4 de junho de 2019

O espelho retrovisor

Talvez a única exceção entre o retrovisor de Bolsonaro e o dos demais é que ele não consegue ver essa cena tão real
Quando foi encerrada a eleição presidencial do ano passado, a mais polarizada de todos os tempos, imaginei o seguinte: o presidente eleito, anunciado por todo mundo como um "representante da direita fascista" iria subir a rampa do Palácio do Planalto no dia 1º de janeiro deste ano para um discurso de posse onde tudo entraria nas laudas preparadas, menos referência aos "esquerdistas ladrões radicais". Ele falaria coisas como:
- Militares e civis desse meu Brasil (slogan ideal), hoje sou o presidente de todos os brasileiros. Quero ouvir e ouvirei o Congresso sem exceção a um único congressista, para tentarmos um governo de coalizão. O passado ficou, já não conta e agora olharemos para a frente.
Nada disso; o capitão que teve que dar baixa do Exército para não ser expulso recusa-se a deixar de olhar pelo retrovisor. Só que no seu caso o espelho o engana. Tenta a todo instante desqualificar os adversários, tornando-os inimigos seus. Quer reescrever a história dando a ela uma conotação enganosa. Já convenceu a milhares de que a ditadura militar nunca existiu e teria sido aquela época, como um dia disse o general Geisel, "uma democracia dentro de sua relatividade".
Seus ministros têm vários pontos em comum mas o maior deles é não saber se expressar em língua portuguesa, além de verem Jesus longe dos altares. Poucos são realmente levados a sério. Por incrível que pareça esse é até mesmo o caso da ministra da Agricultura, nossa Menina Veneno!
Nos carros dos apoiadores até o retrovisor é um "patriota" 
O presidente não vê além de seu não muito curto nariz. Já foi mais "assessorado" por quatro doidos varridos que respondem pelos nomes de Flávio, Eduardo, Carlos e Olavo. Disse certa feita que a ter um filho gay, preferiria um ladrão. Ao que parece a Divina Providência pode ter-lhe dado ambos.
Nesses tempos de confronto entre opostos, tudo o que o Brasil precisava era de um conciliador. Alguém capaz de chamar para conversar e, ao não conseguir, ter o direito de dizer a plenos pulmões: "Eu tentei!". Tudo o que o Brasil não precisava era de alguém que discursa fazendo gestos de armas de fogo, dá pitaco em política externa de outros países, enaltece ditadores sanguinários daqui e dali, conta piadas sem graça e inconvenientes e só fala que o Brasil está onde está por causa de todos os que o antecederam. Todos não, minto. Os militares eram gente muito fina. Todos eles.
Nunca olha para a frete. Por isso não governa de verdade.
Bolsonaro age como se navegasse em águas calmas. Tão calmas que ele pode enfrentar e agredir a todos. Transmite essa certeza a seus assessores diretos e muitos não só acreditam nisso mas o imitam. Como foi militar, deveria saber que o Brasil que ele transtorna a cada dia em um reino das fake news - é mestre em falar e desmentir depois -, já é um risco dar um simples passo à frente.
Talvez a neblina de seus olhos o impeça de ver o abismo!