28 de abril de 2020

Bolsonaro É a velha política

Duas coisas relativas à política atual não se pode negar. A primeira, que o Centrão existe, nunca desistiu de atuar, fecha questão em torno dos seus interesses, representa a velha política e comemora efusivamente todas as suas conquistas como é mostrado na foto que ilustra esse texto. A segunda, que Bolsonaro sempre, ao longo de toda a sua carreira política inexpressiva marcada por 28 anos como deputado federal, foi a imagem pronta e acabada dessa velha política.
Por isso ele se sentiu tão à vontade em receber os representantes dos partidos que formam a, digamos, base, no Palácio da Alvorada. Comemorou sua volta ao ninho antigo com direito a café da manhã e discursos. Agora o Centrão garante a ele uma quase intocabilidade no caso de um processo legislativo por impeachment e, em contrapartida, leva um montão de cargos públicos, inclusive, talvez, o Ministério da Agricultura. É o preço. E Bolsonaro raposa velha da política de troca de favores, sabe muito bem como as coisas funcionam no submundo que ele frequenta.
Claro, não chega a ser um submundo como o das milícias, seus crimes e tráfico de influência. Nem, talvez, tão descarado como o da dança das contratações de parentes e amigos para trabalhar nos gabinetes políticos, muitas vezes em atividades fantasmas. Talvez também nem mais sem vergonha do que empenhar a palavra com as pessoas, subordinados diretos, para voltar atrás depois. Tudo isso é do jogo que o atual presidente da República sabe jogar muito bem. E joga. Fazer um acordo totalmente fora do interesse publico mas com dinheiro do contribuinte, estava nos planos. Como ele não respeita as leis e está muito pouco se importando se seus atos são criminosos ou não, sabia que uma hora, para se salvar, teria que recorrer a quem joga sujo como ele.
Ontem o presidente posou ao lado de seu ministro Paulo Guedes para dizer que este é o homem da economia, quem manda na área do Brasil e ponto final. Mas o "Pró-Brasil", que vai em outra direção, não está sepultado. Mais dia, menos dia reaparece quando Guedes não for mais indispensável como é agora. Não sei se o ministro sabe disso, mas sou capaz de apostar que sim.
O incrível é ele ainda deter cerca de 33 por cento do apoio da população brasileira. Isso se deve em parte a nosso conservadorismo, fruto da falta de informação ou reacionarismo mesmo. Também em parte ao fato de que o PT foi capaz de construir uma imensa ojeriza a ele em parcela imensa da população brasileira ao longo dos últimos 18 anos de exercício do poder.
Mas que ninguém se iluda: Bolsonaro não é apenas a velha política. É o que de pior que ela tem!

24 de abril de 2020

Bolsonaro falou a seu gado

Esperei, nessa triste última sexta-feira de abril, que o presidente Jair Bolsonaro falasse em rede nacional, respondendo ao ex-ministro Sérgio Moro. E ele não me decepcionou: dirigiu-se, como tem feito ultimamente, apenas e tão somente à sua bolha ou, como prefere o filho 02, ao gado que o segue. Ao final ficou em mim a certeza que já tinha: o Diretor Geral da Polícia Federal foi exonerado do cargo por três únicos motivos: Flávio, Carlos e Eduardo.
O Brasil se tornou um país triste. Sim, porque é duro ver todos os dias ministros demitidos, agressões a jornalistas, falta de educação generalizada, rompantes de valentia, tudo isso e mais um pouco enquanto a economia desaba e o risco Brasil bate na estratosfera, num buraco nunca antes visto. E o Presidente falou ontem ao final da tarde secundado por praticamente todo o seu ministério. De pronto só notei a ausência do ministro da Educação. Justamente o que não faz a menor diferença.
Estou anos luz de distância de ser um admirador do ex-ministro Sérgio Moro, e por uma carrada de motivos. Mas entre ele e esse Bozo que o Brasil elegeu para ocupar o Palácio do Planalto, sou bem mais ele. Passou muito mais sinceridade, segurança, clareza e firmeza. E não precisou levar consigo uma imensa trupe de puxa sacos de ocasião.
Mais o mais insólito foi ouvir o presidente dizer que ser chamado de mentiroso o ofende profundamente. Caramba, isso é tudo o que ele sempre foi. Ele e seus três filhos mais velhos montaram no Palácio do Planalto, na sede do Governo Federal, utilizando-se da estrutura deste, o "Gabinete do Ódio". Um cantinho de prostituição da verdade onde se deturpa fatos, se monta esquemas de agressão, se constrói dossiês falsos, se tenta destruir deputações.
E escrevam o que estou dizendo aqui: a conta de Sérgio Moro vai chegar. A essa altura o centro de desconstrução de vidas deve estar trabalhando a todo pavor para cobrar dele a falta de apoio incondicional e irrestrito ao chefe. Ele vai pagar. A partir de amanhã todos os sites de mentiras presidenciais - mais de 40 - vão lançar seu ódio sobre ele. Foi o único a não sair calado. Foi o único a não ter medo da "familícia". Foi o único a enfrentar o esquema. A dar uma versão diferente em uma reunião sem testemunhas, o que é muito conveniente. Isso é imperdoável.
Bolsonaro quer, sim, tirar poder da Polícia Federal. Quer, sim, investigar quem investiga sobretudo seus filhos. E isso para tentar blindar a todos, obstaculando qualquer investigação que tente chegar ao coração do clã, onde ele está.
Só não posso dizer que hoje decepcionou o gado. A boiada está feliz!                     

18 de abril de 2020

Teich, o SUS e Sofia

O novo ministro da Saúde, Nelson Teich, tomou posse sem pronunciar a palavra SUS. Na véspera, ao ser apresentado pelo presidente da República, fez o mesmo. Falou de pandemia, de letalidade e falta de informações sobre o vírus, em não haver mudanças bruscas e de SUS, nada. Somente silêncio.
Ao lado do presidente, Teich (D) se apresenta como ministro
Aí foram futucar as falas passada dele. Descobriu-se uma relativamente recente e na qual discorre sobre o médico em época de escassez de recursos ter de escolher entre tratar um homem idoso e um jovem. E ele escolhe o segundo, por ter muito mais vida pela frente. O ministro nos remeteu a todos ao drama de Sofia Zawistowa, levada por um sargento nazista a escolher entre os dois filhos pequenos qual deveria viver, qual deveria morrer. Hitler, o ideólogo do sargento e de milhões de outros, também pensava que esse tipo de escolha servia para aprimorar a raça.
O SUS é um instrumento de suma importância para a saúde pública no Brasil, mas tem sido sempre, ao longo dos anos, tratado com pouco caso embora sendo a tábua de salvação dos pobres. Os investimentos para o setor são sempre menores do que as necessidades. E esse governo detesta tudo o que é público. Como as universidades federais e os institutos federais de ensino, por exemplo. Por isso o ministro da Educação trata o ensino público tão mal a ponto de pregar sua extinção. E é um ministro feito sob medida para o cargo: ignorante, mal educado, desconhecedor da língua pátria.
Talvez tudo seja coincidência, talvez não. Talvez eu esteja sendo injusto ao traçar esse quadro sem esperar pelos resultados do trabalho do novo ministro, quem sabe não. Mas pelo passado desse governo que ainda não completou 16 meses, seria prudente ter mais cuidado ao falar. A menos que por motivos a serem revelados ao longo de sua atuação, Teich não tenha como explicar agora.
A Escolha de Sofia representa um momento de profunda dor provocado pela falta de empatia de uma ideologia psicopata que torturava através de exemplos como o narrado na obra de Willian Styron. Um discurso que se aproxima dela deveria separar claramente tempos de paz de situações extremas de guerra. Porque fora disso o médico deve socorrer os dois. Tanto o jovem quanto o idoso.
Teich tem um currículo que confere a ele extrema competência no tratar com a medicina, mas também mostra uma trajetória burguesa e um pensamento voltado ao trabalho médico empresarial. O SUS, obviamente, sempre esteve fora de seu periscópio. Talvez nem o conheça. Mas segunda-feira ele começa efetivamente a mergulhar nas carências do ministério da Saúde e mostrar a que veio.
Pode ter vindo com o intuito de encontrar para a pasta soluções que contemplem a todos. Pode deixar claro ser um instrumento a serviço de um governo representante das elites econômicas. Cada um sabe como melhor homenagear ou rasgar seu passado. A escolha é pessoal.       

15 de abril de 2020

O genocida contido

Mandetta, o único "inimigo meu" de agora para Bolsonaro
O que o Supremo Tribunal Federal fez na tarde/noite desse dia 15 de abril não foi produzir mais uma derrota para o presidente Bolsonaro. Foi impedir a sua escalada em direção a uma política genocida - termo usado pelo ministro Gilmar Mendes -, capaz de deixar totalmente desprotegidos no Brasil os pobres e os índios, duas "raças" que ele detesta.
Infelizmente só por enquanto.
E quando digo "por enquanto" tenho em mente que tão logo o chefe do Executivo encontre uma forma de voltar ao ataque, seja com a ajuda da PGR, dos advogados que o assessoram mais diretamente ou até com o auxílio discreto do Procurador Geral da República, tentará novamente. Está umbilicalmente ligado aos setores empresariais rurais, industriais e comerciais e não vai se afastar destes. Da mesma forma continuará ao lado da ala endinheirada das congregações "evangélicas" e outros. É preciso entender: para essa mente psicopata tal comportamento é uma questão de sobrevivência. No cara a cara, no debate político ele não tem preparo nem moral nem intelectual para enfrentar as raposas da política brasileira. Perderia fácil.
Dou um exemplo de como as coisas funcionam: um diretor do Ibama que investiu contra o garimpo ilegal em terras indígenas foi imediatamente demitido de seu cargo. Se Bolsonaro não pode pura e simplesmente acabar com as reservas, que acabe com os índios, tanto garimpando suas terras quando destruindo suas matas. Não importa se é ilegal. É preciso que nada reste a eles como condição de sobrevivência. Essa é o que pode ser definido como a "política de Estado" do presidente.
É triste. Também é cruel termos que admitir não existir no Brasil de hoje uma oposição capaz de enfrentá-lo, ao menos por enquanto. Nossos lideres no centro e à esquerda ou estão cheios de processos ou acusações de natureza ética. Ou então ainda se amarram a conceitos que os tempos modernos não admitem. São saudosistas de termos como "ditadura do proletariado", tão ultrapassado quanto a ditadura que militares, caladinhos, ensaiam nos impor novamente se o caos social vier.
Enquanto o tempo passa, o COVID-19 se desvia do ainda ministro Mandetta e mata aos milhares ou milhões os paupérrimos. Estes se preparam para morrer, coitados, enquanto representantes do grande capital esfregam as mãos e esperam. Como lobos em tocaia. Sabem que esse Bozo precisa deles como um homem no deserto depende de água. Vão encher-lhe o embornal em troca na manutenção de todos os seus privilégios. Rigorosamente todos.
O momento é crítico porque hoje, como sempre, o brasileiro é presa fácil para todo tipo de demagogo, sobretudo por sua rasa instrução. E é aí que os apoiadores de Bolsonaro darão o golpe. Todos nós sabemos disso da mesma forma como sabemos que pouco mais de dois anos e meio é mísero tempo para ser montada uma perfeita tática de enfrentamento. Ainda, porque o caminho esbarra em ambições políticas pessoais, coisa tão difícil de tirar da frente quanto derrotar a ignorância.

5 de abril de 2020

O que está havendo conosco?

Não me recordo de isso ter ocorrido antes: um presidente da República que ainda não atingiu a metade do mandato - caso de Jair Bolsonaro, que usa máscara cirúrgica na orelha - ser questionado por seu ministro da Saúde, dizer bobagens que ninguém respeita, não falar coisa com coisa e agora ter parte de suas decisões derrubadas pela Justiça ou pelo Congresso. Pior; ainda nos fazer assistir pelas redes sociais à veiculação de  informações dando conta de que na verdade ele não governa mais. Quem faria isso seria o ministro general Braga Neto, membro da alta cúpula do Planalto.
Felizmente - ou infelizmente, nem sei - esse tipo de informação não está confirmada. Mas tudo é muito estranho. Hoje é Braga Neto quem comanda todas as entrevistas coletivas de alto escalão em Brasília. O presidente sai do Palácio da Alvorada pela manhã, estaciona diante de uma ridícula aglomeração de macacos de auditório levados lá para bater palmas e fala disparates os mais variados. Gosta mesmo é de agredir jornalistas da maneira mais torpe possível.
É uma triste situação. Como se não bastasse a ameaça do coronavírus, a última moda lançada pelo presidente é o anúncio diário da edição de um decreto no qual seria determinada amanhã a reabertura de todas as empresas comerciais, fabris e rurais, sem exceção. O cavaleiro da triste figura nacional quer combater o vírus na porrada.
Onde reside a sustentação de um governante como esse?
Mantenho comigo, sobretudo no Facebook, alguns contatos de pessoas que o apoiam. "De direita" e em sua grande totalidade grupo formado por indivíduos, alguns cultos, capazes de tudo para não ver "a esquerda totalitária voltar". Renunciam à capacidade de julgamento crítico apegados à convicção de que os governos de Lula e Dilma Roussef promoveram no Brasil todos o danos que o País apresenta hoje e dão apoio a um presidente cujos maiores ídolos são ditadores sanguinários de um passado recente, além da ditadura militar brasileira.
Essas pessoas, inimigas ferozes da "Globo Lixo" e demais empresas de comunicação, se abastecem de informações em redes de "notícias" ligadas ao governo. Até agora foram contados 41 endereços de "jornais" e outros tipos de "informativos" produtores de fake news. Também se "informam" junto a pessoas ligadas ao presidente, ministros mais chegados ou então os três filhos. Sobretudo o segundo, Carlos, um vereador medíocre do Rio de Janeiro, nazista assumido e que, por mais incrível que possa parecer, mantém gabinete no Palácio do Planalto para ajudar o papai.
O Brasil perdeu a capacidade de raciocinar? Que Brasília sofre uma pandemia de comando é público e notório. Mas assustador mesmo é esse vírus de fragilidade mental ter atingido o homem comum. Principalmente porque algumas das figuras mais proeminentes dessa nossa república agora são membros de uma trupe de vigaristas donos de denominações chamadas evangélicas e que mandam e desmandam montados que são em passaportes diplomáticos e acesso direto ao poder de Estado.
O que está havendo conosco?