5 de agosto de 2014

A criança em Gaza

Se a gente ler bem, com certo cuidado, vai notar que crescem nas revistas, jornais e demais meios de Comunicação ditos "tradicionais" e sérios os textos e falas (não vamos deixar as grandes redes de TVs fora disso) preocupados com o crescimento da influência dos artigos das redes sociais e blogs "às vezes irresponsáveis". Partamos de algumas constatações: se as redes sociais preocupam tanto os meios de Comunicação ditos tradicionais é porque elas têm peso. E se a cada edição destes pelo menos uma reportagem tem que falar disso, "analisar" aquilo, é porque está incomodando. Estariam as redes sociais e os blogs invadindo a esfera de interferência e poder de jornais, revistas, rádios, TVs, internet, etc.? É claro que sim! Isso é o que incomoda.
Vamos partir de outra constatação simples: a esmagadora maioria dos jornalistas que ocupa hoje as redações da "imprensa tradicional" e, portanto, dita séria, tem blog. Ocupa as redes sociais. Permite que sua competência, seriedade e compromisso com a verdade irrefutável - não é assim que pensam? - invada o ambiente onde pululam aqueles não tão afetos a esse tipo de preocupação.
Vamos ao caso do Oriente Médio. A foto desse texto mostra Gaza. Não é montagem, não foi trazida de outra realidade, não visa agredir. Num cenário de destruição, um homem adulto sustenta uma criança sem reação alguma. Estará ela morta? Não estou mostrando sangue, vísceras expostas, nada. Uma criança aparentemente inerte é sustentada por um adulto. Pai? Irmão mais velho? Desconhecido? Membro de grupo de salvamento?
Esse tipo de imagem desperta um sentimento paralelo perigoso chamado antissemitismo. Isso é Gaza. A gente sabe, pois não é bobo, que o ódio aos semitas cresce. E também aos sionistas. Mas outro efeito paralelo não pode ser desprezado: a reações contra o islamismo e suas diversas facções pulula em todos os cantos. Em síntese, o corpo daquela criança carrega dentro de si o ovo da serpente. A diferença atual é que aos palestinos restam os foguetes e túneis. Aos israelenses, uma das máquinas de guerra mais poderosas do mundo. Competentemente utilizada!
Talvez o ideal para aqueles que fazem Comunicação, que se dedicam ao menos em parte a divulgar e comentar fatos não seja serem juízes dos bons e dos maus meios. A menos que alguns se vistam definitivamente de puristas e renunciem a redes sociais e blogs.
Enquanto isso não acontece, esse velho jornalista que vai agora encerrar o breve comentário da criança nos escombros de Gaza tem a lamentar apenas o mau jornalismo. Tanto aquele feito nos "meios tradicionais e profissionais" quanto nos demais: redes sociais e blogs. Lamenta o antissemitismo e o ódio aos muçulmanos porque ambos carregam dentro de si o germe do genocídio. Lamenta a imagem da criança. Sem sangue aparente, sem intestinos expostos ela denuncia que lutar contra as raízes da guerra é muito mais importante do que esgrimir sobre quem melhor as combate e em que meios. Aquela criança exprime a razão de nossas preocupações.    

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