31 de dezembro de 2023

Pazolini é só um boneco


A atual administração municipal de Vitória, através da Secretaria da Educação, retirou do acervo das escolas municipais recentemente três livros que eram usados com destinação didática. Um deles de uma autora capixaba foi considerado indigno de ser usados pelos alunos porque, em determinado trecho, a escritora usou o termo "todws", uma designação que nos remete ao homossexualismo. Isso para os militantes de extrema direita é um pecado mortal. Indigno de ser visto por crianças. Deve merecer a forca mesmo!

Até pouco tempo no Brasil as pessoas usavam o cumprimento "todos" quando se dirigiam a uma plateia porque ele se referia à totalidade dos presentes. Então alguém inventou "todos os todas" achando que o hábito antigo excluía as mulheres do cumprimento, embora isso seja obtuso. Mas, com o objetivo de não deixar ninguém fora da saudação vieram outros para acrescentar o "todxs". Um modismo idiota, mas que não podemos criticar para não sermos chamados de "homofóbicos" e politicamente incorretos.

O prefeito de Vitória é fascista tupiniquim e nem deve saber disso. Talvez ele não use o "anuê", cumprimento dos seguidores de Plínio Salgado, admirador de Hitler e Mussolini e responsável pela vinda dessa ideologia para o Brasil (vejam a marca acima). Mas cultiva o eleitorado na extrema direita política que tem muita força no Estado. Essa corrente, que teve importância enquanto o nazifascismo ocupava a Europa de 1930 a 1945, está ressurgindo agora na calda de cometa de um crescimento do autoritarismo no Velho Continente, isso aliado à onda de xenofobia que despreza os imigrantes, sobretudo africanos.

O lema que eles trouxeram para cá, "Deus, Pátria, Família" e que era de Benito Mussolini, foi acrescido do  "Liberdade" por Jair Bolsonaro, o atual líder da corrente. O que não faz sentido, posto que esse ex-capitão literalmente expulso do Exército sempre foi apoiador de tortura física e da ditadura que infelicitou o Brasil por 21 anos através de prisões ilegais, torturas e assassinatos em organismos dos porões do regime. Que liberdade é essa? Que Deus é esse que se esconde nos subterrâneos das masmorras onde vidas são destruídas?

O fascismo brasileiro desenvolvido por intermédio de Plínio Salgado tem algumas características que o diferem do modelo europeu, mas não num ponto: o conservadorismo (reacionarismo) visa sobretudo impor à sociedade, porque ela é inimiga dos "costumes", princípios que não permitem sequer a citação - que se diga a glorificação - do homossexualismo e suas hoje diversas variantes vistas no nosso dia-a-dia. A isso se soma mais uma infinidade de outros dogmas (?), muitos dos quais sequer podem ser considerados com parte do catolicismo conservador no qual a crença se ancora.

O coitado do prefeito de Vitória é só um boneco manipulado! Ele vai na onda de seu líder maior, seu mito, na expectativa de conseguir galgar postos na hierarquia da política regional para ver se chega à nacional. E para fazer isso precisa satisfazer às alas mais imbecilizadas do nosso espectro do atraso cultural tirando livros das estantes de escolas e bibliotecas públicas. Felizmente essa onda vai passar e não se pode mais queimar livros em praças públicas como nos tempos em que os nazistas comandavam a Alemanha.   

22 de dezembro de 2023

O único caminho é o STF


Os episódios envolvendo as votações do Orçamento brasileiro, da LDO e até mesmo os diversos tipos de  emendas a que os parlamentares lançarão mão no ano que vem, principalmente os quase R$ 5 bilhões de financiamento da campanha eleitoral, representam uma página negra na história do Poder Legislativo brasileiro. Nós não estamos mais numa democracia republicana. O que estamos vendo hoje e que já vem se mostrando desde há cinco ou seis anos é uma gradativa tomada de poder por parte de parlamentares eleitos para representar a população, agindo em nome e em benefício dela. O Legislativo brasileiro se prostituiu de forma definitiva e só mesmo recorrendo ao Supremo Tribunal Federal (STF) os cidadãos desse país poderão retomar as rédeas de seu destino.

Os brasileiros elegeram, nas últimas eleições, o pior Congresso de todos os tempos. Não é correto dizer que se trata de um poder conservador. Talvez nem mesmo reacionário. Estamos hoje à mercê de um grupo usurpador do Estado Democrático e de Direito comandado pelo que se chama normalmente de Centrão e que agora passa a ser apoiado até mesmo por outras siglas fora dessa órbita. E como a goela dessa gente não tem fundo, é de se prever que ano que vem eles vão querer ainda mais do que os R$ 53 bilhões do orçamento assaltados agora, talvez até que o Poder Executivo seja um mero executor de ordens. E vão continuar comemorando isso aos gritos como foi feito agora e está na foto acima.

O orçamento é elaborado com base em estudos de direcionamento dos recursos do Tesouro, todos eles oriundos dos impostos que pagamos todos nós. O Congresso encontrou nas emendas parlamentares agora que parecem não ter mais fim uma forma de driblar o Poder Judiciário após este ter considerado inconstitucional o tal "orçamento secreto". Sim, esse não é tão secreto assim, mas dá campo a todas as desonestidades possíveis e imagináveis. Com R$ 5 bilhões de verba para gastar nas eleições municipais de 2024 não tenho dúvida de que muita gente vai pura e simplesmente botar dinheiro no bolso.

Hoje eu conversava com amigos na casa destes e ouvi deles que a Prefeitura de Cariacica, depois de negar abono ao funcionalismo por falta de recursos, enviou cestas de Natal que imagino serem muito caras a todos os deputados estaduais da nossa "briosa" Assembleia Legislativa. O prefeito sabe onde colocar dinheiro e por qual motivo faz isso! Da mesma forma, os vereadores de Vitória querem uma nova sede para seu endereço porque a atual está muto mal cuidada e pode desabar na cabeça deles. Não querem que o povo tenha essa sorte de mega sena política. E assim como esses dois exemplos capixabas que dou aqui, centenas - ou seriam milhares? - de outros podem ser encontrados pelo Brasil afora.

É preciso que essa excrescência vá ao Supremo Tribunal Federal. Ele hoje é nossa última fronteira e talvez a salvação não apenas do PAC, mas da governabilidade, seja com esse ou com um futuro presidente.    

6 de dezembro de 2023

Antes de Israel...

Quando da criação do Estado de Israel por parte da ONU, em 1948, tinham os diplomatas reunidos em Nova Iorque a exata noção do que iria acontecer em seguida? Inclusive o representante do Brasil, ministro Oswaldo Aranha? Não sei se sim ou se não. Mas quero crer que diversos sabiam, sim, que os muçulmanos seriam enxotados de suas terras e que a Palestina jamais iria ser criada. Tanto que o ato daquele ano incluía uma "recomendação" pela criação de dois Estados Nacionais. Recomendava, mas não determinava.

Daquela data em diante uma "norma" foi estabelecida: Israel jamais respeitou decisão alguma da Organização. E sempre que o estado judeu desconhecia solenemente as determinações das Nações Unidas, era seguido e apoiado pelos Estados Unidos, aliados incondicionais sem jamais sentir o menor constrangimento em usar o direito de veto para sufragar atos israelenses. Isso foi o ovo de serpente do Estado Terrorista de Israel que vemos hoje em todas as cores massacrando o povo palestino e inviabilizando a "politica de dois estados".

Quando a Segunda Guerra Mundial acabou foi o Reino Unido quem primeiro pediu a criação de um Estado Nacional Judeu. Na época o trauma dos campos de extermínio nazistas era terra fértil para uma situação de "sim". E então os judeus tiveram o que nenhum outro grupo religioso jamais teve: um país para chamar de seu. Os muçulmanos reúnem-se em estados onde têm no islamismo sua religião oficial. Isso acontece também com outras confissões religiosas. Mas nada se assemelha a Israel.

Não vale a pena perder tempo discorrendo aqui sobre a carrada de atos de genocídio cometidos pelos israelenses, que sempre invocam o "direito de defesa" depois de invadir e tomar territórios de outros povos. Massacres hoje são tantos que não dá mais para contar nos dedos. E os palestinos assassinados já somam um holocausto completo, mas que o "mundo livre" não contabiliza porque isso significaria reconhecer que Israel, um país voltado para dentro de si próprio, é a reencarnação do nazismo, agora sob a estrela de David.

E já ia me esquecendo de explicar: a foto que abre esse texto é de uma praia da Faixa de Gaza em 1944. A diferença para hoje é que na época Israel não existia...