25 de novembro de 2020

E dai?


É fácil constatar, sobretudo nessa reta final de campanha municipal do Brasil: o oportunismo político está  em todos os lugares, invadindo a quase totalidade dos partidos. Parece até uma espécie de sociedade anônima que age às claras e com sabidos usando máscaras que serão tiradas tão logo o resultado final das urnas defina os últimos eleitos no segundo turno das capitais.

Esse oportunismo está longe de ser inédito, mas tem peculiaridades interessantes. Vamos ficar aqui em Vitória (ES), onde o candidato do PT, João Coser, dono de belo passado como prefeito, tenta se eleger diante do deputado delegado de polícia Pazolini, um aliado do presidente Bolsonaro que agora se esconde dele como o diabo da cruz. Os dois chegaram ao segundo turno derrotando o candidato do Cidadania, Fabrício Gandini. Aliado do prefeito de Vitória, Luciano Rezende, do mesmo partido, ele foi obrigado a surfar na onda do descrédito de seu mentor e perdeu. Depois de ter atacado fortemente o delegado no primeiro turno, Gandini mergulhou. E mergulhou fundo. Profundamente... Os candidatos a vereador e vereadores do Cidadania passaram imediatamente para o lado de Pazolini. A ninguém interessou pensar que a história do Cidadania proibia tal oportunismo. E nem a direção nacional, que lavou as mãos. Bastante apropriado em tempos de pandemia.

Nem mesmo o PT, em algumas raras situações mais específicas se livrou disso. Não adianta nem a gente falar de outras siglas, principalmente as ligadas ao "Centrão" como o MDB, pois elas já entraram para a prostituição faz muito tempo. Transitam para lá e para cá com a desfaçatez dos que se colocam na vitrine desse black friday de final de temporada política. Cobram pouco para viver na zona...

O mais bizarro desse fim de ano eleitoral reside no fato de que grande parte dos candidatos de extrema direita são umbilicalmente ligados ao presidente da República. Mas ele já retirou suas "lives" de apoio do ar nas redes sociais que frequenta. E os afilhados deverão se lembrar do padrinho após domingo que vem. Claro, os raros que sobrarem com algum mandato para desempenhar.

Que pena, e o eleitor, como fica nessa comédia? E as histórias dos partidos políticos? Se bem me recordo, era no antigo MDB, depois PMDB e agora MDB de novo que nos escorávamos nós, aqueles que combatiam a ditadura militar entre 1964 e 1985. Será que os atuais oportunistas, inclusive do Cidadania sabem disso? Alguns certamente sim. E daí?             

20 de novembro de 2020

Vamos acordar!

Era uma reunião de chefes de Estado dos Brics e realizada à distância porque o mundo está envolvido em uma pandemia assassina. Então o presidente do Brasil, que posou sentado ao lado de seu insignificante ministro das Relações Exteriores e seu inseguro ministro da Economia (foto) disse textualmente, fugindo à pauta de assuntos previamente acertados, que alguns países estão importando ilegalmente madeira brasileira, de nossa imensa Amazônia, e ele tem provas colhidas pela Polícia Federal. De "DNA". Em breve, muito breve os países que agem criminosamente serão denunciados, desmascarados, expostos publicamente.

Os outros presidentes ouvem sem intervir. Conhecem bem a peça! E a reunião termina dentro da pauta e com a cantilena presidencial brasileira como sempre pedindo reformas nos organismos internacionais e atacando a OMS e suas políticas de combate à pandemia mundial.

Passam-se 48 horas. E novamente está o presidente no Brasil no ar, mais uma vez em rede social, mais uma vez  no Palácio do Planalto e agora para dizer que país nenhum rouba madeira do Brasil. Que são empresas (sic!). E então, como se não tivesse dito nenhum tipo de estupidez na reunião anterior, ele não fala mais de países, de nada, mas afirma que a França é nosso concorrente...

Só que ele, o presidente, não toca no primordial: quem desmata ilegalmente o Brasil para que 80 por cento da madeira ilegal seja consumida aqui mesmo são brasileiros. E fazem isso porque o governo federal permite, incentiva, desmonta os organismos de fiscalização e quer ver a Amazônia em parte destruída. É essa sua política para a região.  

O que é isso, gente? Onde o Brasil está se metendo? No fundo de que buraco vamos parar com tantas e tão grandes irresponsabilidades perpetradas em plano internacional pelo megalomaníaco que nos governa faz pouco menos de dois anos? O Brasil é hoje um pária internacional e quase todo mundo sabe disso, menos o gado que segue cegamente Jair Bolsonaro e seu grupo familiar e de amigos próximos.

Nos EUA, Donald Trump, o ídolo do presidente brasileiro, se debate como louco sustentado por acusações infundadas para não deixar a Casa Branca. Dane-se a democracia dos Estados Unidos! Por aqui sou capaz de apostar que o atual presidente acompanha tudo atentamente para fazer o mesmo em 2022, pois sua campanha de ataques ao sistema eleitoral brasileiro objetiva minar essa instituição. E a invasão cibernética acontecida antes das eleições do dia 15 veio - podem acreditar - de grupos diretamente ligados à miserável "ala ideológica" desse governo.

Vamos acordar!

Encerro esse texto lembrando aqui palavras de Dante Aligheri: "No inferno os lugares mais quentes são reservados àqueles que escolheram a neutralidade em tempo de crise".

Isso vale até para eleições municipais..

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16 de novembro de 2020

Os recados das urnas

 As eleições realizadas ontem e com vários desdobramentos para dentro de 13 dias deixaram recados das urnas aos brasileiros. O melhor de todos é que o presidente Bolsonaro não é cabo eleitoral de respeito em lugar nenhum. Afundou alguns correligionários e outros agora vão guardar distância de segurança dele no segundo turno. Interessante, não é? Pode ser um indicativo de que a onda de extrema direita está prestes a começar a mostrar esvaziamento maior. Tomara venha a ser assim.

Aqui em Vitória (ES) onde moro o delegado de Polícia bolsonarista Pazolini chegou ao segundo turno em primeiro lugar contra o candidato do PT, o ex-prefeito João Coser. Ele derrotou Gandini, do Cidadania, antes favorito. O que houve? Primeiro, para muita gente a candidata ideal era Lenise Loureiro, secretária de Estado do governador Renato Casagrande. Segundo, Gandini foi derrotado pelos erros de seu cabo eleitoral, o prefeito Luciano Rezende, político de talentos questionáveis, arrogante, distante e que passou os mandatos trancado em gabinetes, saindo para receber homenagens ou andar de bicicleta. Jamais debatia com os munícipes. Transferiu sua rejeição para o "pupilo" que ainda foi prejudicado por uma incursão da Polícia Federal em seu gabinete e na PMV, dias antes da eleição. Incursão suspeita porque o bolsonarista é delegado de Polícia e a investigação de uso de dinheiro publico na campanha o beneficiou diretamente.

As urnas mostraram que os partidos de direita, distantes do extremismo do presidente, têm força. Infelizmente parte deles, sobretudo nas alas ligadas ao MDB e siglas menos importantes, há um vínculo claro e forte com a corrente do Centrão, aquela ala fisiológica do Congresso que troca apoios por cargos em quaisquer circunstâncias. Não por coincidência é justamente dessa ala que provém o presidente da República, velho militante do "baixo clero" da política brasileira. Ele, claro, não representa a "nova política", seja isso o que for. É líder de si mesmo, de seus filhos e amigos mais diretos num projeto de governo extremista e que só tem "ala ideológica"  na defesa de interesses pessoais.

O mais importante dos resultados de ontem é o fato de estar provado que o apoio popular ao pensamento (sic!) político presidencial fica mesmo na casa dos 30 por cento, um pouco a mais, um pouco a menos. Pazolini, o seguidor de Bolsonaro que foi ao segundo turno em Vitória junto com o PT, teve exatos 30,95 por cento dos votos válidos. Isso indica que qualquer candidato ligado diretamente ao governo federal pode ser derrotado por uma coligação de centro esquerda. Ele vai enfrentar perto de 70 por certo dos demais, ao menos em teoria.

Mas terá a centro esquerda e a esquerda a capacidade de renúncia a projetos pessoais capaz de formar blocos coesos de enfrentamento a esse nazi-fascismo tupiniquim pobre do Brasil? É o que se pergunta. É o que perguntamos nós daqui de Vitória, onde um representante do extremismo, jovem, bem apessoado, falante, invasor de hospitais e suspeito de estar ligado direta ou indiretamente a setores podres do espectro político capixaba vai enfrentar um ex-prefeito de boa avaliação.

Vamos ver como esse teste será feito. Afinal, nosso voto tem poder! 
           

13 de novembro de 2020

Expropriação, já!

Na última confusão pública na qual se meteu o governo foi protagonista de uma proposta  - ou sugestão ou qualquer outra coisa que se queira imaginar - bastante progressista, digamos assim. Vazou para a imprensa um documento do Conselho Nacional da Amazônia Legal (foto), órgão presidido pelo vice-presidente Amilton Mourão e no qual está prevista a expropriação de propriedades com registros de queimadas e desmatamentos ilegais. Justamente o que o mundo civilizado quer ver o Brasil fazer com seu meio ambiente. O mundo sim, mas o presidente da República, não.

Ora, agora que Bolsonaro deu uma bronca no seu vice, disse que essa proposta não passa de delírio e fez com que Mourão tivesse vindo a público dizer que o documento é apenas um arrazoado de ideias a serem ainda enviadas aos ministérios da área, fica a sugestão que dou aqui: por que os partidos de vanguarda do Brasil não fazem disso um projeto de lei para ser levado a votação?

Ao tomar conhecimento do fato ontem, cheguei a pensar que talvez o Cidadania pudesse fazer isso. Lembrei-me de que ele um dia foi PCB, o Partidão de saudosa memória, depois passou a se chamar PPS, de pouca memória, e agora tem o nome citado acima. Mas me pergunto: será que exceto Roberto Freire e mais uma plêiade de veteranos e dignos militantes os demais conhecem a história de seu partido? Quantos dos atuais membros, com mandato ou não, conseguiriam falar durante cinco minutos sobre a história do Cidadania? Estou falando cinco minutos porque mais é covardia...

Fica a sugestão, motivo desse texto. Nos dias atuais a terra é usada não apenas para queimadas e desmatamentos ilegais em regiões amazônicas, pantaneiras, de mata atlântica, restingas e outras, mas também para garimpo, plantio de drogas e ocupações ilegais até mesmo em terras indígenas e parques nacionais. Para todo tipo de crime. E, pasmem os que ainda não sabem, com o beneplácito do governo federal. Até mesmo fiscais e ocupantes de cargos importantes no Ibama que determinaram a queima de máquinas e equipamentos de maneira legal foram demitidos pelo atual presidente da República. E agiam ao abrigo das leis em vigor.

Vamos fazer esse texto legal? Vamos nos apropriar dessa boa ideia governamental e fazer com que ela prossiga para defender nosso País? Se o Congresso aprovar uma lei dessas o presidente veta. E se ele vetar esse mesmo Congresso, com apoio popular, derruba o veto!

Mão à obra. Expropriação já!              

10 de novembro de 2020

Aqui vai acontecer a mesma coisa


Em tom professoral, um homem explicava a dois outros hoje pela manhã em frente a uma banca de jornais e revistas do bairro de Jardim da Penha: "Bolsonaro quer a coisa certa!" E com esse argumento buscava trazer para sua crença política pessoal e irrefutável as duas ovelhas desgarradas, pois elas teimavam em acreditar em "rachadinhas" e outras coisas mais.

O episódio de me fez lembrar conversa mais ou menos recente com uma dileta amiga jornalista, Helena de Almeida, que faz anos é ativa em marketing político por aqui: "Continuem demonizando a política e vocês vão ver o governo conservador e reacionário crescer no Brasil de maneira desenfreada".

O assunto que não sai das manchetes dos jornais nos remete ao fato de que Joe Biden venceu as eleições presidenciais dos Estados Unidos, mas Donald Trump, com acusações toscas de fraude, recusa-se a aceitar a derrota. O caso fatalmente parará na Suprema Corte e só ela dará a palavra final. Alguém por aqui tem a menor dúvida de que Jair Bolsonaro fará a mesma coisa no Brasil caso perca em 2022? Eu não tenho. É da essência da democracia comemorar as vitórias e reconhecer as derrotas, mas só os democratas verdadeiros fazem isso. Trump e Bolsonaro são negacionistas e sua "ideologia" nasce a partir da negação dos valores democráticos. E da destruição de suas mais caras instituições como, por exemplo, o sistema político eleitoral.

O fenômeno norte-americano é igual ao do Brasil. Aqui a realidade do bolsonarismo, como é chamado, começou na cauda de cometa da descrença no plano político. O brasileiro comum, da mesma forma que o norte-americano, não se sente representado ou protegido pelos políticos tradicionais. Vai daí, acreditam nas mentiras que surgem, tornam-nas verdades e arremetem contra os adversários criando universos próprios, distantes do real. Na maioria das vezes têm reações violentas contra seus "inimigos".

Hoje nós pudemos ver aqui mesmo o presidente lutar junto à ANVISA contra a vacina que o Instituto Butantan produz junto a uma empresa chinesa porque, para ele, essa droga é patrocinada por um adversário político, é comunista e dane-se o interesse público: ela não pode "ganhar". Quem ganha é ele embora perca sempre e todas. Mas isso é ruim porque prejudica os brasileiros, inclusive aqueles seus apoiadores e intitulados um belo dia por seu filho Eduardo como "gado".

Onde vamos parar? Se tudo der certo, em 2022. Se tudo der ainda mais certo, numa eleição presidencial que pode tirar o negacionismo do poder, devolvendo-o a verdadeiros democratas, sejam eles de que matiz política forem. Mas não devemos esperar por comportamentos sãos nas próximas eleições. Como exercício, acompanhemos com atenção os acontecimentos dos Estados Unidos porque eles tendem a se replicar aqui. Tomara que não, mas tendem sim.

Nós demonizamos a política todos os dias, em parte por causa do comportamento errático da maioria de nossos representantes legislativos. Eis aí o resultado!         

3 de novembro de 2020

Política, questão de princípios!


Política é uma questão de princípios. Quem os tem, transporta-os consigo para a vida que vai viver em cargos públicos, sejam eles quais forem. Quem não os tem, faz da atividade pública um trampolim para alcançar o objetivo mais imediato, a riqueza extrema e desonesta, a divulgação de mentiras como arma de campanha, etc. Aqui no Brasil o exemplo mais pronto e acabado disso é a corrente política onde estão os parlamentares do bloco conhecido como Centrão. O tal "baixo clero". O reduto onde nasceu, se formou e viveu o atual presidente.

Hoje mesmo eu estava vendo um vídeo de cerca de quatro minutos de duração com falas desse mandatário do Brasil, o Jair Bolsonaro, sobre todos os assuntos. Ele se declara favorável à ditadura, à tortura física, xinga os gays, despreza os negros, faz pouco caso de mulheres e, além de várias outras barbaridades, diz textualmente o seguinte: "Eu sonego tudo o que posso!". No vídeo não aparece isso, mas em outra ocasião ele já declarou - e está gravado - o seguinte sobre os privilégios da classe política: "Não abro a mão de nada!"

Isso explica a admiração dele por Donald Trump, que chega ao ponto de um "y love you" em plena ONU. Ambos desprezam a democracia. E não se trata de serem somente politicamente incorretos, não. Eles, se pudessem, viveriam em sociedades onde fossem chefes de Estado exercendo governos acima dos poderes constituídos, sem precisar dar satisfação a ninguém sobre seus atos. Podemos explicar isso com um único exemplo: o presidente dos Estados Unidos usou inúmeras vezes o voto pelos Correios nas eleições passadas norte-americanas. E agora? Agora esse tipo de voto é fraudulento só se ele perder. Caso contrário, não.

Como crer em alguém ou numa família que já condecorou milicianos, que pratica "rachadinhas", que paga imóveis em dinheiro vivo, que usa de todos os meios possíveis e imagináveis para não permitir investigações sobre seus atos e de seus próximos, que patrocinou manifestações pró destruição de instituições caras ao regime democrático, pretende exercer controle absoluto sobre a PF, esconde fatos e demite funcionários públicos que tomam medidas contra criminosos com base em leis vigentes? Não é possível.

Política é uma questão de princípios!

Pense nisso ao votar. No próximo dia 15 todos nós teremos a primeira oportunidade de colocar princípios em prática nas urnas no nosso pós 2018. E não podemos errar porque a coleção de erros praticados pelo Brasil nos últimos anos, tanto à direita quanto à esquerda, já é grande demais. Imensa!

Precisamos ver os que odeiam a democracia pelas costas.