31 de dezembro de 2021

Feliz ano novo para nós!


Os dois homens que você vê na foto não estão andando de moto aquática. Nem se divertindo em Santa Catarina. Eles são moradores da Bahia onde uma grande quantidade de casas, estabelecimentos comerciais, industriais, rurais e outros foram destruídos nos últimos dias pelas chuvas que castigaram aquele Estado brasileiro. Não vão ter um feliz ano novo! Conseguiram salvar suas vidas, o que já é muito. E os dramas deles, de milhares de brasileiros, foram vividos também em outros estados.

Houve, sim, alertas de chuvas fortes. Mas o presidente dessa pobre república estava preocupado em programar suas férias com a família, tudo às custas do povo brasileiro, e não tinha tempo a perder com essa gente pobre que só sabe torrar a paciência dos outros. Por isso ele nem sequer interrompeu a farra familiar. Deu ordens diretas aos seus ministros para não somente irem lá em lugar dele, mas também para voltarem a promover contenciosos contra as vacinas de Covid 19, seja porque agora são para crianças e adolescentes, seja porque destinam-se a estudantes universitários. Que morram todos!

As imagens desse presidente se divertindo no Parque Beto Carreiro com mulher e filha a tiracolo enquanto a população nordestina - principalmente - morre ou fica na miséria mais completa são de cortar o coração. Sobretudo quanto a gente tem que ler declarações dele dadas em rede social e nas quais diz que o Brasil não precisa de ajuda argentina para a Bahia mas, sim, aceita auxílio japonês. E ainda usa de ironia, de deboche, contra o povo de seu País.

Bolsonaro não sente empatia. Também não tem adversários políticos. Ou tem moleques de recados capazes de fazer qualquer coisa ou então vê os semelhantes como inimigos. Assim olha para o presidente da Argentina, Alberto Fernandez. Assim vê quem quer se vacinar e tem receio de morrer infectado por quem não se vacina. Que se danem todos. Ele precisa de seu gado e de sua estupidez.

O presidente do Brasil não apenas jamais sente empatia por seu semelhante como é mau. É cruel. Ele tem prazer em fazer sofrerem as pessoas das quais não gosta. E de subjugar os dejetos sob seu comando. Não vai melhorar, não vai mudar e, tenho certeza, ainda não desistiu do projeto de um golpe de estado. Ainda não o perpetrou porque faltam-lhe força e apoio militar.

Feliz ano novo para você e para todos nós que não somos como ele.            

20 de dezembro de 2021

Viva Chile! Viva a Democracia!


Ontem à noite, enquanto era saudado por milhares de pessoas após ser eleito presidente do Chile aos 35 anos de idade, o ex-deputado descendente de croatas Gabriel Boric discursou agradecendo o esforço de seus correligionários e dizendo também ser grato àqueles que votaram em seu "contendor" pois todos haviam dito "sim" à democracia chilena. Antes disso o extremista de direita e admirador pinochesista José Antonio Kast, o derrotado, havia admitido ter perdido e cumprimentado o vencedor. Isso partido de um político com raízes paternais no nazismo é muito bom.

Vamos demorar um pouco para saber do que Boric é capaz, ainda jovem e à frente de um país em crise e que terá de ser governado sem maioria parlamentar. Mas o jovem de fala clara parece focado, parece disposto a negociar e a apostar no regime democrático que para os chilenos custou tanto sangue, suor e lágrimas num passado ainda não muito distante. O novo presidente não é membro do Partido Comunista Chileno, mas foi eleito com o apoio deste (foto de O Globo). Talvez por isso acredite tanto na democracia e queira apostar num "estado de bem estar social".

Explico: no Chile - como no Brasil - foram os comunistas os maiores construtores da democracia. Estudem um pouco a história mais recente! Depois dos golpes de estado que estupraram as constituições daqui e de lá - de outros países latino-americanos também! -, foi com o suor e o sangue das oposições onde pontificavam os comunistas que a normalidade democrática acabou sendo restabelecida. A democracia que temos hoje é fruto dos esforços desses que são os maiores, os verdadeiros patriotas. E não daqueles que pregaram e pregam as ditaduras, a intervenção sobre o Poder Judiciário e a dissolução pura e simples do Legislativo.

O tempo passa, as coisas mudam. Hoje conceitos como "ditadura do proletariado" estão relegados aos livros de história. Foram uteis às lutas iniciais, mas agora não são mais. Hoje o estado moderno é construído por todas as mãos disponíveis num país como o Chile de Boric. Porque nos tempos de Pinochet isso não seria possível. Naquela época o que contava era a capacidade de o detentor do poder esmagar seus opositores, tivessem eles quaisquer das cores ideológicas existentes.

Foi e é assim, por exemplo, com o indivíduo Bolsonaro. Ele faz de sua vida política uma luta sem quartel contra qualquer pessoa ou grupo que discorde dele. Não admite isso. Ao contrário de Kast, não cumprimentaria seu opositor e vencedor em uma eleição, como não pretende fazê-lo. Ao inverso de Boric, jamais teve a intenção de promover o "estado de bem estar social", pois nele não cabem o golpismo, o autoritarismo, o "milicianismo" e os acordos de grupos, familiares ou não. A ele e aos iguais a ele no mundo moderno, à esquerda ou à direita, está reservado o lixo de história.

Boric não haverá de nos decepcionar e servirá de modelo para nós do ano quem vem em diante. Torço por isso desde ontem à noite, quando fui dormir feliz da vida, leve, livre e solto.

Viva o Chile! Viva a Democracia!             

8 de dezembro de 2021

Quantas desgraças ele ainda vai fazer?


"Essa coleira que querem colocar no povo brasileiro. Cadê a nossa liberdade? Prefiro morrer do que perder a minha liberdade. Tem que ter coragem para falar. Parece que sou o único chefe de Estado no mundo que teve posição diferente. Dizem que toda a unanimidade não é bem-vinda. E o que eu fiz? Estudei, corri atrás..."

O autor dos pensamentos acima é a mesma pessoa que, não muitos anos passados, em uma entrevista dada a um apresentador de TV, ainda deputado federal, disse mais ou menos textualmente: "Eu sou  favor da ditadura, xará! Sou a favor da tortura. Se eu fosse, presidente? Fechava o Congresso na mesma hora. Fechava o Supremo Tribunal Federal" (as imagens existem e qualquer um pode ver).

Pois o autor das frases de ontem diante de uma plateia de puxa-sacos é o mesmo que deu as declarações à TV faz alguns anos. Chama-se Jair Messias Bolsonaro, indivíduo brindado pelo povo brasileiro com o cargo de presidente da República porque o ódio ao PT, sobretudo aos desmandos cometidos durante os governos de Lula e Dilma desaguou na escolha de um psicopata para assumir a presidência.

Eis o resultado!

Bolsonaro sente uma necessidade doentia de ter ou fazer inimigos. Como ao longo da vida ninguém o ensinou a construir pontes, ele só sabe destruí-las. A única que fez não em sentido figurado foi uma pinguela na região amazônica, de madeira, ligando nada a lugar nenhum e cuja cerimônia de inauguração custou aos cofres públicos muito mais dinheiro que a "obra" em si. Dizer que estudou é um absurdo tão grande que seria risível caso não fosse triste.   

Ele também sente necessidade de mentir patologicamente. De deturpar fatos. Um dos últimos destes é dizer que estão tentando fechar o espaço aéreo brasileiro com o passaporte de vacina que teima em não permitir seja dado. Talvez o documento seja exigido com mais mortes de cidadãos, o crescimento da pandemia em território nacional ou uma ordem expressa do Supremo Tribunal Federal que felizmente ele  não teve como fechar.

É um "cavaleiro da triste figura", sem que queiramos comparar sua estatura moral à do personagem de Miguel de Cervantes, Dom Quixote de La Mancha. Bolsonaro vai passar. Como tudo o que não presta, é inútil, só serve para infernizar os outros, irá embora talvez de forma muito mais triste do que chegou na esteira de cometa de uma raiva doentia a um partido politico.

Resta saber quantas desgraças fará até lá.              

2 de dezembro de 2021

O Estado Laico corre risco?


Muito mais do que os discursos extremistas de direita, muito mais do que a homofobia, muito mais do que o ódio e a perseguição aos adversários, temo no governo do atual presidente do Brasil a tentativa de destruição do Estado Laico, uma de nossas maiores virtudes enquanto nação. E causa preocupação ainda maior a suspeita justificável de que o sorriso da foto desse artigo, mostrado ontem durante a sabatina de araque no Senado Federal, seja  mera encenação. Seja cinismo.

Durante a tal sabatina vimos no Senado um André Mendonça distante do pregador evangélico de sempre. Quase um conciliador. Mas depois, no discurso do recém entronizado já surgia no horizonte o sujeito terrivelmente religioso: "É um passo para um homem, um salto para os evangélicos!"

Vou me explicar. O melhor do Estado Laico reside no fato de que todos podem exercer seu credo religioso sem sofrer nenhum tipo de perseguição. Ou não exercer credo algum, como é o meu caso. Só não se pode pregar a dissolução ou a divisão do Estado. Mas sabemos todos, e ninguém é inocente para desconhecer esse fato, que algumas "confissões" ditas evangélicas ambicionam o poder. E o querem para moldar o país às suas crenças, aos seus dogmas e, sobretudo e principalmente, a seu projeto de grupo. Basta ver como são bilionários os donos delas e como as fortunas deles crescem ilegalmente diante de todo mundo e sem que o governo faça nada para coibir tais crimes. Muito pelo contrario...

O que se espera de um ministro do Supremo Tribunal Federal é que ele seja um especialista em direito constitucional e que esteja apto a defender a Constituição em todas as circunstâncias e momentos. Não importa o que para ele é pecado. Isso não vem ao caso. Dane-se! Pede-se apenas que lide com o que é legal.

Vamos descobrir em breve, muito breve, se está hoje no STF um ministro ou um pastor evangélico, terrivelmente evangélico e, pior, a serviço de um governo que odeia quem é adversário, persegue e tenta impor ao Brasil uma camisa de força que o aprisione dentro de suas convicções negacionistas. O Senado resolveu correr o risco, inclusive com o apoio descarado de alguns parlamentares de "esquerda".

Vamos ver a conta a pagar.

21 de novembro de 2021

O voo pirata


A foto acima mostra um Legacy da Força Aérea Brasileira que faz parte do grupamento de transporte aéreo a serviço dos poderes da República, sobretudo autoridades. Tem prefixo VC99B, identificação de cauda FAB2582 e nada teria como notícia caso não fosse agora alvo de investigação pela acusação ter feito um voo pirata para retirar do Brasil, às pressas, o senhor Olavo de Carvalho, astrólogo, "filósofo" ou simplesmente picareta intimado a depor na Polícia Federal. Voou de São Paulo a Nova Iorque onde pousou em um aeroporto pequeno, longe dos olhares indiscretos. Lá o passageiro teria ficado.

Isso é fato de extrema gravidade. Há suspeitas de que o avião foi usado por intervenção do ministro de Estado Fábio Farias. O voo era o BR46. Era época de reuniões internacionais na Europa e muita gente voava ao exterior à custa dos impostos que pagamos. O passageiro Olavo saiu às pressas de um hospital público onde estava internado recebendo tratamento médico VIP ao qual eu e você não temos acesso, fez isso sem sequer se despedir dos médicos que o atendiam e assim fugiu de responder a inquérito ao qual havia sido intimado para explicar a existência de milícias digitais no Brasil a serviço da construção de notícias falsas (fake news) que sustentam o Governo Federal.

Esse fato se deu no dia 16 desse mês e o indivíduo Olavo estava internado no hospital público desde o dia 09 porque não tem plano de saúde nos EUA. Já nos Estados Unidos disse ter retornado às pressas porque disseram a ele ter exatos 15 minutos para sair e ir ao aeroporto embarcar. Isso jamais poderia ter acontecido sem o conhecimento e aprovação de altas autoridades da República. Isso jamais aconteceria num país democrático sólido sem que muita gente pagasse caro pelo crime cometido.

São públicas e notórias as atitudes criminosas cometidas hoje em dia para proteger membros da República, sobretudo os da família Bolsonaro. Nos últimos tempos ao menos 15 delegados da Policia Federal perderam seus cargos por agir para fazer cumprir leis em vigor e investigar. Nos altos escalões todo mundo sabe da pressão sofrida por funcionários investidos em cargos que podem interferir em desmandos cometidos pelo Planalto. E o Supremo Tribunal Federal (STF), tão atacado e achincalhado pelo "gado" parece ser a última trincheira de hoje na defesa da democracia.

O voo BR46 tem que ser investigado. Rápido! Os responsáveis por retirar do País subterraneamente um indivíduo intimado a depor na PF precisam responder por isso. Não é a primeira vez; o apoiador bolsonarista Allan dos Santos deixou o Brasil da mesma forma. Provoca urticária saber, como todos estamos sabendo, que o governo brasileiro não apenas apoia mas também patrocina pirataria aérea, além de muitos outros crimes que estão se tornando banais do final de 2018 para cá.

Até quando? Onde mora hoje o jornalismo investigativo do Brasil?       

19 de novembro de 2021

É notícia? Tenho que dar!


Trabalhei durante 27 anos num jornal diário de Vitória. Ao longo desses anos conheci muita gente digna, aprendi demais com elas, mas também convivi com muitos canalhas. Fazer o quê? O fato é que depois de tanto tempo passei a ter uma definição minha desse mágico termo chamado notícia. Vamos a ela: "Notícia é fato de interesse público". Simples assim. Não importa se gosto, se não gosto, se amo ou detesto a pessoa ou a situação que gerou essa informação. Tenho que dar e ponto final. Em último caso posso exercer o direito à opinião e meter o sarrafo. Mas só depois de noticiar.

Hoje o Jornal Nacional noticiou que o ex-presidente Lula está na Europa sendo recebido pelos  maiores chefes de Estado daquele continente. Gente que jamais recebeu Jair Bolsonaro presta homenagens ao ex-presidente brasileiro até mesmo em parlamentos europeus como pode ser visto na foto que ilustra esse texto. Claro que isso deve incomodar muito ao "bolsonarismo de raiz", já que o atual presidente brasileiro, exceto quando foi a Israel, até hoje só dialogou com ditadores. E adora essa gente!

Bolsonaro não pode reclamar de não ser notícia. Fala-se dele toda hora. Que censurou a Mafalda, que visitou a "Torre de Pizza", que proibiu o termo "golpe de 64" numa questão do Enem preferindo "revolução", que conversou com Jim Carrey durante a Cop 26 e muita coisa mais. Principalmente que "a floresta amazônica, por ser úmida, não pega fogo". Mas que está sendo devastada dia após dia como nunca antes foi visto, isso está. Só que presidente não fala isso. Tadinho, não pode se lembrar de tudo!

Nós vamos enfrentar muito mais até outubro próximo, quando deverão ser realizadas as eleições mais tensas e violentas de todos os tempos no Brasil. Eleições que Bolsonaro não queria ver de forma alguma. Se dependesse dele haveria golpe de Estado. Ou "intervenção militar" como pede aos gritos o gado que o segue para onde quer que ele vá, ainda que seja ao matadouro. Mas, enfim, como os tempos atuais não são mais como 1964, o ano da "revolução", talvez o "chefe de Estado" tenha mesmo que participar de uma festa da democracia contra a vontade. A maior de todas as festas!

E quem concorda comigo em que ele não vai passar a faixa?                          

8 de novembro de 2021

O exterminador do passado


A última viagem internacional do presidente da República foi mais um show de ignorância e isolacionismo. Nessa foto que ilustra o texto, aquele que talvez seja o maior exemplo de tacanhice do chefe de Estado do Brasil: depois de passar por Pisa, na Itália, citou a torre inclinada que é ícone mundial de turismo como sendo a "torre de pizza". Como estava na Toscana, deve ser receita regional... Antes disso já havia estado rapidamente com o enviado especial dos EUA para o clima, John Kerry a quem chamou de Jim Carrey. Aliás, isso não causa surpresa alguma porque o ator canadense citado fez, dentre outros filmes, "Debi & Loide". Bolsonaro pode ser qualquer um dos dois. Ou ambos. 

Triste foi ver o presidente sem interlocutor na reunião do G20 que reunia os maiores chefes de Estado do mundo. Triste e vergonhoso. Ainda mais porque ele foi até garçons que serviam autoridades, pediu água, fez piadas das quais ninguém riu e depois ficou apontando os governantes com o dedo como perguntando quem era quem naquele grupo de pessoas. Na única hora em que falou em público para o presidente da Turquia, que estava junto a outras autoridades, não fez perguntas, recitou temas nacionais brasileiros, citou a Petrobrás, os militares enfiados no governo e causou apenas constrangimentos.

Fez com que jornalistas fossem agredidos, deu mais um de seus espetáculos de falta de respeito para com os semelhantes, entrou em igreja sem ser recebido por religiosos e terminou o périplo de cavaleiro da triste figura no cemitério de Pistoia onde foram sepultados os soldados brasileiros mortos na II Guerra Mundial. Entendeu que ele, um fascista notório e que estava acompanhado por Matteo Salvini, líder fascista italiano, homenageava assim soldados que morreram lutando contra o fascismo.

Agora, novamente acuado no Brasil, vendo suas mais recentes ações sendo contestadas, assistindo ao calvário do presidente da Câmara, seu fiel ajudante de ordens, continua a destilar ódio, a atacar instituições e elegeu a Petrobrás como sua mais nova vítima, como sempre para desviar a atenção das pessoas do que realmente importa no nosso País: a crie institucional. Esse sujeito vive no militarismo de 1964. Os tempos para ele ainda são os de guerra fria e seu sonho dourado continua sendo o golpe de estado que não consegue dar. Vive em tempos outros esse nosso Exterminador do Passado.            

     

21 de outubro de 2021

O universo paralelo


Um dia desses recebi envio de mensagem de pessoa com a qual sempre mantive laços de amizade, embora com abissal distância ideológica. E essa pessoa citava versões inacreditáveis relacionadas a fatos recentes. Procurei então saber de onde vinham as informações e fui parar num tal de "jornaldacidadeonline", um dos muitos "veículos" que abastecem os bolsonaristas de raiz, os membros do gado, da interpretação que eles amam relativamente a acontecimentos do dia a dia. É um horror. Não recomendo a ninguém esse tipo de "passeio".

Tudo começa pelo fato de que eles lutam uma luta sem quartel contra o "comunismo". Encontram comunistas em todos aqueles que não defendem o bolsonarismo, como mostra a imagem que abre esse artigo. E isso me recorda um fato que muitos amigos juram ser verdadeiro: Maurício de Oliveira retornava do Leste da Europa onde havia ganho prêmio internacional com sua magnífica obra "Canção da Paz" e comemorava com amigos num estabelecimento da Praia do Canto. Um advogado conhecido de Vitória entrou na conversa sem ser convidado e perguntou: "Maurício, é verdade que os comunistas comem criancinhas?". O músico respondeu: "Não, fulano, é mentira. Comunistas só comem gente grande, principalmente alguns advogados. Vá até lá que você vai gostar muito deles..."

Nos meios de "comunicação" bolsonaristas abundam os adjetivos. A CPI é chamada de "Circo", os políticos, afora os apoiadores do presidente, de criminosos. O Supremo Tribunal Federal sofre todos os xingamentos possíveis além da afirmação de que ele é composto por dez vagabundos, o que retira da classificação o ministro escolhido pelo presidente. Em tudo surge o apoio evangélico e a afirmação de que os adversários do movimento de raiz querem desvirtuar os caminhos das crianças com sua "educação de gênero".  E vai por aí. Aqui esclareço que notícia se diferencia de artigos como esse meu pelo fato de que a primeira é a descrição de fatos e não deve conter opinião. Essa quem forma é o leitor, ouvinte ou telespectador depois de ter conhecimento dos assuntos.

Enfim, e para a gente não gastar munição com inimigo cego, o apoio incondicional ao presidente é formado por uma seita. E quem adota esses movimentos não muda seu pensamento nem com as evidências colocadas sobre a mesa. Uma pena! Mas resta o consolo de sabermos que seitas geralmente não vencem eleições. É necessário o apoio de outras alas, outras correntes de pensamento político.     

5 de outubro de 2021

O simulacro de presidente

É preciso acreditar que no futuro o Brasil olhará para trás e verá no atual governo, do cidadão Bolsonaro, uma coisa difícil de ser explicada. Um passo fora da curva dado por parte sociedade que de repente acordou com raiva e um partido político, o PT, e de um ex-presidente, Lula, e para afastar seus dois inimigos elegeu um psicopata extremamente perigoso como presidente da República. Um inconsequente capaz de protagonizar a imagem dessa crônica: colocar sobre os ombros uma criança pequena, vestida com farda militar e armada com um simulacro de fuzil. Nada mais absurdo!

Um presidente sempre serve de exemplo para uma imensa quantidade de pessoas que veem nele a imagem do certo, da verdade, ainda que de momento. Esse presidente faz isso. Quem vestiu farda no menino e deu-lhe o simulacro de arma para posar nos ombros do chefe do Executivo assimilou seu triste discurso a favor das armas da "população". Na verdade ele quer armar os donos de áreas rurais, milicianos, outros correligionários e pessoas que numa situação de convulsão social iriam às ruas para tentar um golpe de Estado. Como as corporações policiais e policiais militares, por exemplo.

Essa não é a primeira vez que esse indivíduo comete tal tipo de crime. Em ocasião anterior, tirou a mascara de proteção anti-Covid-19 de outra criança cujos (ir)responsáveis levaram a ato de campanha política fora do tempo legal. Mas hoje seus desatinos somados levaram a ONU a reagir e protestar contra essa patifaria. O presidente deveria se preocupar com a quantidade de reações que ele já acumula, inclusive no plano internacional. Isso pode custar caro. Tanto aqui no Brasil quanto fora dele.

É estranha a sensação de impunidade do presidente. Seus seguidores e assessores mais diretos podem fazer o que quiserem e nada lhes acontece. Para os que se opõem valem as leis mais duras. Ontem mesmo um alto comandante militar instaurou inquérito contra militares filiados ao PT. Ora, trata-se de um partido político legal, de vida pública. E os militares podem se filiar a ele, sim.

O que sustenta Bolsonaro hoje é principalmente o fisiologismo e necessidade de sobrevivência de parte da classe política. Para manter esse apoio que nasce no presidente da Câmara Federal o presidente torra dinheiro do contribuinte numa farra de gastos que nasce em orçamentos secretos e desagua com força nas "offshores" somente agora sendo denunciadas. E enquanto isso acontece a oposição digladia, lutam uns contra os outros por projetos pessoais e não de país. Dessa forma podem acabar dando ao psicopata um segundo mandato que hoje é improvável.

Questão de escolha!
     

20 de setembro de 2021

O educador grande demais


Quase tudo o que poderia ser dito sobre Paulo Freire já está publicado, inclusive nas incontáveis matérias jornalísticas levadas aos leitores no dia de ontem, quando foram completados 100 anos de seu nascimento. Mas nada esgota os assuntos referentes a esse monumental educador brasileiro que morreu há um quarto de século e continua sendo cultuado como se tivesse desaparecido ontem.

Li "Pedagogia do oprimido" faz algumas décadas e jamais me esqueci das lições dadas por Freire no livro onde ele prega uma pedagogia capaz de unir professor, aluno e sociedade. Uma visão inclusiva do ensino como forma de fazer crescer a qualidade intelectual de todo um povo e não apenas dos brancos, ricos e praticantes dessa ou daquela religião. Ele previa a educação de todo mundo e por isso projetava seu trabalho através dos oprimidos. Era duro para madame imaginar uma sociedade onde os filhos de sua empregada doméstica teriam a mesma oportunidade de ingressar na Universidade que seus filhos. Mas era esse o Brasil de nosso maior educador. Era esse o Brasil que incluiria a todos.

Chego a sentir asco hoje quando ouço e vejo o ministro de deseducação do atual governo falando que ensino universitário deve ser para poucos. Dá vontade de vomitar quando ele proclama que os deficientes atrapalham o ensino dos "normais". Mas é exatamente assim que o governo Bolsonaro vê o mundo das famílias "eleitas", das rachadinhas, das filas que são furadas, da economia sempre decidida pela vontade e opinião dos detentores do capital e jamais com a participação do trabalho. No mundo torpe e apoiado por um gado emagrecendo a cada dia o único argumento forte e repetido à exaustão é o pregador o ódio, golpe de Estado, invasão de terras públicas, destruição do meio ambiente e de opositores.

Paulo Freire era e é odiado por essa gente porque sua sombra não pode ser desconhecida. Porque ele e sua pedagogia do oprimido, que tantos destes deserdados tirou do analfabetismo, hoje serve de horizonte para aqueles que jamais vão aceitar o mundo da grilagem de terras, do massacre indígena e da falta de expectativa dos que passam diante das universidades e escolas técnicas olhando para elas e dizendo: Isso é meu. Minhas mãos pobres e calosas ergueram esse património tão caro.

Paulo vive. Essa gente do atual governo federal, não. Freire é grande demais.     

   

16 de setembro de 2021

Prevent Fraude


O plano de saúde Prevent Sênior, de São Paulo, é mais uma vez a cara cuspida e lavada do atual governo federal brasileiro: na prática é uma Prevent Fraude, na medida em que mantém um protocolo de atendimento hospitalar que prevê tratamento de pacientes com a gororoba de drogas escolhida pelo Ministério da Saúde como sendo um "tratamento precoce" contra Covid-19: cloroquina, ivermectina e mais outras porcarias menos votadas. Mas há um ponto que torna todo o procedimento criminoso: os pacientes e familiares nunca deveriam ser informados pelo Hospital Sancta Maggiore - o do plano - dos medicamentos prescritos aos doentes.

O mais horroroso de tudo é que esse procedimento acontecia sob uma espécie de supervisão criminosa do governo federal, mais precisamente do "gabinete paralelo" mantido pelo presidente Jair Bolsonaro como uma espécie de central de experimentos. Mais: falsificava-se laudos, diagnósticos e principalmente escondia-se as causas mortis daqueles que eram tornados vítimas inocentes dessa prática dantesca. Qualquer coisa próxima do que se fazia nos campos de concentração e extermínio nazistas da II Guerra Mundial.

O Prevent Sênior é bonitinho mas ordinário (foto). Na entrada, belas luzes, recepções espaçosas e convidativas. No atendimento básico de centros médicos, tudo muito eficiente porque é relativamente fácil esse tipo de procedimento. Mas após a internação, quando necessária, vinha o horror disfarçado de tratamento com drogas ineficientes administradas criminosamente às pessoas sem conhecimento destas e de seus responsáveis. Depois, com óbitos também disfarçados de cardiopatias, cânceres o outros males estranhos aos casos. Nunca Covid-19. Jamais com a informação da medicação que havia sido feita na surdina. Uma irmã minha que mora em São Paulo está correndo para cancelar o plano dela.

Isso tudo vai ser amplamente investigado, descoberto, denunciado e terá seus autores processados como manda a lei. Mas o que acontecerá com o verdadeiro autor intelectual dessa ignomínia, chamado Jair Messias Bolsonaro e residente no Palácio da Alvorada? Se o Brasil não tiver força, não se unir em torno a decisão de punir ele sairá mais uma vez livre para os braços de seu gado que vive imerso em bolhas de fake news, construindo narrativas cada dia mais fantasiosas.

Acorda, Brasil. União de todas as oposições daqui para a frente. Impeachment já! Antes que seja tarde.                  

11 de setembro de 2021

O nosso 11 de setembro


Impossível não passar algumas horas hoje diante da TV revendo o drama do 11 de setembro nos EUA. Eu estava em Belo Horizonte naquele dia, no Centro de Convenções e assistindo ao fim do Empretec, um curso de empreendedorismo do Sebrae quando o comentarista (sic!) Alexandre Garcia apresentava a programação e foi chamado à coxia. Voltou correndo, parou a exposição do dono da Sugar e disse que havia sido convocado às pressas ao Rio de Janeiro pela Rede Globo porque estava havendo um ataque contra o World Trade Center (foto). Todo mundo riu porque eram muitas as pegadinhas da ocasião, mas ele disse que estava falando sério. Saí de minha cadeira em uma das extremidades da imensa sala e, do lado de fora vi tudo ao vivo por uma das muitas TVs. Impossível não ficar chocado com aquilo.

O 11 de setembro é umas das coisas difíceis de serem explicadas. A lógica não o aceita. Os padrões mínimos de civilidade também não. Conheço islamistas e eles dizem que o muçulmano é um ser cordato e apenas diferente de nós no plano social. Uma questão de cultura. Os extremistas defendem uma interpretação do livro sagrado deles que a imensa maioria repudia. Em São Paulo morei próximo do maior templo mulçumano daquela cidade e só via gente dócil entrando e saindo do lugar. Rezavam suas rezas voltados para a Meca sem nem ao menos fazer barulho para não incomodar ninguém.

Estou escrevendo isso porque ontem bloqueei no Facebook um jornalista que foi minha "cria" em A Gazeta, filho de um outro que prezo e admiro. Ele se tornou membro de uma congregação evangélica vulgar, dessas feitas para enriquecer seus donos, e passou a hostilizar minhas publicações anti-Bolsonaro. Ontem disse que a imprensa saiu menor do episódio do arrego de seu (par)mito e entendi que era a hora de parar com aquilo. Difícil explicar isso por parte de gente culta, inteligente. A lógica não aceita. Os padrões mínimos de civilidade e respeito ao semelhante também não.

Você pode, leitor, argumentar que uma coisa não tem nada a ver com a outra. Discordo porque na minha visão tem, sim. Esse presidente JMB é o nosso 11 de setembro. Está destruindo o Brasil e suas instituições em nome de uma visão nazista da política e uma grande massa de brasileiros ainda cerra fileiras a seu lado. Cheguei a ouvir de um que a carta escrita por Michel Temer para ele assinar foi uma grande demonstração de sabedoria tática. Genialidade. O ídolo do gado estaria preparando golpe. Recuando taticamente. Não duvido, mas não vai dar certo. Ele dará com os novilhos n'água.

O 11 de setembro que hoje faz 20 anos é um episódio triste da história mundial. No futuro talvez sociólogos o expliquem melhor depois de passados os tempos de ódio insano do projeto religioso dessa gente extremista. O nosso 11 também vai ser explicado um dia. Essa cólera acumulada pela extrema direita brasileira vai passar porque também tem muito de seita tosca, cega. Quando vejo as demonstrações de insanidade deles chego a pensar que moro no Afeganistão verde e amarelo. Mas não acredito que joguem seus mísseis improvisados contra os inimigos. No fundo morrem é de medo.          

9 de setembro de 2021

Farsante, sim!


...conhecerás a mentira e a mentira te aprisionará...

Jair Bolsonaro gosta de citar um salmo da Bíblia que fala de verdade: "...e conhecerás a verdade e a verdade vos libertará...". Nada está mais distante dos hábitos diários do presidente do gado do que a verdade. Sobretudo a factual, aquela com a qual as pessoas devem lidar para se comunicar, questionar, citar e debater fatos. Ele não debate nada. Fechado em suas bolhas formadas por fanáticos, incultos e golpistas, tenta torpedear a democracia do Brasil. Essa mesma democracia que o elegeu presidente.

Por isso, no mais devastador comentário sobre os ataques do chefe do Executivo às instituições brasileiras, o presidente do TSE, ministro Luís Roberto Barroso (foto), disse hoje que o salmo bíblico, transportado para o universo bolsonarista é esse que abre o meu texto. E o disse da forma como está. Da mesma maneira falou que o povo brasileiro, aquele que sabe analisar a realidade com distância e separando o joio do trigo, conhece perfeitamente quem é o farsante do Brasil de hoje. Quem é o boquirroto, o falso valente, o patife que se esconde por detrás do medo para fazer ameaças.

Bolsonaro é realmente um farsante. Agora mesmo, nesse 09 de setembro, caminhoneiros estão bloqueando em parte estradas do Brasil a mando dele. Serão retirados, se preciso com o uso de força. Um marginal de apelido Zé Trovão, procurado pela Polícia, insiste em pregar a desordem e o desrespeito às leis. Pessoas mais chegadas ao presidente, como seus filhos e alguns parlamentares criminosos, se escondem nas sombras para pregar o fim da democracia. Nenhum deles vale nada. Mas todos ainda parecem acreditar que nada no mundo poderá deter e derrotar o "mito" que nasceu do apelido "parmito" pela magreza.

Esses tempos vão passar. Se até 03 de outubro do próximo ano esse presidente do gado ainda estiver no Palácio do Planalto e a nossa democracia permanecer intacta como esperamos, poderemos escrever sobre os tempos que passaram. Sobre o pesadelo vivido hoje por todos aqueles que lutaram, lutam ou lutarão por um país que viva sob a proteção de leis que foram feitas após uma ditadura militar. E por aqueles que estão sendo duramente perseguidos hoje e não por esse presidente de meia pataca que surgiu, cresceu e se tornou o que é à sombra e tendo por inspiração ditadores.

Nossa democracia vai sobreviver a essa fraude. 

       

5 de setembro de 2021

Dâmocles e o 7 de setembro


Talvez o presidente brasileiro nem saiba ao certo porque e o que é isso, mas toda vez que vejo seus rompantes de falsa valentia, na verdade com o medo estampado na testa (será só medo na testa?), volto-me ao conto da espada de Dâmocles representando a insegurança daqueles que detêm um poder muito grande e sentem temor imenso de que este lhes seja tomado.

É uma fábula bastante conhecida do cortesão bajulador Dâmocles que vivia na corte do tirano Dionísio de Siracusa e homenageava o chefe sempre que podia dizendo que ele era afortunado por ter grande poder. Dionísio então ofereceu-se para trocar de lugar com ele e dar-lhe todas as mordomias da coroa. Em troca, uma espada sustentada apenas por um pelo de rabo de cavalo ficaria suspensa sobre sua cabeça. O cortesão perdeu o interesse na mesma hora. O sentimento de danação iminente o levou a se afastar do cargo, da corte e de todo o luxo e conforto que a situação oferecia.

O presidente brasileiro é nosso cortesão tupiniquim que, ao contrário do outro, jamais poderia deixar de aceitar a presidência e todo o luxo e conforto que esta oferece a si e a toda sua "familícia". Mas a espada sobre a cabeça, o risco real ou imaginário de perder tudo de uma hora para a outra o apavoram. E como ele não tem sabedoria alguma, usa o que sempre esteve à disposição de suas crenças extremistas de direita: a violência, também tanto real quanto imaginária, e as ameaças.

Cercado de inimigos fantasmas criados por seus atos na maioria dos casos insanos, reage a eles com o que tem à mão: o Golpe de Estado! Ou será apenas imagina ter? Na realidade seu poder se dissolve a cada dia que passa, menos para os bandos de "bolsomínions" que o cercam nas saídas e entradas no Palácio da Alvorada e nas motociatas e cavalgadas nas quais, como um Mussolini revivido, desfila seu pavor patológico pelas cidades brasileiras sempre que pode. À custa de nosso dinheiro!

E agora vem aí o 7 de setembro! Ele imagina fazer da data uma "segunda independência", como prega sua turma. Mas está apavorado! Não sabe o que vai acontecer, se terá mais uma vitória de Pirro pelas ruas de Brasília e São Paulo ou se os atos sairão de controle para se tornarem demonstrações de confronto ou violência. Ele tem medo, muito medo, e se esconde por detrás dele escudado na bolha.

Mas bolhas se rompem. Como rompe também o pelo do rabo de cavalo que sustenta a espada apontada para sua cabeça descabelada. Bolsonaro sabe que hoje a distância entre a glória e a miséria é mínima. A roda da fortuna já parou de girar para ele... Mas o Napoleão de hospício vive em outro mundo.            

21 de agosto de 2021

Messias Maluco


Ontem à noite, em nova "live" (esse negócio virou praga!) o presidente Jair Messias Maluco Bolsonaro disse que vai entrar com seu segundo pedido de impeachment, agora contra o ministro Luís Roberto Barroso (à esquerda na foto), e nos próximos dias. Um pouco antes já havia apresentado o primeiro ao Senado, contra Alexandre de Moraes (à direita), ambos membros do Tribunal Superior Eleitoral, notem! E isso para pasmo de todos os brasileiros, menos o gado. Os fatos mostram que ele está fora de si. Desequilibrado. Definitiva e perigosamente.

No primeiro pedido Bozo assina sozinho o documento de 100 páginas. E, claro, aquilo não foi escrito por ele. O desconforto nos meios brasilienses é tão grande que a Advocacia Geral da União foi convencida a não participar da tresloucada aventura. Ela representa, como o nome diz, a União e não o chefe de Estado. Um jornalista da Globo News com acesso a ministros do STF perguntou a um deles o que estava acontecendo e a resposta foi clara, incisiva e certeira: "Ele está alimentando os leões".

Mas isso está passando dos limites!

A mando do MP, ontem mesmo a Polícia Federal esteve em campo à caça de alguns dos principais seguidores do presidente Messias Maluco para que respondam por seus últimos ataques criminosos às instituições que sustentam a democracia no Brasil. O cantor Sérgio Reis, que escolheu um horroroso final de carreira, foi um deles. Otoni de Paula Júnior, obscuro deputado federal, outro. Mais gente entrou no rol e ainda não teve os nomes divulgados. Que coisa inacreditável, ainda mais porque um dos filhos de Messias Maluco, Eduardo, disse que não tem medo de cadeia. Ou seja, vai continuar.

Não pensei viver 71 anos para ver uma coisa dessas. Um presidente eleito pelo povo em determinado momento de descrença cívica nacional se volta contra todas as mais comezinhas práticas do País e tenta loucamente criar uma narrativa que lhe permita posar de vítima no ano que vem quando chegar a hora de uma derrota eleitoral que a cada dia se avizinha como mais certa. Não tem limites, não tem freios e contrapesos e seus mais chegados assessores diretos nada podem ou conseguem fazer para evitar que se aprofunde a cada dia mais o poço onde ele se meteu.

É um momento triste da vida nacional; a corporificação do erro que cometemos em 2018 colocando na presidência da República um sujeito que todo mundo sabia ser desequilibrado e nem por isso foi descartado no processo eleitoral. Cometemos esse desatino contra o Brasil por ódio ao PT e agora Messias Maluco está à solta em Brasília, espumando fora de controle.

Onde vai ser a próxima motociata? O próximo ato de desrespeito a esse País?                      

18 de agosto de 2021

De pasmo em pasmo


No Brasil de hoje a gente vive de pasmo em pasmo. A cada dia um susto. O de agora foi a decisão de uma Subprocuradora Geral da República, Lindôra Araújo - a zangada senhora da foto -, que não vê crime no fato de o presidente Jair Bolsonaro se negar a usar máscaras, provocar aglomerações de pessoas, etc. e tal. Para ela "não ficou demonstrado crime" por parte do mandatário da República. E argumenta: "para que haja consumação do crime de infração de medida sanitária preventiva é preciso que a conduta possa realmente ensejar a introdução ou propagação de doença contagiosa".

E vai mais adiante dizendo que a Organização Mundial de Saúde recomenda o uso de máscaras, "mas há incertezas sobre o grau de eficiência do equipamento" (sic!). Segundo seu julgamento, "embora seja recomendável e prudente que se exija da população o uso de máscara de proteção facial não há como considerar criminosa a conduta de quem descumpre o preceito".

Essa senhora é bolsonarista de carteirinha e seguidora também do PGR Augusto Aras. De uma canetada só sepultou duas representações de parlamentares que queriam ver o presidente responsabilizado por suas condutas levianas e criminosas ao longo da pandemia da COVID-19. Ela diz que há incertezas quanto à eficácia das máscaras - o que é mentira - mas não considera o fato de que usá-las diminuiria o risco de contágio, ao menos em tese. Também não sabe o que é um doente assintomático e jamais estudou assuntos ligados a vírus, embora demonstre posições tão arraigadas.

Estamos nas mãos de inconsequentes.

Ao mesmo tempo em que a pandemia resiste e o número de mortos se mantém em patamares inaceitáveis, junto a isso permanece também quase intocado o discurso que tenta criar uma realidade paralela, distante de fatos concretos e que pretende defender os pontos de vista do presidente à custa do que for preciso. E não importa o número de mortos. Morram quantos tiverem que morrer, isso pouco importa. Afinal de contas lá na PGR também ninguém é coveiro e ainda haverá mais inquéritos e representações contra o presidente para serem rechaçados. Se possível for!   

        




11 de agosto de 2021

O fumacê da Nova República


Nem bem havia terminado o patético desfile de blindados da Marinha em frente ao Palácio do Planalto, ontem, e começaram a chover "memes" relativos àquelas tristes figuras do "exército Brancaleone" levado ao DF para deleite de um presidente sociopata capaz de acreditar que ainda mete medo em alguém. No shopping de bairro onde fui tomar café expresso, em Jardim da Penha, um casal de jovens via as imagens pela TV. Quando passou um tanque leve soltando fumaça por todos os lados (foto), e mais por trás, o rapaz abraçado à moça começou a cantar: "Ê, ê, ê, fumacê, ah, ah, ah, fumaçá..."

De uma coisa ninguém pode acusar Bolsonaro agora: de não ter ajudado o Brasil. Graças a ele o Senado fez cair a escrota Lei de Segurança Nacional (LSN), o voto impresso foi sepultado e talvez vários vetos presidenciais feitos para proteger poderosos e perseguir quem não tem poder algum caiam também. Sem ele, seu obscurantismo e o gado que o segue ditando diretrizes medievais, isso não ocorreria agora.

É triste ver no que o Brasil está se tornando. O jornal "The Guardian" nos identificou como uma "república de bananas". Pior: não passamos disso. Um conhecido meu com parentes nos EUA disse que a pessoa que vive hoje lá foi questionada, pois os norte-americanos amigos dela não queriam acreditar que as forças armadas brasileiras fossem "aquilo". Piadas se sucedem como praga. Nossos tanques vão acabar com a dengue no Brasil e, por causa da alta dos combustíveis, agora usam lenha para andar... 

Mas o pior é ver o comportamento de grande parte de nossos deputados federais e senadores ligados ao bolsonarismo, oficial ou oficiosamente. Sustentam as teses malucas de seu mitômano como se fossem verdades absolutas. Ou então, e estou disposto a acreditar mais nisso, capazes de levá-los à reeleição mesmo que tal "vitória" custe caro a todos os demais brasileiros. A urna eletrônica que os elegeu é totalmente segura - eles sabem muito bem disso -, mas o que importa nesse momento de grandes incertezas é ver alguma luz no fim do túnel de nossa pobre realidade atual.

Tomara seja ela o farol do trem que vai passar por cima deles! 

 

2 de agosto de 2021

O desespero de Bozo


Os últimos pronunciamentos do presidente, sobretudo os ocorridos no dia de ontem, mostram não apenas um elevar de tom dos desrespeitos que ele comete todos os dias contra os opositores e as instituições da República, mas sobretudo e principalmente algo que nem ele nem seus seguidores próximos conseguem mais esconder: o desespero de quem vê seu governo e sua imagem virarem pó.

Ontem mesmo, durante os atos de apoio ao presidente, mais crimes foram cometidos contra a ordem constitucional. Além de algumas faixas pedindo "intervenção militar" e que foram retiradas das passeatas, algumas outras surgiram como, por exemplo, uma que sugeria um "tiro ao alvo" contra figuras dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário (foto acima). Isso não é brincadeirinha inocente, como pode parecer: a sugestão remete à violência e pode sugerir atentados contra autoridades.

O desespero desse "Bozo da República" é claro. Só que no caso dele o resultado final de suas pantominas não é a risada que o Bozo real provocava nas pessoas. Nos momentos atuais as reações tresloucadas do chefe do Executivo deixaram de ser engraçadas para se tornarem assustadoras para quem ainda consegue ter medo desse projeto mal cheiroso e mal acabado de ditador de aldeia. Não é mais humor negro. O risco que corremos é o de os mais levianos dos representantes do "gado" realmente partirem para a prática de atos criminosos nos próximos dias ou meses.

Isso preocupa particularmente por causa da politização, sobretudo das polícias militares. Formadas por uma esmagadora maioria de membros com parco preparo emocional e constitucional, elas podem ser a semente de um estado de anarquia capaz de tentar desestabilizar o País. Particularmente não acredito que isso possa acontecer, mas o ovo da serpente tem ser destruído imediatamente. Já!

A partir de hoje, com a volta dos trabalhos nos poderes Legislativo e Judiciário, a virulência dos atos de Bolsonaro tenderá a crescer. Desesperado, ele vai tentar agredir a democracia a cada dia mais, sobretudo usando o artifício torpe de aparecer como defensor de algo no que jamais acreditou e tentando jogar sobre os ombros dos outros a reponsabilidade pela criação de um caos todo seu.

Fiquemos atentos. Nunca antes como hoje acreditei tanto na necessidade de termos um Judiciário forte e independente! 


30 de julho de 2021

Investiguem esse incêndio!


Se o Brasil ainda é um país sério ele não pode deixar de investigar com severidade, isenção, competência e rigor científico o incêndio que devorou um dos galpões da Cinemateca Brasileira em Vila Leopoldina, São Paulo (foto acima, do G1). Não basta dizer que o fato aconteceu porque uma empresa terceirizada fazia a manutenção dos aparelhos de ar refrigerado. Esse fato fede a muito mais que fogo!

Desde a gestão do senhor Abraham Weintraub a cultura brasileira sofre um projeto de sucateamento. Não é fato ocasional, ditado pelos azares da vida. Absolutamente. O governo Bolsonaro quer destruir o que de melhor tem a cultura brasileira, nossa herança de séculos, para substituí-la por uma sequência de boçalidades ditadas pelo neopentencostalismo picareta de ocasião e por crenças em valores nazifascistas que de tempos em tempos saem das catacumbas para atormentar os vivos.

A Cinemateca tinha um contrato de administração com a Associação de Comunicação Educativa Roquete Pinto (Acerp) desde 2016. Weintranub o rompeu. Desde então os salários estão atrasados, não há dinheiro para pagamento das contas de luz e sequer o complexo conta com brigada de incêndio, mesmo com seu acervo sendo altamente inflamável. Numa situação como essa é no mínimo estranha a preocupação única para com a manutenção de equipamentos de ar refrigerado. Ou não?

Recentemente tivemos uma "pane" nos computadores do CNPq que pode ter destruído arquivos científicos de grande valor, estudos de pesquisadores e bases para bolsas de estudo. Isso num governo negacionista e que tem desprezo pela ciência... Segundo o ministro astronauta de araque foi uma coisa que não poderia ter sido prevista por ninguém. E backup serve para quê? No mundo da informática não basta ter a cabeça nas nuvens. É preciso manter lá os arquivos.

Em qualquer situação passada seria possível acreditar em acidente provocado pelo acaso ou pelo descaso. Isso acontece no nosso serviço público, infelizmente. Nos dias atuais, não. Até mesmo com a ajuda da Justiça é preciso chegar à verdade. Ninguém é dono da memória de um povo, senão para preservá-la. Destruí-la como está sendo feito hoje é um inacreditável crime de lesa pátria.                       

27 de julho de 2021

Fingindo ser o que não se é


Não se pode passar o tempo todo tentando ser o que não se é. Ou tudo será desmascarado mais cedo ou mais tarde ou então, no auge da rejeição, a gente terá de confessar ser o que realmente é. O Jair Bolsonaro de hoje se cansou de se fingir de democrata, amante dessa democracia, defensor da Constituição e de toda a população brasileira, sem exceções. Ele agora se confessou nazista e ponto final!

Beatrix von Storch é deputada e vice-líder do AfD, partido de extrema direita alemão. Neta de um ministro de Adolf Hitler ela puxou ao vovô e não tem vergonha disso. Navega pela política alemã meio que escondida à sombra de mentiras que conta para sobreviver e é investigada pelos órgãos de segurança do seu e de outros países. Mentir é a forma de viver dos nazifascistas. Pária na própria pátria que a gerou, não se furta em viajar para se encontrar mundo afora com párias como ela. E assim veio parar no Brasil onde se encontrou com Jair Bolsonaro (foto) no Palácio do Planalto. Também esteve com a deputada Bia Kicis e um dos filhos do presidente, Eduardo. A fina flor do reacionarismo político, da falta de ética, defensores de extremistas de direita e inimigos da democracia.

Nos encontros de Brasília consta que Beatrix ficou impressionada sobretudo com Bolsonaro e suas risadas pobres, de sociopata de terceiro mundo. Sátrapas ambos, devem ter gostado muito um do outro. Kicis também se identificou com a deputada alemã e Eduardo, da mesma forma. Estava todo mundo em casa no Planalto, a sede de governo construída graças e um projeto de Oscar Niemayer que, coitado, jamais deve ter sonhado com tanto esterco de gado nas salas do edifício sede do poder federal do Brasil.

E se os organismos de representação judaica instalados aqui se assustaram com tamanha desenvoltura, não posso acreditar que sejam tão inocentes assim. Sempre souberam, é claro, quem é o presidente eleito pelos brasileiros. Fingiram acreditar em suas lorotas porque isso é (ou era?) conveniente. Da mesma forma como o "Bozo da República" faz de conta não saber que existe muito extremismo de direita em Israel e que essa ideologia comanda o genocídio diário contra o povo palestino.

Mas esse jogo de interesses inconfessáveis sempre tem um preço alto, muito elevado. Até mesmo no Brasil onde uma grande parcela da população, ignorante, analfabeta funcional, nada entende de política internacional, até essa está acordando. O resto do mundo já fez isso há muito tempo e uma esclarecida fatia do povo israelense sabe com quem está tratando quando se pensa em termos de governo brasileiro. Como dito no início, não se pode passar o tempo todo fingindo ser o que não se é.

14 de julho de 2021

Com o DNA de Tio Sam


Desde que Fidel Castro declarou-se comunista logo depois de tomar o poder em Cuba os Estados Unidos tentam destruir o regime político daquele país. É como se eles dissessem sempre que não vão aceitar comunismo às portas de Miami e os cubanos continuem dizendo "sim, vão nos aturar". Essa história iniciada em 1959 e que agora tem desdobramentos com protesto de cubanos no último final de semana (foto) já teve antes episódios mais dramáticos. E em todos eles estava o DNA de Tio Sam.

Em 1961 o governo norte-americano treinou um pequeno exército de 1.200 mercenários cubanos para invadir o País por Playa Giron, na Baía dos Porcos, e tomar o poder. Fidel Castro descobriu o plano e nada deu certo. Os porcos morreram na praia mesmo e a um custo elevado de vidas humanas. Estava afastado o maior risco da volta de Fulgêncio Batista e dos tempos de prostituição institucionalizada e de a fina flor da máfia controlar a economia caribenha via cassinos e drogas.    

Como os Estados Unidos haviam instalado mísseis nucleares na Turquia, na porta de entrada da União Soviética, Nikita Khrustchev, o primeiro ministro soviético de então, colocou os dele em Cuba. Durante 12 dias, de 16  28 de outubro de 1962 o mundo namorou com um final trágico. Mas graças aos esforços tanto de Khrustchev quanto do presidente John Kennedy o perigo da guerra nuclear foi afastado. Os mísseis norte-americanos saíram da Turquia, os soviéticos, de Cuba e o telefone vermelho funcionou...

Ao longo dos anos vários atentados foram cometidos contra Fidel Castro. Ele sobreviveu a todos e às acusações de que roubava milhões de dólares e os guardava no exterior. Morreu em Cuba e lá estão suas cinzas. Mas o maior desafio foi seu país sobreviver ao bloqueio econômico imposto pelos EUA há mais de meio século. Isso acabou com a economia cubana após o fim da União Soviética e o quadro agora se agravou com a crise da pandemia. O turismo morreu, as atividades comerciais e industriais sofreram um grave baque e a fome chegou. Consequência: ninguém enfrenta falta de comida de bom humor.

Os Estados Unidos são os responsáveis por todos os males cubanos. Inclusive pelo fato de o regime político ser fechado até agora porque ele faz isso para se proteger, para sobreviver. Não fosse o clima de guerra em torno da ilha e bem provavelmente os cubanos estariam convivendo hoje com um sistema multipartidário e quem sabe com eleições diretas. Mas nada disso está agora colocado na mesa.

Faço uma aposta: Cuba vai vencer mais esse desafio. Para desespero de muitos!                  

9 de julho de 2021

Soldadinhos de chumbo


"Ou restaure-se a moralidade ou locupletemo-nos todos".

Sérgio Porto (foto acima), o Stanislaw Ponte Preta, revoltava-se com os desmandos do Brasil, mas se manifestava com deboche. E fez isso sobretudo contra a classe política e os militares na época da ditadura de 1964/1985. Ele não era contra as forças armadas como instituições e sim contrário à instrumentalização da categoria e de seu uso político. A frase que abre o texto, extremamente crítica, foi uma das melhores que deixou antes de um enfarte fulminante o matar em 1968, ano da edição do AI-5.

Conto uma história bem resumida: minha avó materna, Almerinda, tinha um irmão caçula e temporão da família que, contra o desejo do pai decidiu ser médico. Meu bisavô tabelião, Francisco Gomes Villela, disse que custearia os estudos do filho até a formatura e depois disso que ele se virasse. Foi o que fez. Como o Brasil havia declarado guerra ao Eixo Berlin/Roma/Tóquio, meu tio avô alistou-se no Exército para ir à Itália com a Força Expedicionária Brasileira em 1943. A intenção era guardar dinheiro, aprender mais medicina e na volta montar seu consultório. Mas aconteceu o inesperado de ele se apaixonar pela vida militar e nunca mais a deixar. Quando se reformou era o general Hélio de Oliveira Villela, ex-diretor clínico do Hospital Militar do Rio de Janeiro. Um dia estava em Vitória e conversava com meu avô José Maria, seu cunhado e marido de Almerinda. Vovô elogiou a presença dos militares na ditadura, que chamava de "revolução". Tio Hélio, lembro-me disso até hoje, olhou para ele e disse: "Não entendo de política e não sou comunista. Mas sei que lugar de militar é no quartel!" Fora de lá tornam-se apenas soldadinhos de chumbo, caricatos, sem utilidade.  

Nesses dias em que o Ministro da Defesa e os comandantes das forças armadas divulgam notas oficiais que ameaçam a democracia isso me vem à mente. Os militares estão em grande número se locupletando em cargos civis. Está claro que muitos deles cometeram, cometem ou cometerão crimes financeiros os mais variados, pois não sofrem qualquer tipo de restrição. Ao contrário, foram arregimentados para garantir ao presidente da República uma chance de golpe de Estado. De ruptura constitucional que ainda não aconteceu porque 2022 não é 1964 e o Brasil, apesar de seu "gado", amadureceu.

Ontem mesmo o comandante da Marinha se manifestou de forma ameaçadora e me fez lembrar um outro da época de Sérgio Porto. O ministro de então, na década de 1960, almirante Carlos Pena Botto, fascista de carteirinha, fez um ataque à China e disse que "o mundo livre" deveria invadir aquele país para livrá-lo da Praga Comunista. Stanislaw, autor de um personagem caricato chamado "Bonifácio Ponte Preta, o Patriota" escreveu que seu boneco anedótico, ao ouvir aquilo, espumando da patriotismo, começou a gritar sem conseguir se controlar;

- Deixa ele ir, deixa ele ir...    

30 de junho de 2021

A miséria e as "motociatas"


Atacar e combater com vontade a miséria que assola o Brasil depende sobretudo e principalmente de vontade política. De reuniões de Estado com o maior número possível de atores, da definição de uma forma eficiente de combate - um plano, um planejamento -, e de um acordo que reúna os esforços conjuntos do governo federal e dos estados. Mas como fazer isso se o presidente não governa e só faz campanha de reeleição? Como fazer isso se ele só vê o seu país através de "motociatas"?

Um dia desses, o porta-voz informal do governo nos meios de comunicação, o "jornalista" Alexandre Garcia disse na CNN que o Planalto não analisa o Brasil e a situação do governo por intermédio das pesquisas de opinião pública, mas sim pela visão dos comícios, discursos em palanques diversos e passeios de motocicleta com apoiadores, sempre desrespeitando regras sanitárias em quaisquer estados. Ou seja; eles estão vendo tudo através de sua bolha. E que a cada dia diminui mais de expressão.

A foto que ilustra esse texto é minha. Foi feita há 48 horas na Avenida Dante Michelini, em Vitória, nas primeiras horas da manhã e sob a marquise de uma boate fechada pela pandemia do coronavírus. Nesse acampamento improvisado dormiam quatro pessoas provavelmente de uma só família. Está certo dizer que sempre convivemos com miséria no Brasil, mas ela cresce de forma absurda de pouco mais de dois anos para cá. Tornou-se imensa, fora de controle. Pandêmica! Pior de tudo: não há a menor perspectiva de que venha sequer a diminuir em prazo curto ou médio. As "motociatas" passam rápido e o presidente não vê a fome dos outros. Só sua saciedade. Aliás, não quer ver. Não tem planos para ela porque o contingente de miseráveis vai contar pouco nas eleições presidenciais do ano que vem.

Esse é o maior dano dos tempos atuais no Brasil: as pessoas jogadas nas ruas das cidades brasileiras, em fome endêmica, sequer podem sonhar com um dia de amanhã. Isso não existe para elas porque o Estado não tem esse projeto. Vão continuar aumentando e morrendo de fome, frio ou violências nas calçadas e marquises desse país que as deserdou de futuro e justiça social.                    

22 de junho de 2021

A esperança maior


Tenho passado algumas horas por dia lendo artigos de jornalistas ou cientistas sociais e médicos estudiosos, todos muito sérios, focando sobre a "performance" mais recente do homúnculo Jair Bolsonaro na presidência da República. Algumas avaliações são catastróficas, outras nos aproximam do cenário de um caos constitucional e há, enfim, aquelas que reduzem a figura do indivíduo à do projeto fracassado de ditador de aldeia já sem forças diante dos últimos fatos.

Prefiro essas últimas e, ao contrário do general que preside o Superior Tribunal Militar, não acho esse presidente do Brasil um democrata. Ele é a antítese disso. Sempre foi! O que acontece hoje é que sente tremenda dificuldade para colocar em prática seu projeto de provocar uma ruptura institucional porque as FFAA (detesto essa sigla) estão há anos luz de distância de serem uma força monolítica, sobretudo depois dos últimos episódios de demissão do comandante do Exército e de "perdão" a Pazuello. O que pretende fazer então o dono do lema "cala a boca!" daqui para a frente? Tentará provocar o caos.

As lutas insanas dele pela cloroquina, contra o voto em urna eletrônica, em ataque à honra do jornalismo (foto acima) e no cometimento dos mais diversos crimes possíveis e imagináveis que vão desde simples desrespeito a normas sanitárias municipais e estaduais até ao desperdício de dinheiro público das mais diversas formas - vide os últimos escândalos envolvendo a vacina indiana - e destruição de nosso patrimônio ambiental são exemplos de um projeto: provocar instabilidade política de tal monta que desemboque na possibilidade da decretação de estado de sítio nas eleições de 2022.

Sabemos todos que esse cavalo doido é um sociopata claramente identificável. Tenho minhas dúvidas sobre se não pode ser classificado também como psicopata, pois não sou da área de saúde mental. Mas, seja o que for ele tem um projeto e que é o de se reeleger a qualquer custo. E esse projeto não envolve renunciar a nenhuma de suas bandeiras sujas de lama e de sangue. Ele as vai carregar até o final do trajeto e com cometimento de novos crimes. Tantos quantos forem necessários.

Como o Judiciário age com aparente medo no tocante a ele e o poder político pode ser cooptado com o uso de nosso dinheiro - como está acontecendo -, resta-nos uma luz no fim do túnel: a reação externa. Haverá ações contra a continuação da destruição do meio ambiente e é possível que o Tribunal Internacional de Haia o declare processado por genocídio. Essa é a esperança maior!     

17 de junho de 2021

A guerra perdida


Em seu  primeiro périplo europeu como chefe de Estado o presidente dos EUA, Joe Biden, não apenas se ocupou de remendar os estragos do antecessor na política externa com a Europa, mas também de "denunciar" os perigos representados pela Rússia e pela China sobre o "mundo livre". Com o presidente russo ele se reuniu e decidiu voltar a trocar embaixadores. Mas o primeiro ministro chinês não estava lá. Nem vai. Nem tem agenda para discutir esses pontos nos próximos tempos.

Esse fato me remete há cerca de 30 anos quando, editor do jornal A Gazeta, participei de workshop promovido pela direção da empresa para aprimoramento gerencial. Houve reuniões no Hotel Porto do Sol, em Jardim Camburi, e em Nova Almeida. Num dos módulos apresentados em Vitória o instrutor da Fundação Dom Cabral, contratada para o evento, nos disse que em algumas décadas a China seria a maior potência da terra, tanto econômica quanto militar. Isso, gente, faz cerca de 30 anos! Alguns riram. Outros ficaram céticos, em silêncio. Mas o vaticínio está aí mesmo, corporificado na nossa porta hoje.

Agora os chineses dominam a alta tecnologia em vários campos do conhecimento humano. Se pararem de exportar, esse computador que estou usando ficará sem peças de reposição. Meu celular também. Televisores, maquinário industrial, rural e comercial igualmente. Em campos de engenharia eles não têm adversários. E mais: suas forças armadas estão próximas de rivalizar com as dos Estados Unidos e de ultrapassá-las em menos tempo do que se imagina. Vejam por essa foto de exercício de fuzileiros navais em praia chinesa, ano passado. Isso é real! Está acontecendo à nossa vista! 

Joe Biden sabe que está numa guerra perdida. Ora, se o estudioso da Fundação Dom Cabral sabia que isso estava perto de acontecer há mais ou menos 30 anos, os Estados Unidos também sabiam. Mas não acreditaram. Acharam conversa para boi dormir dizermos que seu império construído à custa de tanto sangue de inocentes cairia para um país com gente que, no passado, eles diziam parecer macacos.

Mas o fato se corporificou. Biden imagina que o melhor caminho hoje é se entender com os chineses. Se o esperneio é livre, a opção da guerra não teria vencedores nem vencidos. E se é para perder, os Estados Unidos sabem bem disso, é melhor que a derrota venha sem sangue e não como aconteceu no Vietnã. Afinal  de contas, todos os impérios um dia são suplantados e não há desdouro em ser o vice.             

10 de junho de 2021

Minha pinguela minha vida


Se alguma coisa poderá passar à história como sendo o símbolo do governo desse presidente Bolsonaro, ela será a pinguela que ele inaugurou recentemente no Amazonas. E se olharmos para a foto acima vamos concluir que não passa disso. No mais o presidente jamais passou de alguma coisa além de um político em campanha. Foi empossado assim, "governou" até agora assim e gasta dinheiro público aos borbotões assim. Aos poucos todos os seus desatinos estão sendo dados a conhecimento público. São os crimes que comete diariamente para se manter no poder com seu projeto de celerado.

Por isso é tão importante que os vários segmentos de oposição ao capitão extremista invistam na construção de uma terceira via democrática, frente ampla para as eleições de 2022. Nada será mais danoso ao Brasil do que a manutenção da polarização Bolsonaro/Lula. É isso o que o atual mandatário quer porque esse caminho permitirá a ele usar de todos os recursos antidemocráticos ao alcance para tentar vencer ou buscar a ruptura institucional. A oposição colocaria em xeque seus planos nazifascistas.

Dificilmente se conseguirá colocar na cabeça de Lula que sua candidatura agora elegerá o confronto. Ele se sagraria facilmente senador por São Paulo e poderia aos poucos construir uma trajetória de volta ao poder visando 2026. Hoje, não. O sentimento antipetista da população é muito forte e justificado. Precisamos ter uma frente oposicionista formada por candidatura acima de qualquer suspeita no tocante à dignidade e à capacidade de governar. Isso existe, sim, na política brasileira.

Ela teria de ser de combate ferrenho aos movimentos milicianos, à insurreição nas polícias militares, à politização das Forças Armadas, ao racismo, ao negacionismo, à desconstrução dos valores democráticos e à existência de poderes paralelos ao Estado capazes de atacar nossas mais caras instituições a partir de mentiras propagadas em redes sociais todos os dias a todas as horas por uma "familícia" que deseja o Brasil como seu campo de experimentação política privada.

Depois, bastará mostrar a foto do pontilhão (ou pinguela) do Amazonas como símbolo maior das "obras" desse governo e enfrentar as eleições sem que a campanha descambe para a violência. Pelo menos do lado do movimento oposicionista. Vamos eleger a democracia ano que vem!

7 de junho de 2021

O comunista e o "comunista"


Em 1969 o Brasil disputava as eliminatórias para a Copa do Mundo de 1970 no México e o presidente/ditador Emílio Medici fez chegar à seleção a informação de que gostaria de ver Dario como titular. João Saldanha, jornalista, radialista e técnico da equipe soube disso e disparou: "o presidente não me deixa escalar o ministério dele, então meu time quem escala sou eu" (foto). Era época de ditadura militar, a antiga CBD teve que demitir Saldanha, Zagalo assumiu no lugar dele e na convocação final para a Copa Dario estava na lista no lugar de Toninho Guerreiro, o favorito do treinador demitido.

É tenebroso quando a política interfere na vida do esporte. Zagalo jamais admitiu ter assumido o cargo de técnico e ter ganhado o tricampeonato mundial com a exigência de convocar Dario, mas jamais relacionou o jogador sequer para o banco de reservas. O folclórico Dadá, como ele próprio se chamava, apenas treinava. E o Brasil teria sido campeão do mundo com Saldanha porque era, disparado, o melhor time. Mas o afastamento daquele que ousou enfrentar Medici foi imposto à Confederação. João Havelange, então presidente e capacho de ditadores, concordou sem protestar. Afinal, Saldanha era comunista mesmo, "de carteirinha".

Hoje, passados 52 anos desses episódios, o atual presidente Bolsonaro, um saudoso da ditadura militar que adoraria ver de volta ao Brasil, resolveu fazer algo parecido. Como o técnico da Seleção Brasileira, Tite, não é do seu grupo, tentou de todas as formas que ele fosse demitido e substituído por Renato Gaúcho. O presidente da atual CBF, o inexpressivo Rogério Caboclo ia fazendo isso para agradar, não fosse o escândalo de seu afastamento provocado por agressões morais e sexuais a uma funcionária. Um projeto de ditador de aldeia de um lado, um maníaco sexual de outro: eles se merecem.

Não se sabe ainda o que vai acontecer nos desdobramentos desse escarcéu. O Brasil jogará a Copa América em nosso território, mesmo sob protestos, e o atual chefe do Executivo vai poder ver as partidas e entrar em campo após o jogo final para seu show demagógico, que será maior se os brasileiros forem campeões. O circo está armado no país onde falta pão e isso não agride os governantes.

Há uma última diferença a considerar: embora João Saldanha fosse comunista, membro do PCB, o Partidão, Tite, não. Ele apenas é "xingado" assim porque essa é a receita dos nazistas hoje encastelados no poder brasileiro para identificar quem não concorda com seu Capitão Cloroquina. Se os medíocres não podem subir ao nível dos outros, têm que tentar rebaixá-los ao seu.            

3 de junho de 2021

As milícias e seu gangsterismo


Eram 03h40m da madrugada de hoje. Depois de "avisar" aos moradores com estalos típicos de desabamento, um prédio de cinco andares veio abaixo no bairro carente de Rio das Pedras, Rio de Janeiro (vejam pela foto aérea), região dominada há décadas por milícias. Quase todos tiveram tempo de evacuar o edifício menos quatro pessoas que ficaram feridas e uma criança de dois anos e o pai dela, mortos debaixo dos escombros. Como pode isso acontecer? Como pode se já aconteceu antes na Muzema e o desabamento deixou um rastro de 24 pessoas mortas soterradas?

É simples. Bruno Paes Manso, pesquisador do Núcleo de Estudos da Violência da USP é autor de um livro de título "A república das milícias - Dos esquadrões da morte à era Bolsonaro", estudo de fôlego e fruto de longas pesquisas. Milícias, grupos paramilitares armados, impõem o terror pelo medo em regiões carentes do Brasil e só existem onde o Estado não está presente. Por isso estão no Rio.

Elas nasceram antes mesmo dos governos do líder populista Leonel Brizola. Em terras públicas invadidas sem que os governantes fizessem nada para evitar. Esses grupos chegaram depois dos traficantes para "proteger" as pessoas. Expulsaram o tráfico, tomaram conta das regiões e impuseram o terror. Hoje todo mundo tem que pagar "proteção". Tem imposto sobre gás, diversos outros serviços de primeira necessidade, inclusive "gatonet". Os moradores se livraram de um mal e o trocaram por outro.

É diferente do que aconteceu em São Paulo. Lá a expansão se deu em regiões industriais e o Estado estava presente porque a ele interessava a infraestrutura nas regiões. Além disso a igreja católica era dominada pelas Comunidades Eclesiais de Base comandadas por Dom Paulo Evaristo Arns, que não tolerava algumas práticas. O que não impediu o tráfico nem bandos criminosos como o PCC.

As milícias são piores? Claro que sim, haja vista o que vem acontecendo, pois todas as construções são irregulares e feitas em áreas protegidas com destruição de mata nativa. E por que não se faz nada? Por diversos motivos, sobretudo pelo fato de que por onde se passa nessas regiões são encontradas as digitais da "familícia" Bolsonaro e dos políticos corruptos nascidos da necessidade de controlar as populações. Isso explica a luta do atual presidente pela volta do voto impresso pois fica mais fácil "cabrestar" os eleitores nesses bairros dessa forma. Mas esse ponto é assunto para outro artigo.                   

1 de junho de 2021

Os foras da lei


O ex-ministro Eduardo Pazuello, general da ativa que afrontou os regulamentos do Exército participando de um evento político com o presidente da República no Rio de Janeiro foi nomeado hoje para um cargo de planejamento estratégico no Palácio do Planalto, junto à presidência. Além de não entender nada sobre a matéria, sua nomeação é uma nova afronta às caras normas militares.

Recentemente a Polícia Federal fez uma busca na casa e escritórios do ministro do Meio Ambiente. Além de não ter entregue seu celular aos agentes, o cidadão Ricardo Salles destruiu o aparelho em seguida. Primeiro disse que o equipamento não estava com ele. Depois mais nada falou e deu fim a tudo. Mas o pior é que até agora nada aconteceu com o possível contrabandista de madeira ilegal.

É inacreditável a certeza que essas pessoas têm da impunidade. A começar pelo presidente, todos agem literalmente como se estivessem acima das leis. Não as respeitam. Pior do que isso, as afrontam. Tentam minar as bases das instituições e, não satisfeitos em fazer isso com as mais caras delas, as civis da República, agora atingem também as militares e essas parecem não querer reagir. Por quê?

Minha teoria é o medo de o Brasil voltar a ser governado "pelas esquerdas", como são chamados os diversos grupamentos de oposição. Também há o oportunismo político do "Centrão", hoje encastelado no governo. E o tal "Centrão Militar", que está sendo formado no Brasil em troca de benesses tipo altos salários em cargos públicos. Oportunistas é o que não falta no Brasil. E foras da lei!

Só que a inação da instituições que deveriam reagir a isso vai aos poucos corroendo as bases da democracia representativa. Os altos escalões do Judiciário assistem às vezes com complacência ao desfile de imoralidades e atos de corrupção, como o deboche de Pazuello e Bolsonaro durante os desfiles de motocicleta no Rio de Janeiro (veja a foto). E o mesmo acontece com as patentes militares superiores que até agora ainda não puniram o general debochado. E fora da lei.

Quando a gente soma a isso tudo as revelações da CPI que se desenrola no Senado fica claro que o momento é de perigo. A democracia vai resistir, sobreviver, assim acredito eu. Mas é impossível avaliar agora com quantos danos. A sociedade civil precisa reagir com denúncias todos os dias. Contra os foras da lei, inclusive os que habitam o Palácio do Planalto.                   

25 de maio de 2021

Movimentos calculados


Por que Jair Bolsonaro conseguiu evitar uma nota do Exército criticando o general Pazuello com um simples telefonema dado de Quito, no Equador, para Brasília? E por que ele não vai impedir a punição de seu ex-ministro da Saúde que o atende como se fosse um serviçal comum? Trata-se de  movimentos calculados e aproveitamento de oportunidades. Oportunismo, em resumo.

Se o presidente for desmoralizado agora, vai perder mais espaço político, pois isso já está ocorrendo. O Centrão, excrescência política focada unicamente em seus interesses mais diretos o abandonará no meio do caminho. Aí será quase certo que um processo de impeachment seja aceito, votado e aprovado no Congresso. Isso colocará a presidência da República literalmente no colo de Lula ano que vem. Tudo o que os militares e forças reacionárias brasileiras não querem.

Em 1964 vivíamos a época da guerra fria. Havia um medo disseminado de que o comunismo tomasse conta do Brasil sabe-se lá como. Quando houve o golpe militar uma frota norte-americana estava no litoral brasileiro pronta para intervir se as coisas dessem errado. Era a "Operação Brother Sam". A intervenção não foi necessária e, para os interesses dos EUA, tudo deu certo.

Isso passou e hoje os tempos são outros. Nos Estados Unidos é muito mais difícil embarcar numa aventura como essa. No chamado "mundo livre", que é livre mas nem tanto assim, a política de não intervenção direta substituiu a dos cowboys que, via embaixadores, aterrorizavam países com pouca ou nenhuma importância estratégica ou militar (leiam "Ásperos Tempos", de Mario Vargas Llosa).

Bolsonaro sabe de tudo isso. É sociopata inteligente. Quando pegou o telefone e ligou para Brasília não estava peitando o Exército para impedir a nota de desagravo a Pazuello. Ele não é tão forte assim. Estava jogando as cartas: "Dinamitem-me e Lula vence!". Não o dinamitaram. Mas o general capacho vai ser punido para que a instituição militar não se desmoralize mais ainda.

A foto que ilustra esse texto (de O Globo) mostra nosso Bozo erguendo o braço do presidente eleito do Equador - um político de direita, mas não de extrema direita - como se ele fosse um troféu conquistado. Na cabeça do brasileiro as coisas funcionam assim. E lá ele está de máscara. Resta agora a nós nos insurgirmos contra o fato de que aqui ele desrespeita normas, leis, ética e tudo o mais. E a não ser por uma única e miserável multa aplicada pelo governo do Maranhão, tudo passa em brancas nuvens. 

Mas todos somos súditos das leis.               


22 de maio de 2021

Delírio de outono (conto)

Normalmente uso esse espaço para artigos. Mas hoje resolvi oferecer a vocês um conto (?). É meio longo, mas tinha que ser assim. Espero que leiam. E o texto os faça  sorrir um pouco e  refletir muito. O tema bem que merece. Até mais ver:


- Eu também quero ser general!

         Houve silêncio na sala onde se realizava a reunião ministerial. Digamos, silêncio obsequioso. Os participantes do encontro se entreolharam e de início ninguém falou nada. Então o senhor presidente insistiu:

         - Quero ser general!

         O vice, que estava presente depois de muito tempo exilado e sem participar de reuniões da cúpula do poder resolveu fazer uso da palavra:

         - Não pode, presidente. O senhor não fez carreira para chegar a isso. E já é o comandante em chefe. Esqueceu?

         O presidente balançou a cabeça negativamente e voltou à carga. Como se fosse uma carga de cavalaria. Ou de paraquedismo:

         - A gente faz uma lei. Quero ser general e pronto. Por que você pode e eu não posso?

         O outro, o vice, deu uma pigarreada daquelas que a gente dá para tomar fôlego e encontrar argumentos antes de tentar continuar sua argumentação. Diante do silêncio sepulcral que persistia na sala, enfim voltou a argumentar:

         - Veja, presidente, as coisas não são assim. Existem leis que regem a República!

         - Mudo por medida provisória ou PEC. Mas quero ser general e pronto. Meus filhos me pediram, minha mulher achou o maior barato e a gente até simulou uma solenidade de sagração já no Alvorada. Está tudo combinado. Minha filha ainda brincou e disse: “Está tudo combinandinho, papai”. Não posso decepcionar minha família, meu bem mais precioso.   

          O vice voltou a tentar argumentar:

         - Vamos admitir que fosse possível. Mas isso no plano civil. E no militar, o que eu diria para o estado maior. Para os chefes, comandantes e chefes das três armas?

         - Diga que eu quero. Que é a vontade do povo, da nação e que os militares de todas as forças já ganharam tudo o que eu podia dar a eles. Tudo mesmo, inclusive milhares de cargos no governo, tirados de civis. Então, posso ser general e pronto.

         O vice coçou a cabeça. Tirou a máscara com a bandeira do Flamengo de cima do copo de água à sua frente e tomou um gole. Voltou a botar no lugar. Estava sem ela no rosto porque diante do presidente, em local restrito, ninguém se atreve a usar máscara. Ficou um silêncio constrangedor até que a ministra, única mulher presente, perguntou:

         - O que a gente tinha vindo aqui discutir mesmo? Qual era a pauta dessa reunião?

         Quando o presidente fez menção de se levantar, já com ar furibundo em direção àquele que se atrevera a mudar o foco da discussão, o ministro da secretaria geral da presidência da República atalhou, quase aos gritos:

         - Ele pode sim. Ele não foi eleito por mais de 57 milhões de brasileiros? Pode sim. Vamos encontrar um caminho.

         O presidente estufou o peito de felicidade. Fez um sinal de mão de positivo endereçado ao seu ministro no instante exato em que todos os demais, em uníssono, completaram: “Pode sim!”. A ministra que havia provocado a interrupção chegava a espumar enquanto gritava sua concordância.

O vice voltou a dar uma fungada. Tirou a máscara do Flamengo mais uma vez de cima do copo, tomou um novo gole de água e depois se voltou para todos:

         - Tá bom. Então como nós vamos fazer isso? Estou perguntando porque não basta vencermos a resistência do Alto Comando. É inconstitucional, pombas! Aliás, pergunto: essa merda de reunião está sendo gravada?

         Todos acorreram ao sistema de gravação do Planalto e apagaram os registros. Pronto, nada havia sido gravado. O filho 02, especialista nessas questões ainda deu uma conferida, checou os registros nas redes sociais e fez sinal de positivo. Então o presidente voltou a falar à plateia:

         - Vou fazer um decreto!

         O vice disse logo em seguida:

- A constitucionalidade vai ser questionada.

O presidente pareceu perder enfim a paciência:

- E daí, porra? Eu por acaso sou um presidente banana? Por que vocês acham que gastei três bilhões do orçamento para comprar, digo, para convencer o Centrão a me apoiar? Faço o projeto passar pelo Congresso sem o menor problema. Bom, talvez isso custe mais uns dois bilhões, mas valerá a pena.

Todos ficaram em silêncio mais uma vez. Novo silêncio obsequioso. O dono da pasta da Justiça logo disse que faria o texto do decreto. Cinco outros disseram que sairiam naquele momento mesmo para ir ao Congresso. Mais dois falaram que iriam procurar ministros do Supremo com os quais mantinham boas relações de “cordialidade e respeito”. Mas o vice não estava convencido:

- O senhor se lembra de como deixou o Exército, presidente? Os registros do processo que o senhor respondeu e que quase custou sua expulsão ainda estão lá. Vivinhos da silva! De repente alguém pode ressuscitar esse cadáver fedorento, sobretudo no Exército onde o senhor não é unanimidade. Nem tudo é o Clube Militar nessa vida...       

Aí a gritaria foi geral. Todos se voltaram contra ele, o vice, sobretudo o filho mais velho, o senador que já havia embarcado na aventura de mala e cuia. E foi ele quem gritou mais alto:

- Fake News! Coisa de comunistas safados! O presidente saiu porque não queria ficar mais. E contra todos os conselhos. Mas a quadrilha internacional comunista, sempre de olho no Brasil, criou uma narrativa caluniosa para nos atingir. Só que o gado, digo, os apoiadores não vão permitir uma coisa como essa. Todos acreditam que estamos no poder em nome e pela vontade de Deus. E Ele quer um presidente general de cinco estrelas.

Foi a apoteose!

O vice não teve mais argumentos. Os poucos que ainda não haviam se manifestado favoravelmente se entreolharam e devagar começaram a se retirar para a Esplanada dos Ministérios. Cada um para seu endereço. Cada qual para o seu quadrado.

E agora, José? O que fazer. O vice lavou as mãos. “Nem aos comandantes das forças levo uma notícia dessas”, pensou. O presidente pareceu ler os pensamentos dele e anunciou que estava convocando uma reunião dos comandantes militares para dizer a todos que é general. Ou então que será. A partir daquele momento todos estavam engajados na tarefa de desenvolver ações no sentido de concretizar o sonho presidencial. O maior mandatário dirigiu-se ao vice enquanto ele pegava a máscara do Flamengo e deu o assunto por encerrado:

- Vamos fazer isso, sim. O Brasil merece. Afinal, tivemos presidentes generais durante o regime militar democrático ou não? E eles eram aceitos ou não? Afinal, pense, isso é mera formalidade! Você já me disse várias vezes que alguns oficiais superiores ficam constrangidos em terem que obedecer a um capitão. Eu também ficaria. E o problema estará resolvido dentro de pouco tempo.

O vice deu de ombros:

- Plano do senhor, problema do senhor. De minha parte desejo sucesso à empreitada. Mas um conselho: antes de estar tudo pronto com o Congresso não deixe a imprensa saber de nada. Caso contrário o mundo cai na sua cabeça antes do apocalipse.

Dessa vez foi o presidente quem deu de ombros. Agora estavam na sala somente ele e mais 01, 02 e 03 que haviam chegado atrasados, mas conhecia todos detalhes do plano elaborado no Alvorada. E foi ele quem se adiantou para falar, já em papo íntimo de família:

- Estamos todos em campo. Na batalha, combatendo o bom combate. Vim aqui para a gente traçar planos caso tudo dê certo. Nesse momento o presidente explodiu de vez:

- Caso? Caso um diabo. Está decidido. Não abro mão da minha autoridade de maneira nenhuma. Temos que ir daqui já com tudo combinado. A começar pelo seguinte: depois que eu receber o generalato, qual de vocês vai me cumprimentar me chamando de “Generalíssimo presidente”?

Um olhou para a cara do outro. Ninguém queria tomar a iniciativa de argumentar. Então foi o presidente quem voltou à carga, jogando as pernas para cima e as colocando sobre a mesa de trabalho. Dali olhava para a Praça dos Três Poderes onde adora andar a cavalo nos finais de semana nos quais exulta com as faixas que pregam o fim da democracia e a intervenção militar com ele no poder. Tentou falar de modo bem coloquial e didático:

- Vocês querem que alguém os chame de maricas? Filho de presidente macho tem que ser macho também. Então, vamos combinar o seguinte: 01, que tem cargo mais alto por ser senador, vai abrir o discurso com o “generalíssimo”. Na mesma hora vocês dois vão apoiar. Vou colocar do nosso lado a turma que não dorme de tanta vontade de ir para o Supremo e garanto que eles vão urrar junto de vocês...

- Tem o que sonha em continuar como PGR... – atalhou 03.

- Isso, mesmo. Então – prosseguiu o presidente – a coisa degringola. Vai virar um pandemônio esse negócio todo e quero ver se algum ministro do STF vai ter peito de nos enfrentar. Ninguém ousará tentar derrubar meu decreto. Sairei de lá nos braços do povo, só não sei se nos braços das pessoas ou a cavalo. Acho que vou preferir sair montado...

02 pediu palavra:

- É um plano perfeito. Coisa de gênio. Só mesmo poderíamos imaginar coisa desse quilate...isso não tem como dar errado. Viram como os ministros saíram daqui? Todos em ordem unida, prontos para cumprirem suas missões.

- Claro. – disse o presidente – ninguém é burro. Eles sabem que eu demito mesmo. Cortar umas cabeças de vez em quando tem lá suas vantagens. Fica todo mundo com um pé atrás...

- Sim, tem que ser assim – disseram os três ao mesmo tempo.

Então o presidente relaxou. Esticou ainda mais as pernas sobre a mesa e ficou olhando fixamente através da janela de sua sala de terceiro andar. Parecia divagar e foi falando quase sem sentir.

- Gozado, mas antes de ser eleito não me lembro de ter entrado nesse gabinete. Afinal, aqui dentro só tinha comunista, ladrão e vagabundo. Teve uma idiota também. Mas depois que cheguei aqui adorei tudo. Hoje eu sinto como se isso tudo fosse meu. Como se sempre tivesse sido. E não quero sair daqui. Foi por isso que tivemos a ideia do generalato. Do generalíssimo. Isso combina comigo e com os planos que sempre tivemos de nunca mais sairmos daqui. Esse é o nosso lugar. Na época dos generais, de 1964 a 1985, eles cometeram o erro de fazer eleições. Sou contra, mesmo indiretas...

- Somos contra – atalhou o 02.

- Sim, somos contra, – prosseguiu o presidente – e por isso o plano é não sair mais daqui. Eu me reeleger, aprovar no Congresso um projeto de reeleição sem limite de número, ficar sempre na presidência e depois passar o bastão, quando me der na cabeça, para um de vocês. É isso o que quero: um País da família. Nas mãos de nosso clã, ao alcance de nosso poder. Sempre sob controle. E vai dar certo. Sempre que há o Congresso sob controle – e dá uma gargalhada debochada antes de continuar – e a perspectiva de uma ruptura, um golpe de Estado “com eu” no poder pode voltar a povoar a Esplanada...

- Agora não está dando – falou novamente o 02.

- Não está dando porque os caras são uns maricas, uns merdas. – continuou o presidente – Eles não querem se envolver em aventuras. Estão com medo de repetir 1964. Umas porcarias. Mas nós sabemos o que queremos e a hora é agora. General até o ano que vem e depois o salto para mais quatro anos do mais novo generalíssimo da história desse nosso País.

Uma salva de palmas coroou o final da fala.

O Presidente Generalíssimo estava realizado. Chegou a dar um longo bocejo como se tentasse despertar de um sonho. Os filhos olhavam-no maravilhados, como se fitassem um deus vivo. Então ele perguntou:

- Já estão sendo tomadas todas as providências? 01, que havia ficado por instantes ao celular, foi quem me respondeu.

- Sim. Já estamos com gente indo para o Congresso, para o STF e só vai ser preciso o senhor definir a hora exata de comunicar a decisão aos militares e à imprensa. Como eu odeio esse termo, a imprensa. Depois será apenas correr para o abraço.

O presidente respondeu:

- Vou ver isso tudo. Tomem seus assentos porque o avião vai decolar. Cada um sabe exatamente o que fazer e agora a sorte está lançada. Não sei falar isso em grego.

- É latim – disse o 02.

E o presidente se levantou, sendo seguido pelos filhos. Novamente se dirigiu à janela. Olhou para a Praça dos Três Poderes, para o horizonte do Planalto Central, para o infinito como se o seu olhar pudesse chegar ao oceano e vencê-lo. Então, de repente parou. Chamou os filhos de volta e disse com o peito inflado de ar.

- Última forma. Vamos correr com o decreto do generalato, com todas as providências porque preciso chegar ao ano que vem já com cinco estrelas. Mas depois que eu for reeleito, a coisa muda. Vou começar a costurar para subir acima deste cargo.

Os três se entreolharam e perguntaram ao mesmo tempo:

- O que você vai querer ser, papai?

Então sua excelência fitou o horizonte novamente, colocou a mão direita aberta entre dois botões superiores de seu paletó e disse encerrando definitivamente o assunto do dia:

- Marechal de Campo!