Vamos traçar paralelos. Admitamos, pois é verdade, que esquemas de recebimento de propinas com dinheiro público sempre existiram no Brasil. Mas admitamos também, já que igualmente isso representa a verdade, que esses esquemas cresceram enormemente de 2003 para cá por encontrarem terreno fértil. Os governos que se sucederam então, com apenas dois chefes de Estado do mesmo partido, facilitaram o crescimento da corrupção distribuindo cargos públicos com "porteira fechada" em troca de apoio de forma indiscriminada, sem nenhum tipo de cuidados.
Quando os imigrantes italianos chegaram aos Estados Unidos, no século XIX, muitos eram sicilianos. Vindos da Ilha da Sicília. Eles trouxeram os princípios da Máfia para os EUA e formaram grupos como "La Mano Nera" (mão negra), raiz de "La Cosa Nossa" (coisa nossa). Os grupos mafiosos se formaram em famílias para comandar redes de corrupção que atingiram sobretudo o Estado na forma de extorsão sobre empresas públicas e privadas. Tomaram conta de importantes setores econômicos e ocuparam todos os grandes sindicatos. Intitulavam-se, dentre outras denominações, "O Clube".
Notaram como as coisas se parecem?
A corrupção que atinge governos e rouba dinheiro público tem diversos nomes, diversas maneiras de se formatar, mas o esquema básico termina sendo sempre o mesmo. O "Clube" descoberto e investigado pela Operação Lava-Jato, já com dezenas de delações premiadas e várias pessoas sendo processadas, funcionava num esquema mafioso. É simples: ou pagava ou não prestava serviços. Com isso, nossa maior empresa pública quase foi destruída. E o mais incrível: até agora os níveis superiores da administração pública insistem: ninguém sabia de nada. No caso específico da "Cosa Nostra" era quase igual: ninguém tinha nada a ver com isso.
Outro ponto; na Nova Iorque tomada pelo crime organizado (pois o esquema é de crime organizado mesmo), era vital tomar de assalto os grandes sindicatos. Assim, tinha-se todo o processo produtivo nas mãos e ele poderia ser paralisado a qualquer momentos. Vocês já perceberam com os grandes sindicatos brasileiros são fortes e reunidos em centrais que defendem apenas seus interesses, às vezes distantes dos trabalhadores? E como o imposto sindical persiste e ninguém o consegue derrubar?
No caso da "Cosa Nostra" tudo era feito em dinheiro vivo. Aqui no Brasil, grandes quantidades já foram pegas em cuecas, calcinhas e outras vestimentas. Também em malas e contas no exterior, sobretudo paraísos fiscais onde interessa pouco ou quase nada investigar as origens.
Não há mistério. O que a Operação Lava-Jato procura é desmantelar todo esse esquema. Com um governo sério apoiando seria bem mais fácil. Na situação atual, não. Até hoje não se descobriu em que circunstâncias morreu o prefeito Celso Daniel. E até o Itamaraty, instituição cara aos brasileiros, está sendo usadas para apagar rastros do que, gentilmente, se chama de "malfeitos".
Resta acreditar que a Justiça irá até o fim.