19 de setembro de 2022

A excrescência no funeral


Antes de o corpo da rainha Elizabeth II ser levado a Windsor, onde está sendo sepultado, cerca de uma centena e meia de representantes de países estiveram em Londres, sobretudo para a missa de corpo presente da mais longeva chefe de Estado da história do Reino Unido. Pode-se dizer, sem medo de errar, que dentre todos eles o único a promover palanque durante a estada em Londres foi o presidente do Brasil. Fez discurso político tosco de uma das varandas da embaixada, repetiu esses atos em outra oportunidade e ao ser questionado por jornalistas sobre o uso político de um momento de luto, reagiu:

- Você acha que eu estou fazendo política aqui? Pelo amor de Deus. Acabou a conversa.

Fez politica sim. Desrespeitou a cerimônia com suas falas às vezes desconexas. Chegou a declarar que vai ganhar a reeleição no primeiro turno e se não tiver mais de 60 por cento dos votos alguma coisa "anormal" estará acontecendo. Veladamente fez nova ameaça ao resultado das urnas. Ele sabe que está perdendo. Com dinheiro público faz pesquisas diárias sobre as eleições, não divulga a instituição ou instituições que realizam esse trabalho, não registra as pesquisas como todos os instituto têm que fazer e não revela o custo disso. Enfim, desrespeita as leis na convicção de que não pagará por isso.

Agora voa para Nova Iorque onde pretende voltar a ver os "novaiorquides" antes de ir para a ONU. Já usou o microfone da sessão de abertura para falar asneiras em mais de uma oportunidade e agora quer voltar a fazê-lo em seu bota-fora. O jornal hilário "O sensacionalista", que sai em O Globo, publicou em manchete que ele havia viajado para o funeral de sua candidatura à reeleição.

Não tenho dúvidas de que esse presidente é um sociopata. Ao mesmo tempo em que torra dinheiro viajando a dois países em tempos de crise para fazer campanha política no exterior, congela o dinheiro da merenda escolar, destrói as verbas dos maiores programas sociais brasileiros, deixa à mingua Educação e Saúde, sabota todas as iniciativas da cultura, comete outras barbaridades e inunda de dinheiro público o "orçamento secreto" que abastece políticos corruptos.

Esse presidente atual do Brasil é uma excrescência!        

13 de setembro de 2022

O golpismo sobrevive...

O presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Alexandre de Moraes, cancelou uma reunião que haveria hoje com o ministro d a Defesa, Paulo Sérgio Nogueira, para discutir pela enésima vez o processo eleitoral brasileiro, mais particularmente para as eleições de 02 de outubro. Por trás disso tudo está o medo de uma derrota do atual presidente para o adversário Lula, pois à medida que o tempo passa essa hipótese mais se avizinha. E as Forças Armadas do Brasil têm uma longa tradição de golpismo!

O ministro da Defesa não é burro para desconfiar das urnas eletrônicas, mesmo depois de tantos testes e simulações. Ele sabe que o presidente da República foi eleito durante 28 anos com essas urnas. E jamais as questionou quando era um medíocre deputado do baixo clero. Mas agora ele não quer perder o poder. E os militares pretendem manter suas boquinhas - ou boconas - que estão sendo cultivadas ao longo dos últimos três anos e oito meses, a cada dia que passa mais generosas. Principalmente não querem ver Lula de novo presidente.

Tudo o mais é balela. Os  militares sabem que as urnas são seguras, que não vai haver roubo porque nunca houve, mas é preciso criar um clima insurrecional que justifique o ato de força. Isso só não foi feito ainda porque não estamos mais em 1964 e um golpe de Estado isolaria definitivamente o Brasil no cenário internacional. Com custos inimagináveis. Mas uma parcela da Forças Armadas, a que se beneficia diretamente da forma como o presidente hoje governa não quer perder privilégios. Sobretudo não quer perder poder. Vai daí essa parcela sonha com um novo golpe de estado e o estupro da democracia.

O ministro Alexandre de Moraes fez bem ao cancelar a reunião. Não há mais o que ser discutido. Continuar com isso era pura e simplesmente aceitar uma pressão injusta, desonesta e desprovida de sentido. Uma pressão bem ao gosto do desespero de um presidente que não aceita perder eleição. Se essa pressão esconde mais outra, outra mais outra, até que uma tentativa de golpe chegue, que venha agora.

O Brasil precisa de que todos os patifes tirem as máscaras.

10 de setembro de 2022

Semana surreal


Hoje é o último dia de uma semana surreal. No curso dela um presidente (sic!) da República desrespeitou a cerimônia oficial do Bicentenário da Independência do Brasil, protagonizou várias cenas toscas e inimagináveis durante e após uma festa de gala em Brasília, cometeu crimes contra a democracia (mais uma vez...) e até um palhaço fantasiado de Zé Carioca foi admitido no palanque ao lado do presidente de Portugal. E parcela da nossa sociedade ainda é capaz de aplaudir isso...  

Não era possível imaginar que no dia 07 de setembro, sobre um carro de som e diante do palanque oficial da cerimônia do aniversário da Independência do Brasil, o presidente eleito pelos brasileiros fosse se declarar "imbrochável", como se alguém tivesse interesse em saber da vida dele. Isso no terceiro casamento que tem e quando os dois primeiros terminaram porque suas mulheres o traíram com outros parceiros. Mesmo assim ele diz que os homens devem se casar com "princesas" e, no momento da declaração no carro de som a atual esposa, cognominada primeira dama, botou a mão no queixo (foto) com uma falta de charme e de compostura que beirou o inacreditável.

Aliás, tudo é inacreditável nesse governo. A começar pelo fato de que, por ódio ao PT, uma grande parcela dos brasileiros ainda acreditem que o traste de Brasília seria o candidato ideal para novo mandato eletivo. Esse assunto só não marcou toda a Semana da Pátria porque a atenção dos brasileiros e do mundo teve que ser desviada para a Escócia onde a rainha Elizbeth II morria. Não fosse por isso...

Mas não é tudo. Apenas o patético. O mais grave foi depois, durante uma discussão banal, quando um admirador do presidente matou com 15 golpes de faca um outro, defensor do adversário Lula. Todo mundo se assustou. Os demais candidatos à presidência reagiram denunciando o absurdo da situação e pedindo providências contra a escalada da violência nesse período eleitoral. E o presidente? Esse ficou em silêncio. Mudo. Distante, mas cúmplice porque é ele quem acirra ânimos todo dia, estimula a violência e arma milícias para "defendê-lo" acima das leis e da ordem estabelecida.

Realmente foi uma semana surreal. Esperamos, embora sem convicção, que não haja outras.   

7 de setembro de 2022

Solenidade corrompida

O dia 7 de setembro ainda não acabou, mas já é possível lamentar a instrumentalização de uma festa cívica que deveria ser de todo o povo brasileiro e não de um presidente da República que se apropria dela em seu nome e de sua candidatura à reeleição para fazer proselitismo com o dinheiro do contribuinte no Bicentenário de nossa Independência. E dentre as muitas aberrações já vistas nessas comemorações, uma se destacou: imagem do empresário Luciano Hang, o Zé Carioca, com seu horroroso terno de paletó verde, gravata amarela e camisa branca postado na tribuna de honra do desfile de Brasília ao lado dos presidentes da República do Brasil e de Portugal.

É uma solenidade corrompida em seus valores!

A Constituição desse país, logo em seus "Princípios fundamentais", diz que ela tem como fundamentos, dentre outras coisas, "promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação". Em seguida diz também que todos são iguais perante a lei, o que representa consagrar direitos e deveres. Mas no Brasil de hoje há um homem e sua "familícia" acima das leis, questionando-as todos os dias. Persegue quem tenta domar seus instintos autoritários, suas crenças irretocáveis e sua determinação de agredir a todos os que o contestam.

No desfile de Brasília esse homem, o presidente, queria caminhoneiros na Esplanada. E se insurgiu contra a determinação do governador do Distrito Federal que, por medida de segurança, não permitiu essa participação. Caminhoneiros fizeram baderna em resposta a isso. Um marginal que atende por Roberto Jeferson, em nome não se sabe de quem, foi às redes sociais para protestar, insuflar desobediência civil e se referir a um ministro do Supremo Tribunal Federal chamando-o de "Xandão". Ao mesmo tempo tratores de produtores rurais desfilaram pela Esplanada representando o governo e não o Estado.

Está tudo errado.

Mas como sempre há luz no fim do túnel, quem puder ir a São Paulo não pode deixar de visitar o novo Museu do Ipiranga. Conheci muito o antigo e era lindo de viver! Esse é mais bonito ainda, com o dobro do espaço de exposições e um jardim que salta aos olhos. Melhor, reaberto ontem (foto), ele é um espaço do povo brasileiro, de todos e não somente daqueles que alimentam sonhos totalitários,                              

4 de setembro de 2022

Falsos profetas da fé

Nunca me senti a vontade para dissertar sobre religião, ateu convicto que sou. Mas o momento exige alguma reflexão contra a "Teologia do Domínio" (foto), seus reflexos, presença nos movimentos chamados neopentecostais e sobretudo no início de reação que já existe contra ela no Brasil.

Socorri-me a velhos amigos evangélicos para invadir um pouco o pensamento no tema esquisito, mas muito fácil de ser explicado: essa corrente que viceja atualmente entre as seitas claramente oportunistas prega um falso evangelho da violência, com uma teologia nascida daquela da Prosperidade e que tem como projeto básico tomar o poder. As seitas neopentecostais, cujos principais proprietários são Edir Macedo, RR Soares, Valdomiro Santiago, Silas Malafaia e alguns outros são acumuladoras de riquezas em nome de seus donos. Constroem templos faraônicos e chamam as pessoas para usufruírem de seus milagres. Mas tudo isso tem um preço, claro, e algumas dessas "confissões" são claramente políticas. Por isso elas dão seu apoio ao atual presidente da Republica, abrem as portas das "igrejas" à pregação que ele faz junto com sua mulher e entorno e, em troca disso, obtêm o silêncio conivente das autoridades. O mundo inteiro sabe, por exemplo, que Edir Macedo tira rios de dinheiro do Brasil quase diariamente e leva para os Estados Unidos onde vive vida de nababo num apartamento de alto luxo. Para facilitar, ele e seus iguais possuem passaportes diplomáticos dados pelo Estado brasileiro... 

Não há, no modelo de meus artigos como ir mais adiante. Mas é preciso deixar claro que correntes evangélicas tradicionais, as que interpretam o evangelho como sendo mensagem de amor e não de ódio evitam defender armas, não pregam a eliminação das minorias, leem os textos sagrados como mensagem de união entre todos e buscam proteger suas igrejas da pregação política barata.

Agora mesmo começa a haver reações. O ex-ministro da Ciência e Tecnologia, junto com mais alguns "correligionários" foi vaiado em um templo. Em outras manifestações, fieis se insurgiram contra o uso de suas instituições religiosas como locais de proselitismo político, sobretudo em nome do presidente da República. A mulher deste, aquela do cheque de R$ 89 mil, só fala entre os que sabidamente emprestam o nome de suas "igrejas" às pregações de tentativa de ocupação de espaços de poder. São poucos no universo total do protestantismo, mas suficientes para montar imensa bancada no Congresso.

Esse tipo de reação tende a aumentar. Acredito que a tendência para a "Teologia do Domínio" seja a de isolamento crescente, mas lento. Não creio - crença minha, pessoal - que os falsos profetas da fé tenham futuro num Brasil mais aberto ao diálogo democrático. Oxalá eu esteja certo.