14 de dezembro de 2020

A risada da hiena


Um dia desses estava prestando atenção na risada do presidente da República, uma das milhares que ele dá por qualquer motivo. Sim, porque tudo é despropositado naquela risada sem propósitos claros. E debochada. Então tentei comparar aquilo a alguma coisa conhecida. Encontrei paralelo somente na risada da hiena, o bicho estranho, comedor de carniça e que vive na África.

Alguém me pediu para ler um artigo de pesquisadores da Universidade da Califórnia sobre o ruído emitido por aqueles animais. Eles chegaram à conclusão de que a risada deles expressa frustração. A conclusão é de que os bichos riem de maneira diferente de acordo com a sua posição dentro do grupo. Então, no caso deles, animais gregários, dão risadas quase sempre para não chorar. Literalmente.

No caso do presidente, sou capaz de dizer que aqueles sons de palanque expressam sobretudo insegurança. Medo de não conseguir realizar seus planos, projetos. Por isso Mandetta se tornou um empecilho. Por isso o mesmo aconteceu com Moro. Agora talvez com Mourão que, infelizmente para essa hiena palaciana, não pode ser pura e simplesmente afastado de seu cargo.

Bolsonaro demonstra preocupação. Não apenas porque não consegue fazer as pessoas acreditarem que é preciso milhares morrerem para a pandemia acabar sem que ele seja ao final responsabilizado por essa aberração, mas também porque ainda não tem certeza de que a tática de seu ídolo Trump vai dar resultado nos Estados Unidos. É quase certo que não e por isso ele vai ter que importá-la para cá com diversas modificações além do grito de: "Houve fraude, gado!"

Pena, mas isso é teatro de baixa qualidade. Mambembe, de lona rota. O incrível é ele manter hoje um grupo de apoio tão grande apesar do baixo nível de suas apresentações, como mostrou a pesquisa do Data Folha. Sou capaz de apostar que essa popularidade vai minguar, se reduzir como risada de hiena em final de carreira. O bicho que causa medo, repulsa e quando morre o leão esfomeado se recusa a comer sua carne. Dizem os pesquisadores que por ser de péssima qualidade.         

7 de dezembro de 2020

Suprema é a Constituição!


Nos últimos dias o Brasil parou para acompanhar o julgamento, pelo Supremo Tribunal Federal (STF), da questão envolvendo a sucessão na Câmara e no Senado. Os atuais presidentes podem ou não tentar a reeleição? E a resposta da maioria dos ministros foi "NÃO". A Constituição taxativamente não permite. Assim sendo o caso está encerrado. Suprema é a Constituição!

Mas por que essa questão envolveu tanta paixão e acirrou os ânimos da forma como acirrou? Porque o presidente da República se julga dono do País. Porque, para ele, tudo deve se curvar a seus ditames, à sua verdade geralmente baseada em nada. Ou menos um pouco que isso. Ele não quer o atual presidente da Câmara no cargo; quer outro e agora vai fazer o que sempre tenta: interferir em outro Poder.

A Constituição diz que as casas legislativas não podem continuar com as mesmas mesas diretoras no curso de uma só legislatura. Deve haver alternância porque isso é benéfico para a democracia. E a nossa chamada "carta magna" foi escrita e promulgada quando estávamos saindo de uma ditadura militar de 21 anos. Era preciso garantir ao Brasil um sistema de alternância, o que foi feito.

Posso dizer que, pessoalmente, preferiria uma Câmara e um Senado longe do tacão do presidente. Mas isso caso as leis em vigor previssem tal hipótese. Como não permitem, vai ser preciso haver uma eleição para que a maioria escolha outros chefes de casas legislativas. Podemos no máximo torcer para que seja feita a melhor escolha. Aquela que atenda aos interesses do Brasil. Como disse hoje a juíza aposentada Denise Frossard no Facebook, que sejam eleitos "parlamentares com currículo e não folha corrida".

Quando um presidente usa seu poder nos limites ditados pelas leis, sobretudo pela Constituição, ele conhece as fronteiras, os tamanhos máximos de sua autoridade e não os ultrapassa por apreço e amor à democracia. Quando o STF tem a Constituição como seu Norte, também não precisa de um 6 a 5 para que ela seja respeitada. Desse modo evita pesadas nuvens de tempestade sobre seus telhados.

Suprema é a Constituição que emana do povo!        

2 de dezembro de 2020

Mas então já era tarde...


 Fui amigo de Hélio Demoner (foto de arquivo pessoal) durante cerca de 47/48 anos. Primeiro, acompanhando o veterano jogador de basquete e depois dirigente no Saldanha da Gama. Depois, um jornalista e outro professor universitário, cobrindo as múltiplas atividades dele à frente dos esportes, sobretudo o "bola ao cesto", como às vezes falávamos acerca de seu esporte preferido. Até que em abril deste ano rompemos a amizade. Por isso a notícia de sua morte dói tanto e tão intensamente em mim.

E foi tudo por causa de política. No dia em que ele me chamou para entrar nos grupos de apoio ao tal Bolsonaro, primeiro aceitei para espionar, mas logo em seguida senti-me na obrigação de dizer a ele que estávamos em lados opostos. E o afastamento começou imediatamente.

Demoner, dentre inúmeras outras atividades, criou os Jogos Abertos Jerônimo Monteiro, os JAJEM. Por que o nome? "Para abrir as portas da Rede Gazeta", ele respondeu. Dirigiu os JAJEM por 23 anos, a maior parte do tempo contando com minha ajuda para divulgar ao máximo a iniciativa. Era tremendamente meritória, pois visava ao esporte da meninada, do início, da fase da paixão esportiva. E revelou muita gente boa. Poderia muito bem ter outro nome e teria o mesmo mérito. Mas acabou morrendo de inanição mais de duas décadas depois com o pauperismo dos esportes amadores capixabas contra o qual lutei tanto...e não adiantou nada ter aquele nome.

Hélio era um professor muito querido na UFES. E também um entusiasta pela história dos esportes. Guardava centenas de fotos, vídeos, depoimentos de muitas pessoas. Um arquivo valioso. Espero que esse acervo não seja jogado fora. Que seja preservado, principalmente pela Universidade.

Minha maior briga com ele aconteceu em abril último e por causa da pandemia da Covid-19. Eu postei que o presidente era um boçal por chamar a doença de "gripezinha" ou "resfriadinho" e ele disse que nós, os opositores, estávamos criando um meio de destruir a economia para atingir "meu capitão". Retruquei, nos bloqueamos mutuamente nas redes sociais e nunca mais nos falamos.

E foi por saber hoje cedo que ele havia morrido de Covid-19 que sofri mais. Não acredito em festa no céu, em campeonato celeste de basquete. Mas acho sinceramente que o doente terminal, antes de ficar inconsciente e mesmo depois disso consegue pensar, sente que vai morrer e, quem sabe, avalia que errou. Sou capaz de apostar, e por isso chorei, que no final meu amigo Hélio soube que estava no fim. Quem sabe, que havia errado. Talvez, que faria tudo diferente caso pudesse.

Mas então já era tarde...