31 de julho de 2022

Por um novo Congresso


Vamos partir do princípio de que só se corrompe quem é corrompível.

Então, quando o atual presidente decidiu que deveria jogar definitivamente no balde do lixo seu discurso falso de "nova política" ele sabia o que estava falando e fazendo. Tinha passado 28 anos como deputado federal do baixo clero num ambiente promíscuo, conhecia todos os vícios da única política que sabia e sabe fazer e pura e simplesmente comprou todas as prostitutas que poderia comprar na Câmara e no Senado. Elas são muitas e ele conhece os caminhos de como chegar a cada uma delas. E também o custo que isso teria e tem para nós, os demais brasileiros.

Portanto não basta ao Brasil tirar da presidência da República esse presidente das "rachadinhas", dos acordos espúrios e dos discursos que sempre agregam ameaças contra o Estado Democrático e de Direito. Vai ser preciso renovar o Congresso se pretendermos viver anos de progresso com dignidade.

Hoje mesmo os jornais estampam em manchetes que esse presidente quer "as Forças Armadas" desfilando  no Rio de Janeiro em 7 de setembro para "comemorar 200 anos de liberdade". É esse o presidente que já declarou em alto e bom som várias vezes ser apoiador da ditadura e da tortura, dentre outras coisas. Os ídolos dele são todos autocratas que não acreditam no Estado de Direito. Que liberdade ele defende? Aquela representada por Carlos Alberto Brilhante Ustra, um seu ídolo querido?

Bolsonaro tem que deixar o poder. Se o mandato dele for renovado tudo o que não foi feito nesses primeiros três anos de sete meses para destruir as instituições civis do Brasil será terminado agora nos próximos quatro anos. Inclusive a destruição do meio ambiente brasileiro, o mais rico que existe.

Mas isso só será possível se junto com Bolsonaro deixar Brasília boa parte da ala podre do Congresso Nacional, para que outro presidente não tenha mais como infelicitar os brasileiros como faz hoje Arthur Lira, um presidente de Câmara dos Deputados capaz de ir numa convenção partidária ostentando no peito um "Bolsonaro 22" na camiseta usada para a ocasião e depois de guardar nas suas gavetas uma centena e meia de pedidos de abertura de processo de impeachment contra o presidente.

Mudar o Congresso é necessário. Por um novo Congresso!        

26 de julho de 2022

A jogada final


Não se iludam: o Jair Bolsonaro que discursou domingo para seus seguidores no Maracanãzinho nunca desistiu e não vai desistir de tentar implantar no Brasil um regime político de extrema direita. Isso está tão entranhado nele que nem mesmo os conselhos de marqueteiros para que se contenha durante a campanha são mais aceitos. Ele é o que é: um traste que pretende arrastar ao caos os não seguidores.

Vejam uma coisa, o que é o nazismo?  Prega a reverência incondicional a um líder, usa de ufanismo exacerbado que sublima o falso patriotismo, defende o estado autoritário, cultua o militarismo e exalta a guerra, defende a existência de um partido único, despreza valores individuais, dissemina o ódio, tem aversão às minorias e uma necessidade paranoica de eleger um inimigo. Vocês estão vendo o presidente do Brasil nesse retrato? Filhote de Hitler? Aqui não há partido único, mas ele pretende que um dia haja.

Há alguns meses conversava eu com um jornalista que se iniciou comigo em A Gazeta e é filho de um grande amigo, também jornalista. Mas ainda se trata de profissional relativamente jovem, evangélico e levado ao reacionarismo político por maus aconselhadores. Defendeu seu ídolo de barro diante de mim, negando a verdade nazista na figura de Bozo: "Mas ele adora Israel!". De nada adiantou eu dizer que era preciso para ele ter um excelente disfarce de seus verdadeiros credos pois eles, os nazistas, hoje são criminosos. O antigo companheiro de redação não se convenceu.

Não se iludam porque já me iludi muito: o atual presidente não vai querer abandonar o poder. Não pelos meios legais, consagrados. Quantas vezes nós já o ouvimos dizer que cumpre uma "missão"? Que é presidente por vontade divina e que só Deus pode tirá-lo da presidência? A cada discurso, a cada aparição pública, a cada pesadelo com o inimigo Lula ele mais se idiotiza, mais se afunda em seus delírios e se apega àqueles que o acompanham, na maioria dos casos para obterem vantagens pessoais. 

O presidente do Brasil é um ser doente. Um sociopata e extremamente perigoso. Mas não vai ser capaz de dar um golpe de estado clássico, daquele dos tanques de guerra nas ruas porque 2022 não é 1964. No entanto tem como fazer muito mal a seus opositores. E ao Brasil sobretudo e principalmente. Essas eleições são a jogada final dele. Perdendo, talvez não tenha mais sequer como viver livre até a morte.                  

19 de julho de 2022

O pior que vive em nós


Faltando pouco mais de 70 dias para as eleições gerais do Brasil, inclusive na escolha de quem vai ocupar a presidência da República pelos próximos quatro anos, já é possível dizer que o atual mandatário, Jair Bolsonaro, conseguiu em três anos e pouco mais de nove meses de governo fazer surgir o pior que vive em nós, os brasileiros. Hoje sabemos que o oportunismo, a violência, o radicalismo politico, o fascismo e todo o tipo de negacionismo travestido de ideologia política de direita estavam latentes em cada um de nós. Escondidos, mas prontos para emergir.

Poderíamos dizer aqui que não votamos na proposta dele em 2018, não estamos saindo às ruas para dar-lhe apoio e, portanto, não somos parte do gado que usa de todos os artifícios para apoiar os atos - quaisquer que sejam eles - de seu presidente de estimação. Isso importa pouco. Entre 25 a 30 por cento dos brasileiros como nós alimentam as sandices do presidente e seu grupelho. E nesse imenso volume de gente há parentes nossos, (ex)amigos, (ex)amores, (ex)correligionários, etc.

Hoje mesmo, e isso é possível ver na imagem que abre esse texto, alguns dos maiores jornais do mundo comentaram a excrescência que foi o papel ridículo desempenhado ontem pelo presidente ao reunir embaixadores creditados em Brasília para diminuir seu próprio país através de críticas absurdas ao sistema eleitoral. Algo nunca visto antes no mundo, mesmo se o espetáculo for comparado ao dado por Donald Trump em seu 6 de janeiro. Até a embaixada dos Estados Unidos reagiu, coisa inédita para eles, e desacreditou o discurso do Palácio da Alvorada, apostando suas fichas em nossas urnas eletrônicas.

Jair Bolsonaro quer um golpe de Estado. Não consegue viver em democracia e já teria provocado uma ruptura institucional no Brasil caso tivesse amplo e irrestrito apoio das Forças Armadas, da sociedade e dos maiores países do Mundo. Mas não tem. Então torna-se um cavaleiro da triste figura até mesmo no Alvorada, o palácio que Niemayer criou para abrigar chefes de Estado e não ditadores de aldeia.

Ele vai perder sua aposta no caos, não tenho dúvida. Mas até lá nos infernizará.                 

13 de julho de 2022

Tradição golpista

O jornalista e escritor Elio Gaspari, um intelectual brilhante e autor de cinco volumes sobre a história do regime militar no Brasil, publicou hoje uma carta fictícia de Tancredo Neves para Lula. Resumo da ópera: não aceite provocações de Bolsonaro (bem "sereno" na foto) e sua quadrilha nesses tempos bicudos que antecedem as eleições presidenciais. Criar um clima de instabilidade política é tudo o que interessa a essa corja. O artigo "O senhor precisa de um país que olhe para a frente" serve também a Ciro Gomes e Simone Tebet. Os demais atores desse enredo são insignificantes.

Ninguém melhor que Gaspari conhece a tradição golpista das Forças Armadas do Brasil. Isso está claro na densa obra dele que detalha os 21 anos de ditadura militar brasileira vividos entre 1964 e 1985. Mas a nossa tradição golpista remonta ao término do Império e a todo o regime presidencialista. Em tempo algum os militares brasileiros deixaram se estar associados a aquarteladas e tentativas de golpe. 1964 é apenas o exemplo mais recente e doloroso. Portanto, aí vai o "conselho" de Tancredo para Lula no texto "psicografado": não aceite provocações. Ciro e Simone também não.

O presidente atual é um excremento político desses muitos que o Brasil defeca de tempos em tempos, sobretudo durante crises. Nesse caso, foi gestado pelos escândalos envolvendo o PT durante os governos Lula e Dilma, sobretudo o primeiro. Figura menor até mesmo no baixo clero, o capitão quase expulso do Exército viu na crise sua chance de ouro de ascender ao trono. Não a perdeu. E levou para o Palácio do Planalto o que existe de pior e mais tacanho na política brasileira. Sobretudo o golpismo, a mentira como forma de agir e a violência que ele não tem nem pudor nem vontade de disfarçar.

Infelizmente para nós, conta com a ajuda de algumas poucas empresas de comunicação e "jornalistas" que divulgam suas mentiras travestidas de verdades como se efetivamente verdades fossem. E se prepara para tentar promover um golpe de Estado, movimento já em curso, se perder a eleição como tudo indica que vai acontecer. Aliás, ainda não fez isso porque, ao contrário de 1964, não teria ajuda externa, sobretudo dos Estados Unidos, para sobreviver à aventura.

Nós podemos, hoje, iniciar o sepultamento do golpismo no Brasil. Mas é preciso ter inteligência, tirocínio e calma. Sei que é difícil. Gaspari mesmo destaca em sua carta a tendência "palanqueira" de Lula. Portanto, é agora ou quem sabe nunca mais - se estivermos vivos - para presenciar essa oportunidade de derrotar não apenas o presidente e seus generais de bravata, mas o golpismo. 
     

9 de julho de 2022

Arautos da falsa liberdade


Cresce a cada dia que passa o numero de mensagens que falam do termo liberdade ligando-o ao atual presidente do Brasil e exortando a população a temer o "avanço comunista" sobre o país. Antes de mais nada é preciso dizer o seguinte: de 1964 a 1985, durante 21 anos, o Brasil viveu sob uma ditadura militar de extrema direita cruel e covarde. Ninguém era livre para se opor. E nós só nos livramos daquela situação porque a oposição ao regime ditatorial lutou o tempo todo por isso. Naquele tempo o atual presidente estava ao lado dos ditadores e, como ficou registrado, dizendo dentre outras coisas que era a favor da ditadura e da tortura. Esse indivíduo falar em liberdade é um escárnio.

Eu trabalhava em redação de jornal. Havia no quadro de avisos da sala um lugar onde se lia: "CENSURA". Ali todos os dias eram afixadas as ordens da Polícia Federal que proibiam noticiar uma infinidade de coisas. Havia situações incríveis ou hilárias como essa: "De ordem do senhor ministro da Justiça fica proibida a divulgação de declarações do senhor presidente da República e na qual este diz que não existe censura no Brasil". Decerto pensaram que era muita cara de pau...

Não eram só notícias que se censurava. Músicas, livros, peças de teatro, filmes, discursos, manifestações públicas, tudo podia ser objeto da tesoura do Estado ou do humor dos censores. Uma vez proibiram a exibição do filme soviético "Ivan o Terrível" sob o argumento de que era obra comunista e subversiva. Millor Fernandes reagiu em sua coluna de "Veja": "Ivan morreu mais de 300 anos antes da revolução de 1917. Ele não poderia ter nada com isso por mais terrível que fosse".

Centenas de brasileiros foram presos ilegalmente. Muitos acabaram torturados e mortos nos porões dos órgãos de repressão. No auge da ditadura até o direito ao habeas corpus foi suspenso e o Congresso, fechado. Contra tudo isso lutaram as correntes democráticas que hoje são contra o atual governo de índole golpista e que pretende fazer do 7 de setembro uma antessala de novo golpe contra o estado democrático e de Direito.

E para quem acredita que o "comunismo internacional" arma um golpe, informo que Fernando Henrique Cardoso governou por oito nos, Lula por mais oito, Dilma Roussef por seis e nenhum deles desrespeitou a Constituição como acontece hoje. Pensem bem aqueles que acreditam em falácias: os riscos à liberdade estão com os pregadores do caos e difusores de mentidas e do ódio. E acreditem nisso enquanto ainda há tempo porque o palco está se armando para o 7 de setembro.       

2 de julho de 2022

Projeto Terra Arrasada


Que ninguém se iluda: o projeto atual de Jair Bolsonaro é deixar para seu sucessor - sobretudo se esse for o ex-presidente Lula - um Brasil economicamente arrasado, impossível de ser governado e entregue aos humores de um Congresso que sempre quer mais, muito mais, para satisfazer sua goela imensa. Agora ele tem meios e modos de exercer tal poder e o projeto está em andamento!

Os últimos movimentos, que envolveram até mesmo adesão covarde da oposição, são a prova concreta disso: o Brasil não tem hoje como gastar mais de R$ 41 bilhões somente em projetos não sustentáveis de "amparo" a caminhoneiros e paupérrimos, furando outra vez o teto de gastos. Todos sabemos que essa "ajuda de emergência" só dura até dezembro. Quando o mês de janeiro chegar teremos em nosso horizonte um país quebrado e que vai precisar apertar o cinto até sufocar cada um de nós, sobretudo e principalmente os mais pobres. O governo federal sabe disso, o gado que o apoia também, mas o mais importante para todos eles é manter o atual grupo à frente do poder até 2026. A qualquer preço.

No último cálculo feito os economistas chegaram a um número assustador em termos de dinheiro: a PEC que está para ser aprovada em definitivo pela Câmara dos Deputados no início da semana que entra representará um custo absurdo de R$ 343 bilhões, somados todos os itens do esforço do atual presidente para reverter sua espantadora desaprovação popular, incluídas as desonerações previstas. Tudo isso seria até mesmo elogiável em tempos calmos, se o Brasil tivesse dinheiro para gastar, estivéssemos distantes de uma eleição polarizada e se essa loucura não objetivasse a compra de votos de miseráveis (foto) que sobrevivem abaixo na linha de pobreza. Eles não sabem, coitados, que quando janeiro chegar tudo vira miragem no deserto e a miséria será ainda maior. Total!

Como se isso ainda não fosse suficiente, a decretação de estado de emergência não se ampara em fatos que a justifiquem sendo, então, ilegal. Inconstitucional! Apenas um artifício de malandros. Dessa forma, se algum partido ou membro do Congresso Nacional quiser levar o caso ao Judiciário - ao STF - , deve se decretada a inconstitucionalidade de todas as medidas. Quem tem peito para fazer isso agora? Quem vai ser patriota- aí finalmente se justifica o uso do termo - o suficiente para impedir a loucura? A pergunta cabe porque os dias passam e ninguém quer apostar sua carreira para salvar o Brasil.

O tempo urge, minha gente!