14 de dezembro de 2020

A risada da hiena


Um dia desses estava prestando atenção na risada do presidente da República, uma das milhares que ele dá por qualquer motivo. Sim, porque tudo é despropositado naquela risada sem propósitos claros. E debochada. Então tentei comparar aquilo a alguma coisa conhecida. Encontrei paralelo somente na risada da hiena, o bicho estranho, comedor de carniça e que vive na África.

Alguém me pediu para ler um artigo de pesquisadores da Universidade da Califórnia sobre o ruído emitido por aqueles animais. Eles chegaram à conclusão de que a risada deles expressa frustração. A conclusão é de que os bichos riem de maneira diferente de acordo com a sua posição dentro do grupo. Então, no caso deles, animais gregários, dão risadas quase sempre para não chorar. Literalmente.

No caso do presidente, sou capaz de dizer que aqueles sons de palanque expressam sobretudo insegurança. Medo de não conseguir realizar seus planos, projetos. Por isso Mandetta se tornou um empecilho. Por isso o mesmo aconteceu com Moro. Agora talvez com Mourão que, infelizmente para essa hiena palaciana, não pode ser pura e simplesmente afastado de seu cargo.

Bolsonaro demonstra preocupação. Não apenas porque não consegue fazer as pessoas acreditarem que é preciso milhares morrerem para a pandemia acabar sem que ele seja ao final responsabilizado por essa aberração, mas também porque ainda não tem certeza de que a tática de seu ídolo Trump vai dar resultado nos Estados Unidos. É quase certo que não e por isso ele vai ter que importá-la para cá com diversas modificações além do grito de: "Houve fraude, gado!"

Pena, mas isso é teatro de baixa qualidade. Mambembe, de lona rota. O incrível é ele manter hoje um grupo de apoio tão grande apesar do baixo nível de suas apresentações, como mostrou a pesquisa do Data Folha. Sou capaz de apostar que essa popularidade vai minguar, se reduzir como risada de hiena em final de carreira. O bicho que causa medo, repulsa e quando morre o leão esfomeado se recusa a comer sua carne. Dizem os pesquisadores que por ser de péssima qualidade.         

7 de dezembro de 2020

Suprema é a Constituição!


Nos últimos dias o Brasil parou para acompanhar o julgamento, pelo Supremo Tribunal Federal (STF), da questão envolvendo a sucessão na Câmara e no Senado. Os atuais presidentes podem ou não tentar a reeleição? E a resposta da maioria dos ministros foi "NÃO". A Constituição taxativamente não permite. Assim sendo o caso está encerrado. Suprema é a Constituição!

Mas por que essa questão envolveu tanta paixão e acirrou os ânimos da forma como acirrou? Porque o presidente da República se julga dono do País. Porque, para ele, tudo deve se curvar a seus ditames, à sua verdade geralmente baseada em nada. Ou menos um pouco que isso. Ele não quer o atual presidente da Câmara no cargo; quer outro e agora vai fazer o que sempre tenta: interferir em outro Poder.

A Constituição diz que as casas legislativas não podem continuar com as mesmas mesas diretoras no curso de uma só legislatura. Deve haver alternância porque isso é benéfico para a democracia. E a nossa chamada "carta magna" foi escrita e promulgada quando estávamos saindo de uma ditadura militar de 21 anos. Era preciso garantir ao Brasil um sistema de alternância, o que foi feito.

Posso dizer que, pessoalmente, preferiria uma Câmara e um Senado longe do tacão do presidente. Mas isso caso as leis em vigor previssem tal hipótese. Como não permitem, vai ser preciso haver uma eleição para que a maioria escolha outros chefes de casas legislativas. Podemos no máximo torcer para que seja feita a melhor escolha. Aquela que atenda aos interesses do Brasil. Como disse hoje a juíza aposentada Denise Frossard no Facebook, que sejam eleitos "parlamentares com currículo e não folha corrida".

Quando um presidente usa seu poder nos limites ditados pelas leis, sobretudo pela Constituição, ele conhece as fronteiras, os tamanhos máximos de sua autoridade e não os ultrapassa por apreço e amor à democracia. Quando o STF tem a Constituição como seu Norte, também não precisa de um 6 a 5 para que ela seja respeitada. Desse modo evita pesadas nuvens de tempestade sobre seus telhados.

Suprema é a Constituição que emana do povo!        

2 de dezembro de 2020

Mas então já era tarde...


 Fui amigo de Hélio Demoner (foto de arquivo pessoal) durante cerca de 47/48 anos. Primeiro, acompanhando o veterano jogador de basquete e depois dirigente no Saldanha da Gama. Depois, um jornalista e outro professor universitário, cobrindo as múltiplas atividades dele à frente dos esportes, sobretudo o "bola ao cesto", como às vezes falávamos acerca de seu esporte preferido. Até que em abril deste ano rompemos a amizade. Por isso a notícia de sua morte dói tanto e tão intensamente em mim.

E foi tudo por causa de política. No dia em que ele me chamou para entrar nos grupos de apoio ao tal Bolsonaro, primeiro aceitei para espionar, mas logo em seguida senti-me na obrigação de dizer a ele que estávamos em lados opostos. E o afastamento começou imediatamente.

Demoner, dentre inúmeras outras atividades, criou os Jogos Abertos Jerônimo Monteiro, os JAJEM. Por que o nome? "Para abrir as portas da Rede Gazeta", ele respondeu. Dirigiu os JAJEM por 23 anos, a maior parte do tempo contando com minha ajuda para divulgar ao máximo a iniciativa. Era tremendamente meritória, pois visava ao esporte da meninada, do início, da fase da paixão esportiva. E revelou muita gente boa. Poderia muito bem ter outro nome e teria o mesmo mérito. Mas acabou morrendo de inanição mais de duas décadas depois com o pauperismo dos esportes amadores capixabas contra o qual lutei tanto...e não adiantou nada ter aquele nome.

Hélio era um professor muito querido na UFES. E também um entusiasta pela história dos esportes. Guardava centenas de fotos, vídeos, depoimentos de muitas pessoas. Um arquivo valioso. Espero que esse acervo não seja jogado fora. Que seja preservado, principalmente pela Universidade.

Minha maior briga com ele aconteceu em abril último e por causa da pandemia da Covid-19. Eu postei que o presidente era um boçal por chamar a doença de "gripezinha" ou "resfriadinho" e ele disse que nós, os opositores, estávamos criando um meio de destruir a economia para atingir "meu capitão". Retruquei, nos bloqueamos mutuamente nas redes sociais e nunca mais nos falamos.

E foi por saber hoje cedo que ele havia morrido de Covid-19 que sofri mais. Não acredito em festa no céu, em campeonato celeste de basquete. Mas acho sinceramente que o doente terminal, antes de ficar inconsciente e mesmo depois disso consegue pensar, sente que vai morrer e, quem sabe, avalia que errou. Sou capaz de apostar, e por isso chorei, que no final meu amigo Hélio soube que estava no fim. Quem sabe, que havia errado. Talvez, que faria tudo diferente caso pudesse.

Mas então já era tarde...           

25 de novembro de 2020

E dai?


É fácil constatar, sobretudo nessa reta final de campanha municipal do Brasil: o oportunismo político está  em todos os lugares, invadindo a quase totalidade dos partidos. Parece até uma espécie de sociedade anônima que age às claras e com sabidos usando máscaras que serão tiradas tão logo o resultado final das urnas defina os últimos eleitos no segundo turno das capitais.

Esse oportunismo está longe de ser inédito, mas tem peculiaridades interessantes. Vamos ficar aqui em Vitória (ES), onde o candidato do PT, João Coser, dono de belo passado como prefeito, tenta se eleger diante do deputado delegado de polícia Pazolini, um aliado do presidente Bolsonaro que agora se esconde dele como o diabo da cruz. Os dois chegaram ao segundo turno derrotando o candidato do Cidadania, Fabrício Gandini. Aliado do prefeito de Vitória, Luciano Rezende, do mesmo partido, ele foi obrigado a surfar na onda do descrédito de seu mentor e perdeu. Depois de ter atacado fortemente o delegado no primeiro turno, Gandini mergulhou. E mergulhou fundo. Profundamente... Os candidatos a vereador e vereadores do Cidadania passaram imediatamente para o lado de Pazolini. A ninguém interessou pensar que a história do Cidadania proibia tal oportunismo. E nem a direção nacional, que lavou as mãos. Bastante apropriado em tempos de pandemia.

Nem mesmo o PT, em algumas raras situações mais específicas se livrou disso. Não adianta nem a gente falar de outras siglas, principalmente as ligadas ao "Centrão" como o MDB, pois elas já entraram para a prostituição faz muito tempo. Transitam para lá e para cá com a desfaçatez dos que se colocam na vitrine desse black friday de final de temporada política. Cobram pouco para viver na zona...

O mais bizarro desse fim de ano eleitoral reside no fato de que grande parte dos candidatos de extrema direita são umbilicalmente ligados ao presidente da República. Mas ele já retirou suas "lives" de apoio do ar nas redes sociais que frequenta. E os afilhados deverão se lembrar do padrinho após domingo que vem. Claro, os raros que sobrarem com algum mandato para desempenhar.

Que pena, e o eleitor, como fica nessa comédia? E as histórias dos partidos políticos? Se bem me recordo, era no antigo MDB, depois PMDB e agora MDB de novo que nos escorávamos nós, aqueles que combatiam a ditadura militar entre 1964 e 1985. Será que os atuais oportunistas, inclusive do Cidadania sabem disso? Alguns certamente sim. E daí?             

20 de novembro de 2020

Vamos acordar!

Era uma reunião de chefes de Estado dos Brics e realizada à distância porque o mundo está envolvido em uma pandemia assassina. Então o presidente do Brasil, que posou sentado ao lado de seu insignificante ministro das Relações Exteriores e seu inseguro ministro da Economia (foto) disse textualmente, fugindo à pauta de assuntos previamente acertados, que alguns países estão importando ilegalmente madeira brasileira, de nossa imensa Amazônia, e ele tem provas colhidas pela Polícia Federal. De "DNA". Em breve, muito breve os países que agem criminosamente serão denunciados, desmascarados, expostos publicamente.

Os outros presidentes ouvem sem intervir. Conhecem bem a peça! E a reunião termina dentro da pauta e com a cantilena presidencial brasileira como sempre pedindo reformas nos organismos internacionais e atacando a OMS e suas políticas de combate à pandemia mundial.

Passam-se 48 horas. E novamente está o presidente no Brasil no ar, mais uma vez em rede social, mais uma vez  no Palácio do Planalto e agora para dizer que país nenhum rouba madeira do Brasil. Que são empresas (sic!). E então, como se não tivesse dito nenhum tipo de estupidez na reunião anterior, ele não fala mais de países, de nada, mas afirma que a França é nosso concorrente...

Só que ele, o presidente, não toca no primordial: quem desmata ilegalmente o Brasil para que 80 por cento da madeira ilegal seja consumida aqui mesmo são brasileiros. E fazem isso porque o governo federal permite, incentiva, desmonta os organismos de fiscalização e quer ver a Amazônia em parte destruída. É essa sua política para a região.  

O que é isso, gente? Onde o Brasil está se metendo? No fundo de que buraco vamos parar com tantas e tão grandes irresponsabilidades perpetradas em plano internacional pelo megalomaníaco que nos governa faz pouco menos de dois anos? O Brasil é hoje um pária internacional e quase todo mundo sabe disso, menos o gado que segue cegamente Jair Bolsonaro e seu grupo familiar e de amigos próximos.

Nos EUA, Donald Trump, o ídolo do presidente brasileiro, se debate como louco sustentado por acusações infundadas para não deixar a Casa Branca. Dane-se a democracia dos Estados Unidos! Por aqui sou capaz de apostar que o atual presidente acompanha tudo atentamente para fazer o mesmo em 2022, pois sua campanha de ataques ao sistema eleitoral brasileiro objetiva minar essa instituição. E a invasão cibernética acontecida antes das eleições do dia 15 veio - podem acreditar - de grupos diretamente ligados à miserável "ala ideológica" desse governo.

Vamos acordar!

Encerro esse texto lembrando aqui palavras de Dante Aligheri: "No inferno os lugares mais quentes são reservados àqueles que escolheram a neutralidade em tempo de crise".

Isso vale até para eleições municipais..

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16 de novembro de 2020

Os recados das urnas

 As eleições realizadas ontem e com vários desdobramentos para dentro de 13 dias deixaram recados das urnas aos brasileiros. O melhor de todos é que o presidente Bolsonaro não é cabo eleitoral de respeito em lugar nenhum. Afundou alguns correligionários e outros agora vão guardar distância de segurança dele no segundo turno. Interessante, não é? Pode ser um indicativo de que a onda de extrema direita está prestes a começar a mostrar esvaziamento maior. Tomara venha a ser assim.

Aqui em Vitória (ES) onde moro o delegado de Polícia bolsonarista Pazolini chegou ao segundo turno em primeiro lugar contra o candidato do PT, o ex-prefeito João Coser. Ele derrotou Gandini, do Cidadania, antes favorito. O que houve? Primeiro, para muita gente a candidata ideal era Lenise Loureiro, secretária de Estado do governador Renato Casagrande. Segundo, Gandini foi derrotado pelos erros de seu cabo eleitoral, o prefeito Luciano Rezende, político de talentos questionáveis, arrogante, distante e que passou os mandatos trancado em gabinetes, saindo para receber homenagens ou andar de bicicleta. Jamais debatia com os munícipes. Transferiu sua rejeição para o "pupilo" que ainda foi prejudicado por uma incursão da Polícia Federal em seu gabinete e na PMV, dias antes da eleição. Incursão suspeita porque o bolsonarista é delegado de Polícia e a investigação de uso de dinheiro publico na campanha o beneficiou diretamente.

As urnas mostraram que os partidos de direita, distantes do extremismo do presidente, têm força. Infelizmente parte deles, sobretudo nas alas ligadas ao MDB e siglas menos importantes, há um vínculo claro e forte com a corrente do Centrão, aquela ala fisiológica do Congresso que troca apoios por cargos em quaisquer circunstâncias. Não por coincidência é justamente dessa ala que provém o presidente da República, velho militante do "baixo clero" da política brasileira. Ele, claro, não representa a "nova política", seja isso o que for. É líder de si mesmo, de seus filhos e amigos mais diretos num projeto de governo extremista e que só tem "ala ideológica"  na defesa de interesses pessoais.

O mais importante dos resultados de ontem é o fato de estar provado que o apoio popular ao pensamento (sic!) político presidencial fica mesmo na casa dos 30 por cento, um pouco a mais, um pouco a menos. Pazolini, o seguidor de Bolsonaro que foi ao segundo turno em Vitória junto com o PT, teve exatos 30,95 por cento dos votos válidos. Isso indica que qualquer candidato ligado diretamente ao governo federal pode ser derrotado por uma coligação de centro esquerda. Ele vai enfrentar perto de 70 por certo dos demais, ao menos em teoria.

Mas terá a centro esquerda e a esquerda a capacidade de renúncia a projetos pessoais capaz de formar blocos coesos de enfrentamento a esse nazi-fascismo tupiniquim pobre do Brasil? É o que se pergunta. É o que perguntamos nós daqui de Vitória, onde um representante do extremismo, jovem, bem apessoado, falante, invasor de hospitais e suspeito de estar ligado direta ou indiretamente a setores podres do espectro político capixaba vai enfrentar um ex-prefeito de boa avaliação.

Vamos ver como esse teste será feito. Afinal, nosso voto tem poder! 
           

13 de novembro de 2020

Expropriação, já!

Na última confusão pública na qual se meteu o governo foi protagonista de uma proposta  - ou sugestão ou qualquer outra coisa que se queira imaginar - bastante progressista, digamos assim. Vazou para a imprensa um documento do Conselho Nacional da Amazônia Legal (foto), órgão presidido pelo vice-presidente Amilton Mourão e no qual está prevista a expropriação de propriedades com registros de queimadas e desmatamentos ilegais. Justamente o que o mundo civilizado quer ver o Brasil fazer com seu meio ambiente. O mundo sim, mas o presidente da República, não.

Ora, agora que Bolsonaro deu uma bronca no seu vice, disse que essa proposta não passa de delírio e fez com que Mourão tivesse vindo a público dizer que o documento é apenas um arrazoado de ideias a serem ainda enviadas aos ministérios da área, fica a sugestão que dou aqui: por que os partidos de vanguarda do Brasil não fazem disso um projeto de lei para ser levado a votação?

Ao tomar conhecimento do fato ontem, cheguei a pensar que talvez o Cidadania pudesse fazer isso. Lembrei-me de que ele um dia foi PCB, o Partidão de saudosa memória, depois passou a se chamar PPS, de pouca memória, e agora tem o nome citado acima. Mas me pergunto: será que exceto Roberto Freire e mais uma plêiade de veteranos e dignos militantes os demais conhecem a história de seu partido? Quantos dos atuais membros, com mandato ou não, conseguiriam falar durante cinco minutos sobre a história do Cidadania? Estou falando cinco minutos porque mais é covardia...

Fica a sugestão, motivo desse texto. Nos dias atuais a terra é usada não apenas para queimadas e desmatamentos ilegais em regiões amazônicas, pantaneiras, de mata atlântica, restingas e outras, mas também para garimpo, plantio de drogas e ocupações ilegais até mesmo em terras indígenas e parques nacionais. Para todo tipo de crime. E, pasmem os que ainda não sabem, com o beneplácito do governo federal. Até mesmo fiscais e ocupantes de cargos importantes no Ibama que determinaram a queima de máquinas e equipamentos de maneira legal foram demitidos pelo atual presidente da República. E agiam ao abrigo das leis em vigor.

Vamos fazer esse texto legal? Vamos nos apropriar dessa boa ideia governamental e fazer com que ela prossiga para defender nosso País? Se o Congresso aprovar uma lei dessas o presidente veta. E se ele vetar esse mesmo Congresso, com apoio popular, derruba o veto!

Mão à obra. Expropriação já!              

10 de novembro de 2020

Aqui vai acontecer a mesma coisa


Em tom professoral, um homem explicava a dois outros hoje pela manhã em frente a uma banca de jornais e revistas do bairro de Jardim da Penha: "Bolsonaro quer a coisa certa!" E com esse argumento buscava trazer para sua crença política pessoal e irrefutável as duas ovelhas desgarradas, pois elas teimavam em acreditar em "rachadinhas" e outras coisas mais.

O episódio de me fez lembrar conversa mais ou menos recente com uma dileta amiga jornalista, Helena de Almeida, que faz anos é ativa em marketing político por aqui: "Continuem demonizando a política e vocês vão ver o governo conservador e reacionário crescer no Brasil de maneira desenfreada".

O assunto que não sai das manchetes dos jornais nos remete ao fato de que Joe Biden venceu as eleições presidenciais dos Estados Unidos, mas Donald Trump, com acusações toscas de fraude, recusa-se a aceitar a derrota. O caso fatalmente parará na Suprema Corte e só ela dará a palavra final. Alguém por aqui tem a menor dúvida de que Jair Bolsonaro fará a mesma coisa no Brasil caso perca em 2022? Eu não tenho. É da essência da democracia comemorar as vitórias e reconhecer as derrotas, mas só os democratas verdadeiros fazem isso. Trump e Bolsonaro são negacionistas e sua "ideologia" nasce a partir da negação dos valores democráticos. E da destruição de suas mais caras instituições como, por exemplo, o sistema político eleitoral.

O fenômeno norte-americano é igual ao do Brasil. Aqui a realidade do bolsonarismo, como é chamado, começou na cauda de cometa da descrença no plano político. O brasileiro comum, da mesma forma que o norte-americano, não se sente representado ou protegido pelos políticos tradicionais. Vai daí, acreditam nas mentiras que surgem, tornam-nas verdades e arremetem contra os adversários criando universos próprios, distantes do real. Na maioria das vezes têm reações violentas contra seus "inimigos".

Hoje nós pudemos ver aqui mesmo o presidente lutar junto à ANVISA contra a vacina que o Instituto Butantan produz junto a uma empresa chinesa porque, para ele, essa droga é patrocinada por um adversário político, é comunista e dane-se o interesse público: ela não pode "ganhar". Quem ganha é ele embora perca sempre e todas. Mas isso é ruim porque prejudica os brasileiros, inclusive aqueles seus apoiadores e intitulados um belo dia por seu filho Eduardo como "gado".

Onde vamos parar? Se tudo der certo, em 2022. Se tudo der ainda mais certo, numa eleição presidencial que pode tirar o negacionismo do poder, devolvendo-o a verdadeiros democratas, sejam eles de que matiz política forem. Mas não devemos esperar por comportamentos sãos nas próximas eleições. Como exercício, acompanhemos com atenção os acontecimentos dos Estados Unidos porque eles tendem a se replicar aqui. Tomara que não, mas tendem sim.

Nós demonizamos a política todos os dias, em parte por causa do comportamento errático da maioria de nossos representantes legislativos. Eis aí o resultado!         

3 de novembro de 2020

Política, questão de princípios!


Política é uma questão de princípios. Quem os tem, transporta-os consigo para a vida que vai viver em cargos públicos, sejam eles quais forem. Quem não os tem, faz da atividade pública um trampolim para alcançar o objetivo mais imediato, a riqueza extrema e desonesta, a divulgação de mentiras como arma de campanha, etc. Aqui no Brasil o exemplo mais pronto e acabado disso é a corrente política onde estão os parlamentares do bloco conhecido como Centrão. O tal "baixo clero". O reduto onde nasceu, se formou e viveu o atual presidente.

Hoje mesmo eu estava vendo um vídeo de cerca de quatro minutos de duração com falas desse mandatário do Brasil, o Jair Bolsonaro, sobre todos os assuntos. Ele se declara favorável à ditadura, à tortura física, xinga os gays, despreza os negros, faz pouco caso de mulheres e, além de várias outras barbaridades, diz textualmente o seguinte: "Eu sonego tudo o que posso!". No vídeo não aparece isso, mas em outra ocasião ele já declarou - e está gravado - o seguinte sobre os privilégios da classe política: "Não abro a mão de nada!"

Isso explica a admiração dele por Donald Trump, que chega ao ponto de um "y love you" em plena ONU. Ambos desprezam a democracia. E não se trata de serem somente politicamente incorretos, não. Eles, se pudessem, viveriam em sociedades onde fossem chefes de Estado exercendo governos acima dos poderes constituídos, sem precisar dar satisfação a ninguém sobre seus atos. Podemos explicar isso com um único exemplo: o presidente dos Estados Unidos usou inúmeras vezes o voto pelos Correios nas eleições passadas norte-americanas. E agora? Agora esse tipo de voto é fraudulento só se ele perder. Caso contrário, não.

Como crer em alguém ou numa família que já condecorou milicianos, que pratica "rachadinhas", que paga imóveis em dinheiro vivo, que usa de todos os meios possíveis e imagináveis para não permitir investigações sobre seus atos e de seus próximos, que patrocinou manifestações pró destruição de instituições caras ao regime democrático, pretende exercer controle absoluto sobre a PF, esconde fatos e demite funcionários públicos que tomam medidas contra criminosos com base em leis vigentes? Não é possível.

Política é uma questão de princípios!

Pense nisso ao votar. No próximo dia 15 todos nós teremos a primeira oportunidade de colocar princípios em prática nas urnas no nosso pós 2018. E não podemos errar porque a coleção de erros praticados pelo Brasil nos últimos anos, tanto à direita quanto à esquerda, já é grande demais. Imensa!

Precisamos ver os que odeiam a democracia pelas costas.

21 de outubro de 2020

Tempos insensatos e loucos


É fácil concluir: o atual presidente da República não tem apreço algum à vida humana. Ele pensa unicamente em seu mandato, no sonho de reeleição e aceita qualquer desafio para conseguir alcançar esse objetivo. E se milhares de brasileiros morrerem em consequência de seu desvario? Paciência, são os riscos que se corre... E daí?

Hoje mesmo disse no grupo de assessores e em mensagem dirigida ao seu gado que o atual ministro da Saúde, um general do Exército que nada entende do assunto, está querendo aparecer. Teria ficado entusiasmado com os holofotes. Então o desmoralizou publicamente dizendo que a aquisição de vacinas produzidas pela Sinovac, empresa chinesa, não virão para o Brasil. Qualquer ministro com vergonha na cara teria pedido demissão, mas... O pensamento desse cidadão presidente é muito simples: essa vacina está sendo produzida em parceria com o Instituto Butantan, e a instituição paulista estaria hoje ligada a um governador seu desafeto. Então não.

Não existe vacina chinesa, inglesa, norte-americana ou de outra procedência. Existem vacinas sendo produzidas no mundo todo para o combate a uma pandemia responsável por mortes que já atingiram o milhão em todo o  mundo e que hoje colocam a Europa novamente em pânico. Ela e os Estados Unidos onde um presidente irresponsável, belicoso e desesperado para não perder uma reeleição fala até mesmo em não aceitar um resultado desfavorável porque, nesse caso, houve fraude. E isso porque milhões de cidadãos daquele país estão votando pelos Correios, o que o tal presidente também sempre fez.

São tempos insensatos, para dizer o mínimo. Tempos nos quais uma situação da maior gravidade virou artigo político. Até poucos dias atrás a roda girava em torno de uma droga de nome cloroquina e que foi usada politicamente - de forma irresponsável - pelo presidente. Agora o inimigo é a vacina. Isso num mundo onde os últimos cem anos assistiram à salvação de milhões de pessoas graças a elas.

São tempos loucos. E neles as mensagens de rede social impulsionadas por fanáticos seguidores da horda presidencial - ou seriam robôs? - determinam o que ele vai fazer em benefício ou malefício de mais de 200 milhões de pessoas. E daí se muitos morrerem? O candidato à reeleição é Messias mas não faz milagres... Não, nós nunca antes vivemos tempos como esses.

A solução mais uma vez deve nos remeter ao Poder Judiciário para que o Executivo seja obrigado a oferecer aos cidadãos - um direito deles - as medicações das quais necessitam e necessitarão. E, ao mesmo tempo, se é para dar ao gado o direito de não se vacinar, também uma decisão judicial deveria garantir que esses seguidores, sem atestado vacinal, não tenham direito a usar o SUS caso corram risco de vida. Afinal, se isso acontecer que eles procurem ajuda e internação no Palácio do Planalto.            

           

14 de outubro de 2020

Precauções!


Um dia o governante de extrema direita de um país hipotético acordou com a missão de assinar o decreto para a construção de novas penitenciárias. A criminalidade aumentava no lugar e ele temia não ter mais vaga para detentos em breve. Esse negócio de criar empregos, fazer justiça social, essas coisas de comunistas poderiam ficar para depois, num projeto do tipo "Meu país verde/amarelo", coisas do gênero.

Os auxiliares estavam ao lado. Projeto com portas de aço reforçado, celas com espaço exíguo, privada de buraco no chão, nada de banho de sol, canceladas as visitas de parentes, comida sem controle de qualidade, andrajos como vestimenta, enfim, os projetos que ele havia desenvolvido durante anos, nos tempos em que não precisava fazer nada como deputado na Câmara Federal de Brasilândia, onde os dias transcorriam entre assinaturas de nomeações e demissões, desvio de dinheiro de "rachadinhas", feitura de discursos de elogios a ditadores e torturadores de seu credo político, essas coisas sempre necessárias.

Um dos assessores falou: "Quero que o senhor veja o projeto dessa área afastada da ralé, inspirada nas prisões cinco estrelas de Monte Carlo, às quais a gente deve acrescentar ar refrigerado, TV de 80 polegadas, chuveiros eletrônicos e outras mordomias mais". O governante ficou maluco: "Vai tomar no cu, porra! Que prisão de luxo merda nenhuma. Por que eu faria uma coisa dessas na penitenciária?". O assessor respondeu: "A gente não pode prever o dia de amanhã. E também temos nossos filhos, né!". Então  governante deu um tapa na bunda do outro e completou: "Bem pensado, faça isso".

Voltando para o mundo real, o presidente Jair Bolsonaro não vetou o trecho da lei que impediria a soltura do chefe do PCC, hoje em liberdade quem sabe no Paraguai, quem sabe na Bolívia, quem sabe em outro lugar. O Congresso também não votou definitivamente a lei que leva à prisão todo e qualquer indivíduo com condenação em segundo instância. O Supremo só está se movimentando agora. A gente não sabe do futuro! São necessárias precauções!

Em tempo: a foto acima é da prisão de Monte Carlos. Onde Salvatore Caccciolla esteve por algum tempo. Ele é capaz de jurar que essa aí dá de dez a zero na Papuda.            

8 de outubro de 2020

A reedição necessária


Dentro de menos de dois anos estaremos comemorando o bicentenário da Independência do Brasil. E será a hora de darmos aos brasileiros, além de desfiles militares, tiros de canhão, discursos vazios de sentido, falsas demonstrações de patriotismo e cargos comissionados bem remunerados aos bajuladores, coisas muito mais palpáveis. Caras! Sobretudo daquelas que nos remetem ao passado, como o livro "A expedição de Pedro Álvares Cabral - e o descobrimento do Brasil".

Explico melhor: em 1919 (alguns dizem que em princípios de 1920) o governo brasileiro incluiu nos festejos do centenário da independência um livro que seria - como efetivamente foi - encomendado ao político, historiador, e escritor português Jaime Zuzarte Cortesão (1884/1960. Contaria a história da viagem de Cabral aos brasileiros, pois pouco de real se conhecia então. Ou se sabia errado. Cortesão mergulhou na tarefa, pesquisou até onde foi possível e escreveu um livro riquíssimo.

Essa obra da Livrarias Aillaud E Bertrand (Paris-Lisboa) foi impressa nas oficinas gráficas da Biblioteca Nacional e distribuída em 1922. Com 330 páginas, logo se esgotou aqui e em Portugal. O autor começa dizendo que "Em boa verdade, não nos pertence a iniciativa dêste livro. Convidados a colaborar na História da Colonisação do Brazil, a obra monumental, com que a Colônia portuguesa em terras brasileiras celebra o Centenário da Independência da nação irmã, e tendo-nos cabido, dentro do seu lago plano, o relato da expedição de Pedro Álvares Cabral..." e seguiu adiante para dizer que, ao final e ao cabo a tarefa esgotou proporções que excediam o âmbito marcado.

Pesquisa de fôlego. Contém até um "Exame das fontes e primeiros textos sôbre a expedição". Não se esgota como uma simples narrativa e nem contém apenas a carta de Pero Vaz de Caminha ao rei Dom  Manoel, como é comum por aqui. Resgata vários documentos. Contém ilustrações belíssimas. Enfim, tem peso como documento histórico.

Mas o livro se esgotou. E ao menos no Brasil não teve o tratamento e a perenidade que deveria ter. Foi relegado a um plano inferior, sua edição sumiu das livrarias e hoje quase poucos sabem dele. Mas existe. Comigo guardo, em perfeito estado e com sobrecapa dura, um dos raros exemplares existentes no meu país. Ele deveria ser reeditado. Merece ser reeditado. Tem que ser reeditado porque há tempo para isso, os brasileiros precisam ter esse trabalho e ele nos pode ser entregue antes de 7 de setembro de 2022, inclusive acrescido de novas pesquisas.

Sim, existe o risco de a Secretaria da Cultural federal não achar que isso tenha a menor importância. A gente sabe quem é o secretário... E que seu chefe presidente deverá se perguntar o que ele estaria a fazer em um lançamento de livro, sobretudo em biblioteca, livraria ou editora, esse ambiente de contestadores e terroristas comunistas sanguinários. Mas mesmo assim vale a pena alguém levar essa sugestão a ele.

Não foi possível? Mal menor. Há no Brasil empresas e instituições que podem se ocupar disso com o maior compromisso e prazer. Como a Academia Brasileira de Letras (ABL), o Instituto Histórico e Geográfico do Brasil (IHGB) e muitas outras. Será preciso tentar. Em nome de nossa história, é oportuno fazer isso. Ou então, 50 anos depois, vamos nos condenar a ver uma nova edição atualizada daquele sesquicentenário de pobre recordação.

Quem toca o projeto? Mão à obra, ainda que a gente corra o risco de continuar a ver mais livros raros sendo jogados ao lixo ou queimados como volta a acontecer hoje no horizonte do Brasil.                                   

6 de outubro de 2020

Nosso deserto de ideias


Somente nas últimas 24 horas recebi por WhatsApp ou Facebook, produzidos pelas fábricas de fake news a serviço dos interesses do atual governo federal, dois envios de mensagens propagandísticas. Num deles um homem sustenta o corpo faminto de certa mulher idosa (a própria mãe?) e o texto nos remete à "crueldade dos comunistas venezuelanos". A foto bem pode ser da Venezuela, posto que a miséria lá é grande.

No Brasil varonil dos tempos modernos, temos agora em números do IBGE informações de que nossa pobreza passou de 26,7 por cento para 27,4 por cento da população nos últimos dados fechados. Os extremamente pobres, aqueles que não têm sequer para comer, chegam a 13,5 milhões de pessoas. Isso porque a pobreza extrema é medida para quem recebe até R$ 145,00 por mês e, no caso atual do estado fascista brasileiro essa cifra cai para R$ 89,00 mensais. O contingente é muito superior ao Venezuelano, mesmo com a "amizade" entre um fritador de hambúrgueres e os filhos do atual presidente dos Estados Unidos.

No outro envio o cidadão Ricardo Salles, hoje ocupando o cargo de ministro do Meio Ambiente, diz que o atual governo protege os milhões de moradores das regiões amazônicas enquanto os anteriores, de esquerda, teriam feito o inverso só pensando na manutenção de árvores e com seus membros acumulando condecorações. Fala isso de forma falsa - os números não são reais - enquanto o Brasil queima por obra e graça de incendiários incentivados a colocar a cada dia mais fogo no país justamente pela ideologia do governo federal. Ao menos o título da postagem é real: enquanto o ministro fala a palavra "Avassalador" aparece em grande destaque logo acima de suas palavras vazias de sentido, mas feitas do fogo que avassala.

E por que esse tipo de discurso tem efeito, arregimenta apoiadores e alimenta a rede de fake news mantida pelas dezenas de sites a serviço do fascismo atual? Porque a oposição não tem um discurso uno, não tem um horizonte definido. Não denuncia com força! No caso dos seguidores de Bozo, o que eles fazem é lembrar a cada dia os roubos atribuídos aos governos anteriores, sobretudo ao PT - e vamos combinar que se roubou mesmo muito naquelas administrações! - e atribuir ao atual todas glórias e todas as virtudes.

Ora, sabemos dos vínculos dessa administração com milícias criminosas, sabemos das rachadinhas, das agressões ao Estado Democrático e de Direito, dos atentados contra os princípios de país laico, das empresas chocolateiras ou não de lavagem de dinheiro e do imenso esquema montado para evitar que o presidente e seus filhos respondam a processos criminais. Sabemos dos acordos com o Centrão e que o presidente é oriundo dele. Sabemos disso e de muito mais coisa. E não fazemos nada.

Quando o atual governo terminar deixaremos aos nossos filhos e netos não apenas a miséria absoluta desse cidadão da foto aí acima, passando fome enrolado na bandeira do Brasil, mas também a herança de um país com o meio ambiente destruído. E poderemos, se sobrevivermos a isso. dizer àqueles que nos sucederão que além de um Brasil destruído estamos deixando a eles um deserto de ideias.               

24 de setembro de 2020

No passarán!


Hoje no meio da tarde um amigo enviou-me por mensagem o Ibope que dá ao presidente Jair Bolsonaro 40 por cento das preferências populares de momento na corrida pela reeleição à presidência da República. Escreveu: "Vou embora!". Cheguei a dizer que também iria caso pudesse. Mas não irei. Lá na Europa do início do século XX, uma linda mulher jovem que havia se casado com um socialista para desgosto dos pais, um dia enfrentou o ditador espanhol Francisco Franco aos gritos:

- Para vivir de rodillas, es mejor morir de pié. No passarán!

Esse grito tornou-se um lema da basca Isidora Dolores Ibárruri Gomez, "La Pasionaria" (Flor da Paixão), que viveu quase a vida toda lutando contra o fascismo. Perdeu filhos na Guerra Civil Espanhola, inclusive Ruben, o mais querido e piloto de combate na União Soviética. Sempre usou preto e nunca se entregou. Morreu aos 94 anos sem jamais ter ficado de joelhos diante do fascismo. E por seus ideais e luta até hoje é amada na Espanha.

Contra o que "La Pasionaria" lutou? Contra um poder que se destinava a destruir as instituições nacionais, demonizava os valores instituídos, queria matar todos os adversários, não aceitava as verdades científicas, apegava-se de todas as formas a princípios religiosos retrógrados, pregava o ódio, amava torturadores e não permitia dissidências. Isso nos lembra algo?

Interessante, mas no no último dia 07 a historiadora e antropóloga Lilia Schwarcz, em entrevista ao programa de televisão Rosa Viva, disse: "Jair Bolsonaro não precisa de um golpe, porque ele está corroendo nossas instituições por dentro. Ele é o golpe. Muito interessante os brasileiros terem acreditado numa  miríade de nova política, quando tínhamos na frente uma velhíssima política".

É isso. O ibope é honesto, feito dentro das técnicas do levantamento de pesquisa, mas só representa um momento passageiro de nossa vida política. Ele seria dramático faltando dois meses para as eleições presidenciais de 2022. Mas faltam mais de dois anos... Muito tempo. Uma imensidão de águas tão grande para passar por baixo da ponte que  nem a fúria destruidora de Bolsonaro e seus sequazes conseguirá secar os rios que as trarão até nós.

Mas é preciso lutar. É necessário que todas as forças democráticas comprometidas na batalha pela manutenção do Estado brasileiro, do Estado Democrático e de Direito, se unam de uma vez por todas. Formem um bloco único para enfrentar a nova maré fascista. Não será um monolito, sabemos todos nós, mas nem é preciso tanto para derrotar um projeto de tirano de aldeia.

Está na hora. Vamos gritar: "No passarán!" E seguir em frente.

23 de setembro de 2020

Acordo comercial agora não!


Pode parecer loucura e uma aposta contra o futuro do Brasil, mas é o contrário: o ideal para aqueles que querem ver o meio ambiente do nosso País sobreviver ao caos do atual governo federal e alguns estaduais é que o acordo comercial entre União Europeia e Mercosul não seja assinado. Fique para depois, para quando os crimes ambientais realmente cessarem. Mesmo após ser dito irresponsavelmente pelo governo que a não assinatura do documento colocará em risco projetos de conservação atuais - o que é um blefe -, não haver acordo nas bases de hoje é o certo. 

Ontem, falando na ONU o presidente Bolsonaro cometeu impunemente mais uma série imensa de crimes contra a verdade dos fatos. O que é corriqueiro para ele. Falseou números, colecionou sofismas e fez ao menos uma acusação de inacreditável leviandade: disse que o fogo na Amazônia (no Pantanal também?) é provocado por indígenas e caboclos. Como é fácil acusar quem não detém o poder... Os incêndios, sua grande maioria, nascem da ação de latifundiários, grileiros e  garimpeiros ilegais. Gente que é protegida aberta e impudicamente pelo presidente da República.

Lembrem-se: esse governo é do capital, pelo capital, para o capital.

É falso tudo o que se diz hoje no plano federal como tentativa de fazer as pessoas acreditarem no exterior que o Brasil protege o meio ambiente. A intenção de Bolsonaro e seus ministros escolhidos a dedo é devastar. Na mente deles, florestas e animais não servem para nada se estiverem à frente de algum projeto agrícola ou industrial. Essa era a mentalidade que levou à construção da Transamazônica, esse monumento à falta de responsabilidade ambiental. Os tempos passaram, a ditadura 1964/85 se findou, mas suas crenças ainda sobrevivem na mente deturpada dos membros do atual governo.

Se o acordo União Europeia/Mercosul for assinado ele será um mais um fósforo a provocar incêndios ao mesmo tempo em que denúncias reais e inquestionáveis continuarão a ser qualificadas como mentiras, ações comunistas ou projetos de falta de patriotismo. Esse governo precisa ser asfixiado externamente, no plano econômico. No futuro, quando nossos netos e bisnetos herdarem uma imensa savana no lugar onde eram as florestas brasileiras, quando não houver mais animais, clima previsível, nada que nos lembre o riquíssimo Brasil de hoje, todos os canalhas autores desse desatino estarão mortos.

Mas também os que se calam agora ou se escondem nas bolhas onde vive o gado bolsonarista. Não haverá ninguém para alimentar mentiras ou se julgar salvador da Pátria.              

15 de setembro de 2020

O crime pelo fogo


Tentem se lembrar vocês de terem ouvido, desde o início do acirramento do fogo sobre a Amazônia brasileira e agora também sobre o Pantanal e outros lugares, de um único e miserável pronunciamento do presidente da República sobre esse assunto. De sofrimento. De promessa de providências para o combate às queimadas. De revolta contra aqueles que estão destruindo o Brasil em crime pelo fogo. Não há nada. Rigorosamente nada nesse sentido, e muito pelo contrário.

Jair Messias Bolsonaro é o fogo. Ele é o crime pelo fogo.

Enquanto a fumaça dos focos de incêndio começa a chegar até mesmo às grandes cidades brasileiras, enquanto a flora e a fauna das regiões mais ricas do Brasil são destruídas talvez sem qualquer possibilidade de recuperação, o "Bozo do Palácio do Planalto" participa de solenidades militares para inauguração de qualquer coisa. Posta insanidades nas redes sociais juntamente com seu irrelevante e ridículo ministro do Meio Ambiente "desmentindo" que a situação seja grave com base numa idiotice que colocou um mico leão dourado em território amazônico. Desconhece o drama dos indígenas dizimados por fatores diversos como os ataques constantes de garimpeiros e invasores de terras ilegais que, em vez de serem combatidos pelo governo, acabam apoiados por ele.

Sim. o governo brasileiro apoia o crime.

Eu poderia aqui falar sobre o perdão criminoso de dívidas de evangélicos picaretas, de pressões para que os mau feitos dos filhos do presidente não sejam investigados, apurados e julgados, mas prefiro parar por aqui. Nem quero discorrer sobre o fato de que agora é proibido às autoridades federais ligadas ao governo comentar sobre o tal de Renda Brasil, uma tentativa tosca do governo de mudar o nome de um projeto de antecessor seu.

Tudo isso é irrelevante.

O Brasil está queimando, está derretendo enquanto o vice-presidente da República acusa alguém no  INPE - ele diz nem saber o nome - de não dar notícias positivas sobre seu governo. Como se fosse possível. Isso também agora não tem relevância. Importante é todos nós ficarmos com a imagem desse texto. Ela diz tudo.      

2 de setembro de 2020

O que ele quer?


Não sei se o problema é minha incapacidade de entender os estúpidos ou se tenho mesmo má vontade para com o cidadão hoje ocupante da presidência da República. Sei lá. Mas toda a vez que ele abre a boca fico imaginando se estou diante de uma pessoa normal ou não. Porque algumas declarações e alguns atos praticados por ele desafiam a razão, a sanidade. O último exemplo foi uma fala irresponsável à entrada do Palácio da Alvorada, quase desaconselhando a campanha de vacina anti-Covid-19 e que gerou a imagem assustadora da peça publicitária acima, produzida quase imediatamente pelos bajuladores de plantão. E o mais inacreditável é que a manifestação de Bolsonaro agride uma lei assinada por ele próprio.

Os médicos sabem bem mais do que nós, leigos, dos imensos benefícios advindos das inúmeras campanhas de vacinação já feitas no Brasil. Várias doenças graves foram erradicadas em decorrência desse esforço. E sempre houve discursos vazios pregando a não vacinação. Como eram episódios pequenos, circunscritos a grupelhos, jamais foram levados em conta. Mas agora, não. Hoje os discursos anti-ciência estão vindo da estrutura de poder. E o presidente usa de seu prestígio pessoal para atentar contra tudo o que pode levar o Brasil a um patamar científico digno de respeito entre os países mais importantes da atualidade.

O presidente desconhece a ciência como elemento fundamental para a vida dos povos. Agride o ensino com a desculpa torpe de estar com isso combatendo "as esquerdas". Dá pouca ou nenhuma importância à medicina, em plena pandemia da Covid-19, porque os homens da ciência se recusam a entrar em seu jogo de eleger um medicamento sem comprovação científica como sendo a solução definitiva para a doença. E nem bem seu (des)mandato chegou à metade e já está em plena campanha por reeleição, jogando o jogo sujo das demagogias baratas e fazendo acordos espúrios com as alas comprometidas do Congresso para garantir apoio popular. Segundo muitos economistas de destaque no cenário nacional e internacional, essa postura poderá levar o Brasil à bancarrota.

O que ele quer? O que o falso Messias pretende fazer? Está cercado de pilantras, vive lutando para impedir que investigações sérias sejam levadas a cabo quando se aproximam ou tocam na sua família, e investe contra qualquer pessoa, seja quem for, se entende ser esse indivíduo um obstáculo a seus planos - sagrados planos para ele - de se reeleger em 2022. A qualquer custo.

Agora até mesmo o filho mais novo, ridiculamente chamado 04, quer ingressar no mundo dos negócios. Qualquer negócio! E já promove reuniões de Estado nesse sentido. Dá voz de comando a ministros, secretários federais, etc. Que diabo é isso? O que ele quer? O que pensa estar fazendo? Mas, melhor do que isso: o que queremos nós de braços cruzados?                       

12 de agosto de 2020

O filhinho do papai

Se era tão sigiloso o dossiê produzido pelo Ministério da Justiça investigando a vida de brasileiros antifascistas a ponto de o ministro da pasta ter usado de subterfúgios para negar acesso a ele ao Supremo Tribunal Federal, como pôde o deputado Eduardo Bolsonaro ser capaz de, além de tê-lo em mãos, ainda o entregar à embaixada dos Estados Unidos, segundo foi denunciado?

Isso é muito grave. Tão grave que merece investigação séria para que seu resultado, caso confirme crime praticado pelo parlamentar, leve-o a punição severa com, no mínimo, perda do mandato.

É público e notório que o presidente Jair Bolsonaro, o papai do Eduardo, deseja governar um Estado policialesco. Ele quer ter em mãos não apenas o controle sobre a Polícia Federal e todos os seus arquivos, mas também um órgão de governo que substitua o antigo Serviço Nacional de Informações (SNI), para ter acesso à vida e aos segredos de todos os brasileiros, pessoas físicas ou jurídicas, Ele sabe que informação é poder e a quer para si de forma indiscriminada. Portanto, é de se suspeitar que esse dossiê que o ministro prefere apelidar de "relatório" tenha caído em suas mãos, Já seria um ato criminoso. Mas chegar ao filho e daí à embaixada dos Estados Unido excede todos os limites do razoável.  Do bom senso. Do diplomaticamente aceitável até mesmo para um projeto de diplomata fazedor de hambúrgueres vetado no cargo pretendido.

Historicamente o Brasil sempre foi alinhado aos ianques. Principalmente durante a ditadura militar, quando aquele país teve participação decisiva nos acontecimentos que levaram à deposição do presidente João Goulart. Mas mesmo então o governo brasileiro mantinha alguma independência em política externa, não confundindo apoio e alinhamento com subserviência. Agora não. Agora até "y love you" Donald Trump já ouviu de Jair Bolsonaro na ONU. Não é possível isso.

Os poderes Judiciário e Legislativo estão na obrigação de desvendar essa excrecência. Primeiro, determinando sob as penas da lei que o Ministério da Justiça mostre aos brasileiros o fruto de sua arapongagem. Por último, desmascarando esse filhinho do papai que tem o desplante e o descaramento de entregar um dossiê contra brasileiros a um governo estrangeiro.

Nós já somos motivo de escárnio por motivos em excesso.  

7 de agosto de 2020

Ele acredita no que fala?

Depois de ver, ontem, o ministro do Meio Ambiente fazer discurso para índios "aculturados" em meio a um acampamento onde estes estavam junto a garimpeiros ilegais da Amazônia - portanto, bandidos - ainda tivemos nós, brasileiros, que assistir a um pronunciamento do vice-presidente da República onde ele defendia o garimpo em terras indígenas e, ainda mais, essa atividade destruidora do meio ambiente sendo executada pelas próprias nações indígenas brasileiras. Segundo ele, "para sua subsistência!".

Fiquei então pensando: como sobreviviam aqueles índios que receberam os marinheiros da frota de Cabral em 1500 nas terras da Bahia? Como conseguiam sua subsistência se ainda não existiam em solo hoje  brasileiro os garimpeiros ilegais? Como eles não morriam de fome sem que padres fossem para lá plantar suas cruzes, vesti-los com suas roupas e rezar suas missas; sem que os pastores neo-pentecostais ávidos por riquezas levassem as bíblias para mostrar a eles onde estava a "verdade"? De que forma podiam se sentir felizes sem militares armados invadindo suas aldeias para dar-lhes "proteção", ensinando a eles a cultura do homem branco, as línguas que não entendiam?

O índio vive em comunhão com a natureza. Ele só mata o que vai comer, só desmata o espaço onde precisa sobreviver. Ele não toca fogo na floresta porque o mato, as árvores e os animais são seu espaço, seu sustento e seu abrigo. Sua sociedade é una, sua vida é de respeito ao próximo e ao que o cerca. Numa aldeia as maiores autoridades são morais e a velhice tem um valor imenso medido pela experiência, pelo saber que é passado de geração em geração por meio oral. Na vida dos índios não existe propriedade privada nem corrupção. Eles não conhecem os princípios da acumulação de riquezas com interesses de perpetuação de poder. Eles, enfim, são puros. Ou eram antes de chegarmos.

Mas, agora entendo, são subversivos. Como o general vice-presidente vai poder entender as raízes de uma cultura tão diferente da sua, da nossa. Como vai aceitar aquele povo nu andando de um lado para outro de forma tão indecente! Imagino a ministra da Família numa aldeia daquelas vendo sob os pés de goiabas nada mais do que os frutos que eles dão de graça para comermos.

Isso faz a essência do discurso do ministro do sacrificado Meio Ambiente e do vice-presidente da Republica com sua máscara do Flamengo. Mas o discurso que a TV nos mostra é tão raso, tão despido de substância que fiquei olhando para aquela paupérrima figura no vídeo e não pude evitar pensar ao menos por um instante no inevitável: "Ele acredita no que fala?"                       

27 de julho de 2020

Dias sem sentido

Nesse artigo há uma imagem logo abaixo. Trata-se de foto do presidente da República, nos jardins do Palácio da Alvorada, mostrando uma embalagem de cloroquina (ou hidroxicloroquina) a uma ema. Pelo mundo afora muitas charges foram feitas em decorrência desse insólito fato. O que se pergunta é o seguinte: o cidadão da foto, um presidente, é insano (louco), inconsequente, irresponsável ou palhaço?
Sim, porque o que a imagem da foto mostra é inacreditável, inaceitável, injustificável. Ultrapassa qualquer limite do razoável. Fica além da loucura de esse presidente, em plena pandemia da Covid-19, a maior de todos os tempos já verificada no Brasil, fazer do Ministério da Saúde, que é vital num caso assim, um circo grotesco de horrores comandado por militares sem formação específica em área médica, todos subordinados a seus devaneios sem sentido.
Ele, Jair Bolsonaro, não tem senso de limite. Contra todas as opiniões sérias de quem se dedica à ciência, continua propalando as drogas de sua fixação doentia, como se elas fossem a salvação da humanidade. Por que será? O que há por trás disso se até mesmo o presidente dos Estados Unidos, o doidivanas do qual o brasileiro é fã, já abandonou o ringue? O que o chefe do Executivo brasileiro, caso não seja insano, tem em mente prosseguindo nessa cruzada maluca? E seu ministro Pazuello, um general da ativa que nem exercer esse cargo poderia, o que guarda também em sua cabeça?
O Brasil vive dias sem sentido. Enquanto viramos piada no mundo todo, enquanto o nosso País vai se tornando pária internacional, aumenta a pandemia da Covid-19, o número de mortos e, ao mesmo tempo, médicos e outros profissionais de saúde recebem até ameaças de morte dos seguidores da tal "ala ideológica" que apoia Brasília. Duas denúncias já foram apresentadas à Corte Internacional de Haia contra o presidente por crimes contra a humanidade. Pode ser que venham mais acusações internacionais. E aqui no Brasil ainda há profissionais de área de saúde que fazem vista grossa a tudo isso e mantêm seu apoio a essa loucura toda. Um dia poderão responder por seus atos.
Isso não é uma gripezinha. Não é um resfriadinho. Isso é muito sério, gente. E assusta demais ver que o Brasil, com toda a sua importância internacional, enfrenta esse grave momento refém de uma política irracional e que pode aumentar ainda mais nossa tragédia de mortes evitáveis.
Ainda há tempo para virarmos o jogo.           

15 de julho de 2020

Sim, pode haver genocídio!

A língua portuguesa tem mais de uma definição para grande parte de seus termos de origem latina. Genocídio é um deles. Então tomemos aleatoriamente uma delas, aceita por todos: "extermínio deliberado, parcial ou total, de uma comunidade, grupo étnico, racial ou religioso. Destruição de populações ou povos". Há mais explicações, mas a gente pode parar por aqui.
Sabemos nós, os não inocentes, que os índios são frágeis diante de doenças, notadamente as que surgem como letais até mesmo para o "homem branco", esse que ao longo dos séculos vem acumulando defesas contra várias formas de males. Eles não resistem nem isolados, se forem atingidos por agressões da civilização moderna como pandemias, por exemplo. A atual, especificamente.
Sabemos também que o ministério da Saúde é dirigido (sic!) por um general sem formação alguma em área de saúde. E que ele está sendo auxiliado por quase trinta outros membros do Exército igualmente ignorantes nas matérias médicas. Ora bolas, as Forças Armadas contam com um grande número de médicos e demais profissionais habilitados. Por que eles não estão no ministério? Porque teriam protocolos a cumprir, orientações a seguir e o presidente da República exige que o pessoal do setor siga unicamente suas crenças e certezas insanas. E ponto final. Mais ou menos parecido com o que ocorre no ministério da Educação por motivação política.
Os índios estão sendo exterminados. E isso sobretudo porque o coronavírus chega até eles por intermédio principalmente de garimpeiros ilegais que invadem terras indígenas para garimpar. E são protegidos, pasmemos nós, pela presidência da República. O presidente não apenas tolera essas atividades ilegais como as protege. E quem protege crimes, criminoso é.
Há uma foto ilustrando esse texto e que recebi do grupo de Facebook Press Open, do qual faço parte. Mostra uma índia com máscara cirúrgica nas mãos. Não serve para absolutamente nada. Da mesma forma que de nada servem as promessas governamentais relativas ao fim do desmatamento da Amazônia ou das queimadas na região, pois a política do governo é uma só: destruição. E só mesmo o crescimento da pressão internacional vai impedir que transformemos a maior área de florestas do mundo, o pulmão do planeta, em uma vasta savana.
Mas se chegarmos a isso, antes vamos talvez exterminar alguns de nossos povos indígenas inteiramente. São de população reduzida, frágeis e desarmados. E isso, quer os militares queiram admitir ou não, terá sido um crime de genocídio. Um crime contra a humanidade!               

4 de julho de 2020

Guerra contra a luz do sol

Dizem que quem não tem luz própria teme desesperadamente o brilho do sol. Deve ser verdade porque essa anomalia atinge hoje o Brasil, leva-o a uma guerra contra si próprio e se origina no topo do poder federal, em Brasília. Mais precisamente no Palácio do Planalto.
Ontem o presidente da República desfigurou um texto legal originado no Congresso, vetando-o quase totalmente. Foram 17 os pontos cortados. Como é contra o isolamento social e outras medidas contrárias à pandemia da Covid-19 consideradas prejudiciais à economia, faz disso uma cruzada toda sua. Apenas sua. E desconhece a opinião da imensa maioria da sociedade. Desconhece e desrespeita.
Na sua sanha anticiência, vetou até mesmo a ajuda aos mais necessitados para a aquisição de máscaras de proteção individual, da mesma forma como avançou contra as multas que estavam previstas no texto legal e que permitiriam punir aqueles que se insurgem contra a legislação agora em vigor, colocando em risco suas vidas e as de terceiros durante esses tempos duros de incertezas. Felizmente estados e municípios têm o poder de produzir decretos nessa área.
Jair Bolsonaro teme a luz do sol, apagado que é. Defenestrou do governo o ministro da Saúde, Henrique Mandetta, porque este estava se tornando popular demais. Inviabilizou a permanência do segundo na pasta, Nelson Teich, mostrando a ele que uma droga chamada cloroquina e produzida no Brasil pelo laboratório de um seu apoiador pessoal incondicional de campanha deve ser imposta a todos, mesmo não tendo eficácia científica alguma comprovada. Somente efeitos colaterais.
Fez com que também fosse embora o ministro da Justiça, Sérgio Moro, e pelos mesmos motivos. Nesse ponto a situação é ainda mais grave: tornou-se fixação presidencial não apenas interferir na Polícia Federal, mas subjugá-la a seus interesses. Quer, dessa forma, reduzir ou eliminar a possibilidade de seus filhos virem a ser investigados pela Justiça. E, por extensão, ele também.
Se no seu percurso futuro outras pessoas chegarem a ameaçar seus planos de concorrer à reeleição em 2022, fará o mesmo. Permanecer na presidência da Republica é o objetivo único e sagrado do atual presidente. Para atingir esse objetivo fará de tudo. Até mesmo deixar para um possível segundo mandato os projetos de destruir a Amazônia, acabar com as populações indígenas e tentar impor ao País uma forma nazifascista de ver a administração publica e as relações interpessoais.
O pior é vermos que enquanto isso tudo se passa, os principais personagens secundários desse tabuleiro de xadrez político se digladiam em vez de fechar fileiras em torno de uma frente ampla capaz de deter o escalar megalomaníaco do detentor do poder. E o fazem por vingança ou projeto pessoal, mesmo sabendo que assim agindo estão dando luz à escuridão reinante em Brasília.
Mas o sol vai continuar nascendo, para desespero dos obscurantistas.                           

16 de junho de 2020

O sonho do golpe de Estado

Até quando tenta fazer graça Bolsonaro "aponta" armas. Questão de caráter
Jair Bolsonaro sonha de manhã, à tarde, de noite e de madrugada com um golpe de Estado. Com a possibilidade de subjugar o Judiciário, fechar o Congresso, submeter os meios de Comunicação a censura e determinar a todos os órgãos policiais que se comportem com extrema violência contra todos os que não gostam dele. E que são milhões!
Trata-se de um problema de caráter ou da falta deste. Foi assim a vida toda. No Exército, onde ficou até ser capitão, notabilizou-se como um militar indisciplinado e indigno de confiança. Por pouco não foi expulso da corporação para o bem do serviço público. Na vida pública, principalmente ao longo de seus 28 anos como deputado federal, acumulou desafetos e confrontos. Não conseguia viver de outra forma. Não fez uma única lei digna de seus mandatos. Mas empregos com dinheiro público, distribuiu aos montes. A parentes e amigos, criminosos ou não.
Elegeu-se presidente da República na calda de cometa de um ódio imenso que grande parcela da sociedade brasileira passou a sentir pelo PT. E de que hoje parte dela se arrepende. Foi beneficiado por um atentado (?) acontecido em praça pública e por uma fábrica de fraudes hoje chamadas de "fake news" montada por um de seus filhos e alimentada por apoiadores, remunerados ou não.
Jurou a Constituição sabendo de antemão que jamais honraria o juramento. Confronta essa carta de leis todos os dias e em quase todas as circunstâncias. E não faz apenas isso: incentiva grupos de extremistas criminosos a enfrentarem os poderes constituídos quase todo o final de semana em cenas de vandalismo ou de manifestações patéticas. Mais: comparece a elas às vezes utilizando o helicóptero da presidência da República, em atitudes acintosas. As mesmas que usa para "receitar" Cloroquina, andar pelas ruas desafiadoramente sem máscara, sugerir invasão de hospitais para fazer fotos, além de se calar de maneira cúmplice quando parte de seus mais desvairados apoiadores são presos, o que aconteceu muito recentemente.
Jair Bolsonaro é uma figura patética!
Mas sabe usar de um trunfo nesse jogo de baralho no qual transformou a política brasileira: alia-se ao que existe de mais retrógrado e golpista nas Forças Armadas do Brasil para, quase diariamente fazer ameaças contra quem "esticar a corda", como dizem seus sequazes. E as FFAA - como se fala - têm uma longa tradição golpista, sobretudo após o advento da República.
Dessa tradição Bolsonaro entende. E a venera! 

9 de junho de 2020

A sociedade foi Rubens Paiva

Parece humor negro termos que ler, ouvir e ver todos os dias as pessoas dizerem que o presidente Bolsonaro "é um democrata porque jurou a Constituição". Que ele apenas gosta de tencionar... Ou então acompanharmos o morde/assopra diário por redes sociais e nas saídas e chegadas ao Palácio da Alvorada, na rápida passagem pelo chiqueirinho onde se encontra com a parcela contratada de seu gado para o discurso vazio de conteúdo mas cheio de ódio de todos os dias.
O pior não é isso. O mais trágico é a gente ter que passar repetidas vezes por avisos dados pelo cidadão de que pretende armar a população para defender a liberdade. Porque povo armado não pode ser escravizado. Esse foi o discurso de Benito Mussolini! Da mesma forma que em seu governo já houve outras falas de Goebbels e de mais alguns próceres do nazismo e do nazifascismo, além de demonstrações explícitas dessa filosofia por grupos como "os 300".
A Constituição Brasileira tem 32 anos. Essa, a Cidadã, promulgada e empunhada por Ulisses Guimarães como está na foto que ilustra o texto. Durante todo esse tempo jamais foi desrespeitada, atacada, humilhada, vilipendiada. Todos os chefes de Estado, até esse último, tiveram por ela o mais profundo respeito. Se vez ou outra foram cogitadas mudanças, isso seria feito via Congresso Nacional. Portanto, o respeito à liberdade e ao Estado Democrático e de Direito sempre constituiu um primado da República recente. De repente, eis que surge no horizonte, desgraçadamente eleito pelo voto popular, um extremista de direita com pendores totalitários. E começa a falar em liberdade, na defesa desse princípio, ao mesmo tempo em que ataca a Constituição, os poderes da República e tenta fazer com que o Estado seja sua imagem e vontade ao mesmo tempo em que, ajudado pela "familícia" que o cerca, abastece as redes sociais todos os dias com ameaças contra a democracia, falando de golpe de Estado, de um revisitar do AI-5, poder moderador militar e outras excrescências mais.
Quem defende a liberdade ou as liberdades? Ele? Sua malta? Ou seriam os que ocuparam o poder, para o bem ou para o mal até a chegada lá desse arremedo de ditador de aldeia?
Jair Bolsonaro não consegue conviver com a democracia. Ela não se veste em seus planos, em seus projetos totalitários. Ela não cabe no "quem manda sou eu" de quase todos os dias. No desrespeito às leis vigentes, no egocentrismo, na tacanhez de pensamento, da pouca cultura formal. Mas, sobretudo e principalmente, no amor pelas ditaduras de direita, pelos torturadores e adoradores de falsos ídolos.
O Brasil é a antítese desse presidente de araque, desse projeto mal acabado de tirano. Como disse Ulisses Guimarães no seu célebre discurso de apresentação da Constituição de 1988, "A sociedade foi Rubens Paiva, não os facínoras que o mataram". E continua sendo. 

26 de maio de 2020

Placebo é coisa falsa mesmo?

Witzel e Bolsonaro. A aliança - ??? - que a política se ocupou de destruir
Não conheço o governador Wilson Witzel e nem a sua história de vida. Vai daí, não ponho nem um pedaço do meu dedinho mindinho no fogo por ele, que dirá a mão toda. Mas há fatos ligados a essa tal de Operação Placebo, desencadeada pela Polícia Federal de Brasília hoje nas primeiras horas do dia que precisam ser esclarecidas. Primeiro: por que a deputada Karla Zambelli sabia disso se a operação da PF deveria ser secreta até a chegada dos policiais ao Palácio Laranjeiras?
Por que o senador Flávio Bolsonaro é intocável, posto que abundam contra ele provas e mais provas de "rachadinha" quando era deputado estadual pelo Rio de Janeiro? Por quê? Porque o vereador Carlos Bolsonaro dá expediente no Planalto, quando o seu local de trabalho é a Câmara Municipal no Rio de Janeiro? Por quê? Por que a PF ou outro órgão de investigação não descobre quem comanda, organiza e financia as manifestações de quase todos os domingos em Brasília, quando aquelas "multidões" de apoiadores vão às ruas apoiar o presidente e desacatar todos os seus opositores?
Vamos admitir, e isso é perfeitamente possível, que o governador do Rio de Janeiro tenha mesmo algo a ver com desvios de dinheiro de compra de aparelhos para manutenção da vida dos cidadãos de seu estado em meio à maior pandemia já enfrentada pelo Brasil. Ele e sua esposa. Que paguem por isso da maneira mais exemplar possível, porque o crime é de uma gravidade inacreditável.
Mas só eles? E os demais? Até as lajotas usadas na última reforma dos palácios do Planalto e da Alvorada sabem que o presidente Bolsonaro tem fixação pela PF. Que lutou até conseguir tirar o antigo diretor geral do cargo. Que queria porque queria trocar a superintendência do Rio de Janeiro. Que já falou inúmeras vezes o "vou interferir" quando se tratava de órgãos de investigação e também que vai defender os filhos às últimas consequências. Por último, que treme toda vez que qualquer dos Bolsonaro é ligado ao episódio Mariele Franco e a milícias. Porque essa fixação? Ou paúra?
Tudo o que o Brasil espera é que esse episódio da Operação Placebo seja levado às últimas consequências, com a apuração de tudo. Mas o Brasil também quer saber como a deputada bolsonarista de raiz soube da operação antes de todos, de onde veio a informação por ela obtida e se a "surpresa" demonstrada por Bolsonaro em seu chiqueirinho hoje era real ou um jogo de cena.
Afinal, temos o direito de saber se esse placebo é coisa falsa mesmo.

22 de maio de 2020

A reunião das descomposturas

Há uma obrigação vital de comportamento, que jamais pode ser evitada quando se trata de reuniões de autoridades, sobretudo as maiores da República: compostura. Num encontro ministerial, com a presença dos representantes de todos os ministérios, e ainda mais quando ele é gravado, palavras de baixo nível jamais devem ser pronunciadas. Mas foi isso o que aconteceu no dia 22 de abril último.
Está sendo triste ver a reprodução total do vídeo e áudio dessa reunião, peça hoje liberada pelo ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal e que as emissoras de TV estão mostrando a todo o País, sem cortes e apesar de todos os palavrões ditos por diversos dos participantes. No Facebook, vi um post da Juíza aposentada Denise Frossard e no qual ele afirma que em seus tempos de magistratura os réus que julgou tinham mais continência (verbal) que os membros do governo Jair Bolsonaro (foto de outro momento), inclusive - e aí acrescento eu - o próprio Presidente da República.
Não é possível a gente assistir a um Chanceler se dirigir sem o menor respeito ao governo de nosso maior parceiro comercial chamando a Covid-19 de "comunavírus", pois isso pode nos trazer sérios aborrecimentos no plano comercial. E numa época da economia nocauteada. Não é possível ouvir de um ministro da Educação que ministros do STF são vagabundos. E nem de uma ministra da Mulher e sei lá de quantas coisas mais que governadores deveriam ser presos por estarem exercendo seu poder legal durante uma pandemia da mais séria que o Brasil já enfrentou.
Pior disso tudo ainda foi ouvir do próprio presidente da República, depois do desfile de uma série inacreditável de palavrões e sandices, que ele tem um sistema particular de informações. Como assim? Isso é inconstitucional! Isso atenta contra as todas normas legais! Que pessoas e órgãos fornecem informações sigilosas a Jair Bolsonaro à revelia das leis vigentes no Brasil?
Foi possível ver claramente, durante a exibição das imagens da reunião do dia 22 de abril, que estamos diante de um presidente que não respeita a Constituição e é capaz de tudo para conquistar seus objetivos, não importam os meios. E também que ele é assessorado por uma trupe de marionetes capazes de tudo para agradar ao chefe e se manter nos cargos.
Pobre Brasil. Mas fomos nós que colocamos aquelas pessoas no poder. E agora resta-nos agir ao abrigo das leis vigentes, submetidos a elas, para mudar o quadro que o Brasil vive. Não há outro caminho a ser seguido. Vamos lutar, minha gente. Mas sempre com compostura e respeito, pois todos os protestos são possíveis sem que se use linguagem chula.       

12 de maio de 2020

"Parmito" não é ofensa...

Jornalistas são idiotas e um deles tem cara de homossexual. Mas isso não é ofensa. Debochar da mulher do presidente da França também não é ofensa. Fazer comentários depreciativos sobre o pai da ex-presidente do Chile também não ofende. Apoiar movimentos ilegais também não é ofensa às leis em vigor no País. Desancar os ministros da mais alta corte de Justiça do Brasil não é ofensa contra eles. O que ofende os outros para você, Jair Bolsonaro?
Você é o presidente mais desqualificado da história do Brasil. Não respeita ninguém e nem ao menos a liturgia do cargo que ocupa. Diariamente confronta as leis e as normas consagradas da nossa Pátria tão vilipendiada. Ontem mesmo o ministro da Saúde tomou conhecimento durante uma entrevista coletiva de um decreto seu que incluía até cabeleireiras como profissão essencial. Você sabe que isso pode ser derrubado pelo STF e os governadores e prefeitos simplesmente vão desconhecer as normas baixadas. Então por que fazer? Simples; para tumultuar, para levar a discórdia ao seio da sociedade. Para reafirmar o que você acha certo embora saiba que não manda mais nada.
Quando você era criança, alto e de pernas muito finas, recebeu o apelido de "Palmito". "Parmito", no  linguajar do interior. Mas com o tempo, "Parmito" para cá, "Parmito" para lá, simplificaram para "Mito". Isso você mesmo admitiu em uma entrevista à TV enquanto ainda era deputado federal, cargo ocupado durante 28 anos no baixo clero, junto ao Centrão, sem mérito algum. Mas, presidente, transformou o nome, para os idiotas de plantão, em um termo que o homenageia. Só que falso!
E daí que é falso?
Tudo na sua vida é falsidade. Inclusive os mais de 40 endereços de internet mantidos na maioria dos casos por robôs para distribuir informações falsas, fake mews, e nas quais muita gente acredita. Como, por exemplo o "jornaldacidadeonline", uma excrescência de edição diária. Você não sente vergonha? Vergonha na cara, digo eu. Porque seria caso de sentir.
Outra coisa: sua carreira no Exército foi toda ela uma derrota só. Até insubordinação grave você praticou. E só não foi expulso da corporação porque à ala de extrema direita de lá interessava um nazifascista atuando no Congresso para enaltecer ditadores sanguinários, torturadores denunciados e desmascarados e para tentar reescrever a história tentando dizer que a ditadura militar não existiu.
Mas existiu sim. E você vai ser derrotado, "Parmito" medíocre.
E nada dito aqui é ofensa!

28 de abril de 2020

Bolsonaro É a velha política

Duas coisas relativas à política atual não se pode negar. A primeira, que o Centrão existe, nunca desistiu de atuar, fecha questão em torno dos seus interesses, representa a velha política e comemora efusivamente todas as suas conquistas como é mostrado na foto que ilustra esse texto. A segunda, que Bolsonaro sempre, ao longo de toda a sua carreira política inexpressiva marcada por 28 anos como deputado federal, foi a imagem pronta e acabada dessa velha política.
Por isso ele se sentiu tão à vontade em receber os representantes dos partidos que formam a, digamos, base, no Palácio da Alvorada. Comemorou sua volta ao ninho antigo com direito a café da manhã e discursos. Agora o Centrão garante a ele uma quase intocabilidade no caso de um processo legislativo por impeachment e, em contrapartida, leva um montão de cargos públicos, inclusive, talvez, o Ministério da Agricultura. É o preço. E Bolsonaro raposa velha da política de troca de favores, sabe muito bem como as coisas funcionam no submundo que ele frequenta.
Claro, não chega a ser um submundo como o das milícias, seus crimes e tráfico de influência. Nem, talvez, tão descarado como o da dança das contratações de parentes e amigos para trabalhar nos gabinetes políticos, muitas vezes em atividades fantasmas. Talvez também nem mais sem vergonha do que empenhar a palavra com as pessoas, subordinados diretos, para voltar atrás depois. Tudo isso é do jogo que o atual presidente da República sabe jogar muito bem. E joga. Fazer um acordo totalmente fora do interesse publico mas com dinheiro do contribuinte, estava nos planos. Como ele não respeita as leis e está muito pouco se importando se seus atos são criminosos ou não, sabia que uma hora, para se salvar, teria que recorrer a quem joga sujo como ele.
Ontem o presidente posou ao lado de seu ministro Paulo Guedes para dizer que este é o homem da economia, quem manda na área do Brasil e ponto final. Mas o "Pró-Brasil", que vai em outra direção, não está sepultado. Mais dia, menos dia reaparece quando Guedes não for mais indispensável como é agora. Não sei se o ministro sabe disso, mas sou capaz de apostar que sim.
O incrível é ele ainda deter cerca de 33 por cento do apoio da população brasileira. Isso se deve em parte a nosso conservadorismo, fruto da falta de informação ou reacionarismo mesmo. Também em parte ao fato de que o PT foi capaz de construir uma imensa ojeriza a ele em parcela imensa da população brasileira ao longo dos últimos 18 anos de exercício do poder.
Mas que ninguém se iluda: Bolsonaro não é apenas a velha política. É o que de pior que ela tem!

24 de abril de 2020

Bolsonaro falou a seu gado

Esperei, nessa triste última sexta-feira de abril, que o presidente Jair Bolsonaro falasse em rede nacional, respondendo ao ex-ministro Sérgio Moro. E ele não me decepcionou: dirigiu-se, como tem feito ultimamente, apenas e tão somente à sua bolha ou, como prefere o filho 02, ao gado que o segue. Ao final ficou em mim a certeza que já tinha: o Diretor Geral da Polícia Federal foi exonerado do cargo por três únicos motivos: Flávio, Carlos e Eduardo.
O Brasil se tornou um país triste. Sim, porque é duro ver todos os dias ministros demitidos, agressões a jornalistas, falta de educação generalizada, rompantes de valentia, tudo isso e mais um pouco enquanto a economia desaba e o risco Brasil bate na estratosfera, num buraco nunca antes visto. E o Presidente falou ontem ao final da tarde secundado por praticamente todo o seu ministério. De pronto só notei a ausência do ministro da Educação. Justamente o que não faz a menor diferença.
Estou anos luz de distância de ser um admirador do ex-ministro Sérgio Moro, e por uma carrada de motivos. Mas entre ele e esse Bozo que o Brasil elegeu para ocupar o Palácio do Planalto, sou bem mais ele. Passou muito mais sinceridade, segurança, clareza e firmeza. E não precisou levar consigo uma imensa trupe de puxa sacos de ocasião.
Mais o mais insólito foi ouvir o presidente dizer que ser chamado de mentiroso o ofende profundamente. Caramba, isso é tudo o que ele sempre foi. Ele e seus três filhos mais velhos montaram no Palácio do Planalto, na sede do Governo Federal, utilizando-se da estrutura deste, o "Gabinete do Ódio". Um cantinho de prostituição da verdade onde se deturpa fatos, se monta esquemas de agressão, se constrói dossiês falsos, se tenta destruir deputações.
E escrevam o que estou dizendo aqui: a conta de Sérgio Moro vai chegar. A essa altura o centro de desconstrução de vidas deve estar trabalhando a todo pavor para cobrar dele a falta de apoio incondicional e irrestrito ao chefe. Ele vai pagar. A partir de amanhã todos os sites de mentiras presidenciais - mais de 40 - vão lançar seu ódio sobre ele. Foi o único a não sair calado. Foi o único a não ter medo da "familícia". Foi o único a enfrentar o esquema. A dar uma versão diferente em uma reunião sem testemunhas, o que é muito conveniente. Isso é imperdoável.
Bolsonaro quer, sim, tirar poder da Polícia Federal. Quer, sim, investigar quem investiga sobretudo seus filhos. E isso para tentar blindar a todos, obstaculando qualquer investigação que tente chegar ao coração do clã, onde ele está.
Só não posso dizer que hoje decepcionou o gado. A boiada está feliz!                     

18 de abril de 2020

Teich, o SUS e Sofia

O novo ministro da Saúde, Nelson Teich, tomou posse sem pronunciar a palavra SUS. Na véspera, ao ser apresentado pelo presidente da República, fez o mesmo. Falou de pandemia, de letalidade e falta de informações sobre o vírus, em não haver mudanças bruscas e de SUS, nada. Somente silêncio.
Ao lado do presidente, Teich (D) se apresenta como ministro
Aí foram futucar as falas passada dele. Descobriu-se uma relativamente recente e na qual discorre sobre o médico em época de escassez de recursos ter de escolher entre tratar um homem idoso e um jovem. E ele escolhe o segundo, por ter muito mais vida pela frente. O ministro nos remeteu a todos ao drama de Sofia Zawistowa, levada por um sargento nazista a escolher entre os dois filhos pequenos qual deveria viver, qual deveria morrer. Hitler, o ideólogo do sargento e de milhões de outros, também pensava que esse tipo de escolha servia para aprimorar a raça.
O SUS é um instrumento de suma importância para a saúde pública no Brasil, mas tem sido sempre, ao longo dos anos, tratado com pouco caso embora sendo a tábua de salvação dos pobres. Os investimentos para o setor são sempre menores do que as necessidades. E esse governo detesta tudo o que é público. Como as universidades federais e os institutos federais de ensino, por exemplo. Por isso o ministro da Educação trata o ensino público tão mal a ponto de pregar sua extinção. E é um ministro feito sob medida para o cargo: ignorante, mal educado, desconhecedor da língua pátria.
Talvez tudo seja coincidência, talvez não. Talvez eu esteja sendo injusto ao traçar esse quadro sem esperar pelos resultados do trabalho do novo ministro, quem sabe não. Mas pelo passado desse governo que ainda não completou 16 meses, seria prudente ter mais cuidado ao falar. A menos que por motivos a serem revelados ao longo de sua atuação, Teich não tenha como explicar agora.
A Escolha de Sofia representa um momento de profunda dor provocado pela falta de empatia de uma ideologia psicopata que torturava através de exemplos como o narrado na obra de Willian Styron. Um discurso que se aproxima dela deveria separar claramente tempos de paz de situações extremas de guerra. Porque fora disso o médico deve socorrer os dois. Tanto o jovem quanto o idoso.
Teich tem um currículo que confere a ele extrema competência no tratar com a medicina, mas também mostra uma trajetória burguesa e um pensamento voltado ao trabalho médico empresarial. O SUS, obviamente, sempre esteve fora de seu periscópio. Talvez nem o conheça. Mas segunda-feira ele começa efetivamente a mergulhar nas carências do ministério da Saúde e mostrar a que veio.
Pode ter vindo com o intuito de encontrar para a pasta soluções que contemplem a todos. Pode deixar claro ser um instrumento a serviço de um governo representante das elites econômicas. Cada um sabe como melhor homenagear ou rasgar seu passado. A escolha é pessoal.