15 de setembro de 2018

A nossa herança maldita

Bolsonaro deputado, qual um inconsequente, brinca de dar tidos nos outros. Mesmo levando uma facada continua o mesmo
"Eu vou votar nele. Ele é tosco, é grosseiro, não tem conteúdo, está longe de ser o candidato ideal, o democrata, mas é a única chance que nós temos de tirar os "comunistas" do poder".
Esse pensamento, um pouco diferente nesse ou naquele enfoque, é o que mais ouço quando pergunto às pessoas que conheço sobre o motivo que as leva a escolher o capitão da reserva do Exército Jair Bolsonaro como sua opção de voto para a presidência da República do Brasil. A grande maioria sabe que a aventura pode terminar mal. Mas tirar os "comunistas" do caminho é prioridade.
De onde vem isso? Simples: vem desde o início de 2003, quando Lula passou a exercer seu  primeiro mandato de presidente da República. Depois veio o segundo, depois veio Dilma Rousseff, depois chegou o impeachment da "ilibada" e, no rabo de cometa disso tudo, a maior coleção de escândalos ligados a dinheiro público da história doas Brasil. A nossa herança maldita.
Não foi só o PT quem roubou. Mas ele estava no poder e tudo - ou quase tudo - foi debitado na conta dele. Estavam nas falcatruas o PSDB, o PMDB (ou MDB agora), o PP, o PR, o PTB, enfim, uma grande quantidade de partidos políticos adesistas, sempre ocupando lugares, exigindo cargos e ministérios para apoiar o governo. Quaisquer governos, contanto haja butim.
Lembro-me da época da ditadura militar. Meu partido político de então, o PCB, sabiamente não aderiu à luta armada. Guerreávamos os ditadores solapando o regime de exceção. Todos encastelados no velho MDB, lutador de primeira hora contra o estupro da democracia brasileira, lá estavam os militantes do velho Partidão enfrentando o desmonte do Estado brasileiro. Isso em uma época em que não se podia sequer sonhar em denunciar a corrupção dos chefes militares. E ela existia em larga escalada, atingindo grande parte da estrutura de poder montada.
Quando veio a anistia - forma encontrada pelo Brasil para deixar os militares impunes - vi a chegada dos exilados políticos. E quando eles tomaram força, uniram-se ao Partido dos Trabalhadores, associaram-se a Lula e começaram a disputar a presidência da República, eu estava ao lado deles. Afinal, eram os idealistas retornando. Ledo engano. Logo os honestos saíram e os traidores da pátria e dos ideais que sempre carregamos conosco passaram a assaltar o Estado.
Nunca se roubou tanto, nunca se cometeu tanta desfaçatez. E a fama de ladrões colou como cola instantânea em todos os que estavam no poder. Por consequência e graças à ignorância política do brasileiro, em todos os que eram ou são de esquerda. O nome "comunista" passou a identificar aqueles que não representam o extremismo de direita, perigoso e corporificado por Bolsonaro.
E agora, José?
As eleições estão chegando. Candidatos que não representam as extremidades do espectro político atual parecem sem forças. Mesmo ferido a faca, o "Bolsonazi" que adora se mostrar como se estivesse atirando de revólver ou fuzil mantém a dianteira nas pesquisas. E Fernando Haddad, o poste de um Lula preso aos poucos sobe nas pesquisas graças ao prestígio que o chefe ainda detém. Como consequência de nossa ignorância política, é possível que ambos cheguem ao segundo turno da disputa presidencial nas eleições marcadas para o mês que vem.
Eis o grama maior do Brasil: se isso se corporificar, para onde quer que se olhar haverá um abismo à frente, um buraco a cair. Não ouso arriscar as consequências.           

Um comentário:

José Caldas da Costa disse...

Perfeito...