30 de janeiro de 2023

Nossos índios, nossa vergonha


- Precisamos reconhecer que o Brasil é terra indígena!

Essa declaração foi prestada agora à tarde na Globo News pela repórter Sônia Bridi em fala sobre seu trabalho jornalístico exibido ontem no programa "Fantástico", da Rede Globo. Trabalho de excelente qualidade e que reforça as denúncias sobre o crime de genocídio cometido contra as populações indígenas da Terra Yanomami nos últimos quatro anos durante o governo de extrema direita de Jair Bolsonaro. Não foi uma ação eventual e nem fruto de descaso. Nada disso. Tivemos no Brasil um projeto criminoso e que visava exterminar os indígenas que vivem naquela região amazônica, a começar pelas crianças. Um nojento plano oriundo da cabeça do presidente, mas com a ajuda "valiosa" de auxiliares como Ricardo Salles, Damares Alves e outros mais, todos ministros de um governo onde ninguém se mantinha no cargo se não seguisse cegamente seu líder. Hitler teria ficado com inveja...

As imagens que nos chegam diariamente da região chocam. Corpos esqueléticos, crianças com desnutrição severa (foto), acometidas de malária em situação que lembra em muito campos de extermínio nazista de durante a segunda guerra mundial. A diferença mais marcante é a inexistência de fornos crematórios, porque no mais tudo parece quase igual. Sobretudo e principalmente o fato de que era um projeto mesmo e colocado em prática por um presidente que fez questão de visitar os criminosos. Falou a eles, deixou-se filmar junto a bandidos porque bandido é. E, mais ainda, o chefe!

Já está provado que informações falsas foram prestadas ao Supremo Tribunal Federal, decisões judiciais acabaram descumpridas, os órgãos de fiscalização, controle e combate a crimes ambientais estão sucateados, a FUNAI virou uma fachada para encobrir o massacre de povos originários e tudo isso tem  nome e chefe na figura daquele que deixou a presidência em 1º de janeiro e hoje se esconde nos EUA.

O que falta para esse sujeito começar a pagar por seus crimes? Porque o Tribunal Internacional de Haia ainda não foi abastecido com provas decisivas contra ele? Já é tempo de esse ex-presidente e seus auxiliares mais chegados conhecerem as barras dos tribunais nacionais e internacionais. Todos, eles sem exceção. Nossos índios já foram nosso orgulho. São os brasileiros que estavam aqui antes de os portugueses chegarem e continuam sendo os cuidadores das terras brasileiras, de onde só retiraram seu sustento. Hoje são nossa vergonha interna e externa porque envergonha qualquer pessoa digna ver o que um governo bandido fez com eles para extrair ouro ilegalmente de suas reservas, acobertado e apoiado por chefões, chefes e chefetes do crime organizado que envolve até madeireiros.

Vamos acabar com isso. É hora de atacar o garimpo ilegal e exterminar esse mal de nossas vidas!                    

27 de janeiro de 2023

Lula, pense antes de falar


Uma das maiores críticas que se fazia ao ex-presidente Bolsonaro era a de que ele só falava para seus apoiadores, estivesse onde fosse. Fazia isso costumeiramente no "chiqueirinho" do Palácio da Alvorada, em discursos de solenidades e até mesmo na OUN, nessa em duas ocasiões. E como Lula pediu no seu primeiro pronunciamento como presidente para ninguém se fazer de puxa-saco com ele, dou minha contribuição aqui: não repita os erros do genocida. E pense muito antes de falar.

Na Argentina Lula usou os locais de pronunciamentos, inclusive quando estava junto ao presidente da Argentina, Alberto Fernández (foto) para alfinetar o antecessor. E em dado momento durante o périplo que envolveu também o Uruguai, ocupou-se do episódio do impeachment de Dilma Roussef para chamá-lo de "golpe de Estado". Nada mais falso. Foi, sim, uma grande injustiça provocada sobretudo e principalmente pela falta de tato da ex-presidente. Nada mais do que isso, pois o processo teve à frente o presidente do Supremo Tribunal Federal, na época Ricardo Levandowski. E esse foi apenas o erro mais crasso.

Lula, nos últimos tempos, ocupou-se do passado praticamente em todos os pronunciamentos. Nós conhecemos seu episódio de 580 dias preso e o fato de que ele proclama inocência aos quatro ventos. E só o próprio presidente pode saber qual é o grau de sinceridade que existe nessas declarações. Também já reclamou do mercado, das reações às suas falas (então era melhor não falar!), do comportamento de parte da oposição e da imprensa marrom. Também atacou o ex-presidente Michel Temer e levou um contra-ataque pesado. Chega, está na hora de parar e focar em frente. No futuro.

Temos um Brasil por ser reconstruído e o chefe do Executivo precisa ser o artífice dessa reconstrução. Sua ministra da Saúde tem falado sempre sobre projetos e os problemas da pasta. Está mostrando serviço, tornando-se importante no governo e jamais usou da sua capacidade de manifestação para atacar os que a antecederam, embora todos sejam "pratos cheios". Sobretudo e principalmente o general Eduardo Pazuello, figura decrépita e que conseguiu ser pior do que Queiroga somente pelo fato de que não era médico e quando abria a boca para tocar em assuntos de saúde, dela só saiam leviandades. 

Que tal, Lula, começarmos a reconstruir o Brasil? Sabemos que você é um pote até aqui de mágoas, mas tente depurá-las. Seu antecessor hoje corre o risco de ser processado pelo Tribunal Internacional de Haia. Como perdeu e eleição, não tem mais meios de exterminar os índios e destruir totalmente a Amazônia. Virou um cadáver politico morto de medo. Não é bom isso? Lute pelos indígenas, ataque de frente o garimpo ilegal e os madeireiros igualmente foras da lei. Proteja nossos ecossistemas, ajude-nos a salvar a Amazônia e entre para a história. Evite pronunciar o nome do genocida. Não se chuta cachorro morto.   

20 de janeiro de 2023

O golpista fracassado


Não se iludam: Jair Bolsonaro só não patrocinou um golpe militar no Brasil porque isso foi impossível pelo menos por agora, pois ele não desistiu de seu projeto. É que uma parte maiúscula da sociedade brasileira hoje rejeita esse tipo de violência e, além do mais, as reações e  repercussões internacionais são tremendamente contrárias. Somente por isso e também porque uma grande quantidade de oficiais das três armas teme um fracasso ou adotou o legalismo por conveniência ou convicção nós não vivemos para ver novamente tanques de guerra nas ruas. Sendo assim, até mesmo os maiores meios de Comunicação brasileiros são contra uma ruptura da democracia agora, embora tenham sido favoráveis em 1964 quando fizeram vista grossa para as prisões ilegais, as tortura e os assassinatos (ilustração).

Claro que houve algumas tímidas reações durante o período militar brasileiro. O jornal "O Estado de São Paulo" publicava poesias nos espaços em que deveria sair uma notícia cortada pela censura. "O Globo" defendia seus jornalistas como podia e o presidente do grupo, Roberto Marinho, jamais demitiu quem quer que seja porque era comunista. Conta-se que uma vez, ao receber de comandantes militares uma lista de profissionais esquerdistas de sua redação, teria dito: "O senhor, general, manda no seu quartel. Na minha redação mando eu". Ele nunca confirmou o fato, mas também jamais o negou. Além disso sempre houve jornalismo de resistência por aqui, quer seja no plano nacional quanto no regional. Com a legalização dos partidos de esquerda e o fim da ditadura eles deixaram de circular. Não eram mais necessários. E fazendo uma homenagem à verdade, aqui no Espírito Santo o jornal A Gazeta também nunca afastou quem quer que seja do trabalho jornalístico por posições ideológicas.

Mas não nos iludamos: da proclamação dá independência até hoje tivemos nove golpes de Estado ou tentativas deles no Brasil, todos patrocinados por nossas forças armadas. O que houve no dia 08 de janeiro fica de fora. Portanto, o golpismo é uma tradição do militarismo brasileiro desde que nos separamos de Portugal. E isso passa por uma herança histórica maldita, pois se entranhou no pensamento do militar brasileiro que as forças armadas são o poder moderador da República, o que daria a Exército, Marinha e Aeronáutica o direito de intervir na vida nacional sempre que estivéssemos diante de uma fase mais conturbada. E não foi por outro motivo que o presidente que fugiu do Brasil no dia 30 de dezembro passou quatro anos produzindo uma crise atrás da outra, sem sucesso.

Foi o nosso único caso de golpista fracassado de alto escalão.               

   

11 de janeiro de 2023

Sem mais negociação

Negocia-se com quem quer negociar. Com quem não quer tem que ser a ferro e a fogo.

Todo mundo deve ter visto as imagens dos terroristas bolsonaristas liberados para responderem a processos em liberdade por diversos motivos sendo levados para fora de onde estavam detidos depois dos atos de domingo. Isso aconteceu ontem. Vimos claramente pela TV vários deles, sobretudo homens idosos, com os braços e os rostos para fora das janelas, acenando ameaçadoramente. Uns faziam "muque", mostrando os músculos dos braços. Não, eles não poderiam ter sido liberados! E também não seria possível liberar mulheres que levaram criança para os acampamentos. Na minha opinião de não jurista, isso deveria servir para agravar ainda mais a situação delas porque, afinal, quem tem a coragem de levar um menor para servir de escudo é criminoso da pior espécie. Principalmente se for um filho.

Agora mesmo circula nas redes sociais um cartaz convocando pessoas para "Mega manifestação nacional" e, pasmem, "pela retomada do poder". Em seguida são listadas as cidades onde o ato está previsto para hoje às 18 horas, com os locais escolhidos em cada cidade. Isso é um desafio, um confronto e não pode acontecer num Estado Democrático e de Direito. Infelizmente até minha cidade de Vitória está relacionada e com o local do ato criminoso sendo na Praça do Papa. Coitado dele!

Dos Estados Unidos, onde o filho mais velho diz que ele "está lambendo a ferida" o meliante Jair Falso Massias Bolsonaro incita os seus seguidores, sobretudo os fanáticos ditos "de raiz". Finge que não tem nada a ver com isso, posta aberrações para retirar em seguida e estuda como voltar ao Brasil porque pode ser expulso dos Estados Unidos a qualquer momento e também há muita pressão para que a Itália não conceda cidadania nem a ele nem ao seu entorno, sobretudo a familícia.

Não há mais como negociar. Depois do que houve domingo em Brasília e com o horizonte que temos diante de nós, o Estado moderno, que detém o monopólio do uso da força, precisa se preparar para isso. Caso o golpismo cresça, caso o confronto seja sempre o previsto, as forças de segurança devem ser liberadas para utilizar armamento letal. E se for preciso, que  façam uso necessário dele.

É uma pena, mas não podemos permitir a destruição do Estado de Direito.  

    

8 de janeiro de 2023

Eles vão perder! Já perderam!


Para quem não viveu esse tempo, posso afirmar que vi a ditadura militar do Brasil. E recordo-me de um episódio dentre milhares que poderiam ser citados aqui: a celebração religiosa pelo assassinato do jornalista Vladimir Herzog, na Catedral de São Paulo. O cardeal Dom Paulo Evaristo Arns o rabino Henry Sobel rezaram por Vlado diante de milhares de pessoas sem poder dizer claramente que ele tinha sido torturado e morto covardemente pela ditadura depois de se apresentar espontaneamente ao Exército para prestar declarações. Não o conheci pessoalmente, mas segundo todos os que conviveram com ele, era uma doce figura. Militante do PCB, foi massacrado por suas convicções políticas. Na época o mesmo aconteceu com o operário Manoel Fiel Filho.

Tenho nojo da ditadura militar brasileira e de todos os canalhas que pedem intervenção militar no Brasil, como foi feito hoje em Brasília. São porcos, nojentos. Durante esse domingo, milhares desses nojentos se aproveitaram da omissão criminosa do governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha e do secretário Anderson Torres para destruir parte do Palácio do Planalto, do STF e do Poder Legislativo em "protesto" a favor do genocida Jair Bolsonaro, hoje fugido nos Estados Unidos. Os que o apoiam irracionalmente o querem de volta à presidência. Mas ainda vão se deparar com ele na prisão.

Eles vão perder! Já perderam!

Hoje, na invasões de sedes do poder em Brasília, destruíram tudo o que viram pela frente, mas sobretudo obras de arte. A mais sublime manifestação do gênio humano é a arte em suas diversas formas e talvez isso os agrida porque eles são intelectualmente paupérrimos. Apunhalaram seis vezes um quadro de Di Cavalcanti. Dois vasos chineses de grande valor acabaram no chão. O Di pode ser restaurado, mas os vasos talvez não. Eram propriedade do povo brasileiro e foram destroçados da mesma forma como talvez tenham sido algumas obras de arte que estavam no Palácio da Alvorada. Eles têm horror da cultura.

E eu, repito, tenho horror deles sobretudo porque conheço várias histórias de prisões ilegais, torturas e assassinatos praticadas por aqueles que o canalha Bolsonaro cultua, como o torturador Brilhante Ustra. Talvez tenha sido parcialmente em homenagem a ele que os terroristas atacaram o Poder Legislativo, como mostra a foto acima. Não respeitam a democracia e têm que pagar por isso. Sou um dos brasileiros ainda vivos que podem testemunhar como foi duro, cruel, ter o Estado Democrático e de Direito de volta. E isso me orgulha muito.   

7 de janeiro de 2023

Lula e o "mercado"


Desde antes da posse como novo presidente do Brasil Lula teve que lidar com os maus bofes do "mercado", aí entendidos os diversos setores onde se aglutina o capital do Brasil, tanto o que já está aqui quanto o que pode vir a ser aplicado. E é interessante porque o mau humor não foi notado durante o governo anterior, embora o chefe de Estado tenha dado vários motivos para tanto. Furou teto de gastos várias vezes, trocou inúmeros ministros por outros que atenderiam suas ordens sem questionar, fez uma farra de gastos impressionante, ameaçou de forma clara e inequívoca dar um golpe de Estado no país, além de entregar um Palácio do Planalto com todas as portas internas trancadas e sem chaves e o Palácio da Alvorada com interior quase destruído, o que inspirou a charge que ilustra esse texto.

O nosso mercado é ideológico.

O ministro da Marinha anterior ao atual se recusou a participar da passagem do cargo para não prestar continência ao presidente. Isso é insubordinação, mas não houve nada contra ele. Nem agora nem quando das ameaças de Bolsonaro de romper com o Estado Democrático e de Direito. E isso não aconteceu em homenagem ao espírito legalista de nossas forças armadas, porque elas nunca o foram. Sempre tiveram um pé no golpismo e ele só não aconteceu depois de 30 de outubro porque a maioria dos oficiais superiores teve receio de as coisas darem errado, sobretudo e principalmente por dois motivos: internamente a reação contrária seria forte e externamente o Brasil ficaria muito mais isolado do que sempre esteve de quatro anos para cá. As FFAA não têm vocação para o heroísmo de fachada.

As nossas forças armadas são ideológicas.

Por isso o presidente Lula deve governar seguindo sua cartilha, apesar de em alguns pontos ela não parecer muito eficiente. Deve prosseguir com sua "opção preferencial pelos pobres", mesmo enfrentando os maus bofes dos donos do dinheiro, mas com o olho aberto para a necessidade de termos uma âncora fiscal que impeça o Brasil de gastar mais do que arrecada. Isso é vital para a governança.

E antes que eu me esqueça: vai ser preciso defenestrar a ministra do Turismo. Ela é uma bomba relógio que pode explodir e fazer um estrago imenso ao governo logo no seu início.