30 de abril de 2022

Genocídio indígena no Brasil


As imagens agridem, chocam, levam qualquer pessoa honesta ao pranto. São índios brasileiros em suas reservas, sendo massacrados. Na terra dos ianomâmi mais de 20 mil garimpeiros ilegais invadiram aquele espaço para retirar ouro e outros minerais ilegalmente com o beneplácito do governo federal. Além de fazer vista grossa, esse governo comandado pelo presidente Capetão ainda incentiva os crimes. Até crianças são prostituídas, violentadas e assassinadas à vista de todos.

Diariamente as imagens da agressão são mostradas. Fotos aéreas, filmagens também feitas por aviões e tomadas de satélites. O governo sabe onde estão os garimpeiros, como chegar lá, de que maneira intervir a fim de prender quem comete crimes e deter a escalada do genocídio indígena. Mas não faz nada. Cruza os braços criminosamente, dá campo a que o garimpo ilegal continue a devastar o meio ambiente e acena com falsa impotência dizendo que esse problema é endêmico no Brasil.

A foto que ilustra meu texto é a síntese de tudo. Dois índios em primeiro plano e a floresta devastada, queimada, em segundo plano. O índio depende da mata, do meio ambiente. De lá ele só tira o que precisa para seu sustento, para abastecer sua comunidade. Do meio ambiente vem o alimento que o mantém, a casa que o abriga, a roupa que o protege da chuva e do frio. E também as poucas armas que usa exclusivamente para caçar. Ele não sente prazer em matar, mas apenas precisa se alimentar.

E enquanto os índios são mortos todos os dias e a todas as horas, a campanha política do governo passa por cima disso. Ignora o absurdo. E enquanto a região amazônica é devastada nada se cometa, nada se analisa, não há planos para deter a tragédia. A Funai praticamente não existe mais, o ICMbio foi reduzido a pó, o Ministério do Meio Ambiente é só uma fachada. Tudo está tomado por militares com tendências golpistas, representantes de ruralistas, garimpeiros ilegais e outros criminosos. A tragédia do Brasil não tem mais tamanho.

O que resta fazer?  O que está sendo feito, sobretudo por aqueles que buscam na Justiça uma forma de parar com isso. No Supremo Tribunal Federal está a esperança dos que procuram todos os modos de interromper os crimes contra o meio ambiente e o morticínio das populações indígenas. Infelizmente no Brasil de hoje, principalmente em época de eleição e quando o Centrão foi comprado com nosso dinheiro para representar o crime e os criminosos, afora o STF só há oportunismo na linha do horizonte.

E o STF nos representa. Pelo menos a mim!         

22 de abril de 2022

O decreto tem que cair


Não há a menor sombra de dúvida sobre uma afirmação que faço aqui e agora: o atual presidente da República não sabe governar sem crises. Se elas não existem ele as fabrica. Até porque, e isso é a convicção de muita gente no Brasil de hoje, ele simplesmente não sabe governar coisa alguma.

O último ato do presidente para agredir as instituições democráticas do Brasil foi editar um decreto para dar graça e um bandido que havia sido condenado a pouco menos de nove anos de prisão pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em julgamento que sequer ainda transitou em julgado (foto). E fez isso porque o beneficiado (sic!) é seu amigo pessoal e divide consigo e com o restante da familícia e bolsomínions de raiz o profundo desrespeito por tudo o que os conteste. Principalmente o Judiciário.

Em nome da democracia, em nome das instituições sobretudo civis desse país, em nome da dignidade do Brasil como nação o decreto presidencial tem que cair. Ele precisa ser tornado nulo pelo mesmo STF por ele desrespeitado. E movimentos nesse sentido já estão crescendo a cada dia que passa.

A Marquesa de Santos, amante do imperador D. Pedro I, gostava de chamar seu amado de Capetão. Era um apelido carinhoso embora não parecesse. O Capetão que inferniza a vida dos brasileiros de hoje é diferente. Ele não ama, não sabe fazer isso. Sob seu governo o Ministério da Educação está sendo violentado. O Ministério da Saúde tornou-se mero apêndice da vontade presidencial e de pseudo pastores evangélicos. O meio ambiente é destroçado diariamente enquanto o ministério que teria de lutar por sua preservação é cúmplice no processo destrutivo. A economia patina, há clima de confronto retroalimentado em todas as suas instâncias e o enfrentamento entre o governo federal e os estados e municípios tornou-se política de Estado. Para não tornar o artigo enfadonho, basta dizer mais uma coisa: a Lei Rouanet, tão atacada pelo governo, agora despeja quase meio milhão de reais num projeto de edição de livro sobre armas. Sei quanto custa a edição de livros porque sou escritor. E porque sou escritor sei também que essa aprovação é pura e simplesmente roubo de dinheiro publico a céu aberto.

O Capetão não suporta a vida democrática. Existem imagens de entrevistas dele elogiando a ditadura militar para sustentar minha afirmação. Ele ataca o Judiciário apenas e tão somente para preparar sua militância no projeto de não respeitar o resultado das urnas em outubro se este lhe for desfavorável. Por isso tem que ser enfrentado. Sua graça a um bandido agride. A comoção que vivemos é a de ver o país agredido por quem quer ser seu dono sem contestação alguma, e não pelo veredito do STF.

Repito: é hora de reação. O decreto tem que cair.                          

19 de abril de 2022

Lugar de Toda Canalhice


Um dia ele estava na pensão onde morava e a polícia entrou. Foi levado para um destacamento militar onde chegou com um dedo machucado. "Está doendo?", perguntou o soldado com fuzil nas mãos. Ato contínuo disse que iria tratar do ferimento e, com a coronha fuzil bateu contra o dedo ferido até praticamente o esmagar. O preso, Gildo Loyola Rodrigues (foto), fotógrafo profissional, um dos criadores do Departamento Fotográfico do jornal A Gazeta sofreu tantas torturas que, depois de solto passou algum tempo em um hospício antes de se recuperar e poder voltar a trabalhar normalmente.

A polícia queria saber qual era a "senha". Que senha? É que na entrada da pensão todo dia ia sendo colocado o cardápio de almoço. Por exemplo: "arroz, feijão, bife acebolado, batata frita, salada". E essa relação mudava diariamente. Como Gildo, que tinha militância em partido político clandestino, mas nunca havia atirado em ninguém, se recusasse a dar uma senha inexistente, a polícia e o Exército fizeram o que sabiam fazer quando achavam que alguém era culpado de alguma coisa: torturaram.

Gildo se aposentou em 2011. Fotógrafo brilhante, foi um dos autores do livro "Lugar de Toda Pobreza", produzido juntamente com os também jornalistas Amylton de Almeida e Carlos Henrique Gobbi e parceria de fotos com Helô Sant'Anna sobre o documentário do mesmo nome com dados levantados por Amylton e Gobbi na região do contorno de Vitória onde uma grande invasão se dava em fins da década de 1970. Ele nada tinha a ver com guerrilha, com resistência armada e outros atos de violência. Mais morava, como moramos, no Lugar de Toda Canalhice.

A divulgação dos áudios de julgamentos do Superior Tribunal Militar (STM) com a admissão de torturas durante a ditadura militar brasileira, feito pela jornalista Miriam Leitão que começou sua carreira trabalhando em Vitória no jornal A Gazeta, só surpreende a dois tipos de gente: desavisados e desonestos. E só faz rir os canalhas que consideram lícito terem organizações policiais e as Forças Armadas Brasileiras participado de atos de ignomínia contra parcela de nossa população. Sim, é preciso denunciar. É preciso trazer à baila esse assunto escabroso e deixar tudo registrado nos jornais, rádios, TVs, livros e outros meios, inclusive eletrônicos. Senão acontece de novo.       

14 de abril de 2022

Do que ele tem mais medo?


O Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência da República proibiu a divulgação dos dias em que pastores pilantras foram recebidos no Palácio do Planalto em 2020 e 2021 (foto), o que agride a Lei de Acesso à Informação. A justificativa de garantir a segurança presidencial contra o pedido de um meio de Comunicação é apenas uma desculpa míope para encobrir o verdadeiro motivo: coalhado de caso de corrupção em seu final de mandato, o presidente Bolsonaro quer encobrir todos os seus passos e os de sua familícia nesse ano de eleição negando à sociedade o sagrado direito de saber o que acontece nas entranhas, melhor dizendo, nos intestinos do poder. Denúncias são nitroglicerina pura!

Desde que o Congresso Nacional revogou a Lei de Segurança Nacional, um anacronismo dos tempos da ditadura militar que perdurava na Constituição, o presidente tentou de todas as formas contornar essa "dificuldade". Sem outra alternativa, usa o GSI, um órgão a seu serviço pessoal e comandado por militares subservientes, para se blindar ilegalmente. O último ato foi tornar secretas as idas de pastores ao palácio. Daqui para a frente tudo o que o incomodar terá o mesmo destino. A menos, é claro, que alguém ou alguma instituição recorra ao Supremo Tribunal Federal (STF) contra essas violências.

O final do mandato de Bolsonaro está sendo um rosário de casos de corrupção. Nunca antes se viu tanta ilegalidade quanto agora. Atos espúrios que vão desde o favorecimento explícito à Engefort, empresa laranja dona da maioria dos grandes contratos do governo federal, à influência de representantes de seitas neopentecostais que se aboletaram nos cumes do poder para garantir todo o tipo de vantagens. E não são só elas: a corrupção cresce até mesmo entre os descendentes diretos do ex-capitão de artilharia e agora envolvem seu filho mais novo, Renan, que não aceita ficar fora da divisão do butim.

Do que Jair Messias Bolsonaro tem mais medo? De perder a reeleição, não importa para quem. Ele sabe que se isso acontecer, seu futuro será responder a uma grande gama de processos e possivelmente dar adeus não apenas ao poder, mas quem sabe à liberdade. Ele conhece todos os atos ilegais que praticou usando a caneta ou ministros, sobretudo em ministérios como os da Saúde e da Educação. Jair, ele tem consciência disso, não pode perder de forma alguma. E para garantir sua intocabilidade, de agora em diante até diarreia vai merecer sigilo de cem anos. Isso sem falar nas ilegalidades que estão por chegar, e no aumento do desmonte das instituições públicas e ataques diretos à democracia. 

O Bolsonaro ditador está apenas tirando a máscara.                

9 de abril de 2022

O vírus militar


Não é o maior filme de todos os tempos, está longe disso, mas vale a pena ver "A mulher de um espião", uma produção japonesa. Na foto acima, os dois principais protagonistas: o "espião" e sua mulher. O fato é real e muito bem documentado numa obra cinematográfica onde é possível ver as limitações de verba nos pequenos detalhes, como os bondes cujas janelas não mostram o que se passa do lado de fora.

Mas esse não é o mote do meu artigo. Sua razão de ser está num fato que mostra até onde vai a capacidade de destruição do totalitarismo, sobretudo militar e independente de ideologia. O "espião" descobre atos de selvageria em investigação "científica" que o Japão promovia na Manchúria ocupada em 1940. E foram os militares japoneses que arrastaram o país para a guerra e o holocausto subsequente.

Ao final do conflito mundial terminado em 1945, o Julgamento de Tóquio mostra o destino que tiveram os maiores comandantes japoneses. Sim, porque na guerra o vencedor julga o vencido e impõe a ele suas leis e penas. Não a toa os norte americanos jamais foram julgados pelos crimes de guerra cometidos no Vietnam e em outros conflitos armados dos quais participaram e participam.

Note o leitor: ao final da guerra o imperador Hiroito, homem probo e que em vida foi reconhecido como a maior autoridade mundial em biologia marítima da época, não perdeu o trono. Deixou de ter status de divindade, sua autoridade passou a ser meramente cerimonial, mas o império sobrevive intocado no Japão. Digno, austero e agora incapaz de ser corrompido pelo poder militar. Sim, porque o Julgamento de Tóquio visava destruir o militarismo japonês, o câncer daquele país, e isso foi conseguido. O império, a forma de governo, jamais foi alvo.

Nas sociedades modernas é necessário que o poder seja equânime. Não pode um estrato social ter prevalência sobre os demais, sobretudo um setor armado. Ele pode ser levado a se considerar dono do Estado, artífice da Justiça, acima das leis e dos costumes quando não concordar com eles. Se isso se tornar agudo os danos que o país sofrerá são inimagináveis. Um dia o Brasil vai ter que liquidar, preferencialmente por via pacífica, com o vírus de seu militarismo. E é chegada a hora.