27 de novembro de 2008

O CFJ, a má fé e os sofismas


Vira e volta, anda e pára, e o assunto "liberdade de informação" ou de "expressão" volta à baila. Na maioria das vezes, trazido ao público pelos chamados "órgãos de comunicação". Foram eles que torpedearam recentemente as tentativas de se criar um Conselho Federal de Jornalismo (CFJ), assunto enviado e que chegou a ser aprovado pelo Congresso Nacional.


O que estaria por trás disso?


Duas coisas e dois vícios de origem: o primeiro, partido dos proponentes do Conselho, todos eles comprometidos com o PT - melhor dizendo, com o atual Governo - e que pretendiam fazer desse Conselho um veículo de controle da informação. O segundo, partido dos combatentes do Conselho, todos eles poderosos meios de comunicação - melhor dizendo, antigos beneficiários da ditadura militar - e que querem acabar com a regulamentação da profissão de jornalista.


São esses dois vícios de origem, e não a idéia do Conselho, o que deturpa a discussão.


Existe Conselho Federal de Medicina para fiscalizar o exercício daquela profissão. O mesmo se diga com relação ao de Engenharia, de Odontologia, de Arquitetura. E a Ordem dos Advogados do Brasil, que é o conselho federal dos juristas. Todos têm como incumbência impedir que gente estranha, não habilitada, invada uma profissão regulamentada.


Claro que quem quer controlar a informação invade um dos pressupostos básicos da democracia. Mas quem quer torpedear a regulamentação de uma profissão e se esconde por detrás de sofismas para alcançar esse objetivo, faz o mesmo.


Melhor agiriam os autores das propostas do Conselho Federal de Jornalismo se mostrassem sua cara e suas intenções. Melhor fariam os que o combatem com proposições escusas se agissem da mesma forma.


Nem os primeiros continuariam a se comportar como tem quer a volta de um estado policialesco, nem os segundos prosseguiriam agindo como se estivessem defendendo a democracia hoje, depois de viver duas décadas à margem dela, apoiando quem a estuprava.


Mas que um Conselho Federal de Comunicação, ou um Conselho Federal de Jornalismo, como instrumento de defesa de uma profissão regulamentada é uma necessidade, isso ninguém tem dúvida. Ninguém agindo de boa fé.

4 de novembro de 2008

O desafio dos Estados Unidos


Faz muito tempo: Cassius Clay (esse moço aí ao lado), que logo depois se tornaria Muhammad Ali ao se converter ao islamismo, pontificava no boxe onde era campeão mundial dos pesos pesados. Estava invicto e já era comparado a Rock Marciano, que nas décadas de 1940/50 foi considerado o maior boxeador de boxe de todos os tempos nos Estados Unidos.

Como o computador também se firmava naquela época, alguém teve a idéia de remeter ao melhor de todos de então os dados dos dois lutadores. O computador "aprendeu" boxe e foi programado para fazer uma luta hipotética entre Clay e Marciano. Depois de algum tempo, deu o veredito: Rock havia vencido a luta por pontos. Por poucos pontos, mas venceu.

Foram perguntar ao perdedor - pois o ganhador já havia morrido num acidente aéreo - o que ele achava do resultado. Cassius, que era negro, respondeu: "Esse computador foi construído no Alabama". Numa alusão ao racismo exacerbado daquele Estado norte-americano. Rock Marciano, primeiro ídolo real do boxe no país, era branco.

Isso se passou décadas atrás. Quando ainda havia, nos Estados Unidos, banheiros para brancos e negros. Colégios para brancos e negros. Ônibus para brancos e negros. Cassetetes policiais para brancos e negros. Hospitais para brancos e negros. Numa época em que os "afro-americanos" ou "coloreds" não tinham direito algum.

Os tempos mudaram, as leis também, pessoas como Martin Luther King morreram por um país mais digno, mas mesmo assim os Estados Unidos - como de resto em parte também o Brasil - ainda não são um país de liberdades e igualdades raciais. Esse é o desafio que Barak Obama representa. O de ajudar os EUA a virarem a página. Se eles querem o reconhecimento do mundo, devem começar essa tarefa respeitando seus próximos compatriotas, suas diferenças e sua sociedade multi-racial. Depois vai ser mais fácil obter o respeito fora de lá.