31 de dezembro de 2022

Fim das "cuestões"


No seu patético discurso final em live antes de ir para os Estados Unidos onde vai permanecer tentando ver se a temperatura amorna no Brasil, Jair Bolsonaro, que já pode ser chamado de ex-presidente nos despediu de suas "cuestões". Depois foi para a Base Aérea de Brasília, de onde voou para Miami no avião presidencial com vasta comitiva (foto). Tudo às nossas custas. Mas a partir de amanhã já não terá direito a nada disso e a aeronave tem que voltar ao Brasil. Basta desinfetar e usar de novo.

Por que Bolsonaro, que recebeu a faixa presidencial de Michel Temer, não vai passá-la a Lula? Porque as ações das pessoas têm a mesma estatura delas mesmas. Quem é grande age com grandeza; quem é pequeno, com pequenez. E se o ex-presidente tivesse convicção de ter agido "dentro das quatro linhas" - que termo ridículo! - nos seus quatro últimos anos de presidência, não estaria hoje assombrado pela perspectiva de muitos processos por responder. E nem de prisão por enfrentar.

Bolsonaro já passou. Passado é e com o tempo será julgado pelos brasileiros depois de vencida a paranoia dos acampamentos de militantes fanáticos no entorno dos quarteis do Exército.

Lula, em um dos seus pronunciamentos de anúncio de ministros disse que não precisa de puxa saco. Também acho e então vamos ao fatos. O ministro das Comunicações é um provável erro. E tomara o errado seja eu. Juscelino Filho votou a favor do impeachment de Dilma Roussef e era favorável à privatização dos Correios. Médico e em seu segundo mandato, tenta se apresentar como conservador num país onde esse termo é comumente confundido com reacionário. Vamos ver qual é a dele.

Outra figura muito estranha no ninho é Daniela do Vaguinho, ministra do Turismo. Essa pedagoga que, a exemplo de Juscelino está filiada ao União Brasil, defende a "linguagem neutra" no ensino. Esse é um apelido para a tal "escola sem partido", na prática uma forma de os conservadores/reacionários tirarem o ensino crítico das escolas públicas brasileiras. Ora, tudo o que o aluno precisa, sobretudo em seus primeiros tempos de formação intelectual, é da capacidade de julgar nas ciências sociais.

O perigo das frentes amplas é que se eles se tornarem amplas demais, perde-se o horizonte. Sim, Lula necessita de apoio dos partidos do Centrão para poder tocar seus projetos de governo e reconstruir um país arrasado. Mas abrir muito o leque tem riscos grandes. A ministra Daniela, por exemplo, já foi bolsonarista de carteirinha e defendeu o fugitivo dos EUA com força.

Feliz ano novo, Lula. E boa sorte. 


























Foram escolhas pessoais de Lula, que precisa de apoio desse e de outros partidos do Centrão para governar. Tomara a aposta dele dê certo, mas duvido. O problema das frentes amplas é que elas acabam amplas demais e, com isso, perde-se o horizonte. Pronto, fui crítico.

Feliz ano novo, Lula!             

28 de dezembro de 2022

Devolvam os orixás!


Quando assumiu o cargo de primeira dama, se é que isso existe, Michele Bolsonaro se disse incomodada com a existência, no Palácio da Alvorada, de peças sacras que são de propriedade pública. Assim sendo, ela determinou a transferência para o Palácio do Jaburu - segundo consta - de todas elas, inclusive as de motivação católica como duas santas barrocas trabalhadas em madeira. Mas o mais absurdo foi tirar do salão do Alvorada a tela "Orixás", de Djanira (foto), um quadro de valor inestimável e que para ela é apenas "macumba".

Jamais entrou na cabeça daquela senhora e nem na do marido dela, o presidente, que até domingo eles são meros inquilinos do Alvorada, bem como ele tem o Palácio do Planalto como local de trabalho. Então é difícil aceitar que, por exemplo, no início de seu caótico desgoverno, o presidente tenha mandado desmontar a biblioteca do Planalto. Ele queria espaço para o filho Carlos montar o gabinete do ódio, onde passou quatro anos produzindo fake news para enganar os "patriotários" que hoje ainda montam guarda nas portarias de quarteis em boa parte das cidades do Brasil aguardando um golpe militar ou de extraterrestres. Onde estão os livros?

Se eu me hospedo em um hotel não tenho o direito de mudar o mobiliário que lá está, a não ser com autorização expressa da direção. E ao que consta a direção raramente autoriza coisas como essa. O quadro "Orixás", bem como as representações de santos e outras obras de arte do Palácio da Alvorada pertencem ao Brasil, a nós todos, e não apenas e tão somente atendem aos ditames religiosos da mulher do presidente que fica de joelhos vestindo camiseta com o nome "Jesus" diante de manifestantes.

Nos últimos dois meses nós já vimos gente rezando para pneu, gente levantando aparelho celular para convocar extraterrestres, outros ajoelhados diante de portões de unidades militares pedindo intervenção militar e muitas outras idiotices mais. Chega!!!!! É hora de investir minimamente em sanidade, em respeito à escolha da maioria que elegeu um presidente adversário do atual.

Que ele leve para onde bem entender sua motocicleta de madeira entalhada, a estátua também de madeira que o representa e já foi apelidada de "Jumento de Tróia" e mais os demais presentes ridículos que recebeu nos últimos quatro anos, enquanto destruía o Brasil. Pode enfiá-los onde achar melhor. Mas as obras de arte que nos pertencem têm que ser devolvidas intactas.        

14 de dezembro de 2022

A velha jovem golpista

Durante uma semana joguei fora uma hora minha por dia para ver a TV Jovem Pan e sua programação dedicada ao golpismo e à tentativa de destruição da democracia brasileira. Aquilo é um horror! E a se analisar pela alta rotatividade dos "comentaristas" que eles contratam e demitem quase todos os dias, vai ser difícil encontrar tantos fascistas dedicados ao "jornalismo" para levar às suas bancadas de programas pobres, repetitivos e cheios de ódio. Na foto que ilustra esse texto, de um programa intitulado "Os pingos nos is", três dos personagens já tiveram que ser demitidos.

Eles constroem suas próprias "verdades" invertendo fatos diariamente, criando factoides analisando de forma desonesta quaisquer falas que contrariem seus pensamentos ou os de seus patrões, enfim, tudo o que não possa colaborar para que o ainda presidente da República continue a sonhar seu sonho golpista de que venceu a eleição do dia 30 de outubro ou então que esta foi-lhe roubada maquiavelicamente por forças ocultas controladas pelo comunismo internacional que quer tomar o Brasil dos "patriotas" e comer as nossas indefesas criancinhas.

Existiu no passado em São Paulo a Rádio Panamericana, que se dedicava a futebol e música. Na época, a TV Record, então a emissora de maior audiência do Brasil tinha como CEO Paulo Machado de Carvalho e era do grupo. Ele foi um empresário conservador, apaixonado por futebol e que chefiou a delegação brasileira na Copa do Mundo da Suécia, em 1958. Ganhamos o Mundial e ele o título de "Marechal da Vitória". A Record foi revolucionária na televisão, tendo lançado o embrião da maior parte do que de melhor temos hoje. Ficando em poucos exemplos, na Record surgiram Hebe Camargo, Jô Soares, os festivais de música, as séries de TV e muito mais. Mas ela foi vendida depois e hoje pertence ao senhor Edir Macedo, tido como bispo da Igreja Universal.

A Rádio Panamericana se tornou Jovem Pan e conseguiu um certo grau de modernização. Até ter como CEO Antônio Augusto Amaral de Carvalho Filho, vulgo Tutinha, neto de Paulo Machado, nazifascista de carteirinha e que comanda o golpismo televisivo do País. Conseguiu grande audiência com seus desonestos "comentaristas" mas, temendo um processo atrás do outro, vira e volta manda alguém embora. E vai continuar a fazer isso até a fonte secar porque não se comete crimes de fake news, calúnia, injúria e difamação sem pagar por eles o tempo todo, a vida toda. A conta vai chegar em breve.

Essa gente já perdeu!                                

8 de dezembro de 2022

"Você não entendeu..."


Corria o ano de 1965 e o primeiro presidente da ditadura militar leu em um jornal que um seu irmão, servidor de carreira da Receita Federal havia ganho dos outros funcionários um carro Aero Willis zero quilometro como retribuição à ajuda que dera para a feitura de uma lei que organizava a carreira federal naquele órgão. Imediatamente o presidente, marechal Humberto de Alencar Castelo Branco ligou para o irmão e determinou que o veículo teria de ser devolvido à concessionária.

O irmão então disse: "Veja, Humberto, se cada fiscal tivesse sido presenteado com uma gravata, o valor seria muito maior". E acrescentou que a devolução o colocaria fragilizado no seu cargo. Então o presidente encerrou a conversa: "Você não entendeu. Afastado do cargo, você já está. Estamos agora decidindo se você vai ser preso ou não". Esse episódio foi narrado pelo jornalista e historiador Elio Gaspari para a Folha de S. Paulo em 10 de julho de 2005.

Vamos nos transportar para esse final de 2022. O que um jornalista como eu, que odeia a ditadura militar, pensaria se tivesse que traçar um paralelo entre o Castelo Branco de 1965, apenas um ano depois do golpe de Estado que depôs o presidente João Goulart e o Jair Bolsonaro de hoje que, às vésperas de entregar a presidência a Luiz Inácio Lula da Silva, abastece todos os canalhas que o seguem nos projetos de golpe de Estado e destruição da democracia construída a duras penas de 1985 para cá. Isso quando o último ditador de plantão, João Batista Figueiredo, que preferia cheiro de cavalo a cheiro de gente, não tentou um golpe.

Na montagem de foto acima estão Castelo de um lado e Bolsonaro de outro. É abissal a distância ética entre um e outro. No caso do presidente atual, eleito pelo povo, ele escondeu anos de "rachadinhas" suas e dos filhos. A familícia comprou mais de uma centena de imóveis em dinheiro vivo. Agora mesmo o mais velho da filharada quer passar por cima de normas legais para ter uma ilha no litoral fluminense. São tantas as falcatruas que isso chega a desconcertar. E mesmo assim ainda há uma legião de idiotas e criminosos capazes de seguir esse esquema rezando para pneus e chamando extraterrestres.

Chega, por favor. Todos têm que ser processados para pagar por seus crimes. Essa gente precisa ser condenada e presa, sem que se cogite em anistia. O Brasil não pode mais ser desmoralizado como está sendo por essa quadrilha de maioria psicopata. E os processos devem envolver também os que não estão diante de quartéis, mas alimentam de ódio todos os dias as redes sociais. CHEGA!                        

2 de dezembro de 2022

Como se não houvesse amanhã


No dia 1° de janeiro, quando tomar posse na presidência da República o presidente Luís Inácio Lula da Silva encontrará um Brasil devastado para gerenciar. E mesmo hoje, ao comando de uma equipe de transição, já tem a exata noção disso. O Ministério da Saúde, um dos mais destruídos, chegou ao cúmulo de negar à próxima administração o direito de conhecer dados e fatos, sobretudo os ligados à vacinação dos brasileiros. Bolsonaro governa o seu final de tragédia como se não houvesse amanhã!

O Brasil está terminando de ser desmontado. Caiu 24 posições no ranking dos países que conseguem reter seus talentos (do 45° para o 69º lugar); as universidades públicas foram devastadas e talvez mais do que os nossos biomas tão caros e frondosos; o valor destinado à produção de conhecimento cai a cada ano que passa: 40,7 bilhões em 2014, 20,7 bilhões em 2022 e previsão de 17,1 bilhões em 2023; não há mais dinheiro para o Ibama conter grilagens e invasão de terras indígenas, para citarmos somente dois casos; o garimpo ilegal nunca floresceu tanto; até mesmo as polícias estão sem poder manter veículos em funcionamento.

E o presidente, no Palácio da Alvorada (foto), não vai à reunião do Mercosul e passa os dias pensando no que pode fazer para tornar ainda mais pedregoso o solo onde Lula vai pisar. Mas existe amanhã!

Ele assumiu o poder em 2018 com o plano de reagir a qualquer insubordinação às suas ordens com um golpe de Estado. Previa isso, mas deu com os burros n'água. Em determinado momento chegou a dizer que interviria no Supremo Tribunal Federal e teve que recuar diante de conselhos contra essa aventura insana. Depois de perder a reeleição, voltou-se às forças armadas para tentar estuprar a democracia. Só que a aventura foi recusada por todos ou, ao menos, pelos de mais juízo. Ele jamais acreditou no Estado Democrático e de Direito porque todos os seus ídolos são ou foram fascistas ou ditadores e esses só têm apreço pelo totalitarismo. Falar de liberdade para esse homúnculo é mera falácia.

Mas existe amanhã. E o do indivíduo recluso no Palácio da Alvorada onde passa dos dias a imaginar  como destruir ainda mais devem ser os processos, as condenações e a prisão. Que, por sinal, merece.