5 de setembro de 2025

Um Frankenstein da política

 

Há no Brasil de hoje, esse da política cheia de ódio e pobre de boas propostas, algumas pessoas que não sabem ao certo o que estão fazendo em seus cargos públicos. Um deles é o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, militar reformado, levado à cena pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, carente de planos e projetos e que recentemente disse não acreditar na Justiça. Ele é um Frankenstein do exercício do poder no Brasil e, inclusive, já disse em mais de uma oportunidade que sem esse ex-governante não seria nada. Está certo. Mas será que ele é alguma coisa em nosso cenário político atual?

Recentemente o governador enviou à Assembleia Legislativa de seu (sic!) Estado um projeto já aprovado e que vende 720 mil hectares de terras públicas devolutas a fazendeiros com até 90 por cento de desconto sobre o preço de mercado. Coisa como a gente entregar um bem de R$ 100.000,00 por R$ 10.000,00. Negócio da China, mais do que de pai para filho. No total, a renúncia de patrimônio público somado durante o governo desse cidadão pode chegar aos R$ 7,6 bilhões. Ele vende tudo o que é do Estado. Na prática isso quer dizer grilagem de terras com entrega dessas a latifundiários improdutivos de São Paulo, alguns dos quais respondem a processos, mas que ainda assim são a base de apoio político de Freitas. Como se não bastasse isso ainda ressuscitou a Polícia mais letal do mundo. 

E não é só isso. A imprensa descobriu que alguns dos auxiliares diretos do governador, como secretários de Estado por exemplo, mais do que dobraram seu patrimônio pessoal em um ano. Isso sem ganhar na MegaSena... O que fez esse Frankenstein político brasileiro? Proibiu a divulgação de dados sobre o patrimônio pessoal de todos os seus mais próximos auxiliares. E os dele também, óbvio. Isso vai de encontro a uma prática comum no Brasil e também gerantida pela Lei de Acesso à Informação e que determina aos detentores de cargos públicos divulgar seus patrimônios anualmente como forma de provarem que exercem os mandatos com lisura. Tarcício quer fazer assim? Claro que não quer.

É esse o tipo de figura dominante na política brasileira dos dias atuais. Como ele consegue fazer com que seus projetos mais estapafúrdios sejam aprovados pela Assembleia Legislativa? Simples: a imensa maioria está cooptada e filiada a partidos ligados à extrema direita brasileira. São atrelados ao governador e a seu projeto de poder graças ao fato de que, assim agindo, ficam no mesmo espectro ideológico do chefe do Executivo, embora sem saber o que isso significa, e ainda podem usufruir de cargos públicos no Estado. Se o governador se eleger presidente, esse exercício de poder de barganha passa ao nível federal. Assim é no Brasil descarado de hoje, projeto pronto e acabado de Jair Bolsonaro.

Sim, o sonho de Tarcísio é ser presidente da República ano que vem. Sabe que seu criador, Vitor Frankenstein, o moldou a partir de restos mortais reunidos de diversas figuras desprezíveis de onde ele habita desde sempre e agora quer ter uma cara só sua, mesmo com cicatrizes e parafusos. Graças a isso declara a quem quiser ouvir que não acredita na Justiça e pretende a anistia para todos os envolvidos na tentativa de golpe de Estado mais recente do Brasil. Sabe que essa anistia é inconstitucional sob muitos aspectos e será derrubada ao final, mas seu projeto envolve  aumentar a instabilidade política nesse País.

Sabe igualmente que a Justiça está fazendo seu papel, como sempre acertando e errando, mas dizer que não cre nela o torna próximo da extrema direita brasileira, ávida para destruir o Supremo Tribunal Federal e, a partir daí, moldar um país onde o poder ou não precise se submeter às leis ou as tenha representadas por vassalos de seu projetos pessoais e de Estado. Simples assim. E também esse é o objetivo de gente como Sóstenes Cavalcanti, Ciro Nogueira e mais uma carrada de medíocres como alguns capixabas tipo Magno Malta, Marcos do Val, Gilvan da Federal, Evair de Melo, Messias Donato, Amaro Neto, etc.

Tem tudo para dar errado, mas eles vão tentar.     


      


     

3 de setembro de 2025

O Brasil que não conhecemos

 

Imagine um filme que seja nossa cara. E além de tudo a cara do Brasil e daquele país que nós pouco ou nada conhecemos, nos cafundós da Amazônia. Estou falando de "O último azul", de Gabriel Mascaro, vencedor do prêmio máximo de Melhor Filme Íbero-Americano de Ficção no México e de melhor atriz para a atriz principal. É a história de Teresa, mulher de 77 anos vivida por Denise Weinberg, ótima interpretação e que na foto acima aparece em uma cena junto com Rodrigo Santoro. Além deles a película também tem Miriam Socarrás e uma história distópica da sociedade que decide obrigar os idosos dos 75 anos em diante a serem enviados para um exilío forçado onde vão esperar a morte para que os jovens possam produzir em paz. Claro, isso não existe, mas podemos estar caminhando para lá.

A distopia é o inverso da utopia. Trata-se de termo vindo do grego "dys-tópos", lugar ruim, condição de miséria, opressão, autoritarismo e desespero, como uma crítica social e alerta sobre o futuro. Teresa, o personagem de Denise, não quer isso. Velhinha do balacobaco, ela foge porque quer voar. Literalmente. E corre para sua aventura chamada liberdade. O projeto dessa sociedade distópica é maquiavélico, mas é melhor não contar os detalhes para que você vá ver o filme. Não se trata de um tapa na cara como "Ainda estou aqui", até porque a obra é ficcional. Mas ela tem substância, faz pensar e isso não vinha sendo comum no cinema brasileiro até pouco tempo atrás, mesmo nas melhores obras.

O que é o azul? Trata-se de um caracol da baba azul, animal mágico, em estado de extinção e que não existe verdadeiramente na natureza. Foi inventado para essa narrativa. Sua baba tem que ser pingada no olho como uma espécie de colírio que leva a visões. Teresa quer isso. Quer qualquer coisa que não signifique se submeter aos ditames de um estado totalitário e que considera os velhos como seres descartáveis. Imprestáveis. Para embarcar na sua aventura ela encontra uma parceira vivida por Miriam Socarrás e seu barco onde são vendidas bíblias digitais com a promessa do paraíso. Aliás, todos os falsos profetas prometem isso, estejam onde estiverem. Até e principalmente em Brasília.

Esse aparente resgate do cinema nacional é oportuno porque se contrapõe ao momento negacionista que estamos vivendo no Brasil de pouco brilho intelectual e muita distopia política. O filme é de ficção, mas o que ele mostra são pessoas que podem resistir, mesmo passivamente, a condições adversas e ainda se essas vierem na forma de gaiolas que as levam à força para os lugares onde vão esperar a morte porque, e isso é inevitável, ela vai chegar para todos aqueles que vivem. Só não deveria ser dessa forma.         

2 de setembro de 2025

Anistia nunca mais!


Se houver anistia para os criminosos da tentativa da golpe militar no Brasil, mais um deles, seus autores ou descendentes vão tentar de novo. Não desistirão de seus próximos sonhos de aquarteladas, pois isso está embutido no cerne da política brasileira e na cultura da nossa vida militar desde o final do Império, em fins do século XIX. E notem bem: os golpistas brasileiros estão sempre na extrema direita do espectro político nacional, embutidos na série de partidos de aluguel usados desde muito como seu abrigo.

Assim é hoje como foi ontem. E quem são esses novos pregadores da destruição da nossa democracia? São out siders, na maioria dos casos, chegados ao poder pelas mãos de Bolsonaro, um saudosista do passado mais recente de ditadura do Brasil, como é o caso do governador de São Paulo, Tarsísio de Freitas, carioca levado para lá terras paulistas pelo ex-presiente e que, vez ou outra, diz candidamente que não seria nada sem seu patrono. E com ele, conseguiu fazer renascer a polícia mais letal do nosso país, levando a cabo aquele velho princípio do "bandido bom é bandido morto". Contanto seja pobre e preto.

Hoje pela manhã falaram o relator do processo, ministro Alexandre de Moraes e o Procurador Geral da República, Paulo Gonet Branco. O primeiro relatou as peças dos autos e o segundo mostrou porque não se pode simplesmente perdoar os golpistas. Numa fala brilhante. Paralelamente a isso, parlamentares sobretudo da extrema direita do espectro político brasileiro iam para o Congresso Nacional, a maioria vestidos de verde e amarelo, defender anistia. Defender o indefensável, que mais uma vez façamos vista grossa para o golpismo, como se nada houvesse ou se, como dizem os gaiatos, tudo não tivesse passado de um passeio no parque.

Domingo mesmo o ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal teve que ser defendido dentro de um avião que o transportava de São Luís para Brasília porque corria o risco de ser agredido por uma doidivana enlouquecida. Assim vive hoje parte da população brasileira, inconformada pelo fato de seu "mito" estar para ser preso porque tentou destruir a democracia brasileira. E fez isso desde que chegou ao poder está provado nos autos dos processos que enfrenta juntamente com seu sete capangas próximos

Ele sobrevive ilusões porque tem ao seu lado o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Esse diz que conhece todo mundo que é honesto. Talvez como ele, que roubou e levou para casa documentos secretos do governo de seu país quando deixou a presidência concluído o primeiro mandato e ainda incentivou seguidores a invadir o Congresso dos Estados Unidos num episódio no qual foi anistiado e houve três mortes. Todos os fascinoras que estavam com ele receberam anistia também.

Esses criminosos são muito inocentes. E me fazem lembrar a piada do ladrão que entrou no quintal do vizinho e roubou um bacurinho, um filhote de porco. Quando estava saindo foi supreendido pela Polícia.

- Ladrão, estava roubando o porco - disse o policial.

- Porco? Que porco?- perguntou o ladrão.

- Esse no seu ombro - respondeu.

- Tira esse bicho daqui, tira esse bicho daqui - gritou ele.

Os grandes constitucionalistas dizem que não existe anistia para crimes de tentativa de golpe de Estado e dissolução do Estado Democrático e de Direito. 

30 de agosto de 2025

O cuidado é necessário!

 

Muita gente considerou exagerado a Polícia Federal monitorar a casa de Bolsonaro no jardim da entrada com policiais sem armas à mostra (foto acima) e ainda tendo o direito de fiscalizar porta malas de carros que chegam e saem de lá nesses dias que antecedem o julgamento dele e de mais outros membros do Núcleo Crucial da trama golpista do 08 de janeiro de 2023. Não é. Todo mundo sabe que ele tentaria se refugiar em uma embaixada "amiga" das tantas que existem em Brasília. Só não faz isso, creio, pelo mesmo motivo que o levou a desistir de tentar o golpe sem apoio das Forças Armadas, como esperava: tem medo. Muito medo. Até de ser surpreendido tentanto fugir.

O filho Carlos, que foi visitar o pai um dia desses deu entrevista depois dizendo que o ex-presidente genocida e inelegível está hoje deprimido, emagracendo e sem conseguir comer. Pelo visto, nem pão de sal com leite condensado. Um panorama diferente do antigo Jair que enfrentava a todos, desacatava quem se pusesse no seu caminho e tentasse contestar quaisquer de suas certezas, geralmente idiotas. Como as da época da pandemia, quando mais de 700 mil brasileiros morreram sem ter os cuidados necessários à sobrevivência. Ou então sendo tratados com remédios sabidamente sem efeito nesses casos.

Você tem pena de Bolsonaro? Eu não tenho.

Existe uma carrada de provas nos processos que correm na Justiça mostrando todo o envolvimento dele nos episódios de 08 de janeiro. Mais: provas de que aquela tentativa de destruição de símbolos nacionais aconteceu sob supervisão dele, além do que nesse dia viveu-se apenas o corolário do projeto de golpe de Estado. O ex-presidente sonhou com ele desde seu primeiro ano de governo, quando citava o artigo 142 da Constituição quase todos os dias, principalmente quando sentia que estava perdendo apoio no Poder Legislativo. Sua resposta às críticas e à não sujeição a seu projeto ditatorial era a corrosão da democracia e a violência. Quase exatamente o que faz hoje Donald Trump nos Estados Unidos, apenas com a diferença de que o principal inimigo deste é o Judiciário. O brasileiro se voltou contra os que interpretam e fazem cumprir as leis somente quando eles fizeram dele presa.

Estamos muito próximos do dia do início do julgamento mas, nessa "ditadura" como dizem os golsonaristas, respeita-se as leis o tempo todo, o rito processual vai ser cumprido integralmente e, condenado, o réu pode só conhecer uma cela em fins de novembro ou início de dezembro. Até lá poderá espernear à vontade. O choro é livre.

E também até lá todas as atenções estarão voltadas para a Casa Branca e a capacidade do presidente dos Estados Unidos de conspirar contra nossa democracia. Não sabemos ainda o que virá, mas sim que o Brasil deve resistir a tudo sem ceder um milímetro. E também que ao menos dois criminosos, Eduardo Bolsonaro e Paulo Figueiredo devem estar na alça de mira das leis brasileiras. Eles terão contas a ajustar. E vão ajustar, sim.

Dia 02 de setembro vem aí. Está chegando!               

27 de agosto de 2025

As democracias dependem de nós


"Apesar de suas enormes diferenças, Hitler, Mussolini e Chávez percorreram caminhos que compartilham semelhanças espantosas para chegar ao poder. Não apenas porque todos eles eram outsiders com talento para capturar a atenção pública, mas cada um ascendeu ao poder porque políticos do establishment negligenciaram os sinais de alerta e, ou bem lhes entregaram o poder (Hitler e Mussolini) ou então lhes abriram a porta (Chávez). A abdicação de responsabilidades políticas da parte de seus líderes marca o primeiro passo de uma nação rumo ao autoritarismo."

Esse pequeno trecho acima foi retirado do livro "Como as democracias morrem", de Steven Levitsky e Daniel Ziblatt. A obra, um best-seller, serve de alerta às democracias do século XXI. Nos diz não apenas dos três ditadores citados nominalmente, mas tambem daqueles que, copiando ou não a receita, servem de modelos, fracassados (Jair Bolsonaro) ou em atividade (Donald Trump) no  mundo moderno onde o extremismo político de direita emerge nos assutando a todos, mesmo sendo de esquerda, como no caso citado do venezuelano. E não apenas pela importância dos países nos quais ela se apresenta, mas também porque sua ocorrência em um (Israel) é difícil de ser explicada à luz da lógica.

Os israelenses, inclusive os não sionistas, guardam com rigor religioso seus espaços de culto à memória do holocausto. E é preciso olhar para isso: no caso deles essa memória se refere apenas aos seis milhões de judeus mortos pelos nazistas durante a II Guerra Mundial e não a todos os seres humanos massacrados pela máquina de genocídio alemã de 1939 a 1945, composta também de presos políticos, deficientes físicos e mentais, negros, ciganos, mendigos, enfim, toda a gama de "sub-humanos", seres inferiores na crença deles. No total, acredita-se que cerca de 14 milhões foram mortos nesse período. Mas eles não são contados. Aos sionistas interessa isso, sobretudo porque palestinos também acabaram massacrados.

Talvez por esse motvivo e por tudo o que estamos passando nos tempos atuais é preciso ter em mente que as democracias são frágeis. Todas elas. E depedem de nós para sobreviver.

Ruy Castro, escritor memorialista brasileiro com vasta obra de levantamento de fatos e biografias, escreveu mais recentemente "Trincheira tropical", que conta a história do Rio de Janeiro, então capital da República, durante os anos que antecederam e foram vividos no período da Grande Guerra. Era um microcosmo do que se passava no mundo, sobretudo porque milhares de perseguidos daqueles tempos, inclusive judeus, aportaram nos arredores da Baía da Guanabara para fugir a um destino cruel. E vivíamos tempos de grande turbulência marcada pela luta entre fascismo, comunismo e democracia num Brasil onde Getúlio Vargas dirigia uma ditadura feroz, principalmente na área da censura a quase tudo.

Notem que fascismo, comunismo e democracia eram movimentos diferentes de hoje, sobretudo o comunismo, então intimamente ligado ao stalinismo que vigorava na então União Soviética. Foi justamente o cisma gerado pelo stalinsimo que provocou o surgimento do Partido Comunista Brasileiro (PCB) em oposição ao Partido Comunista do Brasil (PCdoB) em 1960, na ruptura do V Congresso. Assim como aconteceu com essa corrente de pensamento, modificou-se também a estrutura das democracias representativas. Parado no tempo ficaram o nazismo e o fascismo, ou o nazifascismo que hoje tenta voltar à cena política trazendo mais uma vez aos países o ódio vestido de racismo, homofobia, etc.

Esse entulho do pensamento totalitário e que carrega consigo todos os germes de crimes, políticos ou não, nos anos 1930/40 precisou de uma guerra recordista em mortes para ser pretensamente sepultado. Mas hoje retorna com força pelas mãos dos nazistas sionistas encastelados em Israel e sustentados sem freios pela política dos Estados Unidos que os abastece com as armas mais modernas que existem para eles poderem continuar seu projeto gennocida de limpeza étnica na Faixa de Gaza e na Cisjordânia ocupadas ilegalmente.

Talvez tenha faltado ao presidente Lula sutileza quando disse que os sionistas de Israel cometiam genocídio da mesma forma como foram vítimas dele no passado, faro meio que representado na imagem protesto que abre esse texto. Isso não é questão de números, é de método! E o ministro sionista Israel Katz, que nos chama antisemitas, precisa saber da diferença entre antisemitismo e antisionismo. Mas isso não interessa a ele, que se comporta como porteiro de boate. A nota da Chancelaria brasileira em resposta ao ataque de que fomos vítimas, classificando a agressão sionista como "ofensas, inverdades e grosserias inaceitáveis", rompe com tradições de nossa duplomacia, mas restabelece a verdade.

É preciso estar atento e forte. As democracias dependem de nós.         

25 de agosto de 2025

Um risco calculado?


São muitas as pessoas que escrevem sobre o risco de o ex-presidente Jair Bolsonaro fugir da casa onde mora e se encontra em prisão domiciliar para se refugiar em alguma embaixada como, por exemplo, a dos Estados Unidos (foto). Com Donald Trump na presidência daquele país esse seria o endereço ideal para o réu às vesperas de julgamento pelo Supremo Tribunal Federal. Afinal, do Condomínio Solar de Brasília, no Jardim Botânico, até a embaixada dos EUA, no setor de Embaixadas Sul 801, ASA Sul, são dez minutos de carro. E não há à vista de ninguém vigilância alguma, ostensiva ou não, sobre o quase presidiário.

Seria isso um risco calculado? Há algum esquema que a gente desconhece capaz de surpreender uma possível tentativa de obter refúgio em embaixada por parte desse sujeito? De hoje até 02 de setembro, dia do início do julgamento dos réus do Grupo Crucial da tentativa de golpe de Estado de 08 de janeiro de 2023 faltam apenas 08 dias. Para quem quer fugir ao julgamento e à responsabilidade por seus crimes a hora é agora! É esta!

Bolsonaro é uma figura tosca. Desprovido de cultura geral, grosseiro, raso em praticamente todas as questões, tem também traços de sociopatia segundo muitos psicólogos que o avaliam em todas as suas intervenções. Mas, por incrível que pareça, possui um capital político muito grande. Já foi maior, mas ainda assim é representado por um imenso contingente e brasileiros indigentes em conhecimentos gerais ou então politicamente reacionários. Os que cultivam pneus, colocam celulares na cabeça para falar com extra terrestres, desfilam como militares em frente a quartéis e produzem muitas outras bizarrices.

Talvez por tudo isso e quem sabe por lembranças saudosas de um 07 de setembro, quando numa fala diante de milhares da pessoas na Avenida Paulista, em São Paulo, garantiu que jamais acataria ordens do STF e citou nominalmente o ministro Alaxandre de Moraes, ele ainda sonhe com a volta ao poder para poder terminar sua obra (sic!). Para isso conta com a ajuda de pessoas absurdamente fascistas como o governador de São Paulo, Tracísio de Freitas. Aliás, sobre esse é preciso admitir que fala uma verdade sempre que declara amor eterno ao ex-presidente: reconhece que sem ele não seria nada hoje. No futuro, quem sabe volte a não ser...

Sábado último, no restaurante de bairro onde fui almoçar, um cidadão de idade avançada sentou-se à minha frente. Na cabeça levava um boné verde e amarelo com dizeres bordados: "Anistia Já". É um slogan que desconhece as leis vigentes no Brasil, mas que ainda assim pode ser ostentado com orgulho por algumas pessoas. Talvez elas sonhem com uma fuga para embaixada (e esse ex gosta delas...) e logo em seguida haja um pedido de salvo conduto dirigido ao governo brasileiro, ele tenha que ser negado e isso gere mais um contencioso internacional envolvendo nosso país. É tudo o que querem...       

A questão envolvendo o réu do dia 02 de setembro está agora com a PGR, que se manifestará sobre a prisão preventiva ou não da infecta figura. Talvez tudo fique como está até o julgamento próximo, pois o reú sabidamente tem limitações sérias de saúde física, além da mental. Bolsonaro sabe disso e é provável que essa quase certeza dê a ele um pouco mais de tranquilidade para dormir à noite. Mas também tem consciência de estar a apenas dez minutos de distância de carro da "sucursal" do amigo Donald Trump.

Esse é o risco e o sonho!  


22 de agosto de 2025

Como pode um peixe vivo...


- Eu rezei tanto para esse homem não morrer durante meu governo...

Com esse lamento o "presidente" Ernesto Geisel, um dos membros da ditadura militar 1964/85 reagiu à notícia de que o ex-presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira havia morrido num acidente automobilístico na Via Dutra, em Resende, quando se deslocava de São Paulo para o Rio de Janeiro. Foi à noite, bem tarde, e provocou um pandemônio nos meios de Comunicação. Um amigo que era repórter de "Veja" recebeu telefonema de convocação: "Para a redação, agora!". A revista tinha acabado de ser impressa, ia começar a ser distribuída a estava "velha". Era preciso fazer outra a toque de caixa para atualizar o material, pois quem havia morrido era o homem responsável pela construção de Brasília, nossa Capital Federal. Não era pouca coisa, claro, mesmo durante uma ditadura militar um monumento ia embora.

Cerca de um ano antes, recordo-me de ter ido a um teatro de São Paulo ver show de José de Vasconcelos. Um humorista que não falava palavrão e nos seus espetáculos era comum ver famílias inteiras. Em dado momento ele se virou para a platéia e disse que seu sonho era fazer uma apresentação na nossa Capital. Completou: "Quero me apresentar em Brasilândia!" Diante do silêncio das pessoas e da interrupção de uma senhora que disse "Brasília", o humorista esclareceu: "É que até lá Juscelino voltou. E voltando ele faz outra!"

Assim era naqueles tempos... No dia 22 de agosto de 1976, há exatos 49 anos, morria o "pé de valsa" Juscelino, médico da Polícia Militar, mineiro de Diamantina e sobretudo político com mandato de deputado federal, senador, governador de seu Estado Natal e presidente da República de 1956 a 1961. Enfrentou tempos difíceis, uma revolta comandada por militares que queriam dar golpe de Estado e conseguiu desmantelar a aquartelada de Aragarças, também conhecida como "Revoltoso do Veloso" e que sobreviveu de 02 a 04 de dezembro de 1959. Então cometeu um erro crasso: anistiou parte dos amotinados em fevereiro de 1956. Ele já havia sobrevivido a uma tentativa de ameaça ao Estado Democrático e de Direito em 1955 e foi convencido a anistiar os militares de 1959 como uma atitude "conciliatória". Fez isso e muitos dos que foram salvos de Araguarças estavam presentes cinco anos depois no Golpe de 1964 contra João Goulart...

Não se anistia golpistas!

A preocupação de Geisel era justificada. Sem poder impedir que o corpo de Juscelino fosse sepultado no cemitério Campo da Esperança, em Brasília, foi obrigado a ver a multidão de brasileiros que se acotovelaram em torno do local onde estava o corpo, na missa da Catedral de Brasilia (primeira foto) e depois na ida até o cemitério. Todos cantavam a música preferida do ex-presidente: "Como pode um peixe vivo viver fora da água fria; como poderei viver, como poderei viver, sem a sua, sem a sua, sem a sua companhia".

Tempos depois, mais uma vez os milicos da ditadura tiveram crises de chilique quando foi inaugurado o Memorial JK, onde estão hoje os restos mortais do ex-presidente (foto logo acima). Os governantes viam na obra de Oscar Niemeyer uma foice e um martelo... E, pior do que isso, o sacana que criou a Capital mais bonita que existe no mundo ainda ergueu aquele memorial de modo a que os militares o vissem no Eixo Monumental...

Mas Juscelino nunca foi de esquerda. Nem de direita. Político de centro, era um conciliador que adorava ficar nos braços do povo. Populista na forma não demagogica do termo, fez de sua vida uma obra perene. Deixou um legado. E, ao mesmo tempo, esse alerta: não se anistia golpistas. Ele diria isso hoje, se vivo estivesse. Mas iria preferir cantar "Peixe Vivo".

02 de setembro vem aí!