30 de outubro de 2022

Boa sorte, Lula

Esperei até o último instante da eleição presidencial encerrada faz poucos minutos para começar esse artigo de Blog não com o vencedor, mas com o perdedor. Nunca imaginei que um presidente eleito da República pudesse descer tão fundo no esgoto para tentar continuar no cargo. Até fazer com que órgãos de Estado cometesse ilegalidades ele fez. A PRF, por exemplo, tornou-se um bando de milicianos. Muitas polícias militares - inclusive hoje - cometeram crimes os mais variados. Um ex-deputado maluco atirou contra a Polícia Federal que vinha prendê-lo. Uma deputada reeleita saiu pela rua de pistola em punho atentando contra a vida de "um preto" acusado de tê-la desrespeitado.

Um horror. Sobra disso tudo a certeza de que aqueles que desceram ao esgoto deverão permanecer lá. Já o Brasil vai emergir com seu presidente Lula e a frente ampla que o levou de volta ao Palácio do Planalto. O presidente eleito deverá chamar todos os brasileiros a, juntamente com ele, lutarem na tarefa de reconstrução de nosso país. Chega de extremismo de direita, de pauta de costumes, de violências contra opositores e de um projeto de governo que se resumia a destruir o que ainda temos de pé e feito por outros.

É preciso fazer aqui um registro: como foi maiúscula a presença de Simone Tebet nessa campanha. Arregaçou as mangas e lutou por um projeto que passou a ser dela. Confessou que Lula não era seu candidato - como não era também o meu, pois não sou petista -, mas que ele representava, como realmente representa, o melhor para o Brasil. Foi difícil vencer um projeto de perpetuação de poder que envolvia jogar todos os jogos possíveis e usar de todos os golpes baixos para continuar. Só que eles perderam. Jair Bolsonaro e sua familícia vão embora. Mas antes, já sem os privilégios do cargo que ainda ocuparão até 31 de dezembro, terão de responder pelos inúmeros crimes que cometeram ao longo dos últimos quatro anos. Ele foi o pior presidente da história do Brasil. Nem os generais da ditadura chegam aos seus pés em termos de desonestidade.

Boa sorte, Lula. Você vai precisar dela porque nosso país foi destruído.

24 de outubro de 2022

Um país bizarro

De tudo o que aconteceu ontem envolvendo o cidadão Roberto Jefferson, a Polícia Federal e até mesmo um escondido ministro da Justiça, o que foi mais bizarro? Mais inacreditável? Mais inaceitável? De forma geral eu diria que o "conjunto da obra". Mas um fato se destaca e foi filmado, levado à TV e apresentado para todo o Brasil: um policial federal brasileiro sorridente e conversando com o preso na casa deste, debochando da colega ferida momentos antes por estilhaço de granada e perguntando ao marginal se ele queria mesmo se render. Isso depois de oito horas de tiros, explosões e negociações as mais estranhas. Muito, muito bizarro mesmo.

Hoje fiquei com a TV diante dos olhos o mais que pude. O ministro da Justiça estava no Rio de Janeiro almoçando e conversando com a cúpula da Polícia Federal. Sobre o quê? O preso que foi capaz de usar contra uma ministra do Supremo Tribunal Federal os termos mais chulos, mais desqualificados possíveis aguardava ser ouvido pela Justiça. Para dizer o que, por favor? Nada justifica o que foi feito, as cenas que os brasileiros tiveram diante dos olhos por quase um domingo inteiro e até mesmo aquela ridícula figura fantasiada de padre e negociando com a PF a entrega de armas de guerra que o preso não poderia ter. O policial federal do deboche pode dizer que representava um personagem. E foi mais convincente do que esse padre que já mereceu palmas e dancinhas da primeira dama na internet.

Muita gente daqui e de fora se pergunta hoje que samba do crioulo doido é esse que nos tomou um domingo inteiro. Há pouco tempo um pobre diabo foi morto asfixiado pela PRF porque não tinha documentos e tentam colocar 100 anos de sigilo nas peças do processo a que os policiais respondem. O marginal de ontem foi transportado da cidade onde vivia para o Rio de Janeiro num carro blindado da Polícia Federal usado quase sempre para proteger altas autoridades, algumas estrangeiras.

Não acredito no que estou vivendo. Alguma coisa está muito errada comigo. Ouvi até o presidente da República falar que não há uma única fotografia conhecida dele com esse sujeito. Maneira de dizer que nem sabe quem é. A foto que ilustra o texto mostra que ele não mente. Definitivamente.  

21 de outubro de 2022

Justiça, por que você se esconde?


Tenho hoje, como milhões de outros brasileiros, a convicção de que a Justiça, sobretudo STF e TSE se esconde. Afora decisões contra o enxame de fake news divulgados pelas brigadas bolsonaristas, nada mais é feito para tentar conter as inúmeras ilegalidades cometidas todos os dias, todas as horas, por ordem do presidente da República na sua decisão de ganhar a eleição de domingo dia 30 de qualquer maneira, a qualquer custo, ainda que seja reduzindo a pó a ordem democrática que ele jamais respeitou.

E não é só ele. A ex-reitora da Universidade Federal de Alagoas, Profa. Ana Dayse denuncia que o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, com verba do orçamento secreto, está contratando caravanas de ônibus para saírem de diversos pontos do Nordeste no dia 28 deste mês e fazer peregrinação com os nordestinos que querem visitar a sepultura de Padre Cícero. Só vão voltar dia 02 de novembro, depois das eleições das e quais não participarão. Os nordestinos votam maciçamente em Lula. Desgraçadamente, uma rede de TV chamada Jovem Pan (não seria Jovem Puta?) usa concessão pública para divulgar inverdades de maneira debochada e defendendo só um lado na eleição. Impunemente.

Isso é só a ponta do iceberg. Os aviões da FAB voam todos os dias, todas as horas, fazendo campanha presidencial com as mais variadas figuras a bordo. O Palácio da Alvorada virou comitê de campanha. Dinheiro público jorra todos os dias para a criação de bondades as mais variadas visando angariar votos. Tudo isso, rigorosamente tudo e mais um enxame de outras coisas é ilegal. E onde estão as cortes superiores de Justiça, únicas capazes de deter o desrespeito claro, debochado, às normas legais?

Por que ele não age, mesmo sendo provocado diariamente? Houve uma decisão pelo uso da campanha de Lula de quase duas centenas de inserções de publicidade oficial eleitoral como direito de resposta contra fake news bolsonaristas, mas ontem uma ministra de Justiça Eleitoral reconhecidamente amiga do presidente da Câmara suspendeu sua execução até julgamento do plenário. E isso demora...

Não tenho espaço aqui para enumerar a quantidade de ilegalidades que o presidente da Republica comete todos os dias, o mesmo acontecendo com seu entorno onde pontificam filhos, esposa, apaniguados mais chegados e aproveitadores de todas as espécimes. Todos os dias, todas as horas. A decisão deles é essa: vamos ganhar a eleição passando por cima de tudo, principalmente da Justiça. Porque a honra, a decência, a moral e a vergonha na cara, isso nós já deixamos pelo caminho. 

E repito a pergunta porque vejo a balança que representa o poder judicial pendendo mais para um lado do que para o outro: Justiça, por que você se esconde?             

19 de outubro de 2022

Anjos de cemitério


Existem coisas que a gente tem que fazer como, por exemplo, ir ao velório de um velho amigo do nível de José Carlos Monjardim Cavalcanti, o Cacau. Fui hoje com a também amiga Jô Drumond, e enquanto esperávamos por outros confrades ou confreiras da Academia Espírito-santense de Letras (AEL), resolvemos passear por entre as sepulturas do plano inferior. Há obras de arte lá. Tristes e bonitas. Jazigos suntuosos. E eu estava particularmente interessado em encontrar o de Wilson Freiras, um remador lenda no Espírito Santo e cuja sepultura é uma proa de barco feita de pedra. Só que antes nos deparamos, os dois, com algo insólito.

Estávamos diante de uma lápide branca com a imagem de um menino de calções curtos, puxando um caminhão de brinquedo. Não havia uma única identificação no local. Nome, data, nada (confira na foto). Mas em diversos pontos estavam sacos de doces, balas e até uma embalagem de guaraná, tudo ornamentando o lugar. Fiquei intrigado. Na administração me disseram que aquela é a sepultura de Pedrinho, menino pequeno e que morreu jogando bola na rua. Não sei como nem quando aconteceu isso. Também não informaram porque a tumba não tem coisa alguma escrita, nada que remeta o curioso até aquele garotinho miúdo.

E houve uma informação adicional: determinada mulher passa sempre pelo cemitério com doces e balas nas mãos e as coloca nos túmulos de anjos. Crianças pequenas. Inclusive na do não identificado. Além dela, praticantes de umbanda ou outras confissões religiosas, de origem afro ou não, fazem o mesmo. O jazigo de Pedrinho é o mais visitado do Cemitério Municipal de Santo Antônio, em Vitória. O de Wilson Freitas, onde centenas de velas queimadas formam uma cascata de parafina, da mesma forma.

O que me impressionou mesmo foi esse Pedrinho. Pequeno, indefeso, rebocando seu caminhão de brinquedo e sonhando com a vida que acabou de repente durante um joguinho de futebol que toda criança ama. Um anjo morto e com o corpinho deixado junto às demais lápides de Santo Antônio, sabe-se lá há quanto tempo. Tem agora a companhia de um velho jornalista falecido aos 93 anos de idade, de parada cardíaca e que, por isso, não ganhou doces e balas no enterro. Somente flores e saudades. Muitas!

13 de outubro de 2022

A filhote perfeita


Todo projeto de ditador tem o sonho de criar filhotes que sejam sua imagem e pensamento. Hitler fez isso e Mussolini também. O atual presidente da República não poderia ser exceção a essa regra. Para tanto montou uma equipe de auxiliares subservientes, capazes de absorver sua ideologia (?) barata e replicá-la em todos os cantos, sobretudo entre o "gado", também chamado de "bolsonarista de raiz". Mas o auge de sua obra é mulher e pobre de espírito. Damares Alves tornou-se a filhota perfeita dele. Quer a presidência do Senado e, quem sabe, coisa ainda maior para o futuro. Se houver...

Quem é essa senhora? Era funcionária de gabinete do então senador Magno Malta, antigo puxa saco de Lula e de todos os demais políticos que detiveram poder. Colecionou fotos ao lado deles. Então se tornou ministra do governo atual no lugar do antigo chefe porque o presidente precisava num cargo importante para ele de uma pessoa subserviente, capaz de cumprir quaisquer ordens, medíocre e disposta a espalhar as mensagens pseudo religiosas em todas as igrejas evangélicas de aluguel existentes no Brasil.

Deu certo!

Agora senadora eleita, cometendo um crime atrás do outro, passeia pelo Nordeste a bordo de aviões da FAB com custos retirados dos impostos que os brasileiros pagam e ao lado da "primeira dama" (como na foto) e outras figuras de nosso bizarro fascismo, para tentar capturar votos do candidato Lula com o intuito de "tirar o demônio" de dentro do Palácio do Planalto. Recentemente foi autora de uma acusação gravíssima, ao dizer num templo religioso que recém nascidos eram vítimas de abuso sexual na Ilha do Marajó. Como sempre, e seguindo fielmente seu mestre, não apresentou evidências e nem prova alguma do que disse. Sua tática é a de confiar na impunidade até conseguir ocupar o cargo de senadora.

Damares é a imagem perfeita do que os brasileiros estão construindo para a obra bolsonarista de destruição dos princípios democráticos de nossa sociedade e das instituições que os sustentam. E tem competência para cumprir a sua terrível tarefa. Pode ganhar o posto de coadjuvante mor desse projeto.                          

8 de outubro de 2022

O último obstáculo


O Brasil está hoje diante de um dilema único: ou derrota o projeto autocrático de seu presidente ou vai mergulhar em uma época de trevas como nunca houve antes, nem nas ditaduras do Estado Novo e de 1964. E pode parecer incrível, mas o ex-presidente Lula, candidato contra o atual mandatário nas eleições do dia 30 é o último obstáculo que separa esse projeto de ditador e seu intento.

Explico. O atual presidente é fascista, admirador de Mussolini e quer o Brasil subjugado a ele e suas crenças pessoais. Normalmente faria isso com um golpe de estado tradicional e uso da força, mas como não pode porque inexiste apoio militar a isso e a reação externa seria insuportável, restam-lhe os meios convencionais. Se for reeleito, vai destruir a nossa ainda frágil democracia de dentro para fora, subjugando o Poder Legislativo - que em parte já é submisso a ele -, atingindo como um torpedo a independência do Poder Judiciário e mudando a Constituição para obter poderes os mais discricionários possíveis, o que envolveria ter o direito legal de se reeleger mais quantas vezes quisesse.

Nosso maior risco reside na parcela brasileira conhecida como "classe média" e que talvez seja a mais reacionária do mundo. Essa semana mesmo ouvi de um diretor de imobiliária que o meio ambiente não tem o menor valor para ele e de outra pessoa culta (?) que a democracia é um produto "descartável". Aí mora o perigo. Porque, reeleito, o atual presidente vai começar sua obra destruindo a educação pública.

Onde entra o ex-presidente Lula nesse jogo de xadrez? Ele pura e simplesmente é hoje o único adversário com musculatura política capaz de enfrentar "Bozo". Se for derrotado, o projeto autoritário e autocrata do bolsonarismo terá caminho livre pela frente. Tudo o que construímos ao longo dos tempos de República estará jogado por terra. O Brasil será o paraíso do nazi-fascismo, do obscurantismo e da imposição de dogmas e conceitos medievais. Essa liberdade da qual o mandatário tanto fala para conquistar votos deixará de existir. O direito de pensar, julgar e decidir estará cassado.

Lula tem defeitos imensos? Certamente sim. Mas é um democrata e  o último obstáculo a nos separar da pior ditadura que haveremos de viver. Vamos pensar nisso porque para fazer da democracia uma autocracia basta mover poucas pedras, como mostra a ilustração acima.        

2 de outubro de 2022

Anauê para o bem do Brasil


Uma das pessoas que mais amei na vida foi meu pai. Ao final, quando ele estava próximo de  morrer, toda vez que nos despedíamos era como se fosse a última. E durante anos não conseguia entender nele sua juventude no Partido Integralista Brasileiro e o fato de ser dono de um um conservadorismo politico extremado que o levava a nunca fazer concessões fora do espectro político da direita ou extrema direita. Só muito mais recentemente, anos depois de ele morrer, pude concluir que o velho não era mal, não era tão reacionário assim e sobretudo não era um ponto fora da curva. Foi, isso sim, o retrato do conservadorismo/reacionarismo brasileiro.

Quando eu me irritava com seus argumentos e dizia "Anauê para o bem do Brasil" com o fito de colocar um freio nele, apenas ria a dizia: "Não sou fascista!". Mas às vezes era. E durante a juventude havia sido muito. Tanto que era admirador de Plínio Salgado e amigo pessoal do representante político deste no Espírito Santo, Oswaldo Zanello. Deixou o movimento muito mais porque era ateu do que por divergência doutrinária. Não suportava ter que conviver com o lema "Deus, Pátria, família" daquele movimento.

Na história brasileira o integralismo se mostra e se esconde, se mostra e se esconde, num movimento de vai e volta que aproveita a arena política e as crises brasileiras para mostrar as garras. Foi o que aconteceu em 2018, quando da eleição de Jair Bolsonaro. Os escândalos que cercaram os governos de Lula/Dilma serviram como caldo de cultura para uma nova eclosão do movimento e, hoje, para o resultado geral das eleições nacionais. Muitos dos eleitores dos reacionários que agora vão ter mandatos políticos fizeram isso de caso pensado. Mas a maioria foi embarcada na calda de cometa da propaganda fascista. Não tem estofo intelectual para entender o que acontece.

Afinal, o que se pregava na campanha de Bolsonaro e se vai continuar pregando é um falso virtuosismo religioso. Além do antigo lema "Deus, Pátria, família" são trazidos à arena política o neo-evangelismo brasileiro, um difuso conceito de liberdade e a "pauta de costumes".  Como se uma vitória da "camarilha comunista" fosse tirar a liberdade das pessoas. Na verdade, foi durante as ditaduras do Estado Novo e do Golpe de 1964 que todas as garantias constitucionais caíram por terra. E cresceu no Brasil a prática da tortura política. Milhares se lembram disso. Sentiram na carne.

Temos possibilidade de vencer essa onda? Sim, temos. Mas vamos precisar começar agora elegendo Lula presidente e fazendo o possível e o impossível para que ele seja capaz de governar como um monge. Uma freira. Sem escorregões. Com um projeto de inclusão social, de recuperação da economia e de distribuição de renda capazes de anular o discurso da extrema direita. "Anauê" é um termo talvez de origem tupi, uma saudação, um modismo entre escoteiros do início do século XX e que nossos fascistas adotaram juntamente com suas camisas verdes e que os fizeram ser chamados de "galinhas verdes". São as que você pode ver na foto acima.

Mas não se iludam: essas atuais têm bico longo, projetos de futuro e são muito perigosas para o que a gente entende como democracia. Elas corroem nossos valores de dentro para fora.