27 de setembro de 2019

A(s) família(s) acima de tudo

Elizabeth ao lado do irmão ministro Paulo Guedes. A família é tudo... 
Desde o início de seu governo o presidente Jair Bolsonaro guarda consigo alguns carmas que parecem ser caros. 'Soberania', por exemplo. Ele se apega ao termo como se o Brasil estivesse a ponto de sofrer intervenção armada por parte de alguma grande potência estrangeira. Pela fixação que tem em dois países muito 'poderosos', ou é a Venezuela ou é Cuba! Estamos fritos!
Outro termo caro ao bolsonarismo é 'patriotismo'. Se olharmos os dicionários e a raiz das palavras encontraremos coisas como 'sentimento de amor, orgulho e devoção à pátria e seus símbolos'. Ora, penso eu: sou patriota! Ledo engano. Como discordo de quase todas as coisas que esse governante faz, não faço parte do grupo. Patriota então seriam as pessoas que sentem orgulho, amor e devoção à pátria e, ao mesmo tempo, defendem incondicionalmente o governo atual. Em suma, os 'bolsonaristas de raiz', e somente eles, se adequam a esse status. Um estranho status...
Mas o maior de todos os carmas é 'família'. Não há uma única manifestação pública do presidente na qual ele não fale disso. É apaixonado pela sua. Tanto que faz o possível, o impossível e o inimaginável para emplacar seu filho Eduardo como embaixador do Brasil nos Estados Unidos. Afinal, 'meu filho, meu tesouro' sabe fazer hambúrgueres como ninguém mais...
Esse amor desmedido contaminou a todos. O ministro da Educação, Abraham Weintraub, quer emplacar um irmão seu num organismo encarregado de julgar seus atos. Afinal, quem trai aos seus é monstro. E ele conta com o apoio do ministro da Economia, Paulo Guedes, que adora a irmã, Elizabeth Guedes, professora e presidente(a) da Associação Nacional das Universidades Particulares - ANUP -, e já abriu as portas do poder em Brasília a ela. Sobretudo as do Ministério da Educação onde, com a ajuda de Weintraub, desenvolve-se o projeto de destruição parcial ou total das universidades públicas do Brasil. Projeto esse que vai de vento em popa...
E essas universidades de 'zebras gordas' concorrem com aquelas que Elizabeth tão bem representa. Não pode acontecer isso, concordam comigo? Essa aberração tem que acabar no atual governo. Tanto que um dos programas em curso é não haver mais concurso para professores nas universidades públicas. Assim podem ser nomeados todos os apoiadores do governo. Já que eles não passam em concursos, ao menos pelo que podemos presumir...
É isso amigos. Viva a família do rei e dos amigos do rei. As demais se for possível. Em épocas anteriores governantes brasileiros ajudaram seus familiares de forma velada. Agora não. Agora é tudo descarado mesmo.               

24 de setembro de 2019

"...como dizem mentirosamente a mídia..."

O cavaleiro da triste figura vende uma imagem mentirosa de Brasil na ONU
Além da frase acima, que ficou no meio de uma declaração sobre as "preocupações" brasileiras para com a preservação da Amazônia, o discurso do presidente Jair Bolsonaro na abertura dos trabalhos da Organização das Nações Unidas não surpreendeu a ninguém: foi rico em ataques, ódios, preconceitos e omissões de fatos no que diz respeito a praticamente tudo o que seu governo faz.
Bolsonaro focou em Cuba e Venezuela seu discurso contra o "socialismo". Nas críticas à França, acusada por ele de fomentar o questionamento da soberania do Brasil sobre a Amazônia, não citou o nome daquele país (por quê?). Falou que, ao contrário do que o mundo inteiro vê, não há fogo e mortes naquela região. Levou à ONU uma índia quase totalmente desconhecida e leu uma carta, segundo ele de mais de 50 nações indígenas, onde era apoiado seu projeto de levar o "progresso" a todas os grupos que nos antecederam nas terras brasileiras. Isso significa aos poucos ir destruindo as raízes das culturas silvícolas para a exploração comercial das reservas. Tem ódio de territórios indigenistas e deixou isso claro. Odeia o cacique Raoni e também esclareceu esse ponto.
Falou de policiais, de crime organizado, de tráfico de drogas e se mostrou como uma espécie de novo Messias elevado à condição de presidente por um povo que por pouco não foi levado ao "socialismo" contra sua vontade, por inocência. Se um dia Bolsonaro disser o que entende por socialismo, talvez possamos compreender ao menos em parte o seu tosco pensamento político.
Os elogios aos Estados Unidos já eram esperados. Confesso que imaginava que seriam ainda maiores. Disse estar salvando o Brasil apesar dos esforços dos jornalistas de desacreditar seu governo e suas intenções. Como todos esperávamos, usou e abusou de termos como "patriotismo" e "soberania" como se vivêssemos em um terra próxima de ser invadida criminosamente por estrangeiros.
Foi pesaroso. Foi triste. Foi deprimente ouvir o discurso desse presidente da República!
Mas uma coisa todos nós podemos comemorar: ele, em momento algum, atacou as esposas de outros chefes de Estado e nem os pais assassinados de altos dirigentes da ONU. Faço minhas as palavras da ex-presidente chilena Michele Bachelet: "tenho pena do Brasil!"
Resta a convicção de que as notícias continuarão a ser feitas e as reportagens, a serem produzidas. Veremos Bolsonaro espernear enquanto estiver no Planalto, podendo repetir sempre, com ódio e despeito, que isso acontece ...como dizem mentirosamente a mídia...