21 de novembro de 2021

O voo pirata


A foto acima mostra um Legacy da Força Aérea Brasileira que faz parte do grupamento de transporte aéreo a serviço dos poderes da República, sobretudo autoridades. Tem prefixo VC99B, identificação de cauda FAB2582 e nada teria como notícia caso não fosse agora alvo de investigação pela acusação ter feito um voo pirata para retirar do Brasil, às pressas, o senhor Olavo de Carvalho, astrólogo, "filósofo" ou simplesmente picareta intimado a depor na Polícia Federal. Voou de São Paulo a Nova Iorque onde pousou em um aeroporto pequeno, longe dos olhares indiscretos. Lá o passageiro teria ficado.

Isso é fato de extrema gravidade. Há suspeitas de que o avião foi usado por intervenção do ministro de Estado Fábio Farias. O voo era o BR46. Era época de reuniões internacionais na Europa e muita gente voava ao exterior à custa dos impostos que pagamos. O passageiro Olavo saiu às pressas de um hospital público onde estava internado recebendo tratamento médico VIP ao qual eu e você não temos acesso, fez isso sem sequer se despedir dos médicos que o atendiam e assim fugiu de responder a inquérito ao qual havia sido intimado para explicar a existência de milícias digitais no Brasil a serviço da construção de notícias falsas (fake news) que sustentam o Governo Federal.

Esse fato se deu no dia 16 desse mês e o indivíduo Olavo estava internado no hospital público desde o dia 09 porque não tem plano de saúde nos EUA. Já nos Estados Unidos disse ter retornado às pressas porque disseram a ele ter exatos 15 minutos para sair e ir ao aeroporto embarcar. Isso jamais poderia ter acontecido sem o conhecimento e aprovação de altas autoridades da República. Isso jamais aconteceria num país democrático sólido sem que muita gente pagasse caro pelo crime cometido.

São públicas e notórias as atitudes criminosas cometidas hoje em dia para proteger membros da República, sobretudo os da família Bolsonaro. Nos últimos tempos ao menos 15 delegados da Policia Federal perderam seus cargos por agir para fazer cumprir leis em vigor e investigar. Nos altos escalões todo mundo sabe da pressão sofrida por funcionários investidos em cargos que podem interferir em desmandos cometidos pelo Planalto. E o Supremo Tribunal Federal (STF), tão atacado e achincalhado pelo "gado" parece ser a última trincheira de hoje na defesa da democracia.

O voo BR46 tem que ser investigado. Rápido! Os responsáveis por retirar do País subterraneamente um indivíduo intimado a depor na PF precisam responder por isso. Não é a primeira vez; o apoiador bolsonarista Allan dos Santos deixou o Brasil da mesma forma. Provoca urticária saber, como todos estamos sabendo, que o governo brasileiro não apenas apoia mas também patrocina pirataria aérea, além de muitos outros crimes que estão se tornando banais do final de 2018 para cá.

Até quando? Onde mora hoje o jornalismo investigativo do Brasil?       

19 de novembro de 2021

É notícia? Tenho que dar!


Trabalhei durante 27 anos num jornal diário de Vitória. Ao longo desses anos conheci muita gente digna, aprendi demais com elas, mas também convivi com muitos canalhas. Fazer o quê? O fato é que depois de tanto tempo passei a ter uma definição minha desse mágico termo chamado notícia. Vamos a ela: "Notícia é fato de interesse público". Simples assim. Não importa se gosto, se não gosto, se amo ou detesto a pessoa ou a situação que gerou essa informação. Tenho que dar e ponto final. Em último caso posso exercer o direito à opinião e meter o sarrafo. Mas só depois de noticiar.

Hoje o Jornal Nacional noticiou que o ex-presidente Lula está na Europa sendo recebido pelos  maiores chefes de Estado daquele continente. Gente que jamais recebeu Jair Bolsonaro presta homenagens ao ex-presidente brasileiro até mesmo em parlamentos europeus como pode ser visto na foto que ilustra esse texto. Claro que isso deve incomodar muito ao "bolsonarismo de raiz", já que o atual presidente brasileiro, exceto quando foi a Israel, até hoje só dialogou com ditadores. E adora essa gente!

Bolsonaro não pode reclamar de não ser notícia. Fala-se dele toda hora. Que censurou a Mafalda, que visitou a "Torre de Pizza", que proibiu o termo "golpe de 64" numa questão do Enem preferindo "revolução", que conversou com Jim Carrey durante a Cop 26 e muita coisa mais. Principalmente que "a floresta amazônica, por ser úmida, não pega fogo". Mas que está sendo devastada dia após dia como nunca antes foi visto, isso está. Só que presidente não fala isso. Tadinho, não pode se lembrar de tudo!

Nós vamos enfrentar muito mais até outubro próximo, quando deverão ser realizadas as eleições mais tensas e violentas de todos os tempos no Brasil. Eleições que Bolsonaro não queria ver de forma alguma. Se dependesse dele haveria golpe de Estado. Ou "intervenção militar" como pede aos gritos o gado que o segue para onde quer que ele vá, ainda que seja ao matadouro. Mas, enfim, como os tempos atuais não são mais como 1964, o ano da "revolução", talvez o "chefe de Estado" tenha mesmo que participar de uma festa da democracia contra a vontade. A maior de todas as festas!

E quem concorda comigo em que ele não vai passar a faixa?                          

8 de novembro de 2021

O exterminador do passado


A última viagem internacional do presidente da República foi mais um show de ignorância e isolacionismo. Nessa foto que ilustra o texto, aquele que talvez seja o maior exemplo de tacanhice do chefe de Estado do Brasil: depois de passar por Pisa, na Itália, citou a torre inclinada que é ícone mundial de turismo como sendo a "torre de pizza". Como estava na Toscana, deve ser receita regional... Antes disso já havia estado rapidamente com o enviado especial dos EUA para o clima, John Kerry a quem chamou de Jim Carrey. Aliás, isso não causa surpresa alguma porque o ator canadense citado fez, dentre outros filmes, "Debi & Loide". Bolsonaro pode ser qualquer um dos dois. Ou ambos. 

Triste foi ver o presidente sem interlocutor na reunião do G20 que reunia os maiores chefes de Estado do mundo. Triste e vergonhoso. Ainda mais porque ele foi até garçons que serviam autoridades, pediu água, fez piadas das quais ninguém riu e depois ficou apontando os governantes com o dedo como perguntando quem era quem naquele grupo de pessoas. Na única hora em que falou em público para o presidente da Turquia, que estava junto a outras autoridades, não fez perguntas, recitou temas nacionais brasileiros, citou a Petrobrás, os militares enfiados no governo e causou apenas constrangimentos.

Fez com que jornalistas fossem agredidos, deu mais um de seus espetáculos de falta de respeito para com os semelhantes, entrou em igreja sem ser recebido por religiosos e terminou o périplo de cavaleiro da triste figura no cemitério de Pistoia onde foram sepultados os soldados brasileiros mortos na II Guerra Mundial. Entendeu que ele, um fascista notório e que estava acompanhado por Matteo Salvini, líder fascista italiano, homenageava assim soldados que morreram lutando contra o fascismo.

Agora, novamente acuado no Brasil, vendo suas mais recentes ações sendo contestadas, assistindo ao calvário do presidente da Câmara, seu fiel ajudante de ordens, continua a destilar ódio, a atacar instituições e elegeu a Petrobrás como sua mais nova vítima, como sempre para desviar a atenção das pessoas do que realmente importa no nosso País: a crie institucional. Esse sujeito vive no militarismo de 1964. Os tempos para ele ainda são os de guerra fria e seu sonho dourado continua sendo o golpe de estado que não consegue dar. Vive em tempos outros esse nosso Exterminador do Passado.