24 de setembro de 2020

No passarán!


Hoje no meio da tarde um amigo enviou-me por mensagem o Ibope que dá ao presidente Jair Bolsonaro 40 por cento das preferências populares de momento na corrida pela reeleição à presidência da República. Escreveu: "Vou embora!". Cheguei a dizer que também iria caso pudesse. Mas não irei. Lá na Europa do início do século XX, uma linda mulher jovem que havia se casado com um socialista para desgosto dos pais, um dia enfrentou o ditador espanhol Francisco Franco aos gritos:

- Para vivir de rodillas, es mejor morir de pié. No passarán!

Esse grito tornou-se um lema da basca Isidora Dolores Ibárruri Gomez, "La Pasionaria" (Flor da Paixão), que viveu quase a vida toda lutando contra o fascismo. Perdeu filhos na Guerra Civil Espanhola, inclusive Ruben, o mais querido e piloto de combate na União Soviética. Sempre usou preto e nunca se entregou. Morreu aos 94 anos sem jamais ter ficado de joelhos diante do fascismo. E por seus ideais e luta até hoje é amada na Espanha.

Contra o que "La Pasionaria" lutou? Contra um poder que se destinava a destruir as instituições nacionais, demonizava os valores instituídos, queria matar todos os adversários, não aceitava as verdades científicas, apegava-se de todas as formas a princípios religiosos retrógrados, pregava o ódio, amava torturadores e não permitia dissidências. Isso nos lembra algo?

Interessante, mas no no último dia 07 a historiadora e antropóloga Lilia Schwarcz, em entrevista ao programa de televisão Rosa Viva, disse: "Jair Bolsonaro não precisa de um golpe, porque ele está corroendo nossas instituições por dentro. Ele é o golpe. Muito interessante os brasileiros terem acreditado numa  miríade de nova política, quando tínhamos na frente uma velhíssima política".

É isso. O ibope é honesto, feito dentro das técnicas do levantamento de pesquisa, mas só representa um momento passageiro de nossa vida política. Ele seria dramático faltando dois meses para as eleições presidenciais de 2022. Mas faltam mais de dois anos... Muito tempo. Uma imensidão de águas tão grande para passar por baixo da ponte que  nem a fúria destruidora de Bolsonaro e seus sequazes conseguirá secar os rios que as trarão até nós.

Mas é preciso lutar. É necessário que todas as forças democráticas comprometidas na batalha pela manutenção do Estado brasileiro, do Estado Democrático e de Direito, se unam de uma vez por todas. Formem um bloco único para enfrentar a nova maré fascista. Não será um monolito, sabemos todos nós, mas nem é preciso tanto para derrotar um projeto de tirano de aldeia.

Está na hora. Vamos gritar: "No passarán!" E seguir em frente.

23 de setembro de 2020

Acordo comercial agora não!


Pode parecer loucura e uma aposta contra o futuro do Brasil, mas é o contrário: o ideal para aqueles que querem ver o meio ambiente do nosso País sobreviver ao caos do atual governo federal e alguns estaduais é que o acordo comercial entre União Europeia e Mercosul não seja assinado. Fique para depois, para quando os crimes ambientais realmente cessarem. Mesmo após ser dito irresponsavelmente pelo governo que a não assinatura do documento colocará em risco projetos de conservação atuais - o que é um blefe -, não haver acordo nas bases de hoje é o certo. 

Ontem, falando na ONU o presidente Bolsonaro cometeu impunemente mais uma série imensa de crimes contra a verdade dos fatos. O que é corriqueiro para ele. Falseou números, colecionou sofismas e fez ao menos uma acusação de inacreditável leviandade: disse que o fogo na Amazônia (no Pantanal também?) é provocado por indígenas e caboclos. Como é fácil acusar quem não detém o poder... Os incêndios, sua grande maioria, nascem da ação de latifundiários, grileiros e  garimpeiros ilegais. Gente que é protegida aberta e impudicamente pelo presidente da República.

Lembrem-se: esse governo é do capital, pelo capital, para o capital.

É falso tudo o que se diz hoje no plano federal como tentativa de fazer as pessoas acreditarem no exterior que o Brasil protege o meio ambiente. A intenção de Bolsonaro e seus ministros escolhidos a dedo é devastar. Na mente deles, florestas e animais não servem para nada se estiverem à frente de algum projeto agrícola ou industrial. Essa era a mentalidade que levou à construção da Transamazônica, esse monumento à falta de responsabilidade ambiental. Os tempos passaram, a ditadura 1964/85 se findou, mas suas crenças ainda sobrevivem na mente deturpada dos membros do atual governo.

Se o acordo União Europeia/Mercosul for assinado ele será um mais um fósforo a provocar incêndios ao mesmo tempo em que denúncias reais e inquestionáveis continuarão a ser qualificadas como mentiras, ações comunistas ou projetos de falta de patriotismo. Esse governo precisa ser asfixiado externamente, no plano econômico. No futuro, quando nossos netos e bisnetos herdarem uma imensa savana no lugar onde eram as florestas brasileiras, quando não houver mais animais, clima previsível, nada que nos lembre o riquíssimo Brasil de hoje, todos os canalhas autores desse desatino estarão mortos.

Mas também os que se calam agora ou se escondem nas bolhas onde vive o gado bolsonarista. Não haverá ninguém para alimentar mentiras ou se julgar salvador da Pátria.              

15 de setembro de 2020

O crime pelo fogo


Tentem se lembrar vocês de terem ouvido, desde o início do acirramento do fogo sobre a Amazônia brasileira e agora também sobre o Pantanal e outros lugares, de um único e miserável pronunciamento do presidente da República sobre esse assunto. De sofrimento. De promessa de providências para o combate às queimadas. De revolta contra aqueles que estão destruindo o Brasil em crime pelo fogo. Não há nada. Rigorosamente nada nesse sentido, e muito pelo contrário.

Jair Messias Bolsonaro é o fogo. Ele é o crime pelo fogo.

Enquanto a fumaça dos focos de incêndio começa a chegar até mesmo às grandes cidades brasileiras, enquanto a flora e a fauna das regiões mais ricas do Brasil são destruídas talvez sem qualquer possibilidade de recuperação, o "Bozo do Palácio do Planalto" participa de solenidades militares para inauguração de qualquer coisa. Posta insanidades nas redes sociais juntamente com seu irrelevante e ridículo ministro do Meio Ambiente "desmentindo" que a situação seja grave com base numa idiotice que colocou um mico leão dourado em território amazônico. Desconhece o drama dos indígenas dizimados por fatores diversos como os ataques constantes de garimpeiros e invasores de terras ilegais que, em vez de serem combatidos pelo governo, acabam apoiados por ele.

Sim. o governo brasileiro apoia o crime.

Eu poderia aqui falar sobre o perdão criminoso de dívidas de evangélicos picaretas, de pressões para que os mau feitos dos filhos do presidente não sejam investigados, apurados e julgados, mas prefiro parar por aqui. Nem quero discorrer sobre o fato de que agora é proibido às autoridades federais ligadas ao governo comentar sobre o tal de Renda Brasil, uma tentativa tosca do governo de mudar o nome de um projeto de antecessor seu.

Tudo isso é irrelevante.

O Brasil está queimando, está derretendo enquanto o vice-presidente da República acusa alguém no  INPE - ele diz nem saber o nome - de não dar notícias positivas sobre seu governo. Como se fosse possível. Isso também agora não tem relevância. Importante é todos nós ficarmos com a imagem desse texto. Ela diz tudo.      

2 de setembro de 2020

O que ele quer?


Não sei se o problema é minha incapacidade de entender os estúpidos ou se tenho mesmo má vontade para com o cidadão hoje ocupante da presidência da República. Sei lá. Mas toda a vez que ele abre a boca fico imaginando se estou diante de uma pessoa normal ou não. Porque algumas declarações e alguns atos praticados por ele desafiam a razão, a sanidade. O último exemplo foi uma fala irresponsável à entrada do Palácio da Alvorada, quase desaconselhando a campanha de vacina anti-Covid-19 e que gerou a imagem assustadora da peça publicitária acima, produzida quase imediatamente pelos bajuladores de plantão. E o mais inacreditável é que a manifestação de Bolsonaro agride uma lei assinada por ele próprio.

Os médicos sabem bem mais do que nós, leigos, dos imensos benefícios advindos das inúmeras campanhas de vacinação já feitas no Brasil. Várias doenças graves foram erradicadas em decorrência desse esforço. E sempre houve discursos vazios pregando a não vacinação. Como eram episódios pequenos, circunscritos a grupelhos, jamais foram levados em conta. Mas agora, não. Hoje os discursos anti-ciência estão vindo da estrutura de poder. E o presidente usa de seu prestígio pessoal para atentar contra tudo o que pode levar o Brasil a um patamar científico digno de respeito entre os países mais importantes da atualidade.

O presidente desconhece a ciência como elemento fundamental para a vida dos povos. Agride o ensino com a desculpa torpe de estar com isso combatendo "as esquerdas". Dá pouca ou nenhuma importância à medicina, em plena pandemia da Covid-19, porque os homens da ciência se recusam a entrar em seu jogo de eleger um medicamento sem comprovação científica como sendo a solução definitiva para a doença. E nem bem seu (des)mandato chegou à metade e já está em plena campanha por reeleição, jogando o jogo sujo das demagogias baratas e fazendo acordos espúrios com as alas comprometidas do Congresso para garantir apoio popular. Segundo muitos economistas de destaque no cenário nacional e internacional, essa postura poderá levar o Brasil à bancarrota.

O que ele quer? O que o falso Messias pretende fazer? Está cercado de pilantras, vive lutando para impedir que investigações sérias sejam levadas a cabo quando se aproximam ou tocam na sua família, e investe contra qualquer pessoa, seja quem for, se entende ser esse indivíduo um obstáculo a seus planos - sagrados planos para ele - de se reeleger em 2022. A qualquer custo.

Agora até mesmo o filho mais novo, ridiculamente chamado 04, quer ingressar no mundo dos negócios. Qualquer negócio! E já promove reuniões de Estado nesse sentido. Dá voz de comando a ministros, secretários federais, etc. Que diabo é isso? O que ele quer? O que pensa estar fazendo? Mas, melhor do que isso: o que queremos nós de braços cruzados?