21 de novembro de 2013

Bandido não caça bandido. Não caça nem cassa

José Dirceu se apresenta à Polícia para ver enviado à Papuda. "Que injustiça"
Bandido não caça bandido. Não caça nem cassa.
Depois que os primeiros "mensaleiros" foram presos pela Polícia em cumprimento a determinação do Supremo Tribunal Federal, já vimos de quase tudo. Só não consigo me recordar de já ter visto ladrão de galinha ser levado a avaliação médica para saber se pode continuar preso ou se vai para casa cumprir prisão domiciliar na favela. Ladrão de galinha só cospe sangue quando apanha da Polícia. E sai da cadeia, se sair vivo, quando termina a pena. Geralmente meses depois disso.
José Genoíno compara o hoje com o ontem. A Papuda com as prisões da ditadura. Há uma distância abissal entre ambas. No caso atual ele foi preso porque é corrupto e isso está provado num processo que tramitou por oito anos. No caso passado, foi preso político porque combatia uma ditadura militar. Ao longo de mais de quatro ou cinco décadas de caminhos curvos e turvos, só mesmo ele sabe onde esqueceu a dignidade. Ele, José Dirceu e tantos outros que lutaram contra um regime político de exceção e depois descobriram que isso poderia ser um grande negócio. Não era uma questão ideológica. Não para eles. Era um investimento. E todos apostaram nos empregos, dinheiros públicos e compra de parlamentares para sedimentar um governo que pretendia e pretende se perpetuar.
O mensalão só existiu porque há gente que se vende no Parlamento Brasileiro. Muita gente. Incontáveis políticos municipais, estaduais e federais. E por isso o Executivo barganha com eles. Quando não para dar dinheiro público - o caso dos "mensaleiros" -, quase sempre para trocar apoio por cargos de primeiro, segundo e terceiro escalão. Com porteira fechada. Com verba parlamentar intocada. E para nomear tantos "cargos comissionados" quantos houver. Para cônjuges, amásias, filhos, genros e noras, primos, cabos eleitorais e o que mais houver. A relação política entre Executivo e Legislativo no Brasil é um caso único de promiscuidade a céu aberto.
Por isso o Poder Legislativo não quer cassar o mandato de José Genoíno - e não vai querer cassar também os dos demais políticos antes de ouvir a si próprio. Ao seu corporativismo. E o apoio incondicional aos compradores de apoio desnuda um outro drama ético brasileiro: políticos entram e saem da Papuda todos os dias em vans alugadas com o dinheiro público. Vão ver os "correligionários". Visitas de parentes também não respeitam dias e horários. Isso só vale para familiares dos demais presos. Afinal, quem mandou roubar galinha? Ser batedor de carteira? Ladrão sem fraque e cartola? Assaltante de padaria?
O STF ou, melhor dizendo, seu presidente, vai continuar levando tiros vindos de todos os lados petistas e da "base de apoio". Se o esquema cair, como enriquecer em quatro ou oito anos? É uma questão de sobrevivência. E bandido não caça bandido. Não caça nem cassa.
   

Nenhum comentário: