27 de março de 2020

Sempre à noite

Jair Bolsonaro certamente aposta numa quebra de braço eterna com os que não apoiam seus projetos (?) para o Brasil e o combate ao coronavírus, esse aí logo acima. E pretende levar essa luta até o fim. Que seja o fim dele, que seja o fim do País. Sim, porque com os planos do atual presidente não haverá futuro por aqui. Preso na bolha que ele mesmo tricotou, governa (?) com os três filhos ou, melhor dizendo, patetas, e seu chiqueirinho diário para onde atrai jornalistas obrigados a falar em meio a macacas e macacos de auditório previamente selecionados.
Não gosto de dizer esse tipo de coisa, mas Bolsonaro é uma figura patética. Os presidentes da época da ditadura que ele venera tanto, ao menos tinham compostura. Comportavam-se obedecendo rigorosamente ao protocolo. Claro que, à noite, junto a seus capangas fardados ou não, davam ordens de execução de inimigos e compunham os atos institucionais feitos na medida para aos poucos castrarem os direitos da população. Mas isso à noite. Durante o dia chegavam até a sorrir.
Ernesto Geisel, que ao final do mandato ordenou que a cúpula do PCB fosse quase toda ela executada para não sobrar intacta às vésperas da redemocratização que viria com o "prendo e arrebento" de João Figueiredo - aquele que preferia cavalo a gente -, uma vez foi à Inglaterra. Sentindo-se desconfortável em uma vestimenta de rigor antes de se encontrar com a Rainha Elizabeth, disse que estava no "society". E completou respondendo a uma pergunta sobre um assunto caro: "o Brasil é uma democracia em sua relatividade". Estava criado o conceito de relatividade democrática.
Jair Bolsonaro, embora não possa mandar matar à noite - teoricamente falando -, quer desprezar até mesmo a democracia relativa do Brasil. Depois de chegar a receitar remédio contra o coronavírus, esse aí acima, está disposto até a provocar um morticínio no País, cedendo a pressões das diversas classes produtivas para acabar com a política de isolamento das pessoas em época de pandemia. Dane-se; se ele e os seus forem poupados, que os demais cidadãos brasileiros pobres morram como moscas.
Embora não seja inovador nessa área ele, governa unicamente para empresários. E só pensa neles. O restante da população é, para seu governo e entorno, um detalhe espinhoso, desconfortável e que seria retirado do caminho se isso fosse possível. De preferência à noite.
Suas medidas provisórias, decretos e outros são feitas na surdina e com a participação de poucos dos bajuladores incondicionais, dentre os quais estão os ministros Paulo Guedes, Sérgio Moro e outros escalados para ocasiões específicas. Quando as coisas não dão certo e a reação popular surge, ele reforça o chiqueirinho da saída do Palácio da Alvorada, para onde já chegou a levar um palhaço coadjuvante. Se nem isso for possível, escala Abraham Weintraub para dar entrevista...
A bolha se reduz a cada dia que passa. Não importa. Assessorado por um grupo tão pequeno e desesperadamente apegado ao poder, crê na virada da mesa com a mesma convicção com que acredita que ainda teria 57 milhões de votos numa eleição que fosse realizada hoje. E daí? Para quem vive distante da realidade factual, junto a um chiqueiro humano e a um "colegiado" que frequenta ilegalmente o Palácio do Planalto sem ter função pública no local, tudo é possível.
De Preferência à noite...   

15 de março de 2020

Um governo que apenas destrói

Às vezes me fica a impressão de que o atual presidente da República não tem a menor ideia de onde está. Os atos que pratica são tão despropositados, toscos, que há muito tempo ultrapassaram o limite do ridículo e do admissível. Infelizmente ele se alimenta, para continuar agindo da forma mais idiota possível, da multidão de irresponsáveis uteis que enchem as arquibancadas de seu circo imaginário, como aconteceu hoje em muitas cidades brasileiras nos protestos contra os poderes Legislativo e Judiciário. E também - o que constitui crime - nos pedidos por golpe de Estado. A tal "intervenção militar"...
Se o presidente está ou não infectado pelo coronavírus não se sabe, pois o Palácio do Planalto é hoje uma fábrica de "fake news". Mas foi divulgado que ele se encontrava em quarentena. Pois bem, mesmo assim, irresponsavelmente, deixou o Palácio da Alvorada e desfilou por várias ruas de Brasília distribuindo afagos a seus correligionários mais fanáticos. Pegou nas mãos de alguns e fez fotos com outros, como é visto nesse flagrante feito diante da sede do Governo.
O presidente é fã ardoroso dos chefes de Estado da Ditadura Militar. Nenhum deles, em tempo algum. cometeu um décimo das descomposturas públicas de seu macaco de auditório. Nenhum debochou de esposa de presidente, de pai de ex-presidente, deu "banana" para jornalista, disse que algum tinha tipo homossexual e outras coisas mais que parecem até mentiras.
Não consigo imaginar como pode a legião de correligionários de "Bozo" acharem que isso é bonito. Depõe contra o Brasil. Nos faz de palhaços. Somos tratados com pouco caso na arena internacional, em inúmeros países. Hoje investidores se afastam, nosso conceito desaba e o País está estagnado, sem chances de retomar o crescimento econômico que seria desejável em nossa crise sem fim. Fica a quase certeza de termos na chefia de Estado um deficiente mental.
Não vou me alongar porque seria penoso. Mas tenho a mesma certeza da maioria das pessoas que conseguem ver esse governo com a imagem que ele realmente tem: Bolsonaro não possui projeto como chefe de Estado a não ser o de tentar se eternizar no poder. "Governa" para si próprio. Sim, porque um projeto de presidente é uma plataforma de construção. Nesse caso só há planos de destruição. E eles prosseguem apesar de todas as resistências.   

7 de março de 2020

Um Brasil que mete medo

O Brasil de hoje chega a meter medo no cidadão comum. Naquele que gostaria de viver a vida sob o império da lei, sendo governado por pessoas que se submetem ao conjunto de ditames legais do País em vez de imaginar que podem agir ao arrepio das normas vigentes. E o que mais assusta é o fato de que as Forças Armadas brasileiras estão sendo hoje politizadas e manipuladas segundo preceitos de extrema direita política, com todos os danos que isso pode acarretar.
Vamos tornar claros dois pontos essenciais para entendermos o mundo em que vivemos. Aqui e em qualquer outro país as Forças Armadas são instituições de Estado e não de governo. O que significa dizer que elas existem para identificar a defender as bandeiras que as representam e não os governos eventualmente no exercício do poder. É imensa e diferença entre um órgão de Estado e outro de governo. O primeiro é perene. O segundo passa sempre que mandatos se findam.
Além do mais, ao longo dos tempos as revoluções só mudaram a história quando foram feitas pelos povos e a reboque da vontade popular. Aquarteladas militares sempre serviram apenas e tão somente para a perpetuação de privilégios ou do deslocamentos desses de uns para outros grupos hegemônicos. A Revolução Francesa é até hoje o exemplo mais clássico de movimento de massas. Revolução marcadamente burguesa, ela enterrou um império moralmente deteriorado e gerou em seu lugar uma república que se sustenta até agora, vencendo crises e obstáculos vários.
O Brasil de hoje, governado por um despreparado, seus filhos e gurus, é um país eticamente alquebrado. Nasceu da reação popular contra um partido político - o PT - desgastado por crises e acusações de corrupção, e para retirá-lo legalmente do poder 57 milhões de brasileiros optaram pela extrema direita intelectualmente indigente. Sou capaz de apostar que pelo menos 50 por cento dessas pessoas não sabiam o que estavam fazendo. É comum ouvir hoje de ex-eleitores do atual presidente que anulariam seu voto ou votariam no candidato do PT em 2018 se soubessem o que teriam pela frente. Mas o fato é que votaram mal e elegeram um péssimo governo legítimo.
Esse (des)governo não respeita nem o cidadão nem as instituições do País. O presidente, com claras e inequívocas tendências autoritárias ou ditatoriais, chega ao cúmulo de levar um palhaço para encontro com jornalistas na entrada do Palácio da Alvorada e pedir à população, por meio de redes sociais, para comparecer a um ato no qual será questionada a legitimidade de dois poderes da República. Um deles, o Legislativo, eleito pelo mesmo sistema eleitoral que consagrou o presidente do País e seu entorno de figuras decrépitas. O sistema que ele exige ser respeitado.
É um momento triste. Mas os brasileiros haverão de vencer seus desafios atuais para trilhar o melhor dos caminhos: aquele que segue ao lado da legalidade e da Constituição.