31 de dezembro de 2021

Feliz ano novo para nós!


Os dois homens que você vê na foto não estão andando de moto aquática. Nem se divertindo em Santa Catarina. Eles são moradores da Bahia onde uma grande quantidade de casas, estabelecimentos comerciais, industriais, rurais e outros foram destruídos nos últimos dias pelas chuvas que castigaram aquele Estado brasileiro. Não vão ter um feliz ano novo! Conseguiram salvar suas vidas, o que já é muito. E os dramas deles, de milhares de brasileiros, foram vividos também em outros estados.

Houve, sim, alertas de chuvas fortes. Mas o presidente dessa pobre república estava preocupado em programar suas férias com a família, tudo às custas do povo brasileiro, e não tinha tempo a perder com essa gente pobre que só sabe torrar a paciência dos outros. Por isso ele nem sequer interrompeu a farra familiar. Deu ordens diretas aos seus ministros para não somente irem lá em lugar dele, mas também para voltarem a promover contenciosos contra as vacinas de Covid 19, seja porque agora são para crianças e adolescentes, seja porque destinam-se a estudantes universitários. Que morram todos!

As imagens desse presidente se divertindo no Parque Beto Carreiro com mulher e filha a tiracolo enquanto a população nordestina - principalmente - morre ou fica na miséria mais completa são de cortar o coração. Sobretudo quanto a gente tem que ler declarações dele dadas em rede social e nas quais diz que o Brasil não precisa de ajuda argentina para a Bahia mas, sim, aceita auxílio japonês. E ainda usa de ironia, de deboche, contra o povo de seu País.

Bolsonaro não sente empatia. Também não tem adversários políticos. Ou tem moleques de recados capazes de fazer qualquer coisa ou então vê os semelhantes como inimigos. Assim olha para o presidente da Argentina, Alberto Fernandez. Assim vê quem quer se vacinar e tem receio de morrer infectado por quem não se vacina. Que se danem todos. Ele precisa de seu gado e de sua estupidez.

O presidente do Brasil não apenas jamais sente empatia por seu semelhante como é mau. É cruel. Ele tem prazer em fazer sofrerem as pessoas das quais não gosta. E de subjugar os dejetos sob seu comando. Não vai melhorar, não vai mudar e, tenho certeza, ainda não desistiu do projeto de um golpe de estado. Ainda não o perpetrou porque faltam-lhe força e apoio militar.

Feliz ano novo para você e para todos nós que não somos como ele.            

20 de dezembro de 2021

Viva Chile! Viva a Democracia!


Ontem à noite, enquanto era saudado por milhares de pessoas após ser eleito presidente do Chile aos 35 anos de idade, o ex-deputado descendente de croatas Gabriel Boric discursou agradecendo o esforço de seus correligionários e dizendo também ser grato àqueles que votaram em seu "contendor" pois todos haviam dito "sim" à democracia chilena. Antes disso o extremista de direita e admirador pinochesista José Antonio Kast, o derrotado, havia admitido ter perdido e cumprimentado o vencedor. Isso partido de um político com raízes paternais no nazismo é muito bom.

Vamos demorar um pouco para saber do que Boric é capaz, ainda jovem e à frente de um país em crise e que terá de ser governado sem maioria parlamentar. Mas o jovem de fala clara parece focado, parece disposto a negociar e a apostar no regime democrático que para os chilenos custou tanto sangue, suor e lágrimas num passado ainda não muito distante. O novo presidente não é membro do Partido Comunista Chileno, mas foi eleito com o apoio deste (foto de O Globo). Talvez por isso acredite tanto na democracia e queira apostar num "estado de bem estar social".

Explico: no Chile - como no Brasil - foram os comunistas os maiores construtores da democracia. Estudem um pouco a história mais recente! Depois dos golpes de estado que estupraram as constituições daqui e de lá - de outros países latino-americanos também! -, foi com o suor e o sangue das oposições onde pontificavam os comunistas que a normalidade democrática acabou sendo restabelecida. A democracia que temos hoje é fruto dos esforços desses que são os maiores, os verdadeiros patriotas. E não daqueles que pregaram e pregam as ditaduras, a intervenção sobre o Poder Judiciário e a dissolução pura e simples do Legislativo.

O tempo passa, as coisas mudam. Hoje conceitos como "ditadura do proletariado" estão relegados aos livros de história. Foram uteis às lutas iniciais, mas agora não são mais. Hoje o estado moderno é construído por todas as mãos disponíveis num país como o Chile de Boric. Porque nos tempos de Pinochet isso não seria possível. Naquela época o que contava era a capacidade de o detentor do poder esmagar seus opositores, tivessem eles quaisquer das cores ideológicas existentes.

Foi e é assim, por exemplo, com o indivíduo Bolsonaro. Ele faz de sua vida política uma luta sem quartel contra qualquer pessoa ou grupo que discorde dele. Não admite isso. Ao contrário de Kast, não cumprimentaria seu opositor e vencedor em uma eleição, como não pretende fazê-lo. Ao inverso de Boric, jamais teve a intenção de promover o "estado de bem estar social", pois nele não cabem o golpismo, o autoritarismo, o "milicianismo" e os acordos de grupos, familiares ou não. A ele e aos iguais a ele no mundo moderno, à esquerda ou à direita, está reservado o lixo de história.

Boric não haverá de nos decepcionar e servirá de modelo para nós do ano quem vem em diante. Torço por isso desde ontem à noite, quando fui dormir feliz da vida, leve, livre e solto.

Viva o Chile! Viva a Democracia!             

8 de dezembro de 2021

Quantas desgraças ele ainda vai fazer?


"Essa coleira que querem colocar no povo brasileiro. Cadê a nossa liberdade? Prefiro morrer do que perder a minha liberdade. Tem que ter coragem para falar. Parece que sou o único chefe de Estado no mundo que teve posição diferente. Dizem que toda a unanimidade não é bem-vinda. E o que eu fiz? Estudei, corri atrás..."

O autor dos pensamentos acima é a mesma pessoa que, não muitos anos passados, em uma entrevista dada a um apresentador de TV, ainda deputado federal, disse mais ou menos textualmente: "Eu sou  favor da ditadura, xará! Sou a favor da tortura. Se eu fosse, presidente? Fechava o Congresso na mesma hora. Fechava o Supremo Tribunal Federal" (as imagens existem e qualquer um pode ver).

Pois o autor das frases de ontem diante de uma plateia de puxa-sacos é o mesmo que deu as declarações à TV faz alguns anos. Chama-se Jair Messias Bolsonaro, indivíduo brindado pelo povo brasileiro com o cargo de presidente da República porque o ódio ao PT, sobretudo aos desmandos cometidos durante os governos de Lula e Dilma desaguou na escolha de um psicopata para assumir a presidência.

Eis o resultado!

Bolsonaro sente uma necessidade doentia de ter ou fazer inimigos. Como ao longo da vida ninguém o ensinou a construir pontes, ele só sabe destruí-las. A única que fez não em sentido figurado foi uma pinguela na região amazônica, de madeira, ligando nada a lugar nenhum e cuja cerimônia de inauguração custou aos cofres públicos muito mais dinheiro que a "obra" em si. Dizer que estudou é um absurdo tão grande que seria risível caso não fosse triste.   

Ele também sente necessidade de mentir patologicamente. De deturpar fatos. Um dos últimos destes é dizer que estão tentando fechar o espaço aéreo brasileiro com o passaporte de vacina que teima em não permitir seja dado. Talvez o documento seja exigido com mais mortes de cidadãos, o crescimento da pandemia em território nacional ou uma ordem expressa do Supremo Tribunal Federal que felizmente ele  não teve como fechar.

É um "cavaleiro da triste figura", sem que queiramos comparar sua estatura moral à do personagem de Miguel de Cervantes, Dom Quixote de La Mancha. Bolsonaro vai passar. Como tudo o que não presta, é inútil, só serve para infernizar os outros, irá embora talvez de forma muito mais triste do que chegou na esteira de cometa de uma raiva doentia a um partido politico.

Resta saber quantas desgraças fará até lá.              

2 de dezembro de 2021

O Estado Laico corre risco?


Muito mais do que os discursos extremistas de direita, muito mais do que a homofobia, muito mais do que o ódio e a perseguição aos adversários, temo no governo do atual presidente do Brasil a tentativa de destruição do Estado Laico, uma de nossas maiores virtudes enquanto nação. E causa preocupação ainda maior a suspeita justificável de que o sorriso da foto desse artigo, mostrado ontem durante a sabatina de araque no Senado Federal, seja  mera encenação. Seja cinismo.

Durante a tal sabatina vimos no Senado um André Mendonça distante do pregador evangélico de sempre. Quase um conciliador. Mas depois, no discurso do recém entronizado já surgia no horizonte o sujeito terrivelmente religioso: "É um passo para um homem, um salto para os evangélicos!"

Vou me explicar. O melhor do Estado Laico reside no fato de que todos podem exercer seu credo religioso sem sofrer nenhum tipo de perseguição. Ou não exercer credo algum, como é o meu caso. Só não se pode pregar a dissolução ou a divisão do Estado. Mas sabemos todos, e ninguém é inocente para desconhecer esse fato, que algumas "confissões" ditas evangélicas ambicionam o poder. E o querem para moldar o país às suas crenças, aos seus dogmas e, sobretudo e principalmente, a seu projeto de grupo. Basta ver como são bilionários os donos delas e como as fortunas deles crescem ilegalmente diante de todo mundo e sem que o governo faça nada para coibir tais crimes. Muito pelo contrario...

O que se espera de um ministro do Supremo Tribunal Federal é que ele seja um especialista em direito constitucional e que esteja apto a defender a Constituição em todas as circunstâncias e momentos. Não importa o que para ele é pecado. Isso não vem ao caso. Dane-se! Pede-se apenas que lide com o que é legal.

Vamos descobrir em breve, muito breve, se está hoje no STF um ministro ou um pastor evangélico, terrivelmente evangélico e, pior, a serviço de um governo que odeia quem é adversário, persegue e tenta impor ao Brasil uma camisa de força que o aprisione dentro de suas convicções negacionistas. O Senado resolveu correr o risco, inclusive com o apoio descarado de alguns parlamentares de "esquerda".

Vamos ver a conta a pagar.