21 de outubro de 2021

O universo paralelo


Um dia desses recebi envio de mensagem de pessoa com a qual sempre mantive laços de amizade, embora com abissal distância ideológica. E essa pessoa citava versões inacreditáveis relacionadas a fatos recentes. Procurei então saber de onde vinham as informações e fui parar num tal de "jornaldacidadeonline", um dos muitos "veículos" que abastecem os bolsonaristas de raiz, os membros do gado, da interpretação que eles amam relativamente a acontecimentos do dia a dia. É um horror. Não recomendo a ninguém esse tipo de "passeio".

Tudo começa pelo fato de que eles lutam uma luta sem quartel contra o "comunismo". Encontram comunistas em todos aqueles que não defendem o bolsonarismo, como mostra a imagem que abre esse artigo. E isso me recorda um fato que muitos amigos juram ser verdadeiro: Maurício de Oliveira retornava do Leste da Europa onde havia ganho prêmio internacional com sua magnífica obra "Canção da Paz" e comemorava com amigos num estabelecimento da Praia do Canto. Um advogado conhecido de Vitória entrou na conversa sem ser convidado e perguntou: "Maurício, é verdade que os comunistas comem criancinhas?". O músico respondeu: "Não, fulano, é mentira. Comunistas só comem gente grande, principalmente alguns advogados. Vá até lá que você vai gostar muito deles..."

Nos meios de "comunicação" bolsonaristas abundam os adjetivos. A CPI é chamada de "Circo", os políticos, afora os apoiadores do presidente, de criminosos. O Supremo Tribunal Federal sofre todos os xingamentos possíveis além da afirmação de que ele é composto por dez vagabundos, o que retira da classificação o ministro escolhido pelo presidente. Em tudo surge o apoio evangélico e a afirmação de que os adversários do movimento de raiz querem desvirtuar os caminhos das crianças com sua "educação de gênero".  E vai por aí. Aqui esclareço que notícia se diferencia de artigos como esse meu pelo fato de que a primeira é a descrição de fatos e não deve conter opinião. Essa quem forma é o leitor, ouvinte ou telespectador depois de ter conhecimento dos assuntos.

Enfim, e para a gente não gastar munição com inimigo cego, o apoio incondicional ao presidente é formado por uma seita. E quem adota esses movimentos não muda seu pensamento nem com as evidências colocadas sobre a mesa. Uma pena! Mas resta o consolo de sabermos que seitas geralmente não vencem eleições. É necessário o apoio de outras alas, outras correntes de pensamento político.     

5 de outubro de 2021

O simulacro de presidente

É preciso acreditar que no futuro o Brasil olhará para trás e verá no atual governo, do cidadão Bolsonaro, uma coisa difícil de ser explicada. Um passo fora da curva dado por parte sociedade que de repente acordou com raiva e um partido político, o PT, e de um ex-presidente, Lula, e para afastar seus dois inimigos elegeu um psicopata extremamente perigoso como presidente da República. Um inconsequente capaz de protagonizar a imagem dessa crônica: colocar sobre os ombros uma criança pequena, vestida com farda militar e armada com um simulacro de fuzil. Nada mais absurdo!

Um presidente sempre serve de exemplo para uma imensa quantidade de pessoas que veem nele a imagem do certo, da verdade, ainda que de momento. Esse presidente faz isso. Quem vestiu farda no menino e deu-lhe o simulacro de arma para posar nos ombros do chefe do Executivo assimilou seu triste discurso a favor das armas da "população". Na verdade ele quer armar os donos de áreas rurais, milicianos, outros correligionários e pessoas que numa situação de convulsão social iriam às ruas para tentar um golpe de Estado. Como as corporações policiais e policiais militares, por exemplo.

Essa não é a primeira vez que esse indivíduo comete tal tipo de crime. Em ocasião anterior, tirou a mascara de proteção anti-Covid-19 de outra criança cujos (ir)responsáveis levaram a ato de campanha política fora do tempo legal. Mas hoje seus desatinos somados levaram a ONU a reagir e protestar contra essa patifaria. O presidente deveria se preocupar com a quantidade de reações que ele já acumula, inclusive no plano internacional. Isso pode custar caro. Tanto aqui no Brasil quanto fora dele.

É estranha a sensação de impunidade do presidente. Seus seguidores e assessores mais diretos podem fazer o que quiserem e nada lhes acontece. Para os que se opõem valem as leis mais duras. Ontem mesmo um alto comandante militar instaurou inquérito contra militares filiados ao PT. Ora, trata-se de um partido político legal, de vida pública. E os militares podem se filiar a ele, sim.

O que sustenta Bolsonaro hoje é principalmente o fisiologismo e necessidade de sobrevivência de parte da classe política. Para manter esse apoio que nasce no presidente da Câmara Federal o presidente torra dinheiro do contribuinte numa farra de gastos que nasce em orçamentos secretos e desagua com força nas "offshores" somente agora sendo denunciadas. E enquanto isso acontece a oposição digladia, lutam uns contra os outros por projetos pessoais e não de país. Dessa forma podem acabar dando ao psicopata um segundo mandato que hoje é improvável.

Questão de escolha!