22 de março de 2015

Os moinhos de vento da "guerra" brasileira

Quando garoto, era fã de Vittorio Gasman, sobretudo de sua atuação no filme "O Incrível Exército Brancaleone", que fez sucesso em todos os lugares. Era a história burlesca de um Dom Quixote moderno, só que com outros moinhos de vento pela frente. De repente, quando vejo os "embates" políticos de hoje aquela história me vem à mente. A foto desse artigo mostra o filme e jamais pensaria que ele se tornaria tão atual passadas décadas de ter sido feito como comédia.
Enquanto esse País se debate no lamaçal de corrupção a que o PT o levou, duas correntes antagônicas marcam nosso dia-a-dia com discursos que beiram o ridículo. Hilários, de um lado está o economista João Pedro Stédile, ator de esquerda e que é capaz de ver a CIA norte-americana em todos os cantos. Do outro está o deputado federal Jair Bolsonaro, militar da reserva, ator de direita e que pede uma nova intervenção armada para salvar o Brasil da invasão comunista. Cada um dos dois enxerga a situação do Brasil por sua miopia pessoal e brada todos os dias da forma mais desbaratada possível.
Stédile tem a vantagem de poder falar eventualmente ao lado da "maior" figura da República, a presidente Dilma Rousseff. Promete arregimentar seu exército famélico e esta o ouve embevecida fazendo um ou outro reparo pontual. Bolsonaro, não. Considerado inimigo em todas as frentes (agente da CIA?), ocupa a tribuna da Câmara dos Deputados e vez ou outra puxa da espada para atacar até casamento gay. Na falta de inimigos homens, enfrenta mulheres que devem ser a sua versão de moinhos de vento. A uma ele já disse "poucas e boas", ao vivo pelas emissoras de TV.
Quando Charles De Gaulle disse que o Brasil não é um País sério, esses personagens de nossa tragédia moderna estavam fora de cena. Estivessem e ele teria rido muito mais. Afinal de contas, se olhados pelo lado tosco, ambos são burlescos. Daria tudo para ver um duelo de MMA entre ambos.
Esse tipo de gente, essas figuras descoladas da realidade, ajudam a tornar mais difícil ao cidadão comum entender a gravidade da situação que estamos vivendo. O Brasil não está diante de uma luta de classes ou da proximidade de enfrentamento entre exércitos de esquerda e de direita. Estamos vivendo, isso sim, a maior crise moral de nossa história. Diante de nós está sendo colocada a necessidade de que dezenas de corruptos de primeira linha (os já denunciados, mas falta muita gente) sejam processados, punidos e devolvam aos cofres públicos uma inacreditável massa de dinheiro roubada a mim, a você, a todos nós, ao longo de mais de uma década de bacanal financeiro.
Stédile e Bolsonaro certamente continuarão a falar. Por trás do primeiro sempre estará a caricata figura de Luiz Inácio Lula da Silva o incentivando a usar seu "exército". Por trás do segundo sempre estarão os extremistas de direita que pregam uma intervenção militar no Brasil.
Deixemos que eles se matem. Muito, mas muito mais importante do que isso, será o Brasil acompanhar atento, gritando, denunciando, o desenrolar das diversas investigações e processos que estão sendo realizadas para nós salvar de quadrilhas horrorosamente bem organizadas. E precisaremos de muita força. Há esquemas de abafamento em todos os três Poderes. Até usando toga.            

8 de março de 2015

De golpes e leis

O assunto mais discutido nos dias de hoje é se a eventualidade de um impeachment contra a presidente Dilma Rousseff seria ou não um golpe. Mais do que isso: um golpe contra a democracia. Antes que a discussão se torne acadêmica, cabe uma opinião ditada pela experiência e conhecimento dos meandros da vida brasileira: tudo o que é feito de acordo com as leis, seguindo os trâmites normais e com os tanques de guerra devidamente guardados nos quarteis, é legal. Não é golpe. Foi assim com Fernando Collor de Mello. Será assim com qualquer outro.
Ontem o senador Lindberg Farias confessou que agiu de "maneira imprópria" mas não ilegal. Reconheceu que recolheu dinheiro das sujas mãos de Paulo Roberto Costa. Como não dava mais para negar, disseram a ele que o melhor seria admitir o fato com versão suave. Ao que tudo indica, com o passar dos dias muitos outros farão isso. Todos meteram as mãos em dinheiro sujo.
Quem não acredita em Papai Noel, Branca de Neve, Visconde de Sabugosa e outros personagens como o Saci Pererê, não acredita também que Lula e Dilma desconheciam que esquemas de desvios de dinheiro público existiam na Petrobras e que esse dinheiro ia não apenas para os bolsos - e cuecas - de diversos personagens de nossa República, mas também para o caixa dos partidos políticos. Apenas para financiar campanhas? Não, claro. Também para engordar cofres particulares dos "próceres" desses partidos. Não há a menor sombra de dúvida de que a montanha de dinheiro desviada da Petrobras seria suficiente para construir uma cidade de Casas da Dinda.
A frágil legislação brasileira, que não coloca limites nos gastos de campanha, permitiu que partidos políticos e empresas se locupletassem durante os últimos anos. Mais precisamente de 2003 para cá. A quebra da Petrobras, fato antes considerado impossível, talvez tenha sido o maior feito da "quadrilha" montada para assaltar os cofres públicos. E ninguém com conhecimento de mediano para cima dos fatos brasileiros tem a menor dúvida de que se essa investigação chegar ao BNDES - para citar só mais um exemplo "de peso" - cai toda a República. Não sobra pedra sobre pedra.
Ora, estamos diante do maior escândalo da história brasileira. Deixem os tanques nos quarteis e sigam investigando. O que vier com base nas leis, legal é. Elas já existem para proteger os poderosos e quando nem isso conseguem fazer mais é porque as coisas estão fora de controle.
Dilma, a madame da foto, sempre soube de tudo. Lula também. Agora é permitir que as prossigam. E que o povo vá às ruas e se manifeste. Como dizia Castro Alves, "a praça, a praça é do povo como o céu é do condor..."
investigações