dizer "sim" ou "não" ao ministro colega e também tentar fazer com que o julgamento do núcleo crucial da trama golpista tenha desfecho ainda esse ano, porque embora isso pareça crucial para a paz relativa do Brasil, não parece tão urgente assim para um ex-judoca que pode aplicar um ipon na tranquilidade judicial do país.

Nós vimos a tentativa de golpe de Estado se estruturar ao longo dos quatro anos de mandato de Jair Bolsonaro. O tempo inteiro! A não ser os bolsonaristas que pediram a quebra do regime democrático no meio da rua, todos os demais brasileiros repudiam essa investida contra nossas instituições. O ex-presidente cometeu crimes, foi condenado e tem que cumprir a sentença. Se o Brasil quer ser um grande país, precisa começar a tarefa pelo respeito à regra do jogo. Melhor dizendo, ao corpo de normas legais que fazem de nós um Estado Democrático e de Direito. E isso por bem ou por mal.   

19 de outubro de 2025

O fim da farsa e o medo


Durou muito pouco tempo a farsa do sionismo israelense e de Donald Trump em relação à Faixa de Gaza. Devolvidos os reféns que estavam em poder do Hamas e sabendo que esse grupo palestino não terá como devolver os corpos que ainda restam e são reclamados por Israel, o governo daquele país retomou os bombardeios sobre a região (foto). Isso é particularmente criminoso porque os moradores do enclave começaram a votar aos seus lugares de residência desde o anúncio referente do último cessar fogo. Todos vulneráveis!

Ao mesmo tempo em que permite ao governo Netanyahu reiniciar o massacre do povo palestino, Trump alarga seu raio de ataques contra a América do Sul. Depois de cercar militarmente a Venezuela ele investe contra a Colômbia, mais precisamente contra o presidente Gustavo Petro, que teve a ousadia de desafiar seus preceitos ditatoriais. Como sempre faz, chama o chefe de governo do país de narcotraficante. É uma receita única: tráfico na América, anti-semitismo no Oriente Médio. Nos dois casos com o nome de terrorismo.

Se mais uma vez a opinião pública mundial ficar ao lado do sionismo de Netanyahu e do fascismo de Trump, que no fundo são a mesma coisa, o massacre no Oriente Médio e o regime de tendência ditatorial nos Estados Unidos crescerão. Nos EUA cerca de sete milhões de cidadãos já foram às ruas para protestar no movimento "No Kings!" No Oriente Médio o massacre palestino só poderá ser detido pela reação mundial e por uma união dos países árabes em defesa da Palestina. É esse o caminho único viável.

O maior aliado de Trump é o medo. É preciso não senti-lo ou então vencer essa sensação e continuar na luta. Já há um imenso desconforto contra o projeto de autocracia do presidente ianque junto às Forças Armadas dos Estados Unidos, enquanto no estado judeu o primeiro ministro é refém da extrema direta, que pode derrubá-lo. E se isso acontecer ele estará ao alcance, pelo menos em teoria, do Tribunal Penal Internacional.

O primeiro ministro sionista sabe que necessita do apoio de seus ministros de extema direita para não ser derrubado do poder. E sua vantagem de votos no Knesset é mínima. Tão pequena que as ameaças dos nazifascistas de seu gabinete têm o peso de uma condenação. Talvez hoje sejam mais pesadas que a força do presidente de seu maior país aliado, mesmo estando ele cercado por judeus infuente dentro até da Casa Branca. Um deles, muito próxmo e ouvido, Jared Kushner, é o marido da filha mais velha de Trump, Ivanka. 

Estamos diante de um jogo de xadrez e as apostas são pesadas. É partida para grandes mestres internacionais...          

16 de outubro de 2025

Os novos terroristas

Os terroristas de hoje são diferentes.  

Um dia, no passado, os Estados Unidos executaram os ítalo-americanos Nicola Sacco e Bartolomeo Vanzetti por homicídio. Ficou provado que era impossível aos dois terem cometido o crime de que tinham sido acusados, mas dane-se: eram anarquistas. Em outra ocasião o casal Julius e Ethel Greenglass Rosenberg foi morto acusado de ter entregue à União Soviética os segredos da bomba atômica. Não havia prova alguma desse crime, mas dane-se: eles eram de esquerda. Na hora da morte os dois confessaram que realmente haviam enviado os projetos a Moscou porque era loucura só os EUA terem bombas atômicas. Imagine isso hoje, com o celerado Donald Trump no poder. Já imaginaram só ele com armas nucleares?

Pois os encarregados do Nobel da Paz entregaram o Ignóbil desse ano a Maria Corina Machado, entreguista de seu país, tipo de pessoa que Trump admira tanto quanto dinheiro. Nicolas Maduro favorece o quadro de uma possível invasão norte-americana à Venezuela por ter fraudado uma eleição para continuar no poder. Isso é comportamento ditatorial. Mas como os EUA apoiam incondicionalmente as ditaduras que gostam dele tipo a da Arábia Saudita, para citarmos apenas um exemplo, foi preciso ao presidente ianque criar uma narrativa falsa para cimentar o projeto de invasão do país sul-americano. Então, o presidente de lá é "narcotraficante". Não há prova alguma disso, tanto que os supostos traficantes venezuelanos estão sendo mortos no mar sem serem capturados para que possam ser ouvidos por autoridades. Mas isso importa? São teoricamente ligados a Maduro e basta.

Os novos terrotistas são aqueles que vivem favorecendo golpes de Estado capazes de reduzir a cinzas os seus países e fazer deles títeres de interesses estrangeiros escusos. Não é isso o que Eduardo Bananinha faz nos Estados Unidos até agora sem sucesso? É isso o que Corina Machado faz na Venezuela, esperando por uma invasão estrangeira em seu país. O custo é os venzuelanos  deixarem de ser donos de toda a imensa reserva patrolífera que possuem. Mas importa? Claro que não porque a presidente estaria no poder manietada, mas com muito dinheiro no bolso capturado por seu ato de traição.

A pomba da paz de hoje não sabe o que fazer no mundo de Isarel tentando destruir os palestinos, da mesma forma que agora com a Venezuela no radar ianque. Não consegue se adaptar depressa aos novos tempos. Até bem poucos meses atrás eu me relacionava com relativa civilidade com um extremista de direita até o dia em que disse a ele que a eleição já havia passado e tive que ouvir um "mas nós não aceitamos o resultado". Chamei-o de canalha e rompemos. Hoje o golpismo é mostrado em praça pública como se fosse coisa natural. Mas não é. A começar pelo Congresso Nacional onde está instalado e tem que ser tratado e combatido como crime.

Os novos terroristas querem acusar os contrários pelos crimes que cometem.  

15 de outubro de 2025

A paz do showman

 

A paz é uma ilusão muito frágil, um bichinho que morre com facilidade sobretudo quando surge das decisões do extremismo político de direita. Não existe paz imposta. Não existe paz que humilha. Essas situações são a véspera de novas guerras.

Há um período da história humana do Século XX que precisa ser melhor estudado. Ele diz respeito ao hiato entre 1919 e 1939, quando a humanidade deixou a Primeira Guerra Mundial e se preparava para a Segunda. Houve equilíbrio frágil entre as potências europeias porque, ao final do primeiro confronto foi redigido o Tratado de Versalhes impondo à Alemanha pesadas reparações econômicas e militares pela derrota no conflito. Era humilhante, sobretudo porque o derrotado não teve voz na reunião de 25 nações e até territórios (Alsácia-Lorena) foi obrigado a que ceder. Isso gerou um sentimento de revanche entre os alemães e o caldo de cultura para o surgimento, em meio ao caos econômico subsequente, do demagogo capaz de ser visto como salvador da pátria. Eis Adolf Hitler.

E hoje? Assim como a extrema direita precisava de um inimigo para massacrar entre 1939 e 1945, o Estado Sionista de Israel elegeu outro que tenta eliminar em 2025. E ele está aí mesmo, ao lado, na figura da Palestina. Para o sionismo os palestinos são inferiores, não merecem um Estado Nacional e podem ser massacrados. O que os Estados Unidos fazem agora é armar o Hitler moderno na figura de Benjamin Netanyahu para "acabar o trabalho", como já foi dito. Para a solução final nazista. E Donald Trump, que vê na devastada Faixa de Gaza um imenso projeto imobiliário a ser erguido sobre toneladas de ossadas humanas, está em cena armando o seu palco particular para o que sabe fazer: agir como um showman.

Depois de todo o espetáculo coreografado por chefes de Estado marionetes, ele foi embora para casa onde deverá encenar outros projetos como, por exemplo, o de tornar a Argentina do aprendiz de humorista amador Javier Milei seu quintal privado e a Venezuela da agora prêmio ignóbil da paz Maria Corina Machado a gerente dos poços de petróleo a serem repassados para os Estados Unidos. Assim as coisas são...assim caminha a humanidade...    

A hisória se repete como uma farsa moderna e na qual não contam os dramas humanos porque eles são vividos por "seres inferiores" como o seriam os milhares de palestinos (foto) que voltam para casa, na verdade para uma imensa montanha de escombros em que se tornou Gaza, porque não têm mais para onde ir. Essa paz não existe porque humilha, porque rouba cicadanias, terras seculares de uma etnia originária de lá e também, suprema e perversa ironia do destino, porque é um ótimo negócio para quem lucra com o projeto de uma nova riviera, essa agora a ser edificada sobre a carne e o sangue humanos.

            

13 de outubro de 2025

Das armas e do dinheiro


Lembro-me como se fosse hoje de uma família judaica que morava no bairro da Aclimação, São Paulo, próxima de meus familiares. Todo sábado, o Shabat, saiam para a sinagoga e levavam sacolas com as roupas pretas que seriam vestidas lá. O dono da casa, comerciante de uns 60 anos, ia de chapéu tipo coco e as tranças (peiot) soltas. Os demais, não. Esses tapavam as tranças. O chapéu usado pelo jovem da (foto) ficava na sacola e não na cabeça como nos demais ortodoxos quase iguais na vestimenta, a não ser pela barba que uns têm e outros, não. O chapéu de pele animal lembro-me de ter visto uma vez com o rabino. Chama-se shtreimel. Afora quando estavam na loja e usavam sorriso contido com os fregueses, no mais eram fechados em público e tinham freguesia marcadamente judaica. Ao menos nas ruas cobriam as tranças judaicas. Uma comunidade bem retraída.

No dia de hoje, quando o Hamas entrega em Israel 20 reféns de 2023 como parte do acordo de cessar fogo, os jornais brasileiros circulam com textos de apoio quase incondicional aos judeus e o presidente dos Estados Unidos fala ao parlamento daquele país, em Jerusalém. Além disso, aqui no Brasil o jornalista Breno Altman, fundador do site Opera Mundi enfrenta processo por racismo (sic!) movido pelo MPF. Logo ele, de ascendência judaica... Um imeso lobby protege os interesses judaico-israelenses pelo mundo afora e no Brasil, como não poderia deixar de ser. Ele se alicerça em três pilares de base profunda: o dinheiro, o poder das armas e a extrema direita política espalhada por diversos países.

Não consigo me recordar do nome da loja judaica próxima de onde morava, quase diante de um ponto de ônibus elétrico que ia para o Centro da cidade, mas ela tinha o desenho de um Menorá, castiçal com sete velas, à porta. Depois contaram ter sido ele retirado do lugar por causa de pichação. Imagino que hoje a comunidade judaica de São Paulo esteja num misto de comemoração e ódio diante da soltura dos reféns. E apoiando maciçamente os "esforços desmedidos" do atual presidente dos EUA pela paz. Está bom...

Também hoje o jornal "O Estado de S. Paulo" circula com um editorial pedindo a redefinição do Supremo Tribunal Federal que, segundo ele, é agora político e não judicial. Esse mesmo Estadão no passado aplaudiu o STF pela defesa de causas com as quais concordava. E já disse mais de uma vez que a defesa da Constituição do Brasil é uma necessidade, como contraposição aos ataques de 08 de janeiro de 2023. O Tribunal faz isso.

Esse 13 de outubro de 2025 não é o melhor dia para loas e ataques às instituições pelo mundo afora. E nem para manifestações mais enfáticas em favor de Israel. Se podemos concordar com o fato de que o ataque do Hamas contra israelenses há pouco mais de dois anos foi um ato de violência, precisamos concordar também que é terror ocupar por décadas terras estrangeiras, montar sobre elas colônias não autorizadas e condenadas pelo Direito Internacional e matar milhares de crianças, idosos e mulheres em uma cidade hoje devastada e que tinha mais de dois milhões de habitantes há também dois anos.

Não vivemos tempos de comemoração, mas sim de falar sobre armas, dinheiro e o que eles juntos podem produzir de danoso quando sustentados por uma ideologia política genocida.          
             

                    

9 de outubro de 2025

Com a voz embargada


Não se pode dizer que o anúncio feito hoje pelo ministro Luís Roberto Barroso (foto), antecipando sua aposentadoria no Supremo Tribunal Federal (STF) tenha sido uma surpresa. Não. Mas a decisão, que não deixa de ser renúncia, foi cheia de emoção e transmitida ao vivo pela televisão, além de acompanhada por muitos goles de água em vários copos servidos. Com a voz embargada o jurista disse adeus ao seu cargo anos antes da aposentadoria compulsória, abrindo caminho a outro magistrado que será nomeado pelo presidente Lula. Foi um ato de dignidade pessoal, provavelmene motivado pelo cansaço. Barroso deixou claro que quer dedicar seus anos restantes de vida a atividades mais leves.

Essa transmissão, vista ao vivo pela Globo News, - um programa foi interrompido para isso - marca momento de seriedade no movimentado cenário político de Brasília. Em vez de imagens de parlamentares cometendo indignidades em sessões onde se deveria apenas discutir e decidir assuntos de interesse nacional, viu-se um magistrado abandonando um cargo cobiçado por nove dentre dez juristas nacionais e oito anos antes da hora da aposentadoria compulsória, para sair dos holofotes. Quantas pessoas fazem isso hoje?

É preciso homenagear o caráter e, em momentos assim, esquecer divergências. Se nenhum de nós é isento de defeitos e nem nasceu para viver glórias eternas, um homem que se despede antes da hora do lugar onde todos querem estar e faz isso de público, citando e elogiando um por um todos seus iguais sem esquecer os auxiliares mais diretos, está deixando a cena para que essa cena continue com sua marca. E indelével!

O vídeo tape da renúncia de Luís Roberto Barroso poderia ser  mostrado no Congresso Nacional como didático, sobretudo porque lá ningém não apenas jamais renuncia aos mandatos, mas também a quase totalidade quer renová-los indefinidamente e tambem avançar cada dia mais sobre verbas públicas sempre maiores e que, via de regra, são usadas não apenas para sua perpetuação no poder, mas também para objetivos escusos com o formato, nesses dias atuais, sobretudo das tais emendas parlamentares. E essas, posso garantir, têm mil e uma utilidades. Nem o tal de Bombril chega aos pés delas.

Irônico, mas para ser sagrado ministro do Supremo, os indicados pelo presidente da República têm que passar por uma sabatina no Senado. Muitos dos que os interrogam vivem a preocupação de um dia virem a ser interrogados em processos aos quais vários já respondem e que não dizem respeito a conhecimentos jurídicos. Mas a democracia que a maioria destes prefere ver destruída nasceu e vive para representar nossas virtudes e defeitos. Todos eles. Por isso o exemplo de Barroso vale muito.

Por isso às vezes alguém fica com a voz embargada.      

                                     

     

8 de outubro de 2025

Humoristas do sofrimento alheio

 

Parece ser uma norma de conduta da extrema direita política brasileira fazer piada de mau gosto com a miséria e a morte alheias. Agora o humorista da vez foi o cavaleiro da triste figura de São Paulo - nascido no Rio de Janeiro! - Tarcísio de Freitas, que emprega suas horas vagas a governar (sic!) o maior e economicamente mais importante Estado do Brasil. Em plena crise do metanol nas bebidas destiladas de nosso país ele, em vez de tratar a situação com respeito, disse a imbecilidade que está na montagem fotográfica acima.

Tarcísio nem sempre está em São Paulo. Quase nunca ocupa o Palácio dos Bandeirantes para administrar o Estado que miseravelmente o elegeu. Na maioria dos dias se encontra em trânsito sobretudo para Brasília para onde vai pedir a benção ao presidiário domiciliar Jair Bolsonaro, do qual fala que se não fosse este ele não seria nada. Por incrível que pareça é verdade. Ontem mesmo vimos mais um fato ridículo em Brasília: miseráveis mil e poucas pessoas foram ao ato marcado por políticos como Flávio Bolsonaro, Nikolas Ferreira e Bia Kicis, com o patrocínio do pastor Silas Malafaia, para pedir anistia ao preso de estimação deles.

Não vai haver anistia e nem dosimetria. Não pode haver perdão para criminoros que atentam contra a democracia e procuram destruir o Estado Democrático e de Direito. Apesar dos esforços do pelego Paulinho da Força, o parlamento tem juízo suficiente para não fazer isso. E se fizer o Supremo Tribunal Federal derrubará essa aberração.

É nesse ponto que vem o desespero da extrema direita brasileira. Desacostumada com democracia ela investe contra a Justiça Federal sempre que uma decisão desta instância contraria seus dogmas de periferia. Não entende que quem interpreta a Constituição é o Supremo e não deputados e senadores da oposição brasileira. E nem que a Justiça tem de se manifestar quando é provocada. É assim no mundo todo. Teria que ser aqui também.

Tarcísio quer ser presidente da Republica. Não tem estatura sequer para prefeito de cidade pequena, mas é cria da extrema direita brasileira. Sem a benção de seu padrinho vai ficar mesmo onde está, no Palácio dos Bandeirantes. Pior de tudo é a gente saber que os paulistas podem repetir a dose de insensatez e reeleger esse filhote do novo fascismo. No  Brasil que gerou o bolsonarismo tudo é possível. Não temos um celerado nos Estados Unidos tentando destruir seu próprio país? Então aqui vale tudo até o brasileiro finalmente acordar.             

          

4 de outubro de 2025

O crime patrocinado

Essa arte aí ao lado e que abre a crônica de hoje foi publicada na coluna da jornalista  Hildegard Angel com base nos relatos citados por ela. Ele comprova, mesmo não sendo necessário nada disso, que o Estado Sionista de Israel se tornou já faz algum tempo um centro de tortura contra presos e que alguns dos membros da Flotilha Global Sumud, além da ativista sueca, foram vítimas de violência física e psicológica. Isso havia sido anunciado pelo ministro da defesa daquele país títere dos Estados Unidos, o fascista Itamar Ben-Gvir, do interior da prisão de tortura política, num deserto ao sul de Israel.

No dia em que a flotilha foi abordada por embarcações militares sionistas e ainda em águas internacionais, o que fere as regulamentações da ONU e o Direito Internacional, à Greta deram um agasalho e um tratamento de urbanidade. Era teatro porque ela e os demais presos ainda não estavam no presídio, longe das câmeras e onde os direitos humanos passam ao largo, sobretudo para aqueles que se opoem aos crimes que Israel comete protegido pelas armas fornecidas a ele pelos Estados Unidos. Apoio incondicional a um estado terrorista sempre dá nisso.

Os membros da flotilha não levavam nenhum tipo de arma à Faixa de Gaza. São totalmente falsas as acusações desse gênero dirigidas aos cerca de 500 militantes que faziam parte do comboio. O máximo que os israelenses conseguiram foi filmar um militar dizendo não ter encontrado em uma embarcação doação alguma. Mas elas sempre existiram e foram filmadas a bordo dos barcos pelos militantes, antes e durante a travessia. Portanto, não há como desmentir o óbvio.

De qualquer forma o governo de Benjamin Netanyahu parece disposto a tudo, pois enfrenta uma oposição interna ferrenha. E o acordo com o grupo de resistênica Hamas não possui a menor garantia de sucesso, já que o israelense diz a quem quiser ouvir que não permitirá a criação do Estado da Palestina, a condição básica para que ele dê certo. Donald Trump, o presidente dos Estados Unidos que enfrenta a oposição interna a ele como terrorista e pede sempre que pode o uso de forças armadas para enfrentar adversários, sabe que está diante de um teatro e faz parte dele. Garbosamente. Afinal, quer ganhar o Prêmio Nobel da Paz, por mais absurda que possa ser essa pretensão. E o Hamas? Sabe e vê isso tudo. Vai usar os poucos dias de paz que vierem para respirar um pouco e se manter vivo.

Não, não vai haver paz agora na Faixa de Gaza e no Oriente Médio.         
 

2 de outubro de 2025

Eles só votam neles


Havia uma verdadeira multidão de deputados federais ontem à noite na Câmara, (foto) em Brasília. E, ao final da votação, eliminados os destaques de "vossas excelências", o projeto do Governo Federal foi aprovado por 493 votos favoráveis e zero contra. Mas o que provocou essa unanimidade não foi uma vontade de fazer Justiça para com os que ganham menos no Brasil, não foi ideologia nem nada disso: foi a decisão por reeleição dos deputados e milhões de reais liberados para emendas parlamentares que são gastas a rodo em verdadeira festa com o dinheiro do contribuinte no Brasil. E eles sempre fazem assim.

Seria injusto dizer que isso ocorre com todos. Claro que não. Parlamentares realmente interessados em promover justiça social votariam "sim" de qualquer maneira. Os apoiadores do atual governo, também. Mas são a minoria e não fariam o projeto passar. Só houve aprovação graças à rejeição da PEC da blindagem e o povo nas ruas, como aconteceu recentemente. Isso e o dinheiro que abastece o caixa dos que se vendem e são a maioria.

Ontem mesmo, enquanto a votação seguia, centenas de celulares e outros meios de gravação eram focados nos deputados por eles mesmos ou seus assessores/apoiadores. As expresssões, falas, gestos, mensagens, tudo foi filmado e imediatamente postado nas redes sociais deles para "provar" que apoiam uma decisão necessária. Depois rapidamente os votantes foram para casa porque ninguém é de ferro. Ao final da sessão, e as imagens de TV mostraram isso, o plenário já estava bem esvaziado. Os "patriotas" tinham ido embora...

Foi comentário geral que o governo havia aprovado um texto que alavanca o nome do atual presidente Lula para a tentativa de quarto mandato. Sim, foi isso! Mas um mandatário deveria se abster de enviar para o Congresso propostas legislativas que fazem justiça para a sociedade só porque ela será chamada de eleitoreira ou coisa pareida? Mesmo quando esse governante sabidamente defende o tipo de iniciativa votado desde sempre e principalmente porque foi pau de arara e chegou a São Paulo em carroceria de caminhão?

Não tivesse havido a reação popular contra a PEC da blindagem e nem a ida de meio milhão de brasileiros às ruas em 21 de setembro, o Congresso votaria contra as mudanças no IR ou então cancelaria as compensações com aumento de alícota para os que ganham muito mais. Eles pouco se importam com o fato de quem ganha até CR$ 5 mil mensais ter isenção de imposto de renda e quem recebe até R$ 7.350,00 ficar com a alícota reduzida. Afinal, há uma imensa bancada de ruralistas, empresários dos mais diversos setores e  falsos evangélicos que apoiam Israel "em nome de Jesus" naquele ambiente. E eles olham para o umbigo. Só que o umbigo também diz "basta" quando a festa corre o risco de acabar.

Parece mentira, mas o Centrão votou unanimemente com o projeto do governo. E também o PL, partido de aluguel hoje alugado a Jair Bolsonaro. Além disso, quem se lembra de uma outra ocasião na qual houve aprovação unânime de algo naquele Congresso? Nelson Rodrigues disse uma vez: "Toda unanimidade é burra. Quem pensa com a unanimidade não precisa pensar."  Mas ontem a unanimidade foi um ato calculado e caro aos cofres públicos porque se o governo não liberasse emendas o texto não passaria pela pior Câmara de todos os tempos.

Não se iludam: o Senado age igual ou muito parecido.            

30 de setembro de 2025

Acordo de rendição

- Juro que vou fazer desse país uma democracia e quem for contra eu prendo e arrebento!

Essa foi a promessa de palanque do ditador João Batista de Oliveira Figueiredo às vésperas de tomar posse para o último mandato presidencial da ditadura de 1964. Cumpriu a promessa de devolver o Brasil à normalidade democrática, mas esperneando muito. Afinal, tinha sido parte dos governos anteriores ocupando cargos importantes de ex-ditadores, em quase todos os casos ligados ao que se chamava então de comunidade de segurança. Fez escola, tanto que gerou filhotes como o ex-presidente Jair Bolsonaro e o neto Paulo Figueiredo. 

Hoje nós vemos o mundo girando ou capotando com os mesmos recursos de 1964/85. Figueiredo completou a "abertura" política porque a ditadura estava morta, no caixão e temia-se que começasse a se decompor muito em breve. Ontem a Casa Branca, em Washington, viu o presidente dos Estados Unidos ao lado do primeiro ministro de Israel (foto oficial) anunciarem um plano de paz para o enclave de Gaza que tem script muito parecido. É um acordo de rendição incondicional e feito entre os dois atores principais, sem participação palestina, com ajuda periférica de algumas nações árabes da região e que se dispõem a colaborar para que o genocídio de Gaza e da Cisjordânia, principalmente estes, tenham término rápido e antes que um povo deixe de existir.

E se o Hamas não aceitar o acordo o premier israelense vai ser autorizado a "terminar o serviço". Todos nós sabemos o que isso significa.

Nos meios de Comunicação ocidentais o grupo de resistência palestina é apresentado como terrorista. E as forças armadas terroristas de Israel, como de autodefesa. Mas nos dias atuais estamos vivendo a época na qual grande parte da humanidade já não aceita mais essas denominações e começa a se revoltar. Espoucam protestos em praticamente todo o mundo. Na Europa e nos Estados Unidos as populaçoes estão indo às ruas em gritos e as manifestações tendem a aumentar. Países antes omissos agora reconhecem a Palestina e a China, ontem, anunciou que os BRIC's aceitarão a adesão do Estado a surgir.

Recentemente na ONU, ao se pronunciar em um discurso memorável na reunião de abertura dos trabalhos da instituição, o presidente brasileiro Lula referiu-se ao Hamas como terrorista. Ele teve que fazer isso para não provocar a ira norte-americana e judaica contra o Brasil, mas deixou claro mais uma vez o reconhecimento brasileiro à causa desse povo vitimado por um genocídio sem precedentes no Século XXI. Tanto que nosso País reconhece o Estado da Palestina desde 2010 e, mesmo durante o desgoverno anterior a esse, isso não mudou.

Aqui no Brasil, por incrível que possa parecer, parte dos evangélicos, a imensa maioria de denominaçõoes recentes e ligadas quase unicamente ao dinheiro fazem propaganda do governo de Israel. Portam a bandeira daquele país juntamente com a dos Estados Unidos desconhecendo o fato de que judeus não são cristãos. Para eles Jesus não é Messias, mas sim um falso profeta. Chegam a cuspir naqueles que circulam por seu país portando cruzes de quaisquer espécie. Trata-se então de um apoio político e não religioso.    

Trump cede porque o governo caótico e fascista de Israel cai de podre e seu primeiro ministro tem ordem de prisão emitida pelo Tribunal Penal Internacional (TPI). Pode ser preso se aportar em um país que reconheça essa instituição. Então é melhor perder os aneis para manter os dedos. Mas nada muda o fato de que está havendo na Faixa de Gaza, sob os olhos do mundo, o maior genocídio deste século e comandado por dois genocidas incontroláveis, sendo que um deles sonha com o Prêmio Nobel da Paz.

Da paz dos cemitérios.     

22 de setembro de 2025

O novo Hitler

 

Os acontecimentos de hoje nos Estados Unidos mostram que o governo de Donald Trump, já chamado de novo Hitler até por parte dos norte-americanos, (o que pode ser visto pela foto acima) tem a intenção de escalar a crise contra o Brasil por causa do condenado Jair Bolsonaro, seu bibelô da extrema direita. E como nenhuma provocação partiu de autoridades brasileiras, é imperioso que nosso País enfrente a situação com altivez e sem medo. Sem medo de nada, absolutamente, e dizendo isso no discurso do presidente Lula na ONU.

Hoje, enquanto escrevo esse texto, os fatos se acumulam. Foi anunciado que a Lei Magnitsky acaba de ser aplicada contra a mulher do ministro Alexandre de Morais que, em princípio, nada tem a ver com a atuação do marido no Supremo Tribunal Federal. E também que acaba de ser cassado o visto de entrada naquele país do Advogado Geral da União, Jorge Messias. Ato contínuo, o Procurador Geral da República, Paulo Gonet Branco, denunciou o deputado federal Eduardo Bolsonaro e seu comparsa Paulo Figueiredo por "coação em processo judicial" por causa da atuação de ambos nos Estados Unidos, onde eles pela manhã, à tarde e à noite, todos os dias, torpedeiam nosso país para tentar salvar o pai do primeiro da cadeia que o espera se a sentença judicial for cumprida.

É uma situação inusitada. Nem nos meses que antecederam o golpe de Estado de 1964, quando os Estados Unidos atuaram decisivamente para ajudar na deposição do presidente João Goulart, o relacionamento institucional Brasil-EUA esteve tão fragilizado. E agora o presidente ianque faz sua interferência às claras e declaradamente para tentar impedir que a Justiça Brasileira puna um priminoso de forma exemplar. Isso não é negociável.

Hoje mesmo o jornal O Globo circulou com o editorial "Lula deve adotar tom sereno em discurso na ONU". Foi escrito ontem para circular hoje e seria a dosagem certa caso os Estados Unidos não tivessem mais uma vez investido contra o Brasil. Mas agora seu "tom" está vencido. Claro que não devemos descer ao nível de Trump e Marco Rubio, mas a hora é de o presidente falar na ONU denunciando os desmandos ilegais do governo norte-americano, reafirmando a soberania brasileira e dizendo em Nova Iorque o que sempre dizem os brasileiros verdadeiramente de bem: o STF nos representa.

Haverá muitos desdobramentos desses últimos acontecimentos. É impossível saber até onde pretende ir o governo do novo Hitler, mas ele precisa ser detido ou enfrentado. Se os britânicos acham que o melhor remédio para a psicopatia do homem da peruca loira está em uma visita de Estado ao Castelo de Windsor e com muitos regabofes, como diria um antigo humorista brasileiro, "há controvérsias". Há também meios legais no plano internacional para enfrentar esse tipinho e não vemos hoje outra alternativa senão fazer isso.

O Supremo Tribunal Federal condenou o ex-presidente com base em uma carrada de provas. Alexadre de Morais é o titular do processo, mas outros ministros teriam feito o mesmo, de modo que envolver sua mulher nessa lei estrangeira é um absurdo completo. O advogado geral da União tem por obrigação defender o Estado Brasileiro e isso é o que faz. Retirar seu visto porque ele cumpre suas obrigações é outro desatino. Parece piada de humor negro.

A Venezuela, que tem um governo amplamente contestado, está sendo cercada pela Marinha de Guerra dos Estados Unidos sob acusação de ser narcotraficante. Isso não é verdade. Nos EUA mesmo direitos são retirados de nacionais que lá vivem, jornalistas têm que submeter seus textos às novas autoridades antes de publicar, as universidades são vítimadas por toda sorte de coerção, a ciência vem sido desconsiderada em diversos setores e, enquanto isso tudo acontece, o chefe de Estado defende a "liberdade". A mesm que Hitler defendia!

Vamos lutar por nossa democracia e soberania. O Brasil não é a Venezuela.   

19 de setembro de 2025

A sucursal do PCC

O presidente do União Brasil, advogado Antônio Rueda, pode não precisar se preocupar mais com a possibilidade de vir a ser a processado, criminalmente ou não, segundo a PEC que está perto (?) de ser sacramentada no Congresso Nacional, especificamente na Câmara dos Deputados. Nem também Luciano Bivar, o ex-presidente amalucado e que tentou botar fogo na casa dele. Presidentes de partidos políticos, com ou sem mandato, serão totalmente blindados por iniciativa do Parlamento corrupto e inconsequente. Ele, o Congresso, com as últimas iniciativas tomadas, vai ser uma sucursal do PCC e outros grupos de crime organizado.

Essa é apenas a ponta de um iceberg gigantesco. Nós sabemos que hoje as câmaras municipais, assembleias estaduais, Câmara e Senado federais são tomados por uma boa parcela de bandidos. Eles, com a legislação atual, já têm imunidade de sobra. Tanto que Hidelbrando Pascoal, conhecido como o homem da serra elétrica, ex-coronel da PM do Acre, líder de grupo de extermínio, homicida, narcotraficante, sonegador fiscal e formador de quadrilha, foi protegido pelo Congresso enquanto teve mandato. Só depois de perder sua imunidade, mesmo com todo o currículo, foi condenado a mais de 110 anos de prisão. Antes, era sua "excelência", um sádico esquartejador.

O Brasil já teve uma legislação de proteção quase absoluta dos parlamentares. Entre 1988 e 2001 o Congresso impediu mais de 250 investigações contra políticos até a norma nascida com a Constituição Cidadã ser derrubada. Era imoral. Mas agora o pior Congresso de todos os tempos quer revivê-la e ainda com voto secreto para o "não" à punição dos criminosos, mesmo ele vindo do Supremo Tribunal Federal (STF), que pode vir a ser manietado.

Que Brasil nós queremos? Esse?

Um piloto da empresa de táxi aéreo que tem esse Rueda como um dos seus donos assegura que os aviões transportavam gente ao menos suspeita e, com toda certeza, deve haver pessoas ligadas ao PCC sendo levadas para lá e para cá. E o que mais? O crime organizado já está infiltrado em várias camadas do Poder Legislativo, e isso vem de muitos anos passados. Com uma PEC, Projeto de Reforma Constitucional que entrega poderes quase infinitos aos parlamentares, inclusive o que não serem investigados ou processados por nada, a vida política se tornará tudo o que eles sonharam, sonham ou sonharão. O paraíso!

Notem bem: essa gente que pede voto secreto no Poder Legislativo é a mesma que faz discurso por voto impresso e auditável nas eleições brasileiras para nada ficar encoberto. Eles sabem o que querem! Tanto que os partidos do dito Centrão já deram ontem à noite um ultimado que termina hoje para os ministros de suas siglas de aluguel desembarcarem do governo federal atual, o Governo Lula. E principalmente porque a Justiça investiga o presidente nacional do União por cometimento de crimes os mais graves possíveis. Entendem porque o projeto quer dar imunidade total também a presidentes de partidos?

Lute pelo NÃO à anistia a criminosos golpistas. Diga NÃO à PEC da blindagem dos bandidos. Vá às ruas domingo. Defenda a democracia do Brasil contra seus inimigos internos e externos. Eles querem acabar com nosso país e fazer dele uma sucursal do submundo criminoso que hoje está entranhado em muitos de nossos setores, inclusive os produtivos como o de mineração, por exemplo. A hora é agora!   

17 de setembro de 2025

Se há vagas, há esperança

 


Era um final de tarde do último sábado e vi quando uma senhorinha na casa dos 60/65 anos parou diante do conteiner de lixo do prédio onde moro. Carregava uma sacola plástica, um carrinho de compras e uma espécie de mochila. Remexeu nosso lixo e não encontrou nada que a interessasse. Então eu a fotografei indo em direção ao prédio do lado (veja a foto), onde fez o mesmo e aí, sim, colocou alguma coisa entre seus pertences. Usava lenço na cabeça e andava com certa facilidade, mas vive do lixo das moradias daqueles que têm casa. 

Só hoje publico a foto porque leio na coluna de Abdo Filho, jornal A Gazeta, que os supermercados têm 6 mil vagas não preenchidas em seus quadros, mas não conseguem contratar. Por que será? Um amigo meu, Lino Geraldo Resende, jornalista também, trabalhou anos para a ACAPS (Associação Capixaba de Supermercados) e pode apresentar algum tipo de luz no fim do túnel: a jornada de trabalho vai de oito a dez horas diárias e, mesmo com horas extras, não atrai. Poucas vezes as pessoas têm folga nos finais de semana e muitos recebem apenas o salário mínimo. Também não se tolera mais a escala 6X1, com seu viés escravagista. Ou seja, trabalhar na informalidade dá mais dinheiro e não obriga a muita coisa. Claro, a pessoa fica sem INSS, Fundo de Garantia, etc. 

Houve uma época em que a rede Perin conseguia trabalhadores até mesmo de outras empresas do ramo porque suas lojas não abrem aos domingos. Mas agora nem isso e mais incentivos oferecidos atrai muita gente. E tem mais: os empresários do ramo supermercadista acham que o Bolsa Família atrapalha. Não são só eles: o empresariado brasileiro de maneira geral critica qualquer tipo de ajuda aos pobres. Não é verdade que o Bolsa Família tire gente da formalidade do trabalho, mas num quadro de falta de gente para trabalhar é preciso aumentar a remuneração e oferecer até treinamento. Eles não gostam...

Só que estamos falando de trabalhadores que estão no mercado e os moradores em situação de rua não estão. Um trabalho para eles devolve-lhes parte substancial da dignidade perdida com a vida nas calçadas ou então recolhendo lixo em conteineres de prédios. É possível reverter isso. O poder público como as prefeituras, por exemplo, pode tirar as pessoas das ruas com ofertas de trabalho. Em parceria com a ACAPS ou outras associações de empresários em busca de empregados, elas podem ministrar treinamento, tratamento antidroga quado for o caso e uma atividade remunerada que dignifique. Um plano de carreira pode e deve ser mais um elemento chamariz para os diversos segmentos sociais. Por que não fazer isso?

Hoje as prefeituras, como a de Vitória mais uma vez servindo de exemplo, oferecem apenas o retirar das ruas, lugar para um banho, uma refeição, cama e algum afeto. Não basta. Ninguém é feliz vivendo de crack, mas as pessoas abandonadas à própria sorte precisam ao menos de um horizonte de médio prazo. E isso elas não têm hoje. No bairro onde moro, em Vitória, há um grande número de moradores em situação de rua que pelo menos a mim geram uma trieteza imensa. Essas pessoas merecem ter dignidade mesmo num país onde um dos Poderes, o Legislativo, age diariamente de forma amoral, desonesta e visando apenas seu próprio nariz, talvez até mesmo em conluio com o crime organizado. 

É possível tirar aquela senhorinha da rua. Ela merece. Se há vagas, há esperança.

15 de setembro de 2025

A colheita


O número é oficial e fechado: no ano passado houve 83 episódios de tiroteios em escolas dos Estados Unidos, com feridos ou mortos. A apuração é da CNN, que faz esse levantamento desde 2008. Já a instituição Gun Violence Archive registrou um total de 488 tiroteios em 2024, sendo que, para eles, tiroteio em massa quer dizer "um evento onde quatro ou mais pessoas são feridas ou mortas". Os números são impressionantes e mostram uma espécie de raio X da decadente sociedade americana dos dias atuais. O ativista de extema direita Charlie Kirk (foto de homenagens póstumas e ele) foi vítima dessa doença.

Os Estados Unidos formaram uma sociedade de culto à violência, o que vem de desde antes da chamada "conquista do Oeste". Dee Brown, escritor e historiador norte-americano escreveu pelo menos dois livros especificamente sobre o extermínio de povos originários de seu país e editados no Brasil: "Enterrem meu coração na curva do rio" e "Massacre" são estudos de pesquisa acadêmica, sendo que o segundo descreve o episódio de Little Bighorn, no qual o general George Armstrong Custer foi levado a uma cilada num vale e massacrado juntamente com seus soldados por indígenas de nações norte-americanas.

Esse foi o único caso de uma vitória militar indígena contra tropas regulares do Exército dos Estados Unidos, na ocasião a Sétima Cavalaria com 261 membros. Eles foram emboscados num vale e atacados de cima para baixo por guerreiros Lakotas e Cheyennes comandados por Cavalo Louco, Nuvem Vermelha e Touro Sentado. No restante dos tempos, as populações originárias foram massacradas impiedosamente para a tomada de terras por parte dos "homens brancos" que as queriam colonizar, roubar para eles.

Em um determinado ano, num forte construído para ataque aos indígenas, militares dos Estados Unidos discutiam sobre matar ou não matar seus "inimigos". Alguém disse que havia "índios bons" na região, no que o general Philip Sheridan completou: "os únicos índios bons que eu conheci estavam mortos". O diálogo foi ouvido fora da casa, passou de boca em boca e gerou o axioma "índio bom é indio morto" hoje transplantado para "bandido bom é bandido morto" e que faz muito "sucesso" lá nos EUA e aqui no Brasil.

Sobretudo em estados como o Texas o cidadão comum dos Estados Unidos usa armas em quaisquer situações. Anda com elas de preferência sob as axilas. Faz isso para "se defender" e, na maioria das vezes, sem saber de quem. Armados eles mataram os indígenas, os negros escravizados ou não, os "fora da lei", estrangeiros e outras pessoas com as quais estivesse havendo divergência. Armas podem ser compradas em quaisquer lojas do ramo, bem como munição. Aprender a atirar é fácil. É banal ter muito armamento em casa. Vai daí, atirar pode ser uma decisão rápida. Assim se mata em escolas e nos diversos outros lugares.

Donald Trump é um defensor do uso quase indiscriminado de armas e isso possibilitou o episódio do Capitólio quando, incentivados por ele, milhares de trumpistas invadiram o Congresso dos Estados Unidos para questionar a vitória de Joe Biden na eleição presidencial que impediu um segundo mandato consecutivo do hoje novamente presidente. Charlie Kirk era defensor do uso de armas, republicano apoiador de Trump, debatedor educado (o que é raro!) e defensor das ideias da extrema direita política como rascista confesso que se  mostrava. O fato de não ser um tresloucado no falar e no discutir ideias não o livrou da morte viole nta sob a mira de um atirador desequilibrado. Dos milhares que a sociedade americana gera todos os anos. Agora pode ser condenado à morte, o que está previsto nas leis do estado de Utah. Ele é a colheita da safra de violência que os Estados Unidos plantam desde sua independência.

Vão matar a consequência e deixar a causa à solta.  

12 de setembro de 2025

Para nunca mais acontecer

Ontem, num fato inédito na história da República Brasileira, oito ex-governantes do país foram condenados a penas duras restritivas de liberdade. Um deles, o ex-presidente Jair Bolsonaro, a 27 anos e três meses de prisão, afora multa, iniciando esse cumprimento em regime fechado. Ainda cabem recursos permitidos pelas leis brasileiras, mas nada que possa cencelar as penalidades. E os recursos serão respeitados apenas e tão somente porque vivemos em uma democracia, onde o corpo de leis é inteiramente observado.

E ontem foi um dia singular. Há 24 anos um atentado matou quase 3 mil pessoas no Word Trade Center, em  Nova Iorque. E há 52 anos o presidente constitucionalmente eleito do Chile foi assassinado num golpe de Estado em seu país. Recusou-se a ceder pela força o poder entregue a ele pelo povo chileno e acabou assassinado no Palácio de La Moneda, em Santiago, depois de a sede do governo ser até mesmo bombardeada pela Força Aérea sublevada e comandada pelo futuro ditador Augusto Pinochet.

11 de setembro tem significado muito especial! Para nós pode marcar o fim dos sonhos de golpes de Estado. Sonhos que nasceram com o advento da República, surgida da deposição pela força do imperador D. Pedro II e, de lá para cá, seguidos por imensa série de conjuras, aquarteladas e outros tipos de conspiração. Tive um tio-avô, o irmão mais novo de minha avó Almerinda, que era general. Foi para a II Guerra Mundial recém formado como médico para ganhar experiência e se apaixonou pela caserna. Na volta, continuou. Era o cardiologista do general Darcy Pacheco de Queiroz no Exército. Um dia em Vitória mostrou sua credencial no hospital onde havia ido ver um irmão e perguntaram a ele: "Qual é sua arma, general?". A resposta foi imediata: "O bisturi" Esse era oficial militar de verdade!

No passado os mesmos Estados Unidos que estiveram presentes quando do estupro da democracia chilena no episódio da deposição do presidente Salvador Allende, tinham vindo ao Brasil em 1964 para ajudar a depor e exilar o presidente João Goulart, inclusive com o envio à costa brasileira de navios de guerra formadores da "Operação Brother Sam". Uma receita que os ianques não abandonam. Agora mesmo navios dos EUA cercam os mares do Caribe para amedrontar autoridades venezuelanas. E agora mesmo o secretário de Estado norte-americano Marco Rubio promete de novo se intrometer na vida brasileira e, segundo disse a porta voz de Donald Trump, sem medo de "usar meios militares".

Nós também não temos medo!!!!!

Mas, por incrível que pareça os EUA ainda são capazes de arregimentar um exército brancaleone de idiotas adeptos brasileiros como os que abriram sobre o asfalto da Avenida Paulista uma imensa bandeira daquele país. Ou então como o filho do ex-presidente condenado, Eduardo Bolsonaro, vulgo Bananinha, que pediu de maneira clara um ataque dos Estados Unidos ao Brasil para salvar seu papai. Ele e o amigo Paulo Figueiredo já merecem ordem de prisão, com envio dessa determinação à Interpol, faz algum tempo. Quando isso vai  sair? Quando a conspiração à distância será detida?

Os condenados de ontem, nosso mais recente 11 de setembro, têm muito tempo para refletir. E seus apoiadores, para pensar que terrorista é mesmo quem mata e tortura, como prega o cartaz na imagem que abre esse texto. Vamos todos nós, brasileiros, homenagear a democracia. Sou de uma época em que as redações dos jornais tinham uma área onde todos os dias papeletas com ordens do Ministério da Justiça eram afixadas contra a cortiça por pregadores de metal e vindas da Polícia Federal. Era o espaço da censura.

Ele dizia o que podia e o que não podia sair nos jornais. Hoje sai tudo! Sai até mesmo informação dizendo que a defesa do ex-presidente condenado Jair Bolsonaro vai recorrer até a "instâncias internacionais" contra a condenação do genocida inelegível e cometedor de crimes. Recorram. Lutem. Só na democracia vocês podem fazer isso. E, quando perderem, ficarão também sem suas patentes militares e mandatos eletivos, como aconteceu ontem.

Mas até que todos os recursos sejam vistos, negados e os Estados Unidos voltem a arrotar valentia, os cães cotinuarão a ladrar enquanto a caravana passa. O Brasil, se tudo der certo, usou um icônico 11 de setembro para dizer adeus ao golpismo institucional. Com o tempo o brasileiro comum vai aprender que respeitar a regra do jogo é a melhor maneira de exercer a cidadania e a verdadeira liberdade, que se faz com limites claro e legais.                  

 

10 de setembro de 2025

A quinta coluna fede!

Você conhece o termo "quinta coluna"? Ele nasceu durante a guerra civil espanhola entre 1936 e 1939 quando um general franquista, Emilio Mola, apoiador do futuro ditador Francisco Franco, referiu-se a um grupo de simpatizantes nazifascistas em Madrid como uma "quinta coluna" disposta para apoiar um ataque de quatro colunas do exército liderado por ele contra as forças republicanas. Posteriormente o termo passou a ser usado para identificar traidores e simpatizantes do nazifascismo em qualquer outro lugar do mundo. O Brasil as enfrentou durante a II Guerra Mundial, da mesma forma que nós as vemos hoje, mesmo no nosso país sem guerra declarada com ninguém. E podem acreditar: quinta coluna fede!

O cartaz reproduzido para abrir esse texto é da guerra civil da Espanha. Nele está escrito "!!Alerta!! A quinta coluna espreita". Pode ser também persegue, ronda, segue em todos os lugares. Hoje mesmo o extremismo de direita, revivido e renascido dos esgotos onde fica submerso em fezes sempre que é derrotado, está de volta sob vários mantos diferentes. Ele não se assume como acontecia com os "galinhas verdes", integralistas da época da II Guerra no Brasil. Não tem coragem e, pior de tudo, vez ou outra profere discurso democrático. Sabe que não é e que isso jamais seria aceito, mas no seu projeto golpista ele tem que viver fantasiado, já que dizer camuflado é dotá-lo de inteligência. E isso ou ele não tem ou a prostituiu totalmente.

No Brasil o reacionarismo político faz com que o nazifascismo moderno sobreviva. Lembro-me de que, quando jovem, iniciando a vida política, convivia com parentes, tios, tias, amigos de meus pais, eles próprios, numa Vitória que era um microcosmo do restante de nosso país: sempre à direita. Moderadamente ou não, mas acreditando que o comunismo estava à espreita para nos invadir. Um dia, vendo que eu havia estado numa reunião de grêmio estudantil do Colégio Americano, meu avô, o português José Maria dos Santos, uma cálida figura humana, alertou-me para esse perigo: "Veja, meu netinho, se os comunistas chegarem ao poder eles entram nessa casa e tomam pelo menos dois quartos para seus amigos viverem". Ele havia aprendido assim e morreu 15 dias antes do 25 de abril de Portugal...

Os brasileiros que usam a bandeira dos Estados Unidos no desfile de 7 de setembro são quintas colunas. Eduardo Bolsonaro também é. Nikolas Ferreira, idem. E o rebotalho extremista de direita que forma hoje nossa presença capixaba no cenário político federal, igualmente. Pessoas como Magno Malta, Marcos do Val, Evair de Melo, Gilvan da Federal e outros menos votados formam a linha de frente dos que lutam pelo renascimento de um nazifascismo que foi, é e será sempre genocida. Ontem mesmo foi filmado o presidente dos Estados Unidos expulsando de um restaurante um grupo de manifestantes que gritavam "free palestine!" durante a entrada dele e seu séquito, do qual fazia parte o vice-presidente.

Essa é a liberdade de expressão na qual eles acreditam!

Então, quando você ouvir uma porta voz da Casa Branca dizer que o país dela, cinicamente fantasiado de defensor da democracia e das liberdades civis, pode chegar a usar a força para defender seus princípios, não creia. Os princípios deles são pecuniários e extremistas. Mas se um dia for preciso defender sua pátria com armas, não ingresse nas quintas colunas que os falsos patriotas canalhamente defendem e defenderão. Ela fede!       

8 de setembro de 2025

7 de setembro distópico

 

O 7 de setembro mais distópico da história brasileira nasceu gerando memes, como esse da montagem fotográfica ao lado. E não poderia ser diferente. Afinal de contas, no dia da comemoração de outro aniversário de nossa independência como país, uma enorme bandeira dos Estados Unidos foi desfraudada em plena Avenida Paulista, diante de palanques onde estavam autoridades e mostrada aos gritos de "Trump..." por uma imensa legião de idiotas ditos bolsonaristas ou "patriotas".

Depois do susto, muitas pessoas ficaram se perguntando o que há na cabeça de gente que usa bandeira estrangeira na festa de sua pátria, e isso quando essa outra nação faz uma infame campanha contra a nossa para tentar interferir num resultado de julgamento penal. No mínimo é um desrespeito.

E a cobertura desse 7 de setembro teve de tudo. Um indivíduo filmado vestindo camisa com a bandeira do Brasil tentou mas não conseguiu explicar o que estava fazendo na mais importante avenida de São Paulo. Outros conseguiram mais ou menos, e usando uma fórmula ou outra para provar que vivemos numa ditadura do Judiciário, isso quando uma boa parcela desses viveu realmente e ao menos em parte a última ditadura que infelicitou o Brasil. Uma senhora saudosa dos últimos ditadores de farda explicou entusiasmada como era boa aquela época! Muito diferente de hoje, sem dúvida!

Mas a melhor de todas foi outra senhorinha, cabelos bem grisalhos, ar professoral e que explicou a uma debochado "repórter" que Lula, Alexandre de Moraes e todos os demais membros do tual governo são clones ou coisa parecida porque os reais que existiram foram cooptados ou sequestrados por extraterrestres que estão em seus lugares hoje, aguardando o momento certo para se revelarem e darem sequência ao projeto de captura do Brasil. Não sei ao certo onde fica o bolsnarismo e seu líder maior nesse projeto. Talvez nem ela...

De qualquer forma o 7 de setembro mais distópico de todos os tempos, capaz de colocar no bolso a excelente história de "O último azul" também foi marcado por apostas num futuro sem boas perspectivas. Como foi o caso do carioca governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, que vestiu a farda de extremista de direita, pediu Bolsonaro para presidente em 2026, chamou o ministro Alexandre de Moraes de tirano e disse que ninguém mais o suporta. Ou aguenta. Se ele pretende governar o Brasil, o caminho traçado é um túnel sem luz ao final. Pelo menos num país democrático. E a menos que a exemplo de seu líder e capo di tutti capi, a ideia seja depois pedir desculpas, dizer que falou sem pensar e que está tentando se conter de agora em diante.

Foi um 7 de setembro distópico, com certeza. E vai ter consequências além do julgameno que deve terminar sexta-feira no Supremo Tribunal Federal. Com taxas de Trump ou não.   

5 de setembro de 2025

Um Frankenstein da política

 

Há no Brasil de hoje, esse da política cheia de ódio e pobre de boas propostas, algumas pessoas que não sabem ao certo o que estão fazendo em seus cargos públicos. Um deles é o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, militar reformado, levado à cena pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, carente de planos e projetos e que recentemente disse não acreditar na Justiça. Ele é um Frankenstein do exercício do poder no Brasil e, inclusive, já disse em mais de uma oportunidade que sem esse ex-governante não seria nada. Está certo. Mas será que ele é alguma coisa em nosso cenário político atual?

Recentemente o governador enviou à Assembleia Legislativa de seu (sic!) Estado um projeto já aprovado e que vende 720 mil hectares de terras públicas devolutas a fazendeiros com até 90 por cento de desconto sobre o preço de mercado. Coisa como a gente entregar um bem de R$ 100.000,00 por R$ 10.000,00. Negócio da China, mais do que de pai para filho. No total, a renúncia de patrimônio público somado durante o governo desse cidadão pode chegar aos R$ 7,6 bilhões. Ele vende tudo o que é do Estado. Na prática isso quer dizer grilagem de terras com entrega dessas a latifundiários improdutivos de São Paulo, alguns dos quais respondem a processos, mas que ainda assim são a base de apoio político de Freitas. Como se não bastasse isso ainda ressuscitou a Polícia mais letal do mundo. 

E não é só isso. A imprensa descobriu que alguns dos auxiliares diretos do governador, como secretários de Estado por exemplo, mais do que dobraram seu patrimônio pessoal em um ano. Isso sem ganhar na MegaSena... O que fez esse Frankenstein político brasileiro? Proibiu a divulgação de dados sobre o patrimônio pessoal de todos os seus mais próximos auxiliares. E os dele também, óbvio. Isso vai de encontro a uma prática comum no Brasil e também gerantida pela Lei de Acesso à Informação e que determina aos detentores de cargos públicos divulgar seus patrimônios anualmente como forma de provarem que exercem os mandatos com lisura. Tarcício quer fazer assim? Claro que não quer.

É esse o tipo de figura dominante na política brasileira dos dias atuais. Como ele consegue fazer com que seus projetos mais estapafúrdios sejam aprovados pela Assembleia Legislativa? Simples: a imensa maioria está cooptada e filiada a partidos ligados à extrema direita brasileira. São atrelados ao governador e a seu projeto de poder graças ao fato de que, assim agindo, ficam no mesmo espectro ideológico do chefe do Executivo, embora sem saber o que isso significa, e ainda podem usufruir de cargos públicos no Estado. Se o governador se eleger presidente, esse exercício de poder de barganha passa ao nível federal. Assim é no Brasil descarado de hoje, projeto pronto e acabado de Jair Bolsonaro.

Sim, o sonho de Tarcísio é ser presidente da República ano que vem. Sabe que seu criador, Vitor Frankenstein, o moldou a partir de restos mortais reunidos de diversas figuras desprezíveis de onde ele habita desde sempre e agora quer ter uma cara só sua, mesmo com cicatrizes e parafusos. Graças a isso declara a quem quiser ouvir que não acredita na Justiça e pretende a anistia para todos os envolvidos na tentativa de golpe de Estado mais recente do Brasil. Sabe que essa anistia é inconstitucional sob muitos aspectos e será derrubada ao final, mas seu projeto envolve  aumentar a instabilidade política nesse País.

Sabe igualmente que a Justiça está fazendo seu papel, como sempre acertando e errando, mas dizer que não cre nela o torna próximo da extrema direita brasileira, ávida para destruir o Supremo Tribunal Federal e, a partir daí, moldar um país onde o poder ou não precise se submeter às leis ou as tenha representadas por vassalos de seu projetos pessoais e de Estado. Simples assim. E também esse é o objetivo de gente como Sóstenes Cavalcanti, Ciro Nogueira e mais uma carrada de medíocres como alguns capixabas tipo Magno Malta, Marcos do Val, Gilvan da Federal, Evair de Melo, Messias Donato, Amaro Neto, etc.

Tem tudo para dar errado, mas eles vão tentar.     


      


     

3 de setembro de 2025

O Brasil que não conhecemos

 

Imagine um filme que seja nossa cara. E além de tudo a cara do Brasil e daquele país que nós pouco ou nada conhecemos, nos cafundós da Amazônia. Estou falando de "O último azul", de Gabriel Mascaro, vencedor do prêmio máximo de Melhor Filme Íbero-Americano de Ficção no México e de melhor atriz para a atriz principal. É a história de Teresa, mulher de 77 anos vivida por Denise Weinberg, ótima interpretação e que na foto acima aparece em uma cena junto com Rodrigo Santoro. Além deles a película também tem Miriam Socarrás e uma história distópica da sociedade que decide obrigar os idosos dos 75 anos em diante a serem enviados para um exilío forçado onde vão esperar a morte para que os jovens possam produzir em paz. Claro, isso não existe, mas podemos estar caminhando para lá.

A distopia é o inverso da utopia. Trata-se de termo vindo do grego "dys-tópos", lugar ruim, condição de miséria, opressão, autoritarismo e desespero, como uma crítica social e alerta sobre o futuro. Teresa, o personagem de Denise, não quer isso. Velhinha do balacobaco, ela foge porque quer voar. Literalmente. E corre para sua aventura chamada liberdade. O projeto dessa sociedade distópica é maquiavélico, mas é melhor não contar os detalhes para que você vá ver o filme. Não se trata de um tapa na cara como "Ainda estou aqui", até porque a obra é ficcional. Mas ela tem substância, faz pensar e isso não vinha sendo comum no cinema brasileiro até pouco tempo atrás, mesmo nas melhores obras.

O que é o azul? Trata-se de um caracol da baba azul, animal mágico, em estado de extinção e que não existe verdadeiramente na natureza. Foi inventado para essa narrativa. Sua baba tem que ser pingada no olho como uma espécie de colírio que leva a visões. Teresa quer isso. Quer qualquer coisa que não signifique se submeter aos ditames de um estado totalitário e que considera os velhos como seres descartáveis. Imprestáveis. Para embarcar na sua aventura ela encontra uma parceira vivida por Miriam Socarrás e seu barco onde são vendidas bíblias digitais com a promessa do paraíso. Aliás, todos os falsos profetas prometem isso, estejam onde estiverem. Até e principalmente em Brasília.

Esse aparente resgate do cinema nacional é oportuno porque se contrapõe ao momento negacionista que estamos vivendo no Brasil de pouco brilho intelectual e muita distopia política. O filme é de ficção, mas o que ele mostra são pessoas que podem resistir, mesmo passivamente, a condições adversas e ainda se essas vierem na forma de gaiolas que as levam à força para os lugares onde vão esperar a morte porque, e isso é inevitável, ela vai chegar para todos aqueles que vivem. Só não deveria ser dessa forma.         

2 de setembro de 2025

Anistia nunca mais!


Se houver anistia para os criminosos da tentativa da golpe militar no Brasil, mais um deles, seus autores ou descendentes vão tentar de novo. Não desistirão de seus próximos sonhos de aquarteladas, pois isso está embutido no cerne da política brasileira e na cultura da nossa vida militar desde o final do Império, em fins do século XIX. E notem bem: os golpistas brasileiros estão sempre na extrema direita do espectro político nacional, embutidos na série de partidos de aluguel usados desde muito como seu abrigo.

Assim é hoje como foi ontem. E quem são esses novos pregadores da destruição da nossa democracia? São out siders, na maioria dos casos, chegados ao poder pelas mãos de Bolsonaro, um saudosista do passado mais recente de ditadura do Brasil, como é o caso do governador de São Paulo, Tarsísio de Freitas, carioca levado para lá terras paulistas pelo ex-presiente e que, vez ou outra, diz candidamente que não seria nada sem seu patrono. E com ele, conseguiu fazer renascer a polícia mais letal do nosso país, levando a cabo aquele velho princípio do "bandido bom é bandido morto". Contanto seja pobre e preto.

Hoje pela manhã falaram o relator do processo, ministro Alexandre de Moraes e o Procurador Geral da República, Paulo Gonet Branco. O primeiro relatou as peças dos autos e o segundo mostrou porque não se pode simplesmente perdoar os golpistas. Numa fala brilhante. Paralelamente a isso, parlamentares sobretudo da extrema direita do espectro político brasileiro iam para o Congresso Nacional, a maioria vestidos de verde e amarelo, defender anistia. Defender o indefensável, que mais uma vez façamos vista grossa para o golpismo, como se nada houvesse ou se, como dizem os gaiatos, tudo não tivesse passado de um passeio no parque.

Domingo mesmo o ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal teve que ser defendido dentro de um avião que o transportava de São Luís para Brasília porque corria o risco de ser agredido por uma doidivana enlouquecida. Assim vive hoje parte da população brasileira, inconformada pelo fato de seu "mito" estar para ser preso porque tentou destruir a democracia brasileira. E fez isso desde que chegou ao poder está provado nos autos dos processos que enfrenta juntamente com seu sete capangas próximos

Ele sobrevive ilusões porque tem ao seu lado o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Esse diz que conhece todo mundo que é honesto. Talvez como ele, que roubou e levou para casa documentos secretos do governo de seu país quando deixou a presidência concluído o primeiro mandato e ainda incentivou seguidores a invadir o Congresso dos Estados Unidos num episódio no qual foi anistiado e houve três mortes. Todos os fascinoras que estavam com ele receberam anistia também.

Esses criminosos são muito inocentes. E me fazem lembrar a piada do ladrão que entrou no quintal do vizinho e roubou um bacurinho, um filhote de porco. Quando estava saindo foi supreendido pela Polícia.

- Ladrão, estava roubando o porco - disse o policial.

- Porco? Que porco?- perguntou o ladrão.

- Esse no seu ombro - respondeu.

- Tira esse bicho daqui, tira esse bicho daqui - gritou ele.

Os grandes constitucionalistas dizem que não existe anistia para crimes de tentativa de golpe de Estado e dissolução do Estado Democrático e de Direito. 

30 de agosto de 2025

O cuidado é necessário!

 

Muita gente considerou exagerado a Polícia Federal monitorar a casa de Bolsonaro no jardim da entrada com policiais sem armas à mostra (foto acima) e ainda tendo o direito de fiscalizar porta malas de carros que chegam e saem de lá nesses dias que antecedem o julgamento dele e de mais outros membros do Núcleo Crucial da trama golpista do 08 de janeiro de 2023. Não é. Todo mundo sabe que ele tentaria se refugiar em uma embaixada "amiga" das tantas que existem em Brasília. Só não faz isso, creio, pelo mesmo motivo que o levou a desistir de tentar o golpe sem apoio das Forças Armadas, como esperava: tem medo. Muito medo. Até de ser surpreendido tentanto fugir.

O filho Carlos, que foi visitar o pai um dia desses deu entrevista depois dizendo que o ex-presidente genocida e inelegível está hoje deprimido, emagracendo e sem conseguir comer. Pelo visto, nem pão de sal com leite condensado. Um panorama diferente do antigo Jair que enfrentava a todos, desacatava quem se pusesse no seu caminho e tentasse contestar quaisquer de suas certezas, geralmente idiotas. Como as da época da pandemia, quando mais de 700 mil brasileiros morreram sem ter os cuidados necessários à sobrevivência. Ou então sendo tratados com remédios sabidamente sem efeito nesses casos.

Você tem pena de Bolsonaro? Eu não tenho.

Existe uma carrada de provas nos processos que correm na Justiça mostrando todo o envolvimento dele nos episódios de 08 de janeiro. Mais: provas de que aquela tentativa de destruição de símbolos nacionais aconteceu sob supervisão dele, além do que nesse dia viveu-se apenas o corolário do projeto de golpe de Estado. O ex-presidente sonhou com ele desde seu primeiro ano de governo, quando citava o artigo 142 da Constituição quase todos os dias, principalmente quando sentia que estava perdendo apoio no Poder Legislativo. Sua resposta às críticas e à não sujeição a seu projeto ditatorial era a corrosão da democracia e a violência. Quase exatamente o que faz hoje Donald Trump nos Estados Unidos, apenas com a diferença de que o principal inimigo deste é o Judiciário. O brasileiro se voltou contra os que interpretam e fazem cumprir as leis somente quando eles fizeram dele presa.

Estamos muito próximos do dia do início do julgamento mas, nessa "ditadura" como dizem os golsonaristas, respeita-se as leis o tempo todo, o rito processual vai ser cumprido integralmente e, condenado, o réu pode só conhecer uma cela em fins de novembro ou início de dezembro. Até lá poderá espernear à vontade. O choro é livre.

E também até lá todas as atenções estarão voltadas para a Casa Branca e a capacidade do presidente dos Estados Unidos de conspirar contra nossa democracia. Não sabemos ainda o que virá, mas sim que o Brasil deve resistir a tudo sem ceder um milímetro. E também que ao menos dois criminosos, Eduardo Bolsonaro e Paulo Figueiredo devem estar na alça de mira das leis brasileiras. Eles terão contas a ajustar. E vão ajustar, sim.

Dia 02 de setembro vem aí. Está chegando!