30 de março de 2021

Democracia sim!


Há um louco no Palácio do Planalto. Perigoso como nunca antes surgiu outro igual, mesmo na conturbada história do Brasil moderno, tão repleta de aquarteladas, golpes, agressões às leis e perseguições políticas. E esse sociopata vai fazer tudo o que estiver ao seu alcance para dar um autogolpe e governar com poderes ditatoriais. Nunca abandonará o projeto. Nunca renunciará a ele.

Os fatos ocorridos ontem, com a demissão do Ministro da Defesa e a troca de outros seis membros do primeiro escalão do governo mostra isso: Jair Bolsonaro não vai aceitar deixar e poder sem que haja ao menos uma tentativa de quebra da normalidade democrática. Quanto mais a popularidade dele se reduz, quanto mais se sente inseguro, maior é seu grau de demência. Sua capacidade de violência.

Na semana que passou tive a oportunidade de ler alguns posts de bolsomínions. Parcela do gado. Eles acreditam que o Brasil vive uma quase guerra civil porque os governadores, salvo três ou quatro, querem derrubar o governo federal. O mesmo se aplica à imensa maioria dos prefeitos, notadamente aqueles que não têm relação de vassalagem com o presidente. Acreditam porque nas redes sociais ligadas ao governo isso é bombardeado nas mentes deles o dia todo, todos os dias. E como o chefe do Executivo se tornou uma espécie de divindade para eles, não se pode contestar suas "verdades".

Essa bolha, esse gado pede todo dia um golpe de Estado. Sem tréguas essa gente grita que a democracia não deve existir, o STF tem que ser fechado e o Legislativo precisa sofrer intervenção. Constituição para eles é um estorvo, um obstáculo ao trabalho do "grande líder". Da mesma forma como é catequisado de lá para cá, prega a violência e a destruição do Estado democrático e de direito daqui para lá.  Amanhã, 31 de março, voltará às ruas e às portas dos quartéis para gritar pela ditadura no 57º aniversário da "revolução" que, na verdade, aconteceu em 1º de abril, dia da mentira.     

O sociopata do Planalto só ouve a eles.

Nós estamos enfrentando dias difíceis, perigosos. Mas o ano é 2021 e não 1964. A guerra fria já terminou, os Estados Unidos não fariam outra "Operação Brother Sam" para apoiar o atual presidente do Brasil (muito pelo contrário!) e embora muitos sintam medo das caretas desse projeto de ditador de aldeia que aparece na foto acima, a hora não é para isso.

Ele vai perder. A hora é de coragem e determinação. Democracia sim!

21 de março de 2021

A realidade paralela


Podem acreditar que é verdade: existem hoje, contados, 54 sites e blogs bolsonaristas de notícias falsas criados por apoiadores do governo para enganar a população. Estou publicando a lista ao final do texto. E afirmo o seguinte: eles atuam, sim, e muito. Dia e noite, sempre em coordenação com o gabinete do ódio que funciona dentro do Palácio do Planalto (pasmem!) chefiado, segundo dizem, pelo filho 02 de Jair Bolsonaro, Carlos. Tentam mudar a ótica do brasileiro em relação ao governo.

Dou dois exemplos. O que está sendo montado agora é uma realidade virtual que diz o seguinte: existe genocídio no Brasil, sim, mas comandado pelos esquerdistas - comunistas no caso - a partir de quase todos os governadores e prefeitos. Eles estão matando os brasileiros de Covid-19 para colocar as mortes nos ombros do presidente da República. Você pode pensar: caramba, ninguém vai acreditar nisso! Engano seu: eles acreditam piamente porque o governo é, para essa bolha, uma religião.

Segundo exemplo: dois conhecidos, dentre os quais uma dileta amiga andavam pela rua e cruzaram com uma terceira pessoa essa, bolsomínia. De repente veio o som de sirene de ambulâncias e um veículo com a famosa cruz vermelha cruzou por eles. Perguntaram sobre quem estaria lá dentro. "Ninguém", disse o seguidor da "religião". "A ambulância está vazia e andando com sirena ligada por ordem do governador para provocar desespero na população", completou. Nessas horas não se contesta nada...

Eu lhes digo uma coisa: trata-se de situação mais do que perigosa essa vivida por nós atualmente. Um aumento desmedido do fanatismo, da realidade paralela, do viver dentro de bolhas acreditando no inacreditável porque isso mantém o governo vivo, aceso, é o que se passa. O fato de essa gente representar a minoria da população não significa nada. Eles são capazes de estragos inimagináveis. E se a popularidade do presidente continuar se esvaindo, a tendência é de que se tornem a cada dia mais perigosos, violentos. Afinal, porque Bolsonaro luta tanto para armar os brasileiros? Alguém imagina?

Segue a lista dos endereços dos fabricantes de mentiras: 1- Renova Mídia, 2- Pheno News, 3- Jornal da Cidade Online, 4- Pavão Misterioso, 5- Terça Livre, 6- Diário Online, 7- Gazeta Informante, 8- Diário do Brasil, 9- Expresso Diário, 10- Notibras, 11- BR Notícias, 12- Canal Gama, 13- Riachuelo em Ação, 14- Opinião Crítica, 15- Jornal 21 Brasil, 16- Grande Ponto 17- Presidente Bolsonaro, 18- Agora Notícias Brasil, 19- Imprensa Viva, 20- República de Curitiba, 21- O Alerta, 22- 1News, 23- Folha Política, 24- Seu Mizuka, 25- Portal BR7, 26- Verdade Estampada, 27- Critica News, 28- Canal Gama, 29- Gazeta Brasil, 30- Ibuzz Online, 31- Jacaré de Tanga, 32- Senso Comum, 33- Vista Pátria, 34- Bruno Jonssen, 35- Caneta, 36- Crítica Nacional, 37- Folha do Brasil, 38- Folha da Política, 39- Questione-se, 40- Bombeiros DF, 41- O Delator Site 42- Jornal do País, 43- Notícias Política Br, 44- Escapuliu, 45- Canal do Ferreira, 46- Mídia Mix, 47- Diário Patriota, 48- Informa Brasil TV, 49- Canal Notícias da Hora, 50- DF Mobilidade, 51- Canal KiM PAiM, 52- Portal Novo Norte, 53- Terra Brasil Notícias e 54- Notícias News N.N.

Gente, cuidado com essa gente.                                  

20 de março de 2021

O chacareiro

Tudo na vida do atual presidente da República tem cheiro de ditadura. Rigorosamente tudo. Na principal foto que ilustra esse texto isso pode ser visto: reeleito deputado federal pela terceira vez, há 20 anos ele já defendia em entrevista a volta do AI-5, o mais duro dispositivo ditatorial do período 1964/1985. Duro como mostra a capa da Folha de S. Paulo de dezembro de 1968 (abaixo) falando sobre o então editado ato que retirava dos brasileiros os direitos mais elementares de cidadania.

Mas não foi surpresa para mim saber que ontem, ao receber telefonema do ministro Luiz Fux que o inquiria sobre declarações feitas no no chiqueirinho do Palácio da Alvorada, ele tenha desconversado e afirmado não falar sério quando disse que defendia o estado de sítio no Brasil. Esse dispositivo legal da época da ditadura (que ele adora, ama de paixão!) era uma espada que os ditadores de então apontavam para o peito dos brasileiros sempre que os protestos contra a ditadura recrudesciam.

Ele não gosta do estado de sítio? Deve gostar do estado de chácara! É um chacareiro, só que frouxo!

O atual presidente tem horror aos governadores por ser legalmente obrigado a dividir responsabilidades com eles. Odeia principalmente o do Estado de São Paulo, que tem musculatura política para enfrentá-lo em 2022 numa eleição presidencial. Do ex-presidente Lula tem pavor pelo fato de este possuir condições reais de derrotá-lo na eleição, agora que está com os direitos políticos restaurados. Enfim, odeia tudo o que possa fazer sombra a seu projeto de reeleição, como os grupos que combatem a pandemia de Covid-19. Já pensaram se algum político se torna herói nacional na calda de cometa da erradicação do vírus no Brasil? Ele não gosta nem de pensar nisso. Então, morram os que tiverem de morrer.

Ele é, sim, um genocida. Por menos que aceite esse apelido tão oportuno e justo.

Não tenho dúvidas: esse Bozo vai continuar lutando contra os interesses do Brasil e em prol dos daqueles grupos "bolsomínions" que o apoiam incondicionalmente na batalha pela presidência. Os que vão às ruas em Brasília para levantar faixas com dizeres como "Intervençao militar com Bolsonaro no poder", "abaixo o Supremo Tribunal Federal" e outras coisas que ele adora ler e ouvir de paixão. Não são manifestações antidemocráticas, como se diz. São criminosas mesmo, pois atentam contra a Constituição.

Por isso, quando o ouço fazer pronunciamentos defendendo nosso texto constitucional que no fundo acha abjeto, não de me contenho ao pensar: esse sujeito é um fake news criado por nós, os brasileiros.              

9 de março de 2021

Entre o céu e a terra


Você já leu William Shakespeare? Eu já. Embora apaixonado por "Júlio César" acho que agora nesse texto cabe mais nos lembrarmos de "Hamlet", o príncipe da Dinamarca. É ele - falo do criador da peça - o autor do monumental pensamento: "Há mais coisas entre o céu e a terra do que julga nossa vã filosofia" (em tradução livre e um pouco deturpada). Sim, e poderíamos completar com "a verdadeira substância da ambição é a sombra de um sonho".

Que sombra de sonho pontuou de pesadelos o sono do ministro Edson Fachin quando ele, com cinco anos de atraso, aceitou um pedido de habeas corpus em favor do ex-presidente Lula? (habeas é medida de urgência) E que fantasma surgiu para o também ministro Gilmar Mendes quando manteve o julgamento da suspeição do ex-juiz Sérgio Moro? Entre o céu e a terra certamente há a luta surda pela sobrevivência ou não da Operação Lava Jato. Talvez o ex-presidente Lula seja pano de fundo...

Nas leituras de Shakespeare a gente entra no âmago das lutas pelo poder ontem e hoje. Tudo isso está exposto nos monumentais textos do autor de tantas obras primas. Tive muita vontade de encontrar no mestre algum exemplo capaz de explicar Bolsonaro e não consegui, talvez por ser ele inexplicável.

Algumas pessoas dizem que o Supremo Tribunal Federal está tendo ingerência demasiada fora de seus limites. Talvez seja verdade. Mas o Supremo, assim como o restante do Judiciário, o Legislativo e o Executivo retratam o Brasil. Nossos defeitos e nossas virtudes. Assim como o golpismo latente na sociedade e entranhado em setores militares, mostrando a face canalha do brasileiro.

Tudo isso somos nós!

Não vou me atrever aqui a julgar Lula, Bolsonaro ou qualquer outro protagonista do atual momento político. Não nesse texto. Isso é difícil demais para mim. Ou para nós, aqueles que desprezam julgamentos precipitados. Vamos dar corda ao tempo, permitir que ele corra e que os atores se coloquem no palco de suas ambições, à sombra de seus sonhos, produzindo farsas e desprezando verdades. Se eles conseguirem pensar ao menos por um momento - ainda que breve - no ente Brasil, fruto primeiro de nossas atenções, já será maravilhoso.                      

Por isso, e porque também nos vem à memória o célebre "to be ou not to be, that is the question", igualmente em "Hamlet", o ideal é aguardarmos o correr dos dias. Os próximos. As questões vão aflorar. Vivemos hoje o risco imenso de  nos defrontarmos com nossos maiores pesadelos, superiores àqueles que puderam povoar o sono do personagem shakesperiano quando a pena molhada de tinta pelo bardo produziu a escrita final de sua tragédia cinco séculos passados.

Tomara isso não seja necessário, mas nossos maiores pesadelos de ontem derrotaríamos hoje!       

      

4 de março de 2021

O inferno de Dante


 "Lasciate ogne speranza, voi ch'intrate (Deixai toda esperança ó vós que entrais)" - Divina Comédia, Inferno, Dante Alighieri.

Um amigo de uma amiga, este sócio de uma empresa de pesquisa política (vou omitir os nomes dos dois) esteve recentemente conversando com os empresários da Faria Lima. Eles vêm a ser os donos da maior parte do dinheiro do Brasil e são clientes do material que o pesquisador produz. Este pediu para saber sobre o pensamento geral da categoria financeira a respeito do momento atual do Brasil. Resumo da ópera:

Os donos do dinheiro do país apoiam incondicionalmente o governo de Jair Bolsonaro. Tudo o que ele faz é considerado ótimo, sobretudo e principalmente porque os recursos continuam jorrando para suas fontes, cofres ou bolsos e o mesmo vai acontecer, sobretudo em quantidade maior, se a inflação aumentar. Também apoiam o vice-presidente Amilton Mourão, que pode ter mais prestígio ainda que o "chefe". Igualmente adoram o "Centrão", representante dos seus interesses mais claros. O dinheiro das eleições de 2022 vai cair no colo deles todos.

E a pandemia? Não interessa! E se morrerem mais milhares ou milhões? Tanto faz! No pensamento dos donos das fortunas do Brasil não há lugar para o humanismo, a solidariedade, nada disso. São imunes a sentimentos como empatia. Se a miséria servir a eles, que venha. Se não servir, que seja evitada. Não param muito tempo para acompanhar os números relativos às mortes pela Covid-19. Tomam seus cuidados, sim, mas não passam e nem passarão disso. Seus jatos executivos precisam voar e arrecadar.

O inferno de Dante está neles. Devem perder toda a esperança aqueles que não servirem aos seus interesses. Como aconteceu com Lula, que os fez ganhar rios de dinheiro mas depois se uniu a uma camarilha e caiu em desgraça junto a essa elite. Eles não têm raiva da esquerda, não. A sujeira muito à mostra foi o que prejudicou o ex-presidente. Dinheiro não tem ideologia para eles.

O futuro de Bolsonaro está nas mãos dele mesmo se a oposição não conseguir se unir em torno de uma candidatura única, forte, coesa, de enfrentamento à situação e que exclua o PT, ao menos para o ano que vem. Ou então vai perder esse futuro caso continue andando célere em direção ao abismo. Ele muito provavelmente não deve ter lido a obra de Friedrich Nietzche:

"Quem luta com monstros deve velar para que, ao fazê-lo, não se transforme também em monstro.
E se tu olhares durante muito tempo para um abismo o abismo também olhará para dentro de ti
"