12 de setembro de 2012

"Caçadas do Pedrinho", esse racista

Parece mentira, mas faz dois anos o MEC luta contra organizações representantes de negros e pardos para poder manter como leitura obrigatória no ensino público um dos clássicos da literatura brasileira. Trata-se do livro "Caçadas de Pedrinho", de Monteiro Lobato, obra escrita em 1936.
Os defensores da censura ao livro - o termo tem que ser esse mesmo - alegam que ele tem conteúdo racista. Em certo trecho, a personagem Tia Anastácia é identificada como gente "que tem carne preta". Ela, Tia Nastácia - como as crianças dizem - é um dos mais caros personagens do universo lúdico criado por Lobato e que tão bem representa o espírito cultural brasileiro.
Livros são produtos de sua época, fotografias de seu tempo. Esse, por exemplo, foi escrito já se vão 76 anos. Quando o Brasil ainda guardava consigo, em seu universo da cultura do dia-a-dia, grande parte de um linguajar e um comportamento que vinham da época escravagista. E Lobato refletia esse tempo, fazendo em suas páginas um retrato do Brasil de então. Ele não era o que se poderia chamar de racista. Apenas um espelho da alma brasileira. Um retrato de nossa brasilidade.
Chamar os livros do maior escritor infantil brasileiro de todos os tempos de racista e obrigar o MEC a retirar a obra das escolas como conteúdo obrigatório, ou então a fazer com que na abertura dela seja colocado um aviso dizendo que se trata de texto que agride a raça negra é um absurdo. Um acinte. Um atentado contra a cultura literária brasileira e contra nossa herança cultural.
Já vivemos num país cheio de guetos. Nas universidades foram criadas cotas de vários gêneros, inclusive a que dá aos negros o direito de ingresso privilegiado. Isso, convenhamos, é muito mais fácil do que dotar o ensino público de qualidade capaz de assegurar igual oportunidade a todos no ingresso nas universidades públicas por mérito. Não não existe diferença entre negros, brancos, amarelos, vermelhos, ricos, pobres, gordos, magros, destros, canhotos, corintianos ou flamenguistas no poder de aprender. Apenas a miséria crônica leva a uma perda da capacidade de intelectual. Ou então o ensino ruim diminui a chance da entrada na Universidade.
Não vamos deixar que o mundo ria de nós mais uma vez. Não vamos consolidar aqui um país de cotas, de guetos, porque isso será tão ou mais danoso do que a vida na época da escravatura. Sou branco mas, se fosse negro, me recusaria a fazer parte de cotas nascidas do conceito de que sou ou era incapaz de triunfar intelectualmente, a não ser por critérios especiais.              

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