7 de novembro de 2018

Democracia, prensas e tratores

O presidente Michel Temer e o eleito Jair Bolsonaro ontem no Congresso
Os Estados Unidos estão renovando parte de seu Congresso e o Partido Republicano perde com isso a maioria da Câmara mas mantém e do Senado, onde a minoria fica com o Partido Democrata. Essas duas legendas comandam a política norte-americana há uma montanha de anos e são as referências para a esmagadora maioria da população do país. Há outros partidos lá concorrendo a todas as eleições, mas isso não tem a menor importância para efeito de ocupação de cargos.
A diferença entre os EUA e o Brasil é que aqui há uma babel política na qual legendas são o menos importante. Justamente por isso um dos filhos do presidente eleito Jair Bolsonaro disse que vai ser preciso "tratorar" a oposição ao seu papai e o futuro ministro da economia falou da necessidade de aprovação da reforma da Previdência com "prensa" no Congresso. Isso não é democrático. Ao contrário, demonstra  mais do que autoritarismo: mostra profunda ignorância.
Jair Bolsonaro imagina que pode tudo. Vai descobrir que não. Mas até isso acontecer conviverá com a realidade brasileira de que partidos não são muita coisa. Nós conhecemos o MDB, PT, PSDB, PSB, DEM, PP e alguns outros que surgiram recentemente. Há vários espalhados por nosso espectro político. Mas nenhum deles possui força efetiva duradoura. A tendência, inclusive, é de que muitos venham a definhar a morrer. Quem sabe até mesmo o do atual do presidente eleito caso ele fracasse. Afinal, trata-se de uma legenda de oportunismo, a oitava que Bolsonaro usa em sua carreira.
É que no Brasil existem bancadas, e elas são mais importantes do que as legendas. Há a Bancada da Bala, a Bancada Ruralista, a Bancada Evangélica, e vai por aí. Em todos os casos, os membros dessas correntes corporativas que passam na maioria das vezes ao largo dos reais interesses do País, se diluem entre os partidos menores, de aluguel. E podem usá-los à vontade, pois eles nada representam em termos de programa político, ideologia, ideais e princípios.
Por sinal, não há ideologia nos partidos brasileiros. Afora o PCdoB, condenado a morrer por ter representatividade diminuta, os demais mudam ao sabor dos ventos políticos que podem empurrá-los para diversas direções. Na maioria esmagadora das vezes eles não representam as necessidades do Brasil. São legendas politicamente falsas e seus interesses, claro, corporativos.
Por isso os discursos em pré-governo de extrema direita adota palavreados como "tratorar" e "prensa". Ninguém está lidando com princípios éticos, programas claros, ideologia, nada disso. Só interesses momentâneos, rasos, aproveitadores. E como tudo muda ao sabor do vento, pode mudar também sob pressão na cabeça dos futuros dirigentes federais.
Só que não, como se verá em breve.