30 de julho de 2021

Investiguem esse incêndio!


Se o Brasil ainda é um país sério ele não pode deixar de investigar com severidade, isenção, competência e rigor científico o incêndio que devorou um dos galpões da Cinemateca Brasileira em Vila Leopoldina, São Paulo (foto acima, do G1). Não basta dizer que o fato aconteceu porque uma empresa terceirizada fazia a manutenção dos aparelhos de ar refrigerado. Esse fato fede a muito mais que fogo!

Desde a gestão do senhor Abraham Weintraub a cultura brasileira sofre um projeto de sucateamento. Não é fato ocasional, ditado pelos azares da vida. Absolutamente. O governo Bolsonaro quer destruir o que de melhor tem a cultura brasileira, nossa herança de séculos, para substituí-la por uma sequência de boçalidades ditadas pelo neopentencostalismo picareta de ocasião e por crenças em valores nazifascistas que de tempos em tempos saem das catacumbas para atormentar os vivos.

A Cinemateca tinha um contrato de administração com a Associação de Comunicação Educativa Roquete Pinto (Acerp) desde 2016. Weintranub o rompeu. Desde então os salários estão atrasados, não há dinheiro para pagamento das contas de luz e sequer o complexo conta com brigada de incêndio, mesmo com seu acervo sendo altamente inflamável. Numa situação como essa é no mínimo estranha a preocupação única para com a manutenção de equipamentos de ar refrigerado. Ou não?

Recentemente tivemos uma "pane" nos computadores do CNPq que pode ter destruído arquivos científicos de grande valor, estudos de pesquisadores e bases para bolsas de estudo. Isso num governo negacionista e que tem desprezo pela ciência... Segundo o ministro astronauta de araque foi uma coisa que não poderia ter sido prevista por ninguém. E backup serve para quê? No mundo da informática não basta ter a cabeça nas nuvens. É preciso manter lá os arquivos.

Em qualquer situação passada seria possível acreditar em acidente provocado pelo acaso ou pelo descaso. Isso acontece no nosso serviço público, infelizmente. Nos dias atuais, não. Até mesmo com a ajuda da Justiça é preciso chegar à verdade. Ninguém é dono da memória de um povo, senão para preservá-la. Destruí-la como está sendo feito hoje é um inacreditável crime de lesa pátria.                       

27 de julho de 2021

Fingindo ser o que não se é


Não se pode passar o tempo todo tentando ser o que não se é. Ou tudo será desmascarado mais cedo ou mais tarde ou então, no auge da rejeição, a gente terá de confessar ser o que realmente é. O Jair Bolsonaro de hoje se cansou de se fingir de democrata, amante dessa democracia, defensor da Constituição e de toda a população brasileira, sem exceções. Ele agora se confessou nazista e ponto final!

Beatrix von Storch é deputada e vice-líder do AfD, partido de extrema direita alemão. Neta de um ministro de Adolf Hitler ela puxou ao vovô e não tem vergonha disso. Navega pela política alemã meio que escondida à sombra de mentiras que conta para sobreviver e é investigada pelos órgãos de segurança do seu e de outros países. Mentir é a forma de viver dos nazifascistas. Pária na própria pátria que a gerou, não se furta em viajar para se encontrar mundo afora com párias como ela. E assim veio parar no Brasil onde se encontrou com Jair Bolsonaro (foto) no Palácio do Planalto. Também esteve com a deputada Bia Kicis e um dos filhos do presidente, Eduardo. A fina flor do reacionarismo político, da falta de ética, defensores de extremistas de direita e inimigos da democracia.

Nos encontros de Brasília consta que Beatrix ficou impressionada sobretudo com Bolsonaro e suas risadas pobres, de sociopata de terceiro mundo. Sátrapas ambos, devem ter gostado muito um do outro. Kicis também se identificou com a deputada alemã e Eduardo, da mesma forma. Estava todo mundo em casa no Planalto, a sede de governo construída graças e um projeto de Oscar Niemayer que, coitado, jamais deve ter sonhado com tanto esterco de gado nas salas do edifício sede do poder federal do Brasil.

E se os organismos de representação judaica instalados aqui se assustaram com tamanha desenvoltura, não posso acreditar que sejam tão inocentes assim. Sempre souberam, é claro, quem é o presidente eleito pelos brasileiros. Fingiram acreditar em suas lorotas porque isso é (ou era?) conveniente. Da mesma forma como o "Bozo da República" faz de conta não saber que existe muito extremismo de direita em Israel e que essa ideologia comanda o genocídio diário contra o povo palestino.

Mas esse jogo de interesses inconfessáveis sempre tem um preço alto, muito elevado. Até mesmo no Brasil onde uma grande parcela da população, ignorante, analfabeta funcional, nada entende de política internacional, até essa está acordando. O resto do mundo já fez isso há muito tempo e uma esclarecida fatia do povo israelense sabe com quem está tratando quando se pensa em termos de governo brasileiro. Como dito no início, não se pode passar o tempo todo fingindo ser o que não se é.

14 de julho de 2021

Com o DNA de Tio Sam


Desde que Fidel Castro declarou-se comunista logo depois de tomar o poder em Cuba os Estados Unidos tentam destruir o regime político daquele país. É como se eles dissessem sempre que não vão aceitar comunismo às portas de Miami e os cubanos continuem dizendo "sim, vão nos aturar". Essa história iniciada em 1959 e que agora tem desdobramentos com protesto de cubanos no último final de semana (foto) já teve antes episódios mais dramáticos. E em todos eles estava o DNA de Tio Sam.

Em 1961 o governo norte-americano treinou um pequeno exército de 1.200 mercenários cubanos para invadir o País por Playa Giron, na Baía dos Porcos, e tomar o poder. Fidel Castro descobriu o plano e nada deu certo. Os porcos morreram na praia mesmo e a um custo elevado de vidas humanas. Estava afastado o maior risco da volta de Fulgêncio Batista e dos tempos de prostituição institucionalizada e de a fina flor da máfia controlar a economia caribenha via cassinos e drogas.    

Como os Estados Unidos haviam instalado mísseis nucleares na Turquia, na porta de entrada da União Soviética, Nikita Khrustchev, o primeiro ministro soviético de então, colocou os dele em Cuba. Durante 12 dias, de 16  28 de outubro de 1962 o mundo namorou com um final trágico. Mas graças aos esforços tanto de Khrustchev quanto do presidente John Kennedy o perigo da guerra nuclear foi afastado. Os mísseis norte-americanos saíram da Turquia, os soviéticos, de Cuba e o telefone vermelho funcionou...

Ao longo dos anos vários atentados foram cometidos contra Fidel Castro. Ele sobreviveu a todos e às acusações de que roubava milhões de dólares e os guardava no exterior. Morreu em Cuba e lá estão suas cinzas. Mas o maior desafio foi seu país sobreviver ao bloqueio econômico imposto pelos EUA há mais de meio século. Isso acabou com a economia cubana após o fim da União Soviética e o quadro agora se agravou com a crise da pandemia. O turismo morreu, as atividades comerciais e industriais sofreram um grave baque e a fome chegou. Consequência: ninguém enfrenta falta de comida de bom humor.

Os Estados Unidos são os responsáveis por todos os males cubanos. Inclusive pelo fato de o regime político ser fechado até agora porque ele faz isso para se proteger, para sobreviver. Não fosse o clima de guerra em torno da ilha e bem provavelmente os cubanos estariam convivendo hoje com um sistema multipartidário e quem sabe com eleições diretas. Mas nada disso está agora colocado na mesa.

Faço uma aposta: Cuba vai vencer mais esse desafio. Para desespero de muitos!                  

9 de julho de 2021

Soldadinhos de chumbo


"Ou restaure-se a moralidade ou locupletemo-nos todos".

Sérgio Porto (foto acima), o Stanislaw Ponte Preta, revoltava-se com os desmandos do Brasil, mas se manifestava com deboche. E fez isso sobretudo contra a classe política e os militares na época da ditadura de 1964/1985. Ele não era contra as forças armadas como instituições e sim contrário à instrumentalização da categoria e de seu uso político. A frase que abre o texto, extremamente crítica, foi uma das melhores que deixou antes de um enfarte fulminante o matar em 1968, ano da edição do AI-5.

Conto uma história bem resumida: minha avó materna, Almerinda, tinha um irmão caçula e temporão da família que, contra o desejo do pai decidiu ser médico. Meu bisavô tabelião, Francisco Gomes Villela, disse que custearia os estudos do filho até a formatura e depois disso que ele se virasse. Foi o que fez. Como o Brasil havia declarado guerra ao Eixo Berlin/Roma/Tóquio, meu tio avô alistou-se no Exército para ir à Itália com a Força Expedicionária Brasileira em 1943. A intenção era guardar dinheiro, aprender mais medicina e na volta montar seu consultório. Mas aconteceu o inesperado de ele se apaixonar pela vida militar e nunca mais a deixar. Quando se reformou era o general Hélio de Oliveira Villela, ex-diretor clínico do Hospital Militar do Rio de Janeiro. Um dia estava em Vitória e conversava com meu avô José Maria, seu cunhado e marido de Almerinda. Vovô elogiou a presença dos militares na ditadura, que chamava de "revolução". Tio Hélio, lembro-me disso até hoje, olhou para ele e disse: "Não entendo de política e não sou comunista. Mas sei que lugar de militar é no quartel!" Fora de lá tornam-se apenas soldadinhos de chumbo, caricatos, sem utilidade.  

Nesses dias em que o Ministro da Defesa e os comandantes das forças armadas divulgam notas oficiais que ameaçam a democracia isso me vem à mente. Os militares estão em grande número se locupletando em cargos civis. Está claro que muitos deles cometeram, cometem ou cometerão crimes financeiros os mais variados, pois não sofrem qualquer tipo de restrição. Ao contrário, foram arregimentados para garantir ao presidente da República uma chance de golpe de Estado. De ruptura constitucional que ainda não aconteceu porque 2022 não é 1964 e o Brasil, apesar de seu "gado", amadureceu.

Ontem mesmo o comandante da Marinha se manifestou de forma ameaçadora e me fez lembrar um outro da época de Sérgio Porto. O ministro de então, na década de 1960, almirante Carlos Pena Botto, fascista de carteirinha, fez um ataque à China e disse que "o mundo livre" deveria invadir aquele país para livrá-lo da Praga Comunista. Stanislaw, autor de um personagem caricato chamado "Bonifácio Ponte Preta, o Patriota" escreveu que seu boneco anedótico, ao ouvir aquilo, espumando da patriotismo, começou a gritar sem conseguir se controlar;

- Deixa ele ir, deixa ele ir...