31 de dezembro de 2023

Pazolini é só um boneco


A atual administração municipal de Vitória, através da Secretaria da Educação, retirou do acervo das escolas municipais recentemente três livros que eram usados com destinação didática. Um deles de uma autora capixaba foi considerado indigno de ser usados pelos alunos porque, em determinado trecho, a escritora usou o termo "todws", uma designação que nos remete ao homossexualismo. Isso para os militantes de extrema direita é um pecado mortal. Indigno de ser visto por crianças. Deve merecer a forca mesmo!

Até pouco tempo no Brasil as pessoas usavam o cumprimento "todos" quando se dirigiam a uma plateia porque ele se referia à totalidade dos presentes. Então alguém inventou "todos os todas" achando que o hábito antigo excluía as mulheres do cumprimento, embora isso seja obtuso. Mas, com o objetivo de não deixar ninguém fora da saudação vieram outros para acrescentar o "todxs". Um modismo idiota, mas que não podemos criticar para não sermos chamados de "homofóbicos" e politicamente incorretos.

O prefeito de Vitória é fascista tupiniquim e nem deve saber disso. Talvez ele não use o "anuê", cumprimento dos seguidores de Plínio Salgado, admirador de Hitler e Mussolini e responsável pela vinda dessa ideologia para o Brasil (vejam a marca acima). Mas cultiva o eleitorado na extrema direita política que tem muita força no Estado. Essa corrente, que teve importância enquanto o nazifascismo ocupava a Europa de 1930 a 1945, está ressurgindo agora na calda de cometa de um crescimento do autoritarismo no Velho Continente, isso aliado à onda de xenofobia que despreza os imigrantes, sobretudo africanos.

O lema que eles trouxeram para cá, "Deus, Pátria, Família" e que era de Benito Mussolini, foi acrescido do  "Liberdade" por Jair Bolsonaro, o atual líder da corrente. O que não faz sentido, posto que esse ex-capitão literalmente expulso do Exército sempre foi apoiador de tortura física e da ditadura que infelicitou o Brasil por 21 anos através de prisões ilegais, torturas e assassinatos em organismos dos porões do regime. Que liberdade é essa? Que Deus é esse que se esconde nos subterrâneos das masmorras onde vidas são destruídas?

O fascismo brasileiro desenvolvido por intermédio de Plínio Salgado tem algumas características que o diferem do modelo europeu, mas não num ponto: o conservadorismo (reacionarismo) visa sobretudo impor à sociedade, porque ela é inimiga dos "costumes", princípios que não permitem sequer a citação - que se diga a glorificação - do homossexualismo e suas hoje diversas variantes vistas no nosso dia-a-dia. A isso se soma mais uma infinidade de outros dogmas (?), muitos dos quais sequer podem ser considerados com parte do catolicismo conservador no qual a crença se ancora.

O coitado do prefeito de Vitória é só um boneco manipulado! Ele vai na onda de seu líder maior, seu mito, na expectativa de conseguir galgar postos na hierarquia da política regional para ver se chega à nacional. E para fazer isso precisa satisfazer às alas mais imbecilizadas do nosso espectro do atraso cultural tirando livros das estantes de escolas e bibliotecas públicas. Felizmente essa onda vai passar e não se pode mais queimar livros em praças públicas como nos tempos em que os nazistas comandavam a Alemanha.   

22 de dezembro de 2023

O único caminho é o STF


Os episódios envolvendo as votações do Orçamento brasileiro, da LDO e até mesmo os diversos tipos de  emendas a que os parlamentares lançarão mão no ano que vem, principalmente os quase R$ 5 bilhões de financiamento da campanha eleitoral, representam uma página negra na história do Poder Legislativo brasileiro. Nós não estamos mais numa democracia republicana. O que estamos vendo hoje e que já vem se mostrando desde há cinco ou seis anos é uma gradativa tomada de poder por parte de parlamentares eleitos para representar a população, agindo em nome e em benefício dela. O Legislativo brasileiro se prostituiu de forma definitiva e só mesmo recorrendo ao Supremo Tribunal Federal (STF) os cidadãos desse país poderão retomar as rédeas de seu destino.

Os brasileiros elegeram, nas últimas eleições, o pior Congresso de todos os tempos. Não é correto dizer que se trata de um poder conservador. Talvez nem mesmo reacionário. Estamos hoje à mercê de um grupo usurpador do Estado Democrático e de Direito comandado pelo que se chama normalmente de Centrão e que agora passa a ser apoiado até mesmo por outras siglas fora dessa órbita. E como a goela dessa gente não tem fundo, é de se prever que ano que vem eles vão querer ainda mais do que os R$ 53 bilhões do orçamento assaltados agora, talvez até que o Poder Executivo seja um mero executor de ordens. E vão continuar comemorando isso aos gritos como foi feito agora e está na foto acima.

O orçamento é elaborado com base em estudos de direcionamento dos recursos do Tesouro, todos eles oriundos dos impostos que pagamos todos nós. O Congresso encontrou nas emendas parlamentares agora que parecem não ter mais fim uma forma de driblar o Poder Judiciário após este ter considerado inconstitucional o tal "orçamento secreto". Sim, esse não é tão secreto assim, mas dá campo a todas as desonestidades possíveis e imagináveis. Com R$ 5 bilhões de verba para gastar nas eleições municipais de 2024 não tenho dúvida de que muita gente vai pura e simplesmente botar dinheiro no bolso.

Hoje eu conversava com amigos na casa destes e ouvi deles que a Prefeitura de Cariacica, depois de negar abono ao funcionalismo por falta de recursos, enviou cestas de Natal que imagino serem muito caras a todos os deputados estaduais da nossa "briosa" Assembleia Legislativa. O prefeito sabe onde colocar dinheiro e por qual motivo faz isso! Da mesma forma, os vereadores de Vitória querem uma nova sede para seu endereço porque a atual está muto mal cuidada e pode desabar na cabeça deles. Não querem que o povo tenha essa sorte de mega sena política. E assim como esses dois exemplos capixabas que dou aqui, centenas - ou seriam milhares? - de outros podem ser encontrados pelo Brasil afora.

É preciso que essa excrescência vá ao Supremo Tribunal Federal. Ele hoje é nossa última fronteira e talvez a salvação não apenas do PAC, mas da governabilidade, seja com esse ou com um futuro presidente.    

6 de dezembro de 2023

Antes de Israel...

Quando da criação do Estado de Israel por parte da ONU, em 1948, tinham os diplomatas reunidos em Nova Iorque a exata noção do que iria acontecer em seguida? Inclusive o representante do Brasil, ministro Oswaldo Aranha? Não sei se sim ou se não. Mas quero crer que diversos sabiam, sim, que os muçulmanos seriam enxotados de suas terras e que a Palestina jamais iria ser criada. Tanto que o ato daquele ano incluía uma "recomendação" pela criação de dois Estados Nacionais. Recomendava, mas não determinava.

Daquela data em diante uma "norma" foi estabelecida: Israel jamais respeitou decisão alguma da Organização. E sempre que o estado judeu desconhecia solenemente as determinações das Nações Unidas, era seguido e apoiado pelos Estados Unidos, aliados incondicionais sem jamais sentir o menor constrangimento em usar o direito de veto para sufragar atos israelenses. Isso foi o ovo de serpente do Estado Terrorista de Israel que vemos hoje em todas as cores massacrando o povo palestino e inviabilizando a "politica de dois estados".

Quando a Segunda Guerra Mundial acabou foi o Reino Unido quem primeiro pediu a criação de um Estado Nacional Judeu. Na época o trauma dos campos de extermínio nazistas era terra fértil para uma situação de "sim". E então os judeus tiveram o que nenhum outro grupo religioso jamais teve: um país para chamar de seu. Os muçulmanos reúnem-se em estados onde têm no islamismo sua religião oficial. Isso acontece também com outras confissões religiosas. Mas nada se assemelha a Israel.

Não vale a pena perder tempo discorrendo aqui sobre a carrada de atos de genocídio cometidos pelos israelenses, que sempre invocam o "direito de defesa" depois de invadir e tomar territórios de outros povos. Massacres hoje são tantos que não dá mais para contar nos dedos. E os palestinos assassinados já somam um holocausto completo, mas que o "mundo livre" não contabiliza porque isso significaria reconhecer que Israel, um país voltado para dentro de si próprio, é a reencarnação do nazismo, agora sob a estrela de David.

E já ia me esquecendo de explicar: a foto que abre esse texto é de uma praia da Faixa de Gaza em 1944. A diferença para hoje é que na época Israel não existia...
 

16 de novembro de 2023

Danem-se os descontentes

O episódio da ida a Brasília em mais de uma oportunidade de certa mulher casada com um criminoso preso em Manaus gerou muito desconforto ao atual governo, e tudo por causa de um filtro frouxo nos ministérios. Essa investigação sobre quem pede para ser recebido por ministros tem que ser mais dura, mais focada para evitar fatos futuros de igual monta. E isso sobretudo porque no caso atual a grande imprensa, sobretudo o Estadão e a Folha aproveitaram o episódio para atacar o governo, o que para eles é inevitável. E foram seguidos pela "marginalha" que apoia o ex-presidente inelegível, o que era previsível.

Mas para quem procura ligação real de governantes e ex-governantes com a "elite" do crime organizado no Brasil basta olhar a arte dessa postagem. Está tudo explicado.

Não conheço pessoalmente o ministro Flávio Dino, mas acompanho sua vida pública. Até prova em contrário nada há que o desabone. Rigorosamente nada. O que há é muito ódio contra ele porque sempre retrucou aos que o atacam e, dono de respostas ferinas, costuma levar a nocaute os menos dotados de atributos intelectuais que o criticam e que formam a espinha dorsal torta dos saudosos do genocida. Desses costumo rir muito!

E talvez também pelo fato de ser um intelectual de fino trato além de juiz federal conhecido por sua capacidade de conhecimentos, ele gera desconforto pelo fato de ter seu nome lembrado para a vaga da ministra Rosa Weber no Supremo Tribunal Federal toda vez que isso é veiculado. Seus detratores nesse campo não estão apenas entre a dita "oposição" legislativa formada por gente sem preparo, ética e moral, mas também e infelizmente por uma ala do PT que deseja outra solução para a nomeação a ser feita. Dino é oriundo do PCdoB e os petistas que o tentam fritar querem um nome do Partido lá. Burrice!

A batata quente está sobre a mesa do presidente Lula e vai ter que ser descascada. Não há outra saída. Ficar protelando uma decisão sobre isso parece também pouco inteligente. Afinal, para aqueles capazes de ver as coisas pelo lado mais lógico o ideal nesses casos é lançar mão do que se tem de melhor. Danem-se os descontentes de plantão.    

11 de novembro de 2023

A raiz de todos os problemas


Quando eu digo que Israel se tornou um estado terrorista muita gente critica. Um seu ministro atual disse faz poucos dias que os palestinos gostam de perder terras... Outro, que uma bomba atômica resolveria de vez a questão palestina... E o primeiro ministro que pode perder o mandato e no futuro ser até mesmo preso declarou que Israel vai ocupar a Faixa de Gaza por tempo indeterminado. Quem sabe como já ocupa a Cisjordânia que agora já é conhecida como "ocupada". Lá proliferam as colônias judaicas lançadas sobre terras roubadas. Em muitos casos os palestinos são simplesmente expulsos de suas residências para nelas entrarem famílias judias que vão morar no lugar com títulos de posse (sic!).

A imagem acima e à esquerda é um mapa oficial do Oriente Médio de 1947. Meio desbotado... Nele aparece em destaque a região que era conhecida como Palestina (Palestine) e  ao lado de Egito (Egypt), Jordânia (Trans-Jordan), Síria (Syria) e Líbano (Lebanon). Esse mapa não existe mais. Um ano depois a ONU, com a ajuda decisiva do voto do embaixador brasileiro Oswaldo Euclides de Souza Aranha, criou o Estado de Israel. O poder do dinheiro foi decisivo nesse caso. Como isso  aconteceu num espaço de tempo tão curto? Foi muito simples, como posso explicar logo em seguida.

A II Guerra Mundial havia terminado e mais de seis milhões de pessoas tinham sido mortas pelos nazistas nos campos de extermínio montados em diversos países. Não eram apenas judeus, mas também comunistas, ciganos. negros, deficientes físicos, deficientes, mentais e todos os demais considerados seres inferiores pela ideologia nazifascista. O estranho é que hoje o Holocausto só homenageia os primeiros... O mundo saiu dessa guerra decidido a criar um estado para os judeus e, através da Resolução 181 da recém criada ONU decidiu-se dividir o território palestino mostrado acima: 53,5% ficariam com Israel e 45,4% com a palestina, mesmo os israelenses sendo apenas 30 por cento da população na região de então. E assim foi feito. Armados pelos Estados Unidos que logo no primeiro momento apoiaram a decisão, os judeus invadiram o território agora seu.

Eles obedeceram a divisão por pouco tempo e em seguida, aproveitando-se do fato de sobretudo os muçulmanos não terem aceito a nova situação e reagido contra ela, foram à guerra, conseguiram vencer graças à injeção de dinheiro e armas dos norte-americanos e expandiram seu território para além das fronteiras consideradas legais. Das terras conquistadas somente as tomadas ao Egito foram devolvidas e por causa de um acordo de paz. Os egípcios são um inimigo que pode ser muito poderoso. Nos demais casos, não. E jamais o Estado Judeu admitiu verdadeiramente apoiar a criação do Estado da Palestina, a não ser por um breve momento, quando o então presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton, intermediou um acordo entre o palestino Yasser Arafat e o israelense Yitzhak Rabin. Estava  tudo certo? Não, porque um terrorista judeu matou o primeiro ministro de seu país e permitiu a chegada ao poder israelense de um nazismo sionista que nunca mais saiu de lá. E que hoje fragmenta as terras palestinas.

Eis a raiz de todos os problemas. Eis o ovo da serpente. Eis porque nos dias atuais o ódio e o terror das guerras não poupa velhos e crianças dos dois lados. Sobretudo do lado mais fraco.                  

7 de novembro de 2023

Os novos nazistas


Árvore dos salmos

Mahamound Darwich

No dia em que minhas palavras forem terra...

Serei um amigo para o perfilhamento do trigo bom

No dia em que minhas palavras forem ira

Serei amigo das correntes

No dia em que minhas palavras forem pedras

Serei um amigo para represar

No dia em que minhas palavras forem uma rebelião

Serei um amigo para terremotos

No dia em que minhas palavras forem maçãs de sabor amargo

Serei um amigo para o otimismo

Mas quando minhas palavras se transformarem em mel

Moscas cobrirão

Meus lábios!...

Os garotos e meninas de Israel entram na escola muito cedo e fazem obrigatoriamente todo o ensino fundamental. Desse momento de suas vidas ao término do ensino básico, vão diretamente para o serviço militar que também é obrigatório. Curso superior é feito depois e para aqueles que puderem. No ensino fundamental aprendem, nos livros didáticos, que os palestinos são seres inferiores. Geralmente associados a terrorismo, acabam mostrados nas escolas como gente de bairros paupérrimos, sempre com máscaras nos rostos e, nas fotos dos lugares onde eles supostamente vivem, não aparecem pessoas. Nurit Peled-Ehhanan, israelense e estudiosas crítica do  atual governo de seu país, denuncia isso em longo e pungente depoimento e mostra como todos são preparados para chegar às forças armadas de seu país com o ódio no coração.

Quando Israel foi construído sobre terras roubadas aos árabes, muitos colonos que viviam em acampamentos receberam suas primeiras casas. Houve caso de gente que entrou em seu novo domicílio encontrando no interior bens que eram anteriormente dos palestinos e árabes expulsos do lugar. Poucos recusaram o novo endereço. Os que fizeram isso disseram que não iriam repetir o que os nazistas tinham feito com os judeus no holocausto.

Quem tem Netflix em casa deve ver lá a série "All the Light We Cannot See". Passada numa pequena cidade francesa ao lado do mar, denuncia os dramas dos moradores ao final da II Guerra Mundial, quando os aliados intensificaram os bombardeios sobre toda a região. Eles lançaram panfletos pedindo aos residentes para irem embora e os alemães fecharam todo o perímetro urbano, bloqueando as saídas. Vista pela ótica de uma garota cega, a história mostra como foram didáticos os ensinamentos nazistas para boa parte dos judeus que pouco tempo depois viajaram para invadir as terras dos palestinos.

O que os israelenses fazem hoje escudados pelo fato de o Hammas ter cometido o desatino de matar mais de 1.400 pessoas, é a repetição da essência da ideologia nazista que partia do princípio de que os judeus eram serem inferiores, responsáveis por todos os males da Alemanha e por isso mereciam ser exterminados. Gaza é agora, nesse momento, a repetição de uma tragédia. O que estamos vendo é a solução final para o caso palestino.

Muitos daqueles que sofrem no dia-a-dia o terror de Israel não aceitam mais que suas palavras se transformem em mel. Preferem morrer a passar por isso. E em consequência as crianças se tornam as maiores vítimas. Como aconteceu no primeiro holocausto.   

3 de novembro de 2023

Os perigos do 15 de novembro


Se a memória presente do Brasil for apagada e daqui a um século nós tentarmos explicar aos que nos sucederem o que significa a foto acima, ninguém vai acreditar. "Brasileiros em oração para um pneu? Você só pode estar delirando!" E nos perguntarão como tivemos a ideia de fazer montagem fotográfica de tamanho mal gosto. Mas tanto a imagem é real que imbecis das mais diversas matizes pretendem repetir os fatos no próximo dia 15 de novembro, tornando a comemoração da República uma pantomina golpista.

Essa gente precisa ser detida. O que está sendo arquitetado para a comemoração dos 134 anos da República não é manifestação de liberdade de expressão; trata-se de um ato de golpismo explícito e isso é muito perigoso. Há exemplos aos milhares do que está sendo feito. Cito um: corre na internet a foto de um bolsonarista pedindo um "novo 08 de janeiro", conclamando os brasileiros a "enquadrar as forças de segurança" e, por fim, avisando que desta vez eles pretendem "tomar o país de volta". Isso não é engraçado. Isso é crime e quem comete crimes tem que ser preso e processado.

Estamos vivendo uma época na qual os imbecis comandam a maioria dos atos nas sociedades. Por omissão. Agora mesmo estou tendo que questionar por via judicial uma ilegalidade cometida pelo condomínio onde moro e através da qual se tenta me impedir de exercer o direito de emitir opiniões, inclusive de forma jocosa. Isso é lícito porque nos tempos atuais somente o jocoso encontra paralelo com o que é mostrado todos os dias aos cidadãos. Pode-se comparar esse fato e muitos outros com a imagem ridícula de milhares de pessoas rezando e cantando o Hino Nacional Brasileiro diante de pneus em frente a quarteis.

No próximo dia 15 essa gente tem que ser detida. Existe a possibilidade de incidentes, sobretudo em estados onde os governadores são apoiadores não disfarçados do golpismo criminoso, como são exemplos São Paulo e Rio de Janeiro, duas das mais importantes unidades da Federação. Conter esse tipo de crime, responsabilizar quem o comete e quem o incentiva não é impedir a liberdade de expressão. É lutar pela manutenção do Estado Democrático e de Direito. Nele, todos somos discípulos das leis e da ordem.

Mais: respeitar as leis não é uma opção. O respeito às leis é ato coercitivo, quer gostemos ou não delas. 


24 de outubro de 2023

O massacre do futuro

Que futuro ela tem?

Vejam na foto ao lado o olhar perdido da menina palestina numa Gaza arrasada por bombardeios. Talvez ela nem tenha a exata noção de sua tragédia pessoal e coletiva. Ao contrário das crianças israelenses, que vivem numa sociedade capaz de fornecer aos cidadãos tudo o que eles necessitam, essa garotinha que mora (?) no imenso gueto chamado Faixa de Gaza não tinha quase nada mesmo antes de começarem os bombardeios de Israel contra seu miserável pedaço de terra.

Ela não sabe o que quer dizer Hammas. Ela não entende porque homens e mulheres armados até os dentes vão ou não tomar conta do que restar de sua cidade ao final do projeto determinado pelo primeiro ministro de Israel, Benjamin Netanyahu. Talvez nem sequer esteja viva hoje, porque essa foto é do final da semana passada. Durante a I Guerra Mundial, entre 1914 e 1918, a perspectiva de vida de um piloto de caça era de oito dias. Passou-se mais de um século desse tempo e hoje no amontoado de tijolos onde ficava a casa da garota essa expectativa é provavelmente menor. Que tragédia!

Um dia desses escrevi que o Gueto de Gaza poderia ser comparado ao Gueto de Varsóvia, esse durante a II Guerra Mundial. Alguns sionistas se insurgiram e classificaram a comparação de inadmissível. Não é! Durante o conflito mundial de 1939/1945 a então invencível máquina de guerra da Alemanha nazista massacrou milhões de judeus que não tinham como reagir. Agora - ironia do destino! - a poderosa máquina de guerra israelense subjuga e trucida palestinos que não têm como reagir.

Na ONU, pessoas que nunca foram à guerra discutem o futuro palestino numa situação em que o Estado de Israel é incapaz de reconhecer aquela etnia como um povo digno de possuir seu país, e sequer chegam a um acordo em torno de colocarem no papel que o cessar fogo é imperioso. Os senhores da guerra estão insatisfeitos. Eles ainda podem garantir muitos lucros à sua indústria bélica até as agressões chegarem ao fim e também têm um campo vasto para testar armas novas e capazes de matar a cada dia mais gente que não pode se defender delas. O céu é o limite na luta pelo massacre do futuro!

Bastava que a decisão da ONU de dois povos e dois estados para aquela região palestina tivesse sido comprida em 1948 e nada disso estaria acontecendo. Provavelmente judeus e palestinos viveriam em paz dentro das suas fronteiras e sem querer tomar terra alheia com o uso de força militar. Na foto da menininha que ilustra esse texto ela tem alguma coisa em uma das mãos. Um doce? Um brinquedinho? O que seria? 

Mas que futuro ela tem? Muito menor do que o objeto na sua mão esquerda. 

23 de outubro de 2023

Senhores da guerra


O ex-chanceler alemão Gerhard Schröder decidiu romper o silêncio e deu declaração afirmando que o governo dos Estados Unidos impediu a Ucrânia de chegar a um acordo de paz que teria encerrado o conflito com a Rússia, isso em março do ano passado. Segundo Schröder, a Casa Branca ligou para Zelensky enfatizando que os ucranianos deveriam "avisar os americanos" sobre tudo o que era discutido com a Rússia. Como todo mundo sabe, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, tenta destravar no Congresso de seu país uma ajuda militar bilionária tanto para ucranianos quanto para israelenses.

Joe Biden, Volodymyr Zelensky, Vladimir Putin e Benjamin Netanyahu são os senhores da guerra. E por motivos pecuniários, já que a indústria bélica das maiores potências se alimenta das guerras nas quais as vítimas são sempre crianças que acabam nos braços de pais desesperados como essa da Palestina, em foto feita na Faixa de Gaza.

Quando uma parte do território palestino foi destinado aos judeus em 1948 para nele ser fundado o Estado de Israel, ficou decidido também pela ONU que o Estado da Palestina seria criado quase ao mesmo tempo. Isso jamais aconteceu! E hoje as forças militares mais poderosas do mundo e que classificam como terroristas grupos radicais islâmicos e palestinos, jogam pesado militarmente falando para ajudar Israel a destruir de uma vez por todas os palestinos como etnia e/ou nacionalidade. Obviamente, um ataque como o perpetrado pelo Hammas contra civis de Israel no último dia 07 constituiu crime de guerra e também uma insanidade. Mas ao longo de 75 anos os palestinos e árabes das regiões tomadas a países da região para a criação do Estado Judeu foram alvos de crimes ainda maiores e igualmente cruéis. Exemplos existem às centenas...

E enquanto hoje muitos "intelectuais" de ocasião se apresentam para mostrar falsa sapiência em assuntos ligados ao Oriente Médio e seus problemas, todos se esquecem de dizer que a simples criação do Estado da Palestina nos moldes determinados pela ONU logo após o término da II Guerra Mundial teria evitado todo o banho de sangue que nós vemos diariamente. Mas isso nunca foi aventado, nem mesmo pelos falsos "intelectuais" porque os maiores interesses em jogo são os da indústria bélica e é ela quem sustenta no poder Biden, Putin, Zelesnki, Netanyahu et caterva.

Agora mesmo mais uma tentativa de paz está para ser agendada na ONU e mais uma vez os Estados Unidos deverão exercer seu direito de veto argumentando qualquer coisa. Não importa qual seja. Afinal de contas, armas precisam ser vendidas a preço fechado, não importando quantos possam morrer. Há interesses maiores maiores em jogo. Netanyahu impedir que a Suprema Corte de Israel o condene por crimes financeiros é um deles. E se mais palestinos ou israelenses tiverem que perder a vida em consequência disso, fazer o quê? São coisas do jogo de poder dos senhores da guerra.                    

                 

18 de outubro de 2023

Banho de sangue


Pegue de um lado um presidente comandante da maior força militar do mundo e disposto a tudo para se reeleger e junte a ele um primeiro ministro com medo de ser preso após responder a processos por corrupção. O primeiro quer mais quatro anos de chefia de Estado e o segundo precisa agradar a extrema direita para continuar no poder e castrar o judiciário. Fez isso? O resultado será um banho de sangue.

Nem Joe Biden nem Benjamin Netanyahu estão minimamente preocupados com os palestinos. Que morram todos eles! Netanyahu tem que agradar a extrema direita judaica que quer o extermínio do Hammas e fará tudo para que seu projeto de impunidade sobreviva. Já Biden tem pela frente um Donald Trump que pode apeá-lo do poder nas próximas eleições presidenciais. Ambos jogam um jogo de sobrevivência no qual tudo o mais é mero detalhe. O resultado já é um banho de sangue.

O Hammas fez um favor a ambos atacando Israel no dia 07 último e matando mais de mil pessoas. A imensa maioria era constituída por civis, jovens em uma festa rave e crianças em kibutz. Um crime inominável, que não pode ser explicado. Ou pode?

Uma jovem estudante de medicina da região, que mora na Cisjordânia e tem que estudar em Jerusalém conta ter que atravessar todos os dias vários bloqueios militares para se deslocar de Hebron, onde reside, para a faculdade. Em entrevista à CNN Portugal disse sob pseudônimo que humilhações, agressões e mortes ocorrem há décadas. Completou: "Mas nos últimos anos, com tudo o que Israel tem feito, não vou dizer que me fizeram desistir de uma solução pacífica, mas foi crescendo uma raiva e agora confesso que quero vingança, têm morrido muitos palestinianos e quero vingar-me. Por isso, para dizer a verdade, naquele momento eu não tive pena dos israelitas que morreram. Eu pensei que era merecido. Mas no minuto a seguir veio o medo porque nós sabíamos que Israel iria reagir e atacar a Faixa de Gaza". A entrevista é longa, mas basta esse trecho da fala daquela que em pouco tempo será médica.

São 75 anos de humilhações e violências várias. Com massacres inclusive, como em Sabra e Chatila. Um dia as pessoas explodem. E quando acontece isso na cabeça de guerrilheiros radicais, também explodem foguetes e disparam metralhadoras.

Hoje mesmo, enquanto o presidente do Estados Unidos e o primeiro ministro de Israel, juntinhos, produziam falas para seus públicos, também reforçavam o discurso de afirmação de inocência. Eles juram de pés juntos que a bomba lançada sobre um hospital da Faixa de Gaza que também abrigava refugiados foi um engano de "terroristas do Hammas". Peritos em explosivos afirmam que os foguetes desse grupo não têm esse poder de destruição. Quem tem é a bomba Mark 84 - foto -, de uso das forças armadas israelenses. E quando o hospital explodiu, durante algum tempo Hananya Naftali, "digital influencer" do governo de Israel postou nas redes sociais que o bombardeio havia sido de seu país. Sete minutos depois apagou o post.

Quando duas figuras como Biden e Netanyahu se unem o banho de sangue é imenso. Tão grande quanto as versões que precisam ser construídas depois.

11 de outubro de 2023

"A banalidade do mal"


"...a maldade não se dá por causa da natureza de caráter ou de personalidade, mas sim pela incapacidade de julgar e conhecer as situações, os fatos, as estruturas e o contexto" (Hanna Arendt).

É difícil dizer como e quando vai terminar o atual conflito entre israelenses e palestinos no Oriente Médio. Talvez quando mais uma carrada de inocentes estiverem mortos sob o solo de Israel ou do que ainda resta da Palestina, sobretudo na Faixa de Gaza. E talvez nesse dia seja o caso de o Tribunal Internacional de Crimes de Guerra em Haia, nos Países Baixos, decretar a prisão de Benjamin Netanyahu, primeiro ministro de Israel. Sim, porque até lá os principais líderes do Hammas, uma organização radical, estarão mortos.

Quando Yitzhak Rabin foi assassinado com dois tiros dados pelas costas na Jerusalém de novembro de 1995 faltavam apenas duas assinaturas - a dele e a de Yasser Arafat - para ser assinado um tratado de paz entre Israel e a Palestina com a criação do Estado Palestino e o reconhecimento de Israel por parte deste. Tudo havia sido costurado com o então presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton, e com a presença dos dois chefes de governo. Mas quem matou Rabin? Foi um palestino inconformado e membro de organização criminosa? Não. Foi um terrorista judeu que não queria a paz e o reconhecimento do novo Estado. E ele teve êxito porque tudo naufragou enquanto Yitzhak era baixado à sepultura.

Hanna Arendt, genial filósofa alemã que escreveu muitos livros ainda hoje referências para quem deseja conhecer a alma humana, gerou "A banalidade do mal" após acompanhar o julgamento em Jerusalém do maior criminoso de guerra alemão capturado, isso em 1961. Fez "O julgamento de Eichmann" em seguida a esse júri. Ela não atribuía o mal aos nazistas, mas sim a burocratas zelosos incapazes de pensar por si. Como os de hoje...

Eles existem em todos os lugares. Basta procurar e a gente os encontra fantasiados de Netanyahu, por exemplo. Penso que na tragédia do Oriente Médio existem componentes extras como os 75 anos de destruição sistemática dos lares e da nacionalidade palestina desenvolvida por Israel. Arendt considerava Eichmann um novo tipo de criminoso, um hostil e que se desenvolveria ainda mais em outras pessoas. Para ela, "moralmente falando, não é menos errado sentir culpa sem ter feito alguma coisa específica do que sentir-se livre de culpa tendo feito efetivamente alguma coisa".

A judia Arendt, que morreu do coração enquanto se reunia com amigos, foi criticada em Israel e xingada de todos os nomes por aqueles que não entenderam - ou não quiseram entender - seus princípios. Fica dela nesses tempos sombrios seu pensamento mais famoso em "Origens do Totalitarismo": "A essência dos Direitos Humanos é o direito a ter direitos".

Nós vivemos novos tempos de banalidade do mal!

9 de outubro de 2023

"Céu de bombas"

Permitam-me iniciar esse artigo com um poema disponibilizado ontem por meu amigo, meu cardiologista e meu confrade de Academia Espírito-santense de Letras (AL), Jorge Elias Neto. O título é "Céu de Bombas":

Por que choras por mim meu pai?

Cumpri com o que me coube

nessa Gaza de feras.

Em cada criança morta , sacrificada,

um objetivo insano.

Despeço-me do dia

sob flashs e bombas.

Uma fome doentia

molhou teu corpo com meu sangue.

Estrelas dos profetas cruzaram os céus

e pulverizaram os créditos de minha infância.

A ambição de poder comeu meu destino.

Com a força, roubaram-me o sorriso.

Meu pai, nem sei perguntar por quê.

Não tive tempo para me nutrir de ódio.

Pensando bem pai,

que às lágrimas partam.

Transpareças a indignação em teu rosto

nas telas indiferentes do Mundo.

Sobretudo, crê pai,

crê no triunfo do olhar de tua filha,

fosco de morte,

 voltado para esse lindo céu,

reluzente de bombas,

nessa noite de domingo de fúria.

Esse poema, feito ontem, é um lembrete. Jorge Elias, o poeta, ficou traumatizado em ver um pai sair de escombros da casa onde morava com o cadáver da filha nos braços. Estavam em Gaza (vejam-na na foto) e isso não aconteceu no ultimo sábado, ontem ou hoje, segunda-feira. É fato passado e se refere a um dos massacres covardes de palestinos perpetrados pelo terrorista Estado de Israel.

Em tempo: foi insano, desumano e sobretudo totalmente despido de inteligência emocional o ataque do Hamas a civis de Israel. Quando faz isso o grupo paramilitar acantonado em Gaza joga uma pá de terra no apoio internacional que sua causa poderia ter ao menos na maior parte das nações, sobretudo as ocidentais.

Mas isso não vai apagar o fato de que Israel, em sua política expansionista, segregacionista e covarde luta para tirar os palestinos de sobre a face da terra. Estou falando de todos os judeus e de todos os moradores de Israel? Não. Apenas do extremismo de direita que hoje ocupa o governo daquele país e tenta até mesmo golpear a Justiça para que um primeiro ministro corrupto se livre das penas por seus crimes.

É preciso que as consciências das pessoas e das nações julguem os horrores perpetrados por israelenses desde o início da historia daquele país até hoje. Antes que os palestinos sejam totalmente exterminados. E antes que a extrema direita judaica se lembre de que só escapou do extermínio nazista porque nasceu ou se se tornou adulta bem depois daquele tempo (não consigo entender como um judeu pode ser fascista!).

O Hamas é uma criação de Israel. Quem, planta, colhe!                               

7 de outubro de 2023

O estado terrorista

Retalhos de "Guernica", obra fantástica de Pablo Picasso, mostra o holocausto palestino em 1982

Nunca haverá paz no Oriente Médio enquanto o Estado da Palestina não for constituído e reconhecido pela comunidade internacional, o que inclui Israel. E também quando, paralelamente a isso, os dois estados fizerem um pacto de não agressão que garanta vida segura às duas comunidades. Até lá teremos que conviver com o inaceitável: uma situação na qual homens e mulheres - o que envolve idosos e crianças - são mortos todos os dias em atos de agressão. E muitos mais do lado palestino, pois Israel possui uma das forças armadas mais modernas do mundo, inclusive com armamento nuclear jamais admitido, mas ainda assim aceito passivamente pela comunidade internacional.

Mas os judeus nunca aceitaram a Palestina independente e Israel promove terrorismo de Estado.

Sempre que penso na situação do Oriente Médio, onde agora mesmo inocentes estão sendo mortos, recordo-me do episódio de Sabra e Chatila, as comunidades palestinas no Líbano massacradas no ano de 1982, entre 19 e 20 de setembro. Eram homens, mulheres e crianças indefesas, mas isso não impediu o ataque. Para resumir, a milícia  maronita de extrema direita liderada por Ellie Hobeika invadiu os campos de refugiados e assassinou cerca de duas mil pessoas - não há números exatos - sem resistência porque o Exército israelense cercava todo o perímetro, apoiando a violência e impedindo a entrada de socorro.

Foi o único episódio? Não. Centenas de outros já foram registrados ao longo dos anos. Em várias dessas vezes colonos israelenses armados mataram civis palestinos, inclusive em cidades e aldeias. Crianças acabaram mortas. Idosos também. Em muitos casos os ataques eram feitos por forças armadas e com o uso do armamento convencional mais moderno que existe, grande parte dele produzido no estado judeu graças a apoio ocidental.

Quando Israel foi criado em 1948, com voto decisivo do Brasil na ONU, ocupou parte do território palestino. Ninguém perguntou a esses se concordavam, nem aos países islâmicos vizinhos. E ao longo dos anos os israelenses sempre somaram ilegalmente territórios à sua pátria dada de presente. De uns 40 anos para cá é comum a ocupação de terras, sobretudo na Cisjordânia, para assentamentos. Todos avançam sobre áreas palestinas e até mesmo a mais inocente das pessoas sabe que os judeus nunca tiveram em mente conviver com a Palestina como estado independente. Ainda mais agora com Nini Netanyahu no poder e cercado por uma extrema direita que quer matar todos os "inimigos".

Sempre que um ataque acontece nem é preciso imaginar de que lado ele vem. Se os jornais, rádios e TVs ocidentais disserem que foram "terroristas" os atacantes, ele veio do lado palestino. Se disserem que foi obra de "radicais", foi praticado por Israel. Isso, obviamente, não acaba com o conflito, mas sim o aguça. Ou haverá naquela região duas bandeiras nacionais tremulando lado a lado onde hoje se mata ou a matança vai continuar.

Não há outra alternativa.                          

4 de outubro de 2023

Meu STF minha vida


O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, chegou a ser cogitado para a vaga da ministra Rosa Weber, que se aposenta por idade. Ficou maleável, "amigo" do presidente Lula até o dia em que o ministro da Justiça, Flávio Dino, passou a ser considerável favorito à vaga. Então Pacheco se aliou àqueles que querem acabar com o "ativismo" do Supremo e passou a apoiar projetos como o do Marco Temporal, mandato para ministros da Corte, etc. O presidente da Câmara, Arthur Lira, pratica outro jogo. Tenta emparedar o governo com a ocupação de cargos de primeiro escalão para o Centrão. Sabe que só chegará ao STF como réu e quer jogar jogo pesado para evitar isso por via indireta.

O objetivo de todos eles é o poder. Só isso. E o presidente Lula erra ao postergar indicações que são suas, somente suas, talvez querendo ver os opostos de digladiarem. É um equívoco. O certo seria nomear logo os sucessores, acabar com as picuinhas em torno de assuntos como também esse da PGR, e se concentrar no que realmente interessa: governar para que o Brasil volte definitivamente, e bem, ao cenário mundial.

Lula também erra ao dar munição para uma oposição vergonhosamente raivosa e mentirosa. Por exemplo, ao permitir que sua mulher, Janja, vá a intervenções de Estado em seu lugar. Ela não tem mandato, gosta de ocupar espaço e se envolver em ações de governo. Também não está certo. Se as decisões sobre indicações fossem rápidas e a "primeira dama" se mantivesse no estrito exercício de suas funções protocolares tudo seria menos difícil para o presidente nesse cenário tóxico dos dias de hoje.

Tudo o que está sendo feito pelo Legislativo para confrontar o Judiciário, por intermédio ou não de Rodrigo Pacheco, é inconstitucional e vai cair mais adiante, Não pode prosperar. A mim parece que o novo presidente do STF quer evitar um confronto direto e tenta fazer chegar ao Legislativo algumas indicações sobre como e onde parar. Caso contrário ele terá de ser parado. Não existe "ativismo" judicial e o Judiciário só age quando provocado, ocupando justamente o espaço da inércia do Legislativo, sobretudo da Câmara, que funciona de acordo com interesses pessoais ou corporativos, fugindo de assuntos "espinhosos". Mas espinhos existem em toda a atividade humana. Em muitas delas são chamados de sapos.

O STF é o sonho da vida de muita gente, mas lá só cabem 11 e com mandato vitalício. Tentar confrontar a Constituição, a história nos mostra, é condenar as ações ao fracasso. O STF não será a vida de Arthur Lira e está na hora de o Executivo enfrentar a Câmara nos sonhos como o de ela ter a Caixa Econômica Federal de "porteira fechada". As porteiras de Lira ele as tem nas fazendas de gado nelore, compradas sabe-se como.

Tudo o mais é luta por mais e mais poder. No nosso Legislativo as goelas são enormes e todos querem o dinheiro do contribuinte. Mas é hora de dizer basta. 

27 de setembro de 2023

O "meretríssimo"


No pouco tempo em que lecionei para curso superior, vi estudante de Direito chamando juiz de "meretíssimo" em vez de meritíssimo e, num caso, jurou para mim outro professor universitário, alguém grafou "meretríssimo". E não era ironia, mas sim ignorância da mais pura. Pior, a essa altura é provável que algumas dessas pessoas já estejam advogando com o mesmo nível de qualidade dos "adevogados" flagrados pelas câmeras da TV Justiça no julgamento dos primeiros condenados no STF pelos crimes do 08 de janeiro.

Como o ex-juiz Sérgio Moro (foto) que quase enganou um pais inteiro quando "comandava" a Lava Jato durante os supostos combates aos crimes de corrupção ajudado por Deltan Dallagnol et caterva. Ele e sua "conje" estão hoje no Congresso Nacional. Ele como senador e ela na qualidade de deputada federal. Ambos protegidos pelas imunidades parlamentares que, no Brasil, geram excrescências como o deputado Nikolas de tal, um dos ignorantes aplaudidos quase todos os dias pela extrema direita que colocamos no poder. Impunemente!

Sérgio Moro começou a ser desmascarado quando deixou o Poder Judiciário trocando-o pelo Executivo. Virou ministro da Justiça do ex-presidente genocida e inelegível na cauda de cometa de promessas mirabolantes feitas a ele. Demorou pouco tempo para descobrir que seu chefe só preserva os parentes. Os demais ele descarta quando não servem mais para nada, como foi o caso do então ministro que já havia feito o dever de casa afastando da eleição o candidato que poderia derrotá-lo. Moro teve que renunciar para não ser desmoralizado e, agora nessa condição, conseguiu seu mandato da mesma forma que a esposa graças à ignorância política de grande parcela da população brasileira. Um fenômeno difícil de ser explicado e que hoje avança sobre países como os Estados Unidos, Itália e muitos outros. Uma espécie de doença ruim que vai passar, pois já passou uma vez no século passado, mas não sem antes provocar sérios danos a todos nós.

O Moro senador, acusado de crimes os mais sérios e em vias de ter seu mandato cassado por irregularidades eleitorais, na última vez que falou em público, ontem durante o depoimento do golpista Augusto Heleno, ex-ministro do inelegível, fez uma defesa pouco disfarçada do golpismo de Estado e tentou desqualificar os esforços da CPI que pretende responsabilizar os que buscaram destruir nossa democracia há oito meses, inclusive membros das Forças Armadas. E ao estilo rasteiro daqueles que não respeitam a Constituição.

Bem como faz um "meretríssimo"... 

Pior, vai ser condenado ao longo dos tempos a ver o advogado Cristiano Zanin Martins ocupando a cadeira que queria para si no STF. E ainda podendo vir a ser um dia julgado por este. Bem feito!                      

24 de setembro de 2023

Aborto é questão de miséria


Impossível lembrar quando isso aconteceu porque éramos crianças. Um belo dia papai chamou um táxi e nos mandou a todos, mamãe e os cinco filhos, para a casa de um seu irmão, meu tio e padrinho. Dá lá só sairíamos tarde da noite. Era o ato final de uma tragédia que desabou sobre nossa família. E tudo porque a empregada havia engravidado sem programar, não teve meios de interromper e gravidez, apertou a barriga até onde não mais podia e acabou dando à luz dentro de casa, no quarto onde dormia. A criança nasceu morta e foi escondida debaixo da cama. Era intenção dela tirar de lá e descartar o feto tão logo fosse possível, mas uma hemorragia forte a impediu de fazer isso. Mamãe, que não sabia da gravidez, viu aquilo e pediu a meu pai para levar a mulher a um hospital das proximidades para que fosse avaliada.

"Onde está a criança? Já chamamos a Polícia!", disse o médico secamente ao meu pai. Então o velho pediu para entrar e perguntou à mulher o que havia acontecido. Ela disse que engravidara do namorado, sem condições de criar o filho. Tentou aborto em clínica clandestina, mas não tinha dinheiro para pagar. Escondeu sua condição de grávida pelos nove meses, sempre atando a barriga fortemente com uma faixa para parecer que apenas estava ficando gorda. Matou o filho, que nasceu espontaneamente. A Polícia foi até nossa casa, recolheu o cadáver e ainda houve um inquérito que deu um trabalho danado. Foi um trauma para muita gente e a pobre mulher nunca mais apareceu por lá.

Sempre que ouço discussão em torno do assunto aborto eu me lembro dessa história. A questão, ao longo dos anos, é colocada em pauta sempre e conservadores, evangélicos extremistas, católicos "romanos" e aproveitadores os mais variados entram no assunto para prometer o inferno após a morte àqueles que apoiarem a pauta. E os que a combatem nunca precisaram de clínicas clandestinas. Abortam em consultórios de aborteiros, longe da opinião pública e ponto final. Ou então fazem isso na Europa onde é mais tranquilo porque em alguns países a prática é legal. E ainda dão um belo passeio pelo Velho Continente...

Esse tema foi votado pela presidente do Supremo Tribunal Federal, a ministra Rosa Weber, que é a favor da descriminalização do ato até a 12ª semana de gravidez. Corretamente! O pleno vai decidir a questão sob fogo cerrado de extremistas que não sabem o que é viver e morrer na miséria. Os miseráveis são pessoas que não temem ser excomungados porque já estão no inferno desde o nascimento e vão ficar nele até a hora da morte.

Mas para os aproveitadores de ocasião, aqueles que hoje abundam no Congresso Nacional prometendo até boicote a esse mesmo Legislativo caso a questão da demarcação das terras indígenas não atenda a seus interesses pecuniários, abrir mais uma frente de luta e atender a interesses muitas vezes inconfessáveis porque escusos, vale muito a pena. E vale porque significa votos daqueles que defendem seus pontos de vista sem olhar para o mundo excomungado dos que passam fome e são alvo de todas essas violências das quais são vítimas durante a vida. Descriminalizar a aborto é permitir que eles possam viver sem o risco de sofrer processos como sofreu a empregada de meus pais. Os demais podem ficar tranquilos; vão passar o resto de seus dias abortando agora legalmente, aqui ou no exterior. Já os que honestamente são contra esse ato não vão aderir à prática, alias como já fazem normalmente. Na sociedade laica continuarão com esse direito, mas sem impor suas crenças aos demais.

Viram como é simples? E nem será necessário ver Jesus no pé de goiaba!    

20 de setembro de 2023

Sim, o Brasil voltou!

Só mesmo fanáticos, pessoas desconectadas da realidade não conseguem ver que o Brasil de hoje é totalmente diferente do deixado no primeiro dia de janeiro último pelo ex-presidente que ocupou o poder por quatro anos sonhando com um golpe de Estado. A passagem do presidente Lula por Nova Iorque e seu discurso de ontem na ONU (foto) são provas de que nosso país está reinserido no contexto internacional, faz parte de um esforço globalizado de integração mundial, luta pela democracia e preservação do meio ambiente. Não é pouco!

Sim, o Brasil voltou!

Quer a gente faça objeções ao presidente Lula, por exemplo para dizer acertadamente que ele às vezes mete os pés pelas mãos em improvisos, quer queiramos afirmar que seu apoio a governos como os de Cuba e Venezuela representam erros, o que não é verdade, acaba sendo inevitável aceitar que seu esforço em prol da defesa do Brasil é meritório. Apoio incondicional a Lula somente setores mais radicais do PT fazem. Mas apoiar sua determinação de dar protagonismo ao nosso país no concerto das nações e promover o desenvolvimento dos mais diversos setores através de sua luta diária não pode ser evitado.

Continuamos hoje a ser alvos de ações de fake news inimagináveis. Até gente inteligente e supostamente bem informada é capaz de crer que em Nova Deli o presidente furtou três canetas que estavam na mesa dos trabalhos e as colocou na bolsa de sua esposa Janja. Tratava-se de lápis e um bloco de anotações dados de presente pelo governo indiano a todos os participantes do encontro. Da cimeira, como também se diz. Da mesma forma a extrema direita se concentra em custos de hospedagens, de viagens e outros para atacar as ações da presidência. Em viagens internacionais, sobretudo para ações de governo, a hospedagem do chefe de Estado é feita obrigatoriamente onde há facilidade de segurança. Agora mesmo, em Nova Iorque, Lula está em um hotel junto com mais 12 chefes de Estado, inclusive o presidente do Irã. Claro que a segurança é máxima e a concentração das pessoas, obrigatória.

O Brasil hoje ocupa a presidência do Mercosul, do G20 e G77. É muita coisa, mas nós todos ganhamos com isso. No discurso na ONU Lula foi interrompido sete vezes com palmas, o que é importante e inédito no nosso caso. Ele ganhou o direito de errar de vez em quando, mas não deve abusar. Depois de tirar um sociopata da presidência, pode escorregar um pouco. Estamos no bom caminho e agora basta deixarem o homem em paz, apenas alertando-o todas as vezes em que passar dos limites, sobretudo na fala. 

Porque o Brasil voltou!
    

15 de setembro de 2023

O pauperismo político


Henry Waldir Katwinkel (foto), advogado de Thiago Mathar, um dos condenados pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no julgamento dos crimes do dia 08 de janeiro era um desconhecido. Mas ficou triste e hilariamente famoso quarta-feira ao defender (?) seu cliente e, no afã de atacar o Supremo, dizer que o pensamento "os fins justificam os meios" é do livro "O Pequeno Príncipe", em vez de "O Príncipe". Por sinal, só existe algo próximo disso em "Comentários às décadas de Tito Lívio". Confundiu Nicolau Maquiavel com Antoine de Saint-Exupéry. Não imagino quem teria ficado mais chocado com esse fato caso um dos dois ou ambos fossem vivos.

Esse advogado é a imagem de nossa extrema direita: sobretudo rasa, raivosa. E foi secundado, se posso usar esse termo, por uma advogada aparentemente novinha e que disse um dia ter tido o sonho de se sentar em uma das cadeiras de ministra do Supremo. Eles todos, pode-se dizer que quase sem exceção alguma, são de um pauperismo intelectual que agride. A advogada chorou enquanto falava aos ministros e pediu por seu cliente dizendo que ele não passa de um menino. Muito minado, talvez.

Hoje mesmo li em um dos nossos grandes jornais que um terço dos eleitores brasileiros votou no PL, Republicanos ou União Brasil nas últimas eleições. Seriam cerca de 73 milhões. Se contarmos com o fato de que Novo, PP e outros menos cotados também habitam esse espectro político podemos concluir que esse terço dos brasileiros é constituído por conservadores. Talvez sim, talvez não. Mas não são fascistas em sua grande maioria. Existe muito antipetismo misturado a esse grupamento e também um imenso contingente de pessoas levadas a uma oposição a tudo o que possa cheirar a esquerda. E por influência de entidades evangélicas que são tudo menos igrejas.

Vamos levar muito tempo para vencer essa situação de penúria em termos de pensamento político, sobretudo e principalmente porque vivemos numa época em que o proselitismo está muito enraizado no jornalismo brasileiro, até mesmo nos meios de Comunicação mais tradicionais. Obviamente eles não são desonestos como os produtores diários de fake news as mais diversas, mas contribuem para a desorientação.

E até que o Brasil acorde de sua turbulenta noite de pesadelos variados no terreno da vida política de dia-a-dia, teremos que tocar o barco vendo as chamadas "redes sociais" inundarem os corações e as mentes dos brasileiros, principalmente os mais influenciáveis, com cocô de galinha concretizado como um turbilhão de mentiras capazes de fazer corar os mais idosos. É o nosso destino. Enquanto não vencemos esse inimigo e conseguimos gerar líderes políticos de excelência, resta-nos assistir vez ou outra à apresentação caótica de um Katwinkel qualquer em julgamento de criminoso político.

Dá vontade de rir, mas também de chorar.   

11 de setembro de 2023

Salvador Allende, presente!


Há 50 anos não havia internet, Whatsapp, nada do gênero. E no dia 11 de setembro de 1973, a exatos 50 anos acompanhamos os fatos relacionados ao assassinato do presidente chileno Salvador Allende pelas agências de notícias ou TVs. No mesmo dia, referindo-se ao episódio, a Polícia Federal entregou nas redações de todos os meios de Comunicação do Brasil a mensagem seguinte: "De ordem do sr. Ministro da Justiça fica proibida divulgação de criticas, por todos os meios, à Revolução naquele país".

Allende não aceitou se render. Desculpou-se com o presidente cubano Fidel Castro, que disponibilizaria um avião para levá-lo a Havana, e também não usou aeronave da Força Aérea Chilena para fugir com o rabo entre as pernas para os Estados Unidos na véspera do golpe de Estado como fazem os canalhas. Reunindo a seu lado os membro do GAP (Grupo de Amigos Personales) que aceitaram ficar com ele até o fim, se entrincheirou no Palácio de La Moneda onde enfrentou os fascistas até ser morto. Augusto Pinochet, o golpista, tomou o poder. A foto acima, com Allende no centro e de autor desconhecido, documenta o fato. 

Na única vez em que estive em Santiago, depositei uma rosa vermelha na sepultura de Allende. Se algum fascista pensa fazer o mesmo com Pinochet, esqueça. Sua carcaça foi queimada e as cinzas jogadas num lugar desconhecido. Quando estava parado diante da cova do grande presidente socialista chileno, uma senhora idosa que acompanhava a cena ao longe dirigiu-me um sorriso terno, mas sem se aproximar. Ainda não era muito seguro.

Durante todo o dia 11 de setembro acompanhei o noticiário da morte de Allende pela agência France Press. O jornal A Gazeta também assinava a UPI, mas dela eu me mantive distante. Lembrei-me da guerra do Vietnã e do fato de que sempre morriam mais vietcongs nos noticiários daquela agência. No dia seguinte os informes dos jornais brasileiros diziam que a deposição do comunista Allende no Chile havia "devolvido a democracia àquele país".

Estranho, porque ele era o presidente constitucionalmente eleito e havia governado respeitando a Constituição do Chile. Mas o governo da ditadura brasileira e que havia sido cúmplice dos Estados Unidos no golpe de Estado haveria de premiar todos os seus aliados incondicionais. No caso da imprensa, com publicidade oficial. A Gazeta, por exemplo, que na época se situava na Rua General Osório, no Centro de Vitória, construiria a nova sede da Rua Chafic Murad, em Bento Ferreira, graças a isso.

Caso o leitor queira conhecer mais sobre esses fatos. basta consultar o livro "Os dois últimos anos de Salvador Allende", de Nathaniel Davis (site "Estante Virtual" tem). O autor era o embaixador dos Estados Unidos no Chile, destruiu a carreira mas contou tudo. Sem omitir nada. Um diplomata incorruptível trabalhando junto ao governo do presidente valente deposto era um risco que os EUA não deveriam correr, mas correram. O resultado foi toda a historia ser revelada. Trata-se, até hoje, de um documento valioso.

Salvador Allende, presente!     

9 de setembro de 2023

Esperneiem, podem espernear

Vejam essa reprodução de foto. Ela mostra a capa do jornal Voz da Unidade número 145, de 24 a 30 de março de 1983. A ditadura militar estava no fim, já exangue, mas ainda respirando por aparelhos. E isso graças a todos os fascistas que sobreviviam à custa dela e lutando para que a democracia não voltasse a fazer parte da vida nacional.

Era o esperneio final daqueles tempos que terminariam em 1985, cerca de dois anos depois. Mas não sem antes a camarilha fascista tentar de tudo para se manter no poder. Fez isso com ameaças, com bombas, com gritos de "intervenção militar" e outras coisas mais. Era o tempo das "Marcha da família com Deus pela liberdade" e que escondiam objetivos escusos. A começar pelo fato de que quem defende uma ditadura cruel, sanguinária e de extrema direita não representa luta alguma pela liberdade. Nem pela igualdade social, o que é mais importante.

Quando esse grupamento de canalhas finalmente deixou o poder no Brasil a gente acreditava que o germe do golpismo, do extremismo de direita, da falta de decoro e de vergonha na cara estivesse indo embora junto. Mas não. Ele renasce na figura de um ex-militar medíocre, que só não foi expulso do Exército porque fez um acordo espúrio de última hora e também por ter passado 28 anos no Congresso Nacional como deputado federal corrupto até conseguir o comando da Nação no rabo de cometa de um ódio insano de parte da sociedade brasileira contra o Partido dos Trabalhadores (PT).

Não vou discutir as razões. Acredito que não caiba. Ainda mais porque até hoje a vagabundagem que apoia incondicionalmente o genocida apeado do poder por vontade popular insiste em que ele foi roubado. Não enxerga que o fato de que todo o aparato do Estado foi colocado em favor do derrotado para que ele vencesse a eleição a qualquer custo. E esse objetivo, por causa disso, quase foi alcançado.

Hoje o presidente Lula está na Índia em mais um esforço para colocar o Brasil em destaque no cenário mundial. Seu governo, graças sobretudo e principalmente aos ministros da Justiça e da Economia além dos demais que foram escolhidos por ele e  não impostos por pressão do Centrão, tem desenvolvido projetos de grande valia para os brasileiros. Sobretudo para aqueles que passam fome e até dezembro último não tinham sequer expectativa de sobrevivência. Vamos ajudar esse governo e, mais uma vez, derrotar o fascismo, mesmo com as eventuais incontinências verbais do presidente.

O jornal Voz da Unidade reproduzido acima é meu. Eu o peguei numa banca de jornais e revistas de São Paulo momentos antes de ele ser empastelado pelos "órgãos de segurança" da ditadura. Vou continuar a guardar esse semanário. Bem como as mais caras recordações que tenho do velho e querido Partidão. Mesmo sem ser do PT e nunca ter tido motivos para aderir a essa legenda, lutarei até o fim para o atual governo dar certo. Ele é a única e real garantia que temos para novamente tentar exterminar o vírus de extremismo.

Que eles esperneiem, podem espernear.        

2 de setembro de 2023

Stanislau nunca morreu


“Restaure-se a moralidade ou locupletemo-nos todos!”

Esse pensamento aí acima, logicamente um deboche, pertence a Sérgio Porto, o imortal Stanislau Ponte Preta, e é parte de sua extensa obra muitas vezes humorística e que despia a falta de vergonha do político típico brasileiro. Esse que, hoje, por detrás das cortinas, tenta sabotar o esforço do atual governo para tributar os lucros astronômicos dos chamados "super ricos" e que só são isso porque não pagam impostos.

Procurem reparar: esses políticos que vivem de discursos vazios, defendendo teses sem sustentação na ética e no decoro, fazendo acordos subterrâneos e sustentando a manutenção de todos os privilégios por parte daqueles que os detêm, são os que saem da "vida pública" milionários. Eles discursam todos os dias pedindo, por exemplo, a redução dos gastos governamentais contanto isso não atinja seus artifícios para mandar recursos do contribuinte a suas "bases" via emendas parlamentares e outras modalidades que não passam pelo OK do cidadão e nem são do conhecimento dele.

Os filhotes dessa excrescência são gente como Juscelino Filho, o atual ministro das Comunicações e que só ocupa esse espaço porque, sem isso, o Centrão sabotaria o Estado. Vocês algum dia já ouviram esse sujeito dar uma declaração em nome do Governo? Falar de projetos, princípios, perspectivas econômicas ou então anunciar que o presidente vai fazer isso ou aquilo? Não. E não porque ele foi imposto e a atual administração apenas o suporta no cargo. Mas ele permanece no poder porque assim pode direcionar verba pública aos seus redutos, inclusive para sua irmãzinha prefeita afastada mandar asfaltar a estrada que passa pela fazenda da família.

Sérgio Porto criou vários personagens. Um deles era "Bonifácio Ponte Preta, o patriota", que debochava das ações governamentais de então, todas ligadas à ditadura militar que o governo federal destronado por via eleitoral no final do ano passado tanto prezava. Ele era "patriota" ontem como são os de hoje. Rio até agora recordando-me de quando o Brasil tinha um ministro caricato, o almirante Penna Boto, que certa feita discursou defendendo a invasão da China para que o comunismo acabasse. Stanislau recorreu a seu personagem: "Ao ouvir isso, Bonifácio Ponte Preta, o patriota, espumando de patriotismo, começou a gritar: 'deixa ele ir, deixa ele ir'".

O que nós estamos vivendo hoje é o ápice da falta de vergonha e imoralidade política no Brasil. Essa nossa direita, esse Centrão, essa escumalha é o que nos sabota. Nos atrasa. Sabemos que vai ser difícil destruir esse câncer que o último governo federal tão bem alimentou, fez crescer, mas não há outra saída. Assim como Stanislau nunca morreu, não pode morrer em nós o sonho de resgatar o país com o qual sonhamos.           

23 de agosto de 2023

Deus, o tráfico e as armas


Um belo dia a pastora e pesquisadora ligada à igreja Assembleia de Deus em Nova Iguaçu, baixada fluminense, Viviane Costa, teve uma surpresa em meio a uma aula de teologia em Parada de Lucas. Um aluno disse ter deixado o tráfico e se tornado pastor, a que um outro retrucou se dizendo pastor traficante de drogas e que recebia intervenção divina no combate aos "inimigos". Ela resolveu pesquisar o assunto, conhecer o fenômeno em um mestrado em ciências da religião pela Universidade Metodista até lançar o livro Traficantes Evangélicos: quem são e a quem servem os novos bandidos de Deus.

Em Parada de Lucas mesmo existe um espaço conhecido como Complexo de Israel onde um outro pastor de nome Álvaro Malaquias Santarosa, vulgo Peixão (vejam só!), busca uma associação de nomes sagrados para os cristãos com a violência institucionalizada. Assim como estes há outros. Viviane percebeu que as religiões sempre fizeram parte do mundo do crime e o nome de Jesus vem sendo usado há tempos ligado aos mais diversos contextos de violência. Não são apenas os criminosos que fazem isso: muitos policiais também. Eles são a raiz das bancadas da bíblia que infestam hoje o poder legislativo e dão origem ao que é chamado de fundamentalismo religioso, crença baseada na intolerância e na violência.

Mesmo sem ter base em pesquisas, sempre acompanhei a vida legislativa brasileira de modo crítico, a tentar entender como as diversas correntes de pensamento se associam. Quem faz isso vê hoje que o partido político não é um fim, mas apenas um meio. E que a intenção é chegar ao poder impondo pensamentos que na maioria esmagadora das vezes nada têm de republicanos ou base legal. Dou um exemplo: nada há mais próximo no Brasil político atual que as bancadas da bíblia e da bala. Elas são sócias em interesses que se cruzam no tempo e no espaço. Armamentistas e fundamentalistas religiosos usam a pregação da violência da mesma forma, com a mesma desenvoltura. E se a gente for passar os olhos pela história humana, recente ou não, vai ter que convir que algumas das maiores tragédias da civilização foram cometidas por grupos que agiam e matavam supostamente em nome de Deus.

Ter a consciência de que isso está acontecendo não apenas em nosso país, mas também em muitos outros pelo mundo afora é o primeiro passo para combater essa monstruosidade. Aqueles que professam uma religião têm mais condições de fazer isso que um livre pensador como eu. Mas urge fazer logo. A associação entre crença religiosa, tráfico de drogas e armas de fogo é um risco imenso. E se eu me acho com o direito de matar quem pensa diferente de mim e só por isso, pior ainda.  Nós estamos trilhando esse caminho nos dias de hoje.      

15 de agosto de 2023

Novos ovos de serpente


Faz exatos cem anos que a Alemanha enfrentou a maior hiperinflação de sua história. Foi uma época tão dramática que quando alguém botava as mãos em dinheiro ganho tinha que correr para uma loja e comprar logo tudo o que era preciso e possível. Se demorasse em entrar nas filas os preços poderiam até dobrar (foto). Eram os tempos da República de Weimar, nascida em 1919, após o término da Iª Guerra Mundial quando uma constituição de caráter social e parlamentar foi criada para a transição alemã pós monárquica. A constituição representava um avanço. Tinha preocupações sociais relacionadas ao trabalho, à educação e ao conforto do povo alemão que se preparava para uma democracia representativa. O que deu errado?

Quando a guerra terminou os países vencedores impuseram à Alemanha uma rendição em termos tão draconianos relacionados a indenizações que era impossível pagar. Veio a penúria financeira e o valor do dinheiro deixou de existir. Esse era o caldo de cultura ideal para o surgimento no horizonte alemão de um demagogo capaz de seduzir as massas. Ele chegou na figura de um austríaco, outrora cabo do Exército usando bigodinho ridículo e discursando com muito o ódio e preconceitos raciais. Chamava-se Adolf Hitler. Acabou com a República de Weimar e a democracia em 1933.

Coisa parecida está acontecendo com a Argentina onde domingo foi entronizado um vencedor das prévias presidenciais que em muito e assemelha a esse tipo de gente. Quer acabar com o Banco Central, com o peso, ministérios, quer poder vender órgãos, enfim, fazer uma política de terra arrasada. Não nasceu de espólios de guerra, nem nada parecido com isso. Veio da penúria provocada por políticos incompetentes, corruptos e que levaram os argentinos e enfrentar uma crise econômica sem precedentes. Sem acreditar em mais nada, elegeram o nada.

O problema é que esse tipo de doença pega. Em menor nível consegue ameaçar os Estados Unidos com a figura de Donald Trump, já desembarcou na Hungria, na Itália e anda cercando outros países como a Espanha e, talvez, Portugal. Trata-se de uma pandemia de desesperança que leva povos pouco crentes nas artes da política a acreditaram naqueles que dizem ser contra ela mesmo embarcando nas caravelas dos partidos políticos e das eleições constitucionais para poderem arrotar valentia.

O Brasil tem que tomar cuidado. Um fracasso do governo federal de agora pode nos levar a surfar nessas ondas nefastas. Lutar pelo sucesso - ou ao menos pelo não fracasso - desse governo é apostar em nós mesmos. E nosso futuro. Temos que acreditar que nossas ações não nos levarão a abrir as portas de uma democracia conquistada com tantos esforços ao longo de 21 anos à aventura louca, irresponsável de ver mais um psicopata no poder da República. Já chocamos ovos de serpente em passado não muito remoto de nossa história. Chega disso. Todos atentos, então.              

10 de agosto de 2023

É isso o que nós queremos?


- Qual é a senha?

Ele não sabia de senha alguma. Morava na pensão onde foi preso. Na entrada do lugar estava afixado o prato do dia. Lá haviam sido escritos feijão, arroz, bife, salada, macarrão, coisas como essas. Os policiais que o prenderam pensaram que aquilo era uma senha terrorista e levaram o pobre fotógrafo Gildo Loyola Rodrigues para um quartel. Ele foi cruelmente torturado. Um militar, ao notar que um de seus dados estava machucado, falou: "Vamos machucar mais!" E literalmente esmagou aquele dedo com a coronha do fuzil. As torturas foram tão fortes que Gildo precisou fazer tratamento psiquiátrico  por longo tempo depois de solto. E sequelas ficaram.

Um dia entrevistei meu velho amigo para uma revista de cultura, "A angaba", que infelizmente teve vida curta. Ele se emocionou muito, mas percorreu em palavras todo o seu calvário mais uma vez. Doce figura humana, militava numa célula comunista sem jamais ter cometido violência alguma. Era uma questão de convicção política. Ao final foi inocentado pela Justiça porque nada, rigorosamente nada, poderia ser provado contra ele. Mas, repito, sequelas ficaram.

É isso o que nós queremos? É esse o Brasil que vamos deixar para nossos filhos e netos? Se for, mostrem-me onde fica a porta da saída.

Os últimos tempos têm sido terríveis. Chovem denúncias, todas comprovadas, contra os marginais que governaram o Brasil nos últimos tempos. Deixaram atrás de si um rastro de extremistas de direita, de sonhos de destruição da democracia, de ruptura para com os valores democráticos, de extinção de conquistas sociais que sempre foram caras aos brasileiros. Têm raiva sobretudo e principalmente do fato de que eles, os fascistas, foram artífices da ditadura militar, e nós, os vários segmentos da esquerda democrática, aqueles que trouxeram o Brasil novamente para a normalidade constitucional. Eles estupraram a Constituição. Nós fizemos outra, cidadã, em 1988. Não nos perdoam por isso.

Agora mesmo a bancada capixaba no Congresso Nacional, salvo poucas exceções, é um desfile de figuras bizarras. Algumas dessas pessoas nem sequer são do Estado, mas mesmo assim terminaram sendo eleitas pelo fascismo brasileiro que atende pelo nome de "conservadorismo". Há um preço a ser pago por isso e os que elegeram esses marginais de hoje vão ter a conta pela frente. Até um ex-membro do esquadrão da morte capixaba por pouco não foi feito governador. É o horror tornado realidade.

Há, e sempre haverá opções políticas limpas, justas, honestas, para que nós as elejamos e elas nos representem politicamente em todos os planos da vida legislativa. Basta que os brasileiros se voltem para elas. Não podemos viver num país onde hoje o maior projeto legislativo em pauta agora é o de serem anistiados todos aqueles que cometeram crimes com o dinheiro público, usando-o de forma desonesta nas eleições. E ainda há o projeto de o fundo eleitoral passar dos cinco bilhões de reais. Sabemos que grande parte dessa fortuna vai ser embolsada por desonestos. 

Mas o pior são os planos de destruição da democracia, de anistiar ou absolver todos os que invadiram os três poderes da República em 08 de janeiro na calda de cometa de um projeto de golpe de Estado que o então presidente Jair Falso Messias Bolsonaro tentou orquestrar. Ele sente saudades da ditadura militar e de suas prisões ilegais, torturas e assassinatos. Adotou como seu o "Deus, pátria, família" lema de Benito Mussolini, acrescentando a isso um "liberdade" que amante da ditadura só tem da boca para fora. Afinal, em muitas ocasiões esse indivíduo exaltou o AI-5 e as figuras de torturadores.

Ele ainda quer saber qual é a senha! É isso o que nós queremos?           

8 de agosto de 2023

Outros esquadrões da morte?


"O que você 'ver' aqui

O que você ouvir aqui

Quando sair daqui

Deixe ficar aqui"

Estava na porta do delegado Oswaldo Simões Sales, o Quito, o cartaz com esses dizeres. Eu tinha ido à Superintendência de Polícia Civil na rua Graciano Neves, em Vitória, para cumprir uma pauta da Folha de São Paulo, jornal do qual era correspondente no Espírito Santo. Corria o boato de que um esquadrão da morte ligado à Scuderie Detetive Le Cocq agia no Estado matando pessoas ligadas a crimes e a criminosos. Perguntei ao delegado Quito se aquilo era verdade e ouvi:

- Claro que não. Isso é coisa dos bandidos e dos comunistas.

Naquela época, década de 1970, vivíamos em plena ditadura militar e as garantias individuais tinham sido jogadas no lixo pelos governantes. Era fácil matar e esconder cadáveres. Isso estava sendo feito pelos policiais que acreditavam nas soluções fora e acima das leis vigentes e hoje parece que ao menos os governadores de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais são saudosos desses tempos embora estejamos em um estado democrático e de Direito. É possível que o governo do extremista de direita Jair Bolsonaro tenha tirado o monstro da garrafa, agora que já não se pode mais prender ilegalmente, torturar e matar as pessoas, pelo menos por motivos de natureza política.

Menos de dez dias depois da minha entrevista com Quito o cemitério clandestino da Barra do Jucu foi descoberto. Os diversos esquadrões da morte passaram a ser notícia e isso de certa forma conteve a matança ao mesmo tempo em que os assassinos das polícias foram processados e presos. Passaram-se muitos anos até que agora a extrema direita se sentiu confortável para voltar a matar. A justificativa é sempre a de uma troca de tiros, de um confronto armado entre mocinhos e bandidos, claro que sempre com a vitória dos mocinhos e a morte de muita gente que não é bandida.

É hora de uma reação. Quem comete crimes ligados sobretudo ao tráfico de drogas tem que ser preso, processado e condenado. Mas aqueles que usam de uniformes e distintivos para matar por vingança, não importando se do outro lado há inocentes, têm que ter o mesmo destino. Não podemos conviver com a volta dos esquadrões da morte. Já chegam as milícias. Nas últimas chacinas como a do Guarujá (foto), litoral de São Paulo, várias câmaras de uniformes de PMs "falharam" nas filmagens.

Uma sociedade que não sabe a diferença entre o mocinho e o bandido está condenada à barbárie.