24 de novembro de 2022

Pelo enfrentamento sem anistia


O atual presidente da República jamais vai aceitar o jogo democrático e sonhará com um golpe de estado enquanto ainda vislumbrar essa possibilidade. É um fascista e o projeto de poder do fascismo passa longe dos valores do Estado Democrático e de Direito. Ainda mais porque o Brasil tem hoje um enorme contingente de pessoas que apoiam esse tipo de movimento, numa afronta aos mais comezinhos valores da Democracia. Os últimos movimentos dessa gente miserável podem ser vistos claramente a partir de mais uma tentativa frustrada de desacreditar o resultado da eleição de 30 de outubro.

Ontem mesmo recebi mensagens por via WhatsApp de bolsonaristas de Vitória, minha cidade, e na qual eles espalham novas mentiras cercando a eleição e pedindo sua anulação ou intervenção militar. Não vão parar e talvez tentem entrar com esse esforço desonesto pelo mandado do próximo presidente, de modo a não permitir que ele governe com um mínimo de tranquilidade.

E o atual presidente já está fazendo isso. A Polícia Federal não conta com verba para funcionar minimamente. O SUS, segundo foi apurado, corre o risco de paralisar muitas atividades, o mesmo acontecendo com a ANVISA. Talvez não haja em 2023 dinheiro para a compra de vacinas, para o programa Farmácia Popular e outras ações necessárias e que são complementares ao Bolsa Família como é o caso da Merenda Escolar. Minha Casa Minha Vida então, nem se fale... O caso do Farmácia Popular é um crime de genocídio porque ele fornece medicamentos vitais à manutenção da vida de quem depende de drogas de uso contínuo e  não tem como adquirir. Eles vão morrer.

Bolsonaro tem que ir para a cadeia!

Hoje já não se trata mais de denunciar esses fatos e enfrentar os milhões de brasileiros que aceitaram prostituir suas mentes em favor do apoio a um psicopata chefe de quadrilha e que inunda as redes sociais com mentiras diárias, todas elas visando infelicitar o Brasil. Até pedidos a extra terrestres essa gente faz para não aceitar o resultado das urnas, fruto de uma luta que vencemos de 1985, depois de passarmos 21 anos sob uma ditadura militar que estuprou a Constituição, prendeu e matou brasileiros. Esse quadro horroroso pode ser visto na reprodução de uma capa da Folha de São Paulo da época (foto).   

Chega. Temos que enfrentar esse grupamento de crápulas e não podemos aceitar anistia.          

18 de novembro de 2022

Nomes, Lula, por favor!


O anedotário político conta uma ótima história de Tancredo Neves. Ele havia sido eleito governador de Minas Gerais e um cara chato que ajudara na campanha insistia em ser secretário. Mas não tinha estatura para isso. Todo santo dia o sujeito perguntava: "Doutor Tancredo, estão me questionando se fui convidado para assumir uma secretaria. O que respondo?" Não falhava uma vez. Até que o governador não aguentou mais e, ao ser interrogado na enésima oportunidade, disse: "Faça o seguinte; no próximo questionamento diga que você foi convidado e recusou. Eu confirmo!"

Não sei se o presidente eleito Lula está passando por isso, mas ele tem que anunciar logo alguns ministros, principalmente os mais importantes, sobretudo o da Fazenda e o do Planejamento. Ao menos esses. Vai acalmar o mercado se escolher bem e terá tempo para terminar a tarefa com menos pressão para definir demais as escolhas com vagar. Esses dois primeiros ministros são vitais e devem ser pessoas com trânsito entre os que influenciam o mercado. Não há outra alternativa. Se o Bolsa Família ficar fora do teto de gastos será possível lidar com as promessas sem problemas.

Hoje o presidente está em Portugal com uma agenda confortável. Amanhã terá dez horas de voo até o Brasil. Dá para pensar, telefonar, alinhavar algumas coisas e tomar decisões. Não acredito que as opções já  não estejam certinhas em seu radar. O Lula dos governos passados sabia pensar com antecedência e tomar decisões. Nos seus oito anos como presidente escolheu auxiliares das pastas econômicas que transitavam com facilidade junto aos donos do dinheiro. Não desaprendeu. 

Se nosso eleito fizer isso e evitar discursos de improvisos, sobretudo aqueles nos quais se empolga e não consegue terminar de falar, tudo vai dar certo. Ninguém sobre a face da terra conseguiria ser pior do que Jair Bolsonaro, embora este tenha deixado atrás de si um astro de terra arrasada como jamais se viu no Brasil, isso antes de se retirar para o Palácio da Alvorada onde hoje constrói seu universo paralelo (foto). E se Lula tiver pela frente alguém chato e querendo a todo custo um cargo de primeiro escalão, o exemplo do velho político mineiro Tancredo Neves servirá como uma luva.           

11 de novembro de 2022

Mercado seletivo


Duas considerações precisam ser feitas relativamente à reação nervosa do mercado financeiro brasileiro ontem, depois do pronunciamento de Lula em Brasília. Primeiro, que se trata de um movimento seletivo e que visa atingir um governo ainda não formado e com o qual o grande capital não tem afinidade alguma. Portanto, uma reação ideológica. Segundo, para evitar esse tipo de movimentos que tendem a desestabilizar o governo por meio de chantagem financeira, seria bom o novo presidente não fazer discursos de improviso ou então tirar o tema "âncora fiscal" de seus contatos públicos com a população e a imprensa.

Vamos nos lembrar do seguinte: nos últimos quase quatro anos o atual mandatário Jair Bolsonaro produziu uma imensa quantidade de discursos fantasiosos, falaciosos, arrogantes, desafiadores e destituídos de qualquer lógica ou civilidade. Em momento algum houve reação tão pronta contra suas falas. Claro que o cidadão ainda no poder (?) falava quase a mesma língua desse mercado que tem um único interesse: ganhar a cada dia mais dinheiro. Se ele sente que seu chão não está seguro o reflexo na bolsa de valores é imediato. Junto com ele vem o sobe/desce do real e das principais moedas internacionais, sobretudo o dólar. Lula, nos seus dois primeiros governos respeitou as regras dos gastos, reduziu a inflação e a dívida pública. Mas o mercado já se esqueceu disso.  

Esses movimentos muitas vezes são usados como chantagem econômica. E vai ser assim doravante, até que o novo governo se estabeleça com a confiança de quem realmente interessa: a população ou uma grande parcela dela. O "tal mercado" não está mais acostumado a ouvir político falando em matar a fome do povo. Coisa de comunista! Isso pouco ou  nada interessa à "República da Faria Lima". Ela gosta de ouvir que o Brasil é o celeiro do mundo, embora a produção agrícola gigantesca que serve à exportação não mate a fome de uma imensa parcela dos brasileiros e só sirva ao enriquecimento dos barões do agronegócio.

Vai ser difícil enfrentar a reação, porque até pequenos produtores se deixam acariciar pelo canto das sereias. Mas tem que ser assim. Matar a fome do povo, recuperar a Educação, dar um sentido à saúde e gerar uma economia direcionada a todos, sobretudo aos mais fracos sempre provoca reações as mais desesperadas possíveis. Então, para não botar lenha na fogueira seria bom se os principais assessores convencessem o presidente a falar pouco. E a sair do palanque, já que o Palácio do Planalto vai ser seu local de trabalho por quatro ano depois de primeiro de janeiro.                    

9 de novembro de 2022

Samba do crioulo doido


Não me recordo do ano, mas faz muito tempo. Estava em São Paulo passando uns dias com meus pais e fui ver um show dos Demônios da Garoa. Queria ouvir "Trem das 11", mas de repente um dos cantores falou sobre um crioulo que endoidou ao escrever letra de escola de samba e apresentou o "Samba do Crioulo Doido". Era e é muito engraçado. O público vibrava com a apresentação dos cinco membros originais do grupo que melhor representa o samba paulista. E hoje penso que essa música nunca foi tão atual como está sendo no Brasil dos últimos dias. O país de após a eleição presidencial.

A gente todas as horas vê pessoas ajoelhadas diante de muros de quartéis militares, rezando para "salvar o Brasil do comunismo". Outros mostram as surradas e criminosas faixas de intervenção militar ou "ruptura", um termo que imaginam mais rebuscado. Ontem um teve que ser retirado amarrado à maca para ser levado a um hospital psiquiátrico. Gente aparentemente sem nada o que fazer acampa diante de instalações das FA para exigir que os militares impeçam a posse do novo governo.

Mas esses são apenas casos psiquiátricos. Grandes empresários financiam grupos para, sobretudo em estradas, atentar contra a democracia bloqueando-as e buscando impedir o fluxo de mercadorias. Ou então usam armas até mesmo contra a Polícia Rodoviária Federal que é hoje cúmplice do atual governo nas ações desestabilizadoras da democracia. Ela e os outros organismos policiais. E olhem: esses são órgãos de Estado e não de governo. Têm que respeitar normais legais não importa se elas se colocam ao lado ou contra correntes que apoiam. Todos, rigorosamente todos têm que pagar pelo que estão fazendo.

Dentre os empresários financiadores dos atos criminosos atuais estão alguns do Espírito Santo. Recentemente tive a oportunidade de ver um filmete feito no Supermercado Perin, onde os empresários praticamente obrigavam seus funcionários e aderir às posições bolsonaristas destes. Caminhões da empresa circularam várias vezes em ações de atos criminosos. E não são os únicos. Outros fazem o mesmo, mas de modo mais subterrâneo, como agem os grandes criminosos, sobretudo aqueles "patriotas" que sonegam impostos para enriquecer à custa dos esforços dos demais.

Hoje estamos diante de um "samba do crioulo doido" que causa pena e espanto. Às vezes pasmo. A eleição já acabou e eles não se convencem de que perderam e são obrigados ética e moralmente - se é que têm isso - a aceitar o resultado das urnas. Mas agora chega, não é? Já passou a hora de cada um desses bandidos de terno e gravata terem um encontro marcado com a Justiça. Afinal, o trem tá atrasado ou já passou!           

1 de novembro de 2022

Que as árvores tenham sorte


No "discurso" de ontem no Palácio da Alvorada o presidente da República em final de mandato foi mais uma vez Bolsonaro de raiz. Não disse rigorosamente nada que prestasse. Sua fala poderia ter sido redigida por um pré-adolescente de dez anos. Não falou que perdeu a eleição, não citou o nome do eleito, desconheceu todos os fatos das últimas 48 horas e apenas se disse grato aos que votaram nele e que apoia apenas e tão somente quem respeita a não violência e o direito de ir e vir. Recado aos caminhoneiros mais açodados...

Mas isso não é o que preocupa. Ele, Bolsonaro, ainda vai habitar o Alvorada até 31 de dezembro próximo, tempo suficiente para fazer vista grossa aos desmatamentos da Amazônia, do Cerrado, da Mata Atlântica, do Pantanal e dos demais biomas brasileiros que no último debate contra o presidente Lula foram chamados por ele de "miomas". Não duvido nem um pouco de que faça isso. Que nossas árvores tenham sorte! Que os deuses indígenas brasileiros possam lançar sua rede de proteção sobre a floresta! Para proteger e criar, dois meses representam pouco tempo. Mas para promover a destruição isso é mais do que suficiente, como mostra a foto.

Os garimpeiros também devem receber a senha para avançar sobre as áreas de atuação ilegal. Os grileiros podem encontrar meios e modos de matar mais indígenas e ocupar terras públicas derrubando a floresta e abrindo imensos bolsões de espaços vazios a serem ocupados por gado e outras "criações". Como a festa está no fim, ainda há tempo para serem emitidas novas licenças ambientais, pode-se tornar legais milhares de toneladas de madeira nobre derrubada criminosamente em área de preservação como acontecia há bem poucos meses, durante o período do "passa a boiada". 

Há pressa, sim, pois o governo Lula vem aí. Mas aqueles que querem ganhar dinheiro fácil, mesmo que seja à custa do futuro de nossos descendentes estão com a faca e o queijo nas mãos por dois meses. Hoje, antes de iniciar a rápida leitura de seu texto de coisa nenhuma, Bolsonaro olhou para o lado e disse a alguém como que num sussurro que as câmaras flagraram: "Eles ainda vão sentir saudades da gente!". Talvez uns poucos sintam...