30 de abril de 2021

Para onde vai o dinheiro...


É fácil explicar porque o atual governo federal não quer fazer o Censo obrigatório por lei no Brasil a cada dez anos, e que deveria ter sido realizado ano passado. Sem ele o presidente negacionista e seus ministros vão poder continuar a fazer o que bem entenderem sem ser necessário olhar para a realidade brasileira. Sem que haja uma bússola mostrando o caminho do norte magnético capaz de trazer progresso a todos, respeitadas as reais necessidades de um país imenso e de grande complexidade.

Vamos falar então sobre somente um exemplo dessa necessidade: em um trabalho de fôlego "O Globo" mostra hoje que as renúncias fiscais brasileiras alcançam nesse nosso ano de 2021 nada menos que R$ 351 bilhões. Isso representa 24% de tudo o que a União deveria arrecadar no período em impostos federais. Como nosso déficit está oscilando em torno de qualquer coisa próxima dos R$ 240 bilhões - isso pode crescer por causa da pandemia e seus efeitos colaterais sobre a Economia -, estamos dizendo que a não existência desses benefícios - são 173, sendo que 73 têm prazo indeterminado - faria com que o Brasil chegasse ao final do ano com superávit. Ou seja, com dinheiro sobrando no caixa.

Mas não vai acontecer nada parecido com isso porque o governo atual dirige o País para seus apaniguados. Há no universo de apoiadores de Bolsonaro um grande número de empresários dos mais diversos setores que o apoiam, sim, mas contanto ganhem alguma coisa mais concreta. Tenham retorno, em síntese. E não pagar impostos sempre foi o objetivo maior da "tchurma" que quer dessa forma "gerar emprego e renda". Eles todos são grandes amigos do Paulo Guedes...

Hoje mesmo uma amiga me dizia, relembrando velha máxima, que o Brasil é um país comunista para os ricos e capitalista predatório para os pobres. Eles que não se atrevam a querer viver cem anos como já disse o ministro da Economia em um de seus piores momentos, que são inúmeros.

Para que fazer censo, não? Para que ao menos reduzir a política de renúncia fiscal a um mínimo realmente necessário se o Brasil é formado por uma imensa massa de cidadãos com baixa escolaridade ou então fáceis de serem cooptados e que vão fazer vista grossa a esse absurdo, sempre relembrando as verdades de praxe como, por exemplo, uma que recebi hoje via WhatsApp, colocando em realce o fato de que o ex-presidente Lula é acusado de ter recebido dinheiro por inúmeras palestras que não teriam sido dadas a empresários brasileiros e mesmo assim foram religiosamente pagas. Para quê?

O Brasil vive dias tensos. Frios, tenebrosos. E a luta dos que apoiam a "situação" tem um norte magnético: não deixar que se saiba para onde vai o dinheiro. Basta que todos os dias seja dito que estamos devendo cada vez mais. E que o déficit só cresce, sobretudo na Previdência.   

      

22 de abril de 2021

Me dá um dinheiro aí!


Em 1958 Juscelino Kubistchek participava de uma reunião com o Secretário de Estado dos Estados Unidos, John Foster Dulles, levantou-se e pediu ao outro que fizesse o mesmo para se cumprimentarem. Na foto feita nesse momento, Dulles parece ter nas mãos uma carteira com dinheiro. O Jornal do Brasil a publicou e colocou um título: "Me dá um dinheiro aí!".

Juscelino ficou possesso. Com o jornal nas mãos, esqueceu-se de toda a sua gentileza, da educação de berço e ameaçou o JB com um enquadramento na Lei de Segurança Nacional. Não fez isso. Cabeça fria aceitou um pedido de desculpas e o termo virou a música "ei, você aí, me dá um dinheiro aí", de Moacyr Franco. Na minha infância cantei-a muitas vezes. Todo mundo a cantava. Já Kubistchek preferia "como pode um peixe vivo viver fora da água fria..."

Não vou comparar o presidente que jurou fazer 50 anos em cinco com o que está no poder há pouco mais de dois anos e já destruiu o meio ambiente por meio século. Não seria justo para com o mineiro boa praça morto em acidente automobilístico na década de 1970 depois de ter os direitos políticos cassados por uma ditadura militar que estuprou a democracia ao longo de 21 anos.

Apenas o velho político das Minas Gerais me veio à mente enquanto Bolsonaro falava na Cúpula do Clima (segunda foto) para mentir sobre o Brasil, sobre sua atividade à frente do governo federal e dizer, ao fim e ao cabo, que só vai poder salvar a Amazônia se receber dinheiro dos "países ricos". Caso contrário, não.

E pediu um prazo até 2030 para deter o desmatamento ilegal. Puta que pariu! Existem leis no Brasil e basta que elas sejam cumpridas. Deter o desmatamento ilegal depende de imagens de satélites para localizar os pontos de ocupação e depois fiscais do Ibama (órgão que ele está destruindo juntamente com seu comparsa do Meio Ambiente) para multar e as polícias estaduais, federal, Força Nacional de Segurança e até as Forças Armadas para fazer com que a legislação seja cumprida. Ele pede prazo até 2030 porque até lá já não haverá mais nada a proteger. Tudo terá sido destruído.

Ele quer é a destruição total, completa do Brasil que existe hoje.

Não sei como vai terminar a Cúpula e o que o Brasil totalmente desmoralizado vai conseguir dos "países ricos". Talvez nada. Mas sei, como todos sabem afora o gado, que o presidente não vai mudar. Durante a vida toda foi um destruidor de tudo e de todas as coisas. Só sabe fazer isso.                

12 de abril de 2021

Como um castelo de cartas

 A falta de uma definição ideológica clara nos partidos políticos brasileiros é um mal que depõe contra eles já faz décadas. Mesmo aqueles que tinham em sua nomenclatura termos como "Democrático" nunca especificaram o que isso significava como horizonte, como norte político para eles. Clara era a sigla "Comunista" no nome de partido, embora houvesse dois, cada um com uma diretriz diferente.

Desde que o PCB, antigo Partidão abriu mão de seu nome oficial para se tornar primeiro PPS e depois Cidadania ele passou e se descaracterizar. Hoje, existindo com sua última nomeação, não se sabe se é uma agremiação de situação ou oposição. Embora tendo em seus quadros antigos e respeitáveis membros do velho Partidão, "comunistas de carteirinha", dá-se o direito de contar com um líder no Senado que mantém laços de intimidade política com Jair Bolsonaro, extremista de direita. E outro que grava e divulga contato telefônico com esse presidente, de teor muito suspeito. Aos poucos a legenda corre o risco de se tornar mais uma sigla de aluguel.

O imenso número de partidos brasileiros concorre para com esse samba do crioulo doido. De forma clara, indisfarçável, grande parte deles são alugados a políticos de nenhuma envergadura pessoal, ética ou moral, e a propósitos pouco claros. Há de todo o tipo de gente: ladrões de dinheiro público, oportunistas de toda sorte, enfim, arrivistas sem limites que se mostram sobretudo e principalmente como indivíduos que vendem apoio em troca de cargos públicos, emendas parlamentares e blindagem política. Como o grupo de legendas chamado "Centrão", de onde o presidente da República é oriundo e de onde ele jamais se afastou apesar dos discursos demagógicos.

Vai ser muito difícil a um país como o Brasil, habitado por analfabetos funcionais políticos mudar essa realidade. É mais provável que ela permaneça, sobretudo agora que estamos diante de um quadro confuso em nossa realidade e quando pessoas vão às ruas com discursos que, sendo inconstitucionais são criminosos. E sem que o Estado faça nada para coibir. Ao contrário, os incentiva.

Mas uma realidade se impõe: ou nossa democracia vai se sustentar em partidos políticos respeitados, ideologicamente claros e com programas abertos a todos os cidadãos ou ela vai ser tão frágil a ponto de desmoronar um dia como um castelo de carta. E com derramamento de sangue.