É isso o que acontece agora. Pressionado pela necessidade de fazer passar no Congresso uma pauta sua e que justifica o governo iniciado faz pouco mais de seis meses, o presidente Lula tem que ceder espaço na Esplanada dos ministérios a esse grupo que é formado desde ruralistas, passando por evangélicos, direitistas de carteirinha e canalhas das mais diversas matizes. Há um risco nisso: o de quanto mais o presidente ceder, mais o Centrão querer. E ele não se faz de rogado; se os cargos não saírem as votações dos projetos caros ao governo serão derrotadas. Sem choro nem vela.
Não pensem em patriotismo ou nada parecido. O Centrão quer é voto nas próximas eleições.
Muita gente fala sobre esse assunto tentando justificar o injustificável: seria a governança de coalizão ou coisa parecida. Não é. Trata-se de chantagem da mais rasteira possível, capitaneada pelo presidente da Câmara,
Arthur Lyra, e os da goela imensa, sempre ávidos. A fome deles não passa de forma alguma porque o jogo é claro. Todos querem renovar os mandatos e, para chegar a isso, têm que mostrar "resultados" a seus eleitorados. Por isso querem tanto a Saúde, o Bolsa Família e outros setores caros ao governo federal. Para o Centrão querem dizer apenas votos. Nada além disso.
Houve uma época em que os políticos investiam nos discursos falando em governança, projetos, ideologia e coisas mais. Hoje, não: se o governo quer apoio tem que dar espaço. O que significa ministérios com "porteira fechada" e o direito de os ministros e seus sequazes ou auxiliares, como vocês preferirem, dirigirem as pastas da forma como bem entenderem, danem-se os planos do governo. Afinal, eles não o representam e muitos sequer vão apoiar as pautas governamentais porque o ministro é colega de partido. Esse negócio - partido - é só um detalhe e eles têm um porque sem a sigla não é possível obter uma série de vantagens do mandato. Só isso. Partido é coisa descartável.