27 de outubro de 2011

O masculino de mulher pública


A demissão do ministro do Esporte, Orlando Silva, o sexto a dar adeus ao governo Dilma Roussef, mostra que o Brasil sofre com algumas aberrações políticas inacreditáveis. A primeira delas é a influência do ex-presidente Lula, um governante leniente, capaz de fazer qualquer acordo, além de pusilânime, a ponto de não apenas manter auxiliares corruptos em seu governo, mas também de impor vários deles à sua sucessora. É o criador no controle sobre a criatura.
O segundo e talvez o mais grave (mas a lista não se encerra nele), é a divisão de poder imposta ao governo pelos diversos partidos políticos que lhe dão sustentação. O Ministério do Esporte "pertence" ao PCdoB. Um partido de origem operária, que ainda hoje tem influência sobre jovens (como mostra a foto que ilustra esse texto), mas que também aceitou fazer parte da "vaquinha" de divisão de cargos do poder político brasileiro. Haja vista que a substituição de Silva somente foi conseguida em paz depois que o governo ofereceu a esse partido que ele continuasse com o mesmo ministério. Em suma, nomeia o próximo ministro.
Assim as coisas se dão no Brasil. Agora mesmo tramita no Congresso Nacional um Projeto de Lei que pretende aumentar o total da verba parlamentar, dinheiro público que o político recebe para distribuir a seu bel prazer, a partir do ano que vem. De um ano eleitoral.
O que acontece no plano federal se repete nos estaduais e municipais. As câmaras de vereadores inflam e os deputados querem a cada dia uma parcela maior de participação no poder político nos Estados, sobretudo para nomear afilhados e apaniguados a fim de manter currais eleitorais para se garantirem nas próximas eleições. Seria mais digno fazer isso mostrando trabalho. Mas eles preferem o método mais fácil. Tornam atual a frase cunhada um dia: no Brasil, homem público é o masculino de mulher pública.

15 de outubro de 2011

O reajuste subterrâneo


Devagar, aceitando pressões vindas de um só lado mas de diversas personalidades, o Poder Legislativo Federal articula aprovar o orçamento de 2012 com o aumento pretendido pelo Poder Judiciário, além de dinheiro suficiente para contemplar a farra das verbas parlamentares. Para tanto, joga-se no orçamento do próximo ano uma previsão de arrecadação que os mais honestos dizem ser impossível de prever ou aguardar num ano de forte recessão mundial.
Caso essas manobras obtenham sucesso, o que é de se esperar, posto que o Legislativo brasileiro é pusilânime, um trabalhador que receba salário mínimo no Brasil terá de trabalhar cerca de cinco anos, 60 meses, para receber o que um Ministro do STF receberá em apenas um mês. Não há meio de uma situação como essa ser considerada justa. Ou ética. Por mais argumentos que se invoque.
No que diz respeito ao Legislativo, os movimentos subterrâneos não constituem novidade. Afinal, ele vive de cargos comissionados nas diversas esferas do Poder Executivo, de destinação espúria do dinheiro das verbas parlamentares e de decisões de portas fechadas, corporativas ou de favorecimento a empresas e instituições capazes de abastecer o caixa dois de campanhas políticas. O leitor já notou como as principais empreiteiras do Brasil estão presentes em todas as grandes obras públicas, sozinhas ou agrupadas? E que a maioria dos escândados nascem nelas?
O aumento pretendido pelo Judiciário, num momento como esse, mesmo com o argumento de corrigir defasagens, é acintoso. Esse mesmo judiciário desconhece a defasagem das correções do imposto de Renda, das mais diversas categorias de serviço público ligado ao Executivo e, para não nos alongarmos muito, concede migalhas a aposentados, a categorias trabalhadoras da base da pirâmide social e jamais admite subir percentuais acima da inflação oficial ao reajustar quaisquer tipos de vencimentos.
A não ser, claro, e sempre que pretende, os seus.